Um dos fatores que contribuem para a infertilidade das vacas é a perda da gestação durante o período de desenvolvimento fetal que se estende do dia 42 depois da IA até o parto. Santos et al., (2004b) em levantamento de vários estudos, estimaram que a incidência de perda de gestação varia de 8,3 a 24% em vacas de leite lactantes e 1,5 a 10,2% em novilhas de leite. A identificação dos fatores que causam a morte fetal pode ser útil para a definição de estratégias para reduzir estas perdas. Um possível fator é a mastite, que tem sido associada com perda de gestação durante o período embrionário (CHEBEL et al., 2004) e fetal (RISCO et al., 1999; SANTOS, 2004a).
Outras potenciais causas da perda fetal são as mudanças fisiológicas associadas com alta produção de leite. No entanto, a correlação entre produção de leite e perda fetal em vacas de leite nem sempre é observada (LOPEZ-GATIUS et al., 2002; SILKE et al., 2002). Também não foi detectada relação entre perda de prenhez durante o período embrionário e a produção de leite (CHEBEL et al., 2004). O estresse térmico pode contribuir para a perda de gestação, por um decréscimo na função placentária e no crescimento fetal (COLLIER et al., 1982).
O objetivo desse estudo (JOUSAN, F.D., DROST, M., HANSEN, P.J., Universidade da Flórida, Journal of Animal Science, v.83, p.1017-1022, 2005) foi avaliar as associações entre número de lactação, contagem de células somáticas (CCS) no momento da IA, produção de leite, dias pós-parto no momento da IA, número de inseminações anteriores e estação do ano na perda fetal em vacas de leite lactantes (primíparas e multíparas) e novilhas não-lactantes em região de clima quente (Flórida, EUA). O diagnóstico de gestação foi realizado de 40 a 50 dias depois da IA e novamente 70 a 80 dias depois da IA. Perda fetal precoce foi definida como perda ocorrida entre 40 e 80 dias após a IA e a perda tardia como perda após 80 dias até a data prevista do parto.
Vacas lactantes apresentaram maior ocorrência de perda fetal precoce (6,3 vs. 3,6%; P = 0,055) e tardia (3,54 vs. 1,1%; P < 0,05) do que vacas não lactantes. Vacas lactantes com maior número de dias em lactação apresentaram maior perda embrionária precoce (P < 0,05) e tardia (P = 0,055). Vacas com alta CCS no dia da IA apresentaram maior perda embrionária tardia (P < 0,01). Não foi detectada relação entre produção de leite, número de lactações, número de inseminações anteriores e estação do ano com perda embrionária precoce ou tardia.
Para novilhas também não foi detectado relação entre número de inseminações anteriores e idade a cobertura com perda embrionária precoce ou tardia.
Fatores que afetam a perda de gestação precoce e tardia em vacas de leite lactantes
Fatores que afetam a perda de gestação precoce e tardia em novilhas de leite não-lactantes
Vacas em lactação têm mais chances de apresentar perda embrionária precoce ou tardia do que novilhas. O aumento da perda fetal está associado com aumento dos dias em lactação e a ocorrência de mastite no momento da IA. Não foi detectada associação entre estação do ano e perda fetal, provavelmente porque o estudo foi realizado em região de clima quente (Flórida, EUA), sem diferenças marcantes entre estação fria e quente. Nessas regiões os efeitos do estresse térmico ocorrem ao longo do ano todo e como a gestação de bovinos é de nove meses, todas as fêmeas sofrem os efeitos do estresse térmico em alguma das fases da gestação, não sendo possível, portanto, detectar efeito da estação do ano na perda de gestação.
Este estudo mostra a importância de se preocupar com a qualidade do manejo de ordenha, pois vacas com alta CCS no dia da IA apresentaram maior perda embrionária.