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Leite de transição e desenvolvimento intestinal: match!

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E ANA PAULA DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 27/09/2022

8 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 22/09/2022

O que é leite de transição?

O leite de transição é definido como a secreção produzida pela glândula mamária no período entre a segunda e a sexta ordenha pós-parto.

No entanto, muitas vezes a segunda ordenha apresenta elevados teores de anticorpos, podendo ser utilizada como colostro para recém-nascidos. É importante medir a qualidade para tomar decisões, e para isso você vai utilizar um refratômetro Brix e buscar valores acima de 22%. Se os valores forem inferiores, aí sim!, você tem mesmo leite de transição, que embora não seja adequado para as duas primeiras refeições do recém-nascido, é importante para as próximas refeições.

Semelhante ao colostro, o leite de transição também apresenta concentrações consideráveis de IgG e outros composto bioativos, como fatores de crescimento semelhante a insulina (IGF-I e IGF-II), hormônio do crescimento e insulina, além de maiores teores de gordura e proteína.

No entanto, todos esses compostos vão reduzir com o aumento no número de ordenhas, de forma que podemos observar reduções nessas concentrações quando comparamos a 3ª com a 6ª ordenha, por exemplo. Importante destacar que os compostos bioativos tem baixíssimas concentrações no leite e não são encontrados nos sucedâneos. Assim, quando o produtor fornece leite ou sucedâneo para o animal após as refeições de colostro, perde a oportunidade de fornecer mais nutrientes e compostos bioativos para animais com alta demanda por nutrientes e com o trato gastrintestinal em transformação.

A literatura sugere que o trato gastrointestinal (TGI) de bezerros neonatos é relativamente maduro ao nascimento, mas requer mudanças morfológicas e funcionais em função dos nutrientes e dos fatores não nutritivos do colostro. Os hormônios e fatores de crescimento presentes no colostro estimulam o desenvolvimento do TGI e a regeneração após danos inflamatórios.

Como a composição do leite de transição é semelhante ao colostro, Van Soest et al (2022), partiram da hipótese de que o fornecimento de leite de transição nos primeiros 4 dias de vida após o fornecimento de colostro pode promover maior desenvolvimento intestinal em comparação ao fornecimento de sucedâneo.

Para o estudo foram utilizados 23 bezerros da raça holandesa. Todos os bezerros foram colostrados com 2,84L de colostro, com qualidade >23% brix, nos primeiros 20 minutos após o nascimento através de sonda esofágica de forma a padronizar o consumo. Após a refeição com colostro de alta qualidade os animais foram distribuídos em 2 tratamentos:

  1. Leite de transição (n=11)
  2. Sucedâneo lácteo (n=12)

O leite de transição foi coletado das ordenhas 2, 3 e 4 (Tabela 1). Para o estudo foi utilizado sucedâneo comercial diluído para 14,6% de sólidos. Todos os bezerros foram alimentados através de mamadeiras no volume de 1,89 L de sua respectiva dieta 3 vezes ao dia, até 4º dia de vida. Os bezerros do grupo leite de transição foram alimentados com a 2ª ordenha no período da segunda a quinta refeição, com a 3ª ordenha nas refeições 6ª a 8ª e com a 4ªordenha nas refeições 9ª a 12ª. Dessa forma, foi realmente realizada uma transição da composição da dieta líquida, partindo de maiores para menores concentrações de nutrientes e compostos bioativos nos 4 primeiros dias de vida.

A pesagem dos animais foi realizada nos dias 1, 2 e 3 de vida. A saúde foi monitorada através do escore fecal, posicionamento das orelhas, secreção ocular, secreção nasal e prevalência de tosse.
 

Tabela 1. Composição das dietas experimentais

tabela - energia metabolizável

No 5º dia de vida, os bezerros foram abatidos seguindo todos os protocolos de bem-estar animal aprovados pelo comitê de uso de animais da Universidade de Michigan. Posteriormente, foram coletadas amostras do duodeno, jejuno proximal, jejuno médio e íleo para avaliar a morfologia intestinal.

Como resultado, os bezerros alimentados com leite de transição consumiram 13% mais sólidos, 30% mais EM e 29% mais proteína quando comparado aos animais que foram alimentados com sucedâneo. Da mesma forma, esses animais apresentaram peso de peso duas vezes maior ao longo dos 4 dias de estudo (Tabela 2).
 

