Autores do artigo:
Laerte Cassoli, ESALQLab - Dep. Zootecnia – ESALQ/USP
Willian Santos, Eng. Agrônomo do QCF – Dep. Zootecnia – ESALQ/USP
Gustavo Salvatti, Zootecnista do QCF – Dep. Zootecnia – ESALQ/USP
Já sei! A primeira pergunta seria: mas o que é esse tal de “Mottainai”? Mottainai é um termo japonês que transmite a sensação de “dor” e “pesar” frente ao desperdício de recursos valiosos. Como você já pode imaginar, numa fazenda de leite não é incomum esse sentimento. Nesse artigo, iremos abordar o exemplo do milho. Vamos juntos?
O milho é uma das principais fontes de carboidrato não fibroso (amido) na dieta de vacas em lactação. Pode ser utilizado diretamente na dieta (por exemplo, moído) ou então por meio da silagem de milho. Vamos tratar aqui do desperdício de grãos (amido) proveniente principalmente da silagem de milho, uma das principais fontes de forragem.
Seria ótimo se todo o amido fornecido ao animal pudesse ser digerido, mas sabemos que isso não ocorre. Parte dele acaba indo para as fezes, sendo, portanto um “mottainai” importante numa fazenda de leite. Considera-se aceitável um teor de amido fecal abaixo de 3%.
Levantamentos publicados por grandes laboratórios americanos apontam que 50% das fazendas que monitoram o amido fecal periodicamente, apresentavam teores acima do ideal (3%). Já acima de 5%, foram mais de 30% das fazendas.
Mas e no Brasil? Iniciamos recentemente o monitoramento de amido fecal via NIRS (análise infravermelho) e os números iniciais não são muito diferentes. Ainda nesse primeiro semestre, iremos compartilhar mais informações com base num extenso diagnóstico que estamos conduzindo.
Que tal fazermos alguns cálculos para entender o nosso “mottainai”? Abaixo apresentamos um infográfico comparando dois cenários de amido fecal num rebanho de 50 vacas em lactação. Um deles com 2% e outro com 6% de amido fecal. Cada animal perde por dia 540 g de grãos de milho a mais nas fezes quando comparamos 2% ou 6%. No final do ano são quase 9 toneladas de grãos perdidos!
Certo, mas o que fazer para reduzir esse desperdício? Que fatores interferem na perda de grãos via fezes?
No infográfico abaixo são apresentados os três principais fatores que foram identificados em estudos realizados em fazendas americanas e que são apresentados no infográfico a seguir. Sim, aqui no Brasil não é diferente.
O primeiro deles é o índice de processamento dos grãos, conhecido como KPS (Kernel processing score). Vacas alimentadas com silagens cujo grão não foi devidamente processado/quebrado (KPS abaixo de 50%) tiveram amido fecal muito superior aos rebanhos que recebiam silagens com KPS acima de 60%. Vale ressaltar aqui, que o KPS ideal é acima de 70%.
Outro fator identificado como crítico é o teor de matéria seca da silagem. Em rebanhos alimentados com silagem de teores de matéria seca acima de 36%, o amido fecal é o dobro em relação a silagens com MS menor de 36.
Por fim, o tempo de estocagem. A digestibilidade do amido aumenta com o período de estocagem, e rebanhos alimentados com silagem consumida antes de 4 meses também apresentaram maior teores de amido fecal.
O que fazer afinal para evitarmos esse “mottainai”? Os dois fatores iniciais (KPS e MS) estão ligados diretamente ao processo de ensilagem. Colher o material no ponto certo, e garantir o seu correto processamento são fundamentais. Se errarmos durante o período de colheita, que em alguns casos não dura mais que poucos dias, todo o período seguinte estará comprometido e o desperdício será certo.
Já no caso do tempo de estocagem, é necessário um bom planejamento alimentar para que seja possível se respeitar o período mínimo de armazenamento. Abrir uma silagem em menos de 30 dias de estocagem, é desperdício.
Dica final? Avalie os principais indicadores (MS, KPS, amido fecal) para identificar problemas e corrigi-los “Medir para gerenciar”, esse deve ser o lema daqueles que buscam o sucesso em qualquer atividade.