A República Dominicana surpreende com a proximidade com a pecuária de leite brasileira, apesar da distância. É o segundo maior país caribenho, com pouco mais de 10 milhões de habitantes e nas últimas duas décadas, tem se destacado como uma das economias de mais rápido crescimento na América - com uma taxa média de crescimento do PIB real acima de 5%, estimando-se para 2019, 7,5%.
Possui um potencial agrícola invejável, mas carente de tecnologias tropicais, principalmente para a pecuária leiteira, que apresenta baixos índices de produção e produtividade, alta informalidade e custos do leite e seus derivados elevados, o que afetam negativamente a produção nacional e forçam o país a importar para atender à demanda da indústria de processamento e do mercado local. A origem desta situação vem da gestão da propriedade leiteira, do elevado custo da criação do gado, decorrente da baixa produtividade e uso excessivo de alimento concentrado (importado e caro), cruzamentos raciais mal direcionados, além da seca prolongada que assola parte do país.
O país tem a ajuda da Embrapa para vencer estas barreiras, principalmente nas áreas de produção de leite a pasto, suplementação na seca, manejo de pastagens, novas espécies/cultivares de forrageiras tropicais, melhoramento genético/genômico das raças Gir leiteiro e Girolando, cujos programas são coordenados pela Embrapa em parceria com as respectivas associações de criadores. Neste particular, há um grande potencial de importação dessas raças, consideradas excelentes opções para a República Dominicana, que produz 670 milhões de litros de leite por ano e precisa importar 40% de sua demanda interna (350 milhões de litros). A produção de leite por vaca está em torno de quatro litros e a maioria das fazendas é pequena, mas algumas se destacam por adotar genética brasileira, utilizando Gir leiteiro e Girolando de alta qualidade, como se pode observar nas fotos a seguir.
Foto: Fazenda El Cabrito, propriedade de Alexis Alonso.
Foto: Fazenda El Cabrito, propriedade de Alexis Alonso.
Adotam várias tecnologias consagradas e que foram desenvolvidas pela Embrapa, como o kit de higiene de ordenha para pequenos produtores, cana com ureia, pastejo rotacionado com Brachiaria e Panicum, cujas sementes vieram do Brasil, e, recentemente, procuram viabilizar a importação do capim Capiaçu, apropriado para corte e ensilagem. Há produtores que utilizam a palma forrageira, sob orientação de técnicos/professores do IPA/UFRP de Pernambuco, que, intercalada com Moreira - uma planta arbustiva de origem chinesa com 20% proteína e de alta digestibilidade -, tem o benefício de associar fontes de energia e proteína. Veja foto abaixo:
Foto: Fazenda Monte Plata, propriedade de Pablo Contreras
Hoje, há uma grande preocupação pelas prolongadas secas que afetam alguns territórios do país caribenho, com deterioração das colheitas de grãos, algodão e frutas, além da produção de leite, relacionadas ao aquecimento global, no qual o Brasil detém reconhecida expertise. Para alavancar a qualidade do leite (o qual 54% é informal), ações que foram bem sucedidas no Brasil, como o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite – PNQL, alicerçado na Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade, assim como a legislação que regulamenta os queijeiros artesanais, por meio do controle de zoonoses, e criação do “Selo Arte”, poderiam contribuir com o país caribenho.
O setor leiteiro dominicano não é tão bem consolidado como o do Brasil. Sendo assim, o diálogo entre produtores, indústria e demais segmentos do setor e a criação da Câmara Setorial do Leite e Derivados nos moldes do Mapa podem ser boas ideias. A indústria láctea não remunera por quantidade de leite recebido por propriedade e os critérios de pagamento por qualidade são desuniformes e com base em arcaicos padrões de leite Tipo, A, B e C, desalinhado com os padrões internacionais de qualidade.