Tabela 2. Ingestão de nutrientes e crescimento

Tabela - Ingestão de nutrientes e crescimento

Com relação as medidas morfológicas do intestino, o fornecimento de leite de transição quando comparado ao fornecimento de sucedâneo, aumentou a altura das vilosidades do duodeno em 63%, em 96% no jejuno proximal, em 76% no jejuno médio e em 52% no íleo (Figura 1, Tabela 3).

O leite de transição também aumentou a largura das vilosidades no duodeno, no jejuno proximal, no jejuno médio e no íleo em 43%, 63%, 60% e 40% respectivamente, em relação ao sucedâneo. Dessa forma, o fornecimento de leite de transição auxilia na maturação intestinal e contribui para o aumento de sua capacidade absortiva, importante para o animal recém-nascido, que agora deve ser capaz de digerir e absorver nutrientes no intestino.


Figura 1. Exibições de exemplo para medidas morfológicas do intestino delgado.

 

Tabela 3. Morfologia do intestino delgado (média ± desvio padrão)

Tabela - Morfologia do intestino delgado (média ± desvio padrão)

Os bezerros alimentados com leite de transição apresentaram maior concentração sérica de IgG em relação aos animais alimentados com sucedâneo (Tabela 4). O fornecimento de leite de transição nos primeiros 4 dias após a colostragem, também melhorou os escores médios de saúde em comparação ao fornecimento de sucedâneo, com redução do escore fecal em 46% e o escore de secreção nasal em 95%.
 

Tabela 4.  Concentração de IgG e escores médios de saúde do dia 2 até o abate (d5)

Tabela - Concentração de IgG e escores médios de saúde do dia 2 até o abate (d5)

Este estudo mostra que o fornecimento de leite de transição aumenta o desenvolvimento intestinal em comparação ao fornecimento de sucedâneo, uma vez que a ingestão de leite de transição nos primeiros 4 dias de vida, aumentou a maioria das medidas das estruturas intestinais em pelo menos 50%.

Contudo, os autores destacaram que não conseguiram determinar se o aumento do desenvolvimento intestinal de bezerros alimentos com leite de transição foi devido ao maior teor de sólidos e energia presente no leite de transição em comparação ao sucedâneo, ou em virtude dos componentes bioativos do leite de transição ou a ambos.

No estudo, os autores não mensuraram os componentes bioativos presente no leite de transição, mas pesquisas anteriores mostraram que o leite de transição contém maiores concentrações de hormônios, fatores de crescimento e citocinas, como esperado para a transição do colostro para o leite integral. Esses compostos bioativos alteram a proliferação, migração, diferenciação e longevidade das células epiteliais, bem como a digestão, absorção, desenvolvimento e função do sistema imunológico.

O fornecimento de leite de transição nos primeiros dias melhorou o desenvolvimento intestinal de bezerros, proporcionando maior capacidade dos bezerros em absorver nutrientes em idades mais jovens, o que resultou em maior desempenho e eficiência. Além disso, a ingestão de leite de transição proporcionou consumo prologado de IgG.

Todos esses fatores contribuíram para que os bezerros alimentados com leite de transição tivessem GPD de 0,64 Kg em comparação a 0,34Kg para bezerros alimentados com sucedâneo.

Embora parte do maior desenvolvimento intestinal possa ser atribuído à maior ingestão de nutrientes pelos animais que receberam leite de transição, os autores sugerem que as melhorias foram causadas parcialmente pela presença dos compostos bioativos encontrados na composição do leite de transição.

Um intestino saudável e mais desenvolvido pode trazer benéficos na saúde e desempenho, principalmente nas primeiras 3 semanas de vida, sendo considerado um dos períodos mais críticos na criação de bezerras.
 

Comentários

Muitos estudos têm mostrado os benefícios do fornecimento de leite de transição na saúde e desempenho de bezerros recém-nascidos, resultados relacionados não só ao maior consumo de nutrientes, mas também ao consumo de compostos bioativos. O maior consumo de nutrientes é um grande responsável pelos resultados, já que para que as alterações morfológicas e funcionais do intestino aconteçam, existe alta demanda de nutrientes. Mas, como sugerido no trabalho, os compostos bioativos também exercem importante papel.

Os compostos bioativos compreendem desde hormônios até proteínas como a lactoferrina, que têm ação sobre as células intestinais, aumentando sua multiplicação e consequentemