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A dança dos números nos grandes laticínios

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 20/04/2001

5 MIN DE LEITURA

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Vamos analisar, neste comentário semanal, os números de produção de leite dos 12 principais laticínios do Brasil em 2000. A captação subiu 6,7% e o número de produtores diminuiu em 14,6%, resultando em aumento significativo da produção por produtor (tabela 1).

Tabela 1. Produção nos 12 maiores laticínios, número de produtores e produção por produtor


Mas apesar da tendência de redução no número de produtores e no aumento da captação total e por produtor entre os principais laticínios, nem todos seguem o mesmo comportamento.

O gráfico 1 mostra o aumento de captação entre 1999 e 2000, em litros de leite, do grupo dos 12 maiores laticínios do país. Basicamente, os chamados grandes laticínios (Nestlé, Parmalat, Elege e Paulista) aumentaram mais a captação do que o "segundo pelotão" (Batávia, Vigor, Líder, Centroleite, Morrinhos, Fleischmann Royal e Danone). A exceção é a Itambé, presença importante no grupo dos grandes, mas que, em 2000, reduziu a captação de leite. A maior captação bruta dos grandes laticínios pode sugerir a concentração cada vez maior na captação de leite. Os grandes tendem a ficar cada vez maiores.

Gráfico 1


Os dados em variação porcentual da captação indicam tendência semelhante (gráfico 2), o que comprova, ao menos no período analisado, a constatação acima. Os grandes aumentaram a captação substancialmente (especialmente Parmalat, Elegê e Paulista), ao passo que, no segundo pelotão, o destaque positivo ficou com a Centroleite, de Goiás, que aumentou a captação em mais de 24%, o maior aumento entre os 12 laticínios. Já o destaque negativo ficou com a Fleischmann Royal, com queda de 24,3% na captação.

Gráfico 2


No entanto, avaliar apenas um ano pode levar a conclusões precipitadas. A Parmalat, por exemplo, aumentou a captação 19% de 1999 para 2000, mas havia verificado uma queda de cerca de 10% entre 97 e 99, de forma que o crescimento acumulado no período não é tão alto assim. Com este objetivo, o gráfico 3 mostra a variação média anual na captação dos laticínios entre de 97 a 2000, cujo crescimento em conjunto foi de apenas 0,59% ao ano.

Gráfico 3


Pelo gráfico 3, no pelotão de frente, percebe-se que Nestlé, Parmalat e Itambé tiveram crescimento médio anual bastante modesto ou negativo (Nestlé). Já a Elegê cresceu significativos 8% ao ano, o mesmo valor da queda da Paulista. Na dança dos laticínios, a mudança mais drástica foi justamente a ultrapassagem da Paulista pela Elegê que, inclusive, colou na Itambé, que ainda ocupa o terceiro posto na captação (gráfico 4).

Gráfico 4


As maiores mudanças, no entanto, ocorreram no segundo grupo, com crescimentos entre 10% e 15% ao ano para o Morrinhos (Leit Bom), a Centroleite, e o Leite Líder, refletindo, o crescimento do leite em Goiás e no Paraná: 70% e 72,7% de 90 a 99, respectivamente. Estes três laticínios, inclusive, ultrapassaram Danone e Fleischmann Royal.

Os destaques negativos neste pelotão ficaram com a Vigor, Fleischmann Royal e Danone, que enxugaram a captação de leite em mais de 5% ao ano, de 97 a 2000. No caso da Danone, espera-se que, com a compra da marca e fábricas da Paulista, tal situação irá se reverter ao longo de 2001. É importante notar que a empresa aumentou a captação em 2000 em 8,5%, revertendo a tendência de queda.

Quanto à Vigor e Fleischmann Royal, é difícil prever. Esta última vinha aumentando a captação até 2000, quando verificou a já mencionada queda de 24,3%. Já a Vigor, resta saber para onde vai após o fracasso das negociações com a NZMP. Cheia de interrogações ficam também o desempenho da Paulista e Itambé para o restante de 2001.

E em relação ao número de produtores?

O gráfico 5 traz a variação do número de produtores no grupo dos 12 laticínios. Enquanto que, entre os maiores laticínios, houve em geral drástica redução no número de produtores, sendo a Nestlé o maior exemplo, o mesmo não ocorreu no segundo grupo, que, via de regra, aumentou o número de produtores. Avaliando os gráficos 5 e 1, nota-se que Nestlé, Elegê e Paulista aumentaram a captação e reduziram o número de produtores. Já a Parmalat aumentou a captação e o número de produtores. A Itambé foi o oposto: reduziu captação e reduziu o número de produtores.

Gráfico 5


A melhor interpretação destes dados é obtida no gráfico 6, que mostra a variação na produção diária de leite por fornecedor entre 1999 e 2000. Nota-se uma maior tendência de aumento no módulo de produção entre os grandes laticínios. Os 5 maiores tiveram aumento do módulo, com destaque para Nestlé, Itambé e Paulista. Já entre os "menores", por incrível que possa parecer, houve tendência de redução na produção de leite por produtor. É bem verdade que a busca pelo crescimento possa ter feito com que algumas empresas como Centroleite e Morrinhos acabassem por ser menos seletivos na captação, resultando na (pequena) redução da captação média por produtor. Já a Danone alterou profundamente o perfil de seu cooperado, tendo a maior queda entre todas: 80 litros a menos por produtor/dia, apesar do aumento da captação de 8,5%. O caso "mais grave" é o da Fleischmann Royal, que verificou queda na captação, no número de produtores e na produção por fornecedor de leite. O gráfico 7 traz a mesma informação, porém na forma de variação porcentual. A Paulista foi quem mais se destacou no aumento da escala de produção.

Gráfico 6


Gráfico 7


Uma explicação plausível estaria no fato de que, ancorados em regiões leiteiras tradicionais, que sofreram com a evasão de produtores, especialmente os menores, os grandes laticínios acabaram por captar leite de um produtor de maior volume. Já nas regiões onde houve estímulo à produção (Paraná e Goiás, por exemplo), a pressão por captação de maiores volumes por produtor pode ter sido bem menor (mais produtores entrando na atividade, produtores pequenos sendo viabilizados, etc).

É provável que muitas outras análises possam ser feitas, especialmente por aqueles envolvidos diretamente com a atividade laticinista e que conheçam os meandros do setor. Algumas conclusões, no entanto, podem ser arriscadas para os anos de 1999 e 2000: os maiores cresceram mais em volume do que os menores; os maiores verificaram aumento significativo na escala de produção por produtor. Estes dois aspectos poderiam sugerir que eles estão mais estruturados do que o segundo pelotão, que procurou crescer às custas de uma captação mais pulverizada.

O que chama mais a atenção é que nem todos caminharam na mesma direção em 2000 ou nos anos anteriores. Alguns cresceram, outros enxugaram de tamanho; alguns aumentaram o número de fornecedores, outros reduziram; alguns verificaram aumento do módulo de produção, ao passo que outros observaram redução; há até grande variação em uma mesma empresa, de um ano para o outro. O que leva a esta disparidade? Serão por acaso estratégias tão distintas entre as empresas? Serão diferenças regionais, como no caso de Goiás? Será a conjuntura do setor, que passou por muitas mudanças nos últimos anos? Será o efeito da granelização, que veio para alguns mais cedo do que para outros? Será a situação financeira e administrativa de cada empresa? Quem então está indo no caminho certo?

São alguns dos questionamentos que estas informações nos trazem. Responda quem puder!

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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