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Suplementação com colostro por período prolongado e sua relação com a saúde e o desempenho de bezerras em aleitamento

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E LUCAS SILVEIRA FERREIRA

CARLA BITTAR

EM 23/03/2009

7 MIN DE LEITURA

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As crescentes preocupações em relação à utilização de antibióticos como profiláticos ou promotores de crescimento na alimentação animal, a possibilidade de aumento na resistência de alguns microrganismos e, principalmente, seus efeitos na saúde humana, tem resultado na busca por alternativas viáveis para uso na nutrição animal.

Como já é conhecido por todos, um dos principais pontos para o sucesso na criação de bezerras em aleitamento é o fornecimento de colostro logo após o nascimento, garantindo assim a transferência de imunidade passiva. Inúmeros trabalhos mostram que bezerras com adequada transferência de imunidade passiva têm menor mortalidade e morbidade e, portanto, tem menor necessidade de tratamentos antibióticos, em comparação com os animais com falha de transferência passiva. Entretanto, apesar dos estudos mostrarem a importância da alimentação com colostro para a bezerra recém-nascida, muitos animais apresentam níveis de imunoglobulinas (anticorpos) no sangue abaixo do ideal, aumentando assim o uso de antimicrobianos para o tratamento de doenças.

Alguns estudos mostram que os anticorpos restantes no lúmen do intestino após a alimentação com colostro também podem proporcionar imunidade local contra infecções virais e principalmente diarréia. Diante disso, Berge e colaboradores (2009) realizaram estudo para avaliar se o fornecimento de colostro suplementar após a fase de colostragem poderia diminuir a mortalidade e morbidade de bezerras durante a fase de aleitamento por fornecer imunidade local ao intestino, diminuindo a necessidade de suplementação com antimicrobianos.

Ensaio experimental

Para este estudo, os experimentos foram realizados em 3 fazendas do estado da Califórnia, nos EUA, durante o período de outubro de 2005 e setembro de 2006. Na primeira fazenda, os bezerros foram alimentados com substituto de leite (22% de proteína bruta e 18% gordura bruta) e medicados com antibióticos. Na segunda fazenda, os animais foram alimentados com substituto de leite (22% de proteína bruta e 22% gordura bruta) durante as 2 primeiras semanas de vida e, após este período, os bezerros receberam leite pasteurizado e foram medicados com antibióticos. Na terceira fazenda, os animais foram alimentados com substituto de leite (22% de proteína bruta e 18% gordura bruta) e não foram medicados. Em todas as 3 fazendas, foi adotado o procedimento padrão de colostragem e os animais eram alimentados com 1,89L de substituto de leite ou leite duas vezes por dia. Água fresca e concentrado inicial também eram ofertados diariamente.

Em cada fazenda, os animais foram divididos em 3 tratamentos:

1) Suplementação com 70g de colostro em pó contendo 10g de IgG (imunoglobulinas G) a cada refeição (2 vezes por dia) por 14 dias.
2) Suplementação com placebo que consistia de 70 g de substituto de leite em pó com composição nutricional parecida com a do colostro em pó, mas sem IgG, também por 14 dias.
3) Controle, sem nenhuma suplementação.

Os suplementos eram misturados em 2,4 dL de água morna e em seguida misturados aos substitutos de leite que seriam fornecidos aos animais.

Os animais foram avaliados quanto à morbidade, que incluiu escore fecal. Quando era notada alguma anormalidade, a temperatura retal era aferida e, se necessário, adotado tratamento terapêutico. Os animais também foram pesados em balança mecânica no início do experimento, aos 28 dias e no desaleitamento. Para verificação de falha na transferência de imunidade passiva, amostras de sangue de todos os bezerros foram recolhidas no segundo dia de vida dos animais na fazenda de origem.

Resultados

Transferência de imunidade passiva: As análises mostraram que a falha de transferência passiva era comum entre os animais provenientes de todas as fazendas deste estudo conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Concentração de IgG no sangue e distribuição dentro de categorias de acordo com o tratamento.

Clique na imagem para ampliá-la.

Mortalidade: As taxas de mortalidade durante os primeiros 28 dias foram 7,7; 7,8 e 26,1% nas fazendas 1, 2 e 3, respectivamente. Entretanto, os resultados indicaram que não houve influência da suplementação com colostro sobre mortalidade, já que os animais que apresentaram maior falha na transferência de imunidade passiva foram os que apresentaram maior risco de mortalidade.

Morbidade: Durante o período experimental, o percentual de dias com diarréia foi de 8,8%, com o grupo suplementado com colostro apresentando menor número de dias com diarréia (Tabela 2). Não houve diferença nos riscos de diarréia entre o grupo suplementado com placebo e o controle (não suplementados). De maneira geral, os animais foram tratados com antimicrobianos (principalmente para a diarréia) por aproximadamente 10% dos dias de estudo (Tabela 2), sendo que os suplementados com colostro apresentaram menor percentual de dias em tratamento.

