Tratamento de doenças em bezerros
As doenças que ocorrem no período neonatal podem afetar diretamente a produção futura dos animais. Na prática, a maioria do produtores e tratadores de bezerras utilizam os antibióticos como a base para o tratamento de doenças. Enquanto isso, compostos mais seguros que dariam suporte à saúde do animal e/ou tivessem efeito profilático, não são introduzidos na rotina do sistema de criação.
O sistema imune dos bezerros ainda é imaturo nos primeiros dias de vida e uma combinação entre o fornecimento inadequado de colostro com o contato com patógenos, resulta em altas taxas de mortalidade e morbidade.
Como surgem as doenças em bezerros?
O manejo inadequado, transporte a longas distâncias, nutrição deficiente, mudanças na composição da dieta, alta densidade de animais, clima inapropriado e falta de higiene, são fatores que estão diretamente relacionados com o aparecimento de doenças infecciosas.
Os epitélios dos tratos gastrointestinal e respiratório são normalmente os primeiros sítios de infecção em bezerros jovens. Dessa forma, os principais desafios encontrados pelo produtor é a incidência de diarreia seguido pela ocorrência de doenças respiratórias, ambas associadas a perdas econômicas, devido à redução no ganho de peso dos animais e o alto custo com as interversões veterinárias.
Apesar dos antibióticos serem considerados como ferramentas essenciais para a criação de bezerras, seu largo uso pode resultar em mais casos de diarreia, redução no ganho de peso, menor consumo de concentrado e elevados custos nos sistemas de produção (Berge et al., 2009).
Os antibióticos são normalmente a primeira terapia utilizada para tratar doenças do trato gastrointestinal e respiratória em bezerros. No entanto, devido ao aumento da resistência bacteriana, surge a necessidade de reduzir sua utilização e promover o estudo de novas opções para prevenir e curar as doenças recorrentes desse sistema.
Já tratamos sobre efeitos do uso exagerado de antibióticos no desenvolvimento de resistência, assim como sobre algumas alternativas ao seu uso e sobre extratos de plantas como modificadores de desempenho.
Uso de plantas medicinais no tratamento de doenças em bezerros
Diferente dos medicamentos químicos sintéticos que apresentam apenas uma forma de ação, os medicamentos provenientes de plantas atuam de diversas maneiras no organismo, levando a efeitos adicionais devido sua múltipla composição (Williamson, 2001).
A diversa atividade dos produtos naturais derivados de plantas representam um enorme potencial para ser aplicado em sistemas de criação. Plantas medicinais vêm sendo utilizadas há anos para prevenir e tratar doenças em animais e humanos e pode ser explorada como alternativa ou ferramenta adicional para reduzir o uso de antibióticos nos rebanhos. Além disso, algumas plantas medicinais são conhecidas como moduladores do sistema imune e de inflamação, podendo também ser utilizadas como profilaxia de doenças infecciosas.
Pesquisadores da Suíça, Ayrle et al (2016) realizaram uma revisão literária sistemática para identificar as principais espécies de plantas medicinais promissoras em prevenir doenças do trato respiratório e gastrointestinal e estimular o sistema imune.
Os autores avaliaram 30 plantas medicinais em 20.000 artigos publicados pré-revisados, entre os anos de 1994 e 2014. Um critério foi utilizado para excluir referencias que não se enquadravam com o foco dessa revisão. A maioria dos estudos relatados utilizaram as plantas como um aditivo e não como um composto farmacêutico, devido ao complexo processo de autorização de uma planta, ou seu extrato, como um medicamento veterinário.
Bezerros leiteiros podem receber extratos de plantas através do consumo de dieta líquida, assegurando sua chegada e efeito no trato gastronintestnal, mas sempre respeitando quantidades e concentrações indicadas.
Os principais compostos encontrados pelos autores nessa revisão literária, com possível ação em doenças do trato gastrointestinal e respiratória em bezerros leiteiros, estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Plantas medicinais promissoras para tratamento e profilaxia de doenças gastrointestinais e respiratórias e para modulação do sistema imunológico e inflamação em bezerros leiteiros.
É necessário considerar que existe uma diferença entre os compostos analisados pelos diferentes autores. A quantidade e intensidade dos compostos ativos presentes nas plantas dependem das condições ambientais, de acordo com o clima e geografia do local. Dessa forma, a planta pode apresentar variações de acordo com seu cultivar, processamento e até sua forma de extração, afetando suas propriedades químicas e farmacêuticas.
