Já foi discutido anteriormente que o excesso de Proteína Degradada no Rúmen (PDR) pode contribuir para redução na fertilidade em vacas leiteiras, e que o excesso de PDR também pode exacerbar o balanço energético negativo durante o início da lactação.
O excesso na ingestão de PDR provoca uma elevação nos níveis plasmáticos e teciduais de amônia (NH3), uréia e outros compostos não nitrogenados. A uréia é tóxica ao espermatozóide e ao óvulo, sendo que níveis sangüíneos de uréia maiores do que 20 mg/dL podem provocar redução nas taxas de concepção.
O efeito da proteína sobre a reprodução está relacionado mais ao excesso de ingestão de PDR do que propriamente à porcentagem de PB na dieta. Foi observado que no dia 7 do ciclo estral ocorria decréscimo do pH uterino, devido ao excesso de PDR, e que essas variações podem afetar a fertilização ou sobrevivência do embrião. Além disso, existem citações de que o desenvolvimento embrionário depende da qualidade do ambiente uterino, e a ingestão de altas concentrações de PDR pode alterar a secreção uterina.
Visando entender melhor a associação de níveis de uréia plasmática e concepção, foi delineado o experimento "Effects of high plasma urea nitrogen levels on bovine embryo quality and development" por M.L.Bode, R.O.Gilbert, e W.R.Butler da Cornell University, publicado no J. Dairy Sci. Vol. 84, suppl. 1, 2001.
No experimento, foram utilizadas 23 vacas em lactação alimentadas com dietas para obter concentração plasmática de uréia (PUN) Baixa (B) <19 mg/dL (DB; n = 12) ou Alta (A) >19mg/dL (DA; n = 11). Após 30 dias nas dietas experimentais, as vacas foram sincronizadas e superovuladas. As concentrações de PUN obtidas nas dietas Baixa e Alta foram de 16,1 e 24,1 mg/dL, respectivamente. Embriões foram colhidos no dia sete após o estro e avaliados para qualidade e estágio de desenvolvimento. Os embriões classificados como grau 1 e 2 (n = 96) foram congelados para serem transferidos em novilhas. Novilhas (n = 122; 12 a 20 meses de idade) receberam dietas para apresentarem baixo (8,1) ou alto (25,1) PUN (mg/dL).
Após 30 dias nestas dietas, as vacas foram sincronizadas e receberam os embriões no dia sete, após serem detectadas com presença de corpo lúteo, formando quatro grupos experimentais: 01 = AA; 02 = AB; 03 = BA e 04 = BB.
Não foram detectadas diferenças em quantidade, qualidade visual ou estágio de desenvolvimento dos embriões colhidos de vacas que apresentaram alto ou baixo PUN.
Entretanto, os embriões de vacas com baixo PUN resultaram em maior taxa de prenhez que os embriões de vacas com alto PUN (35,1% vs. 11,1%, respectivamente), potencialmente mostrando efeito residual na qualidade dos embriões. A dieta das receptoras ou a combinação da dieta das doadoras e receptoras não influenciaram a taxa de prenhez.
Em outro experimento, 39 novilhas foram mantidas em dietas visando alto ou baixo PUN, semelhantes às utilizadas no experimento anterior para as novilhas receptoras, sendo sincronizadas e inseminadas. A concentração de PUN não influenciou a taxa de prenhez em novilhas.
Os resultados destes estudos indicam que altas concentrações de PUN em vacas leiteiras antes do dia 7 pós IA são prejudiciais à viabilidade dos embriões. Altos níveis de PUN em novilhas, não influenciaram a taxa de prenhez, sugerindo uma interação de altos níveis de PUN com outras condições adversas em vacas em lactação, por exemplo balanço energético negativo. Mais estudos são necessários para entender os mecanismos envolvidos.
Lembramos que visando minimizar os efeitos negativos de dietas com alta densidade protéica, deve-se sempre observar a sincronia energia: proteína no balanceamento de dietas de vacas em lactação.