De acordo com os autores, o efeito observado para a ocorrência de diarréia foi, provavelmente, devido à presença de imunoglobulinas no colostro, e não simplesmente um benefício nutricional resultante da suplementação, já que este mesmo efeito sobre a diarréia e tratamentos terapêuticos não foi observada para os animais do tratamento com placebo, que recebiam suplemento com composição nutricional semelhante, mas sem a presença de imunoglobulinas. Diversos estudos clínicos têm demonstrado que as imunoglobulinas do colostro ou do plasma sanguíneo podem proporcionar imunidade local contra vários patógenos associados à diarréia em bezerras, tais como Escherichia coli e rota-vírus.

Tabela 2. Efeito dos tratamentos nos índices de morbidade e ganho de peso.

Clique na imagem para ampliá-la.

Estes resultados indicam que a alimentação com colostro de forma suplementar após o fechamento intestinal pode ser eficaz na redução de dias com diarréia e no período de tratamento dos animais. Entretanto, embora a suplementação com colostro tenha sido eficaz, uma adequada transferência de imunidade passiva ainda se apresenta como a mais importante forma de obtenção de animais saudáveis.

Neste estudo, a maioria dos animais chegou da fazenda de origem com baixa taxa de imunoglobulinas no sangue, refletindo diretamente na mortalidade, morbidade e no baixo ganho de peso e consumo de concentrado. Além disso, um dado importante é que, uma análise do sangue dos animais aos 7 dias de vida concorda com os estudos anteriores que relatam que uma alimentação completar com colostro após o fechamento do intestino (primeiras horas de vida da bezerra) não melhora a imunidade passiva sistêmica. Portanto, o período crítico para solucionar falhas na transferência de imunidade passiva das bezerras está dentro das primeiras 24 h após o nascimento.

Ganho de peso e consumo: O ganho de peso diário (GPD) e o consumo de concentrado dos animais suplementados com colostro foram maiores para os primeiros 28 dias de experimento, quando comparados com o tratamento controle e com os animais recebendo placebo (Tabela 2). Entretanto, aos 60 dias de idade, não foram observadas diferenças entre os grupos. O maior ganho de peso dos animais suplementados com colostro, em comparação com o grupo placebo e controle pode ser devido à diminuição das taxas de morbidade neste grupo.

Conclusões

Assegurar que as bezerras recebam colostro em quantidade e qualidade adequados, o mais rápido possível após o nascimento, é o fator mais importante para o sucesso durante esta fase de criação dos animais. No entanto, a suplementação com colostro de forma adicional durante as 2 primeiras semanas de vida foi eficaz na redução de doenças como a diarréia e no uso de antimicrobianos. Além disso, o maior ganho de peso durante as quatro primeiras semanas de vida dos animais suplementados com colostro em comparação aos animais do grupo controle pode ser reflexo direto desta redução nos dias com diarréia. Assim, a utilização da suplementação com colostro com o objetivo de minimizar o uso de antibióticos profiláticos e terapêuticos pode ser uma ferramenta valiosa para o manejo e nutrição dos animais durante a fase de aleitamento.

Referências

Berge, A.C.B.; Besser, T.E.; Moore, D.A.; Sischo, W.M. Evaluation of the effects of oral colostrum supplementation during the first fourteen days on the health and performance of preweaned calves Journal of Dairy Science, v.92, p.286-295, 2009.

Comentários

Embora o produto utilizado (colostro em pós) ainda não esteja disponível no Brasil para suplementação de bezerras, o trabalho mostra que o fornecimento prolongado de colostro nas primeiras semanas de vida pode ser uma boa estratégia para redução na freqüência e duração de diarréias. Consequentemente, seriam reduzidos custos com tratamentos com antibióticos e também custos de produção da bezerra desaleitada. O trabalho mostrou ainda um benefício em relação ao desempenho animal, com maiores taxas de ganho de peso durante o período de suplementação, não devido ao maior fornecimento de nutrientes mas sim a inclusão de fonte de anticorpos na dieta líquida.

Assim, parece interessante que em situações em que se decida realizar o fornecimento de maiores quantidades de dieta líquida, principalmente nas primeiras semanas de vida, que o colostro excedente, além do leite de transição sejam fornecidos. O fornecimento de maiores quantidades de dieta líquida tem sido adotado em vários sistemas de produção com o objetivo de se aproveitar a fase de crescimento animal com maior eficiência de conversão. Dessa forma, com o fornecimento de colostro ou leite excedente em suplementação a dieta líquida tradicional (normalmente leite descarte), seria esperado um benefício no que diz respeito a saúde dos animais, principalmente na freqüência e duração de diarréia.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

LUCAS SILVEIRA FERREIRA

Engenheiro agronômo formado pela UFSCar e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ - USP na área de nutrição e avaliação de alimentos para bovinos. Atualmente exerce a função de Nutricionista de Ruminantes na Agroceres MMX Nutrição Animal

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SUENE SANTANA DE LIMA

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/03/2009

Bom, gostaria de saber qual a porcentagem dos nutrientes do colostro (gordura, proteína, água, lactose, sais minerais e vitaminas). E a outra dúvida é em relação a % de imunoglobulinas que o intestino consegue absorver, após o período de 6-8 horas de vida.

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