Alho para tratar doenças em bezerros
O alho pode ser utilizado para o tratamento profilático e agudo de diarreia em bezerros, devido a seus efeitos antibacterianos, anti-inflamatórios e imunomoduladores. Oito estudos clínicos foram identificados para a espécie Allium sativum L. comprovando seus efeitos. Ghosh et al (2010) reportou que a alicina, principal composto ativo do Allium sativum L., retardou o início da diarreia causada por Cryptosporidium parvum em bezerros leiteiros, também melhorando o desempenho dos animais.
Hortelã-pimenta para tratar doenças em bezerros
Com base em três estudos clínicos em humanos, a hortelã-pimenta pode ser uma opção de tratamento para reduzir as respostas contrácteis do intestino. O mentol presente na planta é capaz de inibir a contratilidade do músculo liso através do bloqueio do influxo de cálcio (Amato et al, 2014).
Equinácea para tratar doenças em bezerros
A equinácea é conhecida como um imunoestimulante seguro em humanos e vários produtos comerciais já estão disponíveis no mercado. Em geral, a Echinacea purpurea (L.) Moench é eficaz na prevenção de doenças respiratórias quando ocorre uma intervenção precoce imediatamente após o início dos primeiros sintomas de doenças infecciosas (Goel at al., 2004). No entanto, mais estudos clínicos veterinários precisam ser realizados, especialmente para avaliar dosagens eficazes.
Tomilho para tratar doenças em bezerros
Já o tomilho se apresenta como uma potente alternativa para tratar doenças respiratórias em bovinos. Existem estudos in vitro que reportaram suas propriedades anti-inflamatórias e antibacterianas. No entanto, são necessários mais estudo clínicos para entender seus efeitos na saúde animal.
Chá da Indía - Camellia sinensis - para tratar doenças em bezerros
A Camellia sinensis (L.) Kuntze também apresenta ação positiva no tratamento da diarreia, bem como para a estimulação do sistema imunológico. Seus principais constituintes são compostos polifenólicos, entre eles os flavonoides. Alguns estudos clínicos relataram efeitos benéficos de Camellia sinensis (L.) Kuntze na saúde intestinal, como indicado pela redução da prevalência de diarreia em leitões (Bruins, 2011).
Alcaçuz para tratar doenças em bezerros
A raiz do alcaçuz, devido os compostos flavonoides e isoflavonoides presentes em sua composição, apresentou efeito imunoestimulatório, relaxante muscular e também foram reportados efeitos regulatórios do sistema gastrointestinal (Chen et al., 2009).
Considerações
Os resultados relatados fornecem suporte para futuros estudos com plantas medicinais em bezerros leiteiros. Procurar entender mais sobre os mecanismos de ação de compostos de plantas, dosagens adequadas e métodos de fornecimento são essenciais para podermos utilizar estas alternativas de forma eficaz e segura, favorecendo a saúde dos animais, a produtividade leiteira e a segurança alimentar.
Referências bibliográficas
Amato et al. 2014. Effects of menthol on circular smooth muscle of humam colon: analysis of the mechanismism of action. Eur J Pharmacol 740, p.295–301.
Ayrle et al. 2016. Medicinal plants – prophylactic and therapeutic options for gastrointestinal and respiratory diseases in calves and piglets? A systematic review. BMC Veterinary Research 12(89), p. 1-31.
Berge et al. 2009. Targeting therapy to minimize antimicrobial use in preweaned calves: effects on health, growth, and treatment costs. J Dairy Sci 92(9), p. 4707-4714.
Bruins et al. 2011. Black tea reduces diarrhoea prevalence but decreases growth performance in enterotoxigenic Escherichia coli-infected post-weaning piglets. J Anim Physiol Anim Nutr 95(3), p.388–398.
Chen et al. 2009. Isoliquiritigenin, a Flavonoid from Licorice, plays a Dual Role in regulating Gastrointestinal Motility in vitro and in vivo. Phytother Re 23(4), p. 498–506.
Ghosh et al. 2010. The effect of dietary garlic supplementation on body weight gain, feed intake, feed conversion efficiency, faecal score, faecal coliform count and feeding cost in crossbred dairy calves. Tropl Anim Health Prod 42(5), p.961–968.
Goel et al. 2004. Efficacy of a standardized echinacea preparation (Echinilin) for the treatment of the common cold: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. J Clin Pharm Ther 29(1), p.75–83.
Williamson, E.M 2001. Synergy and other interactions in phytomedicines. Phytomedicine 8(5), p. 401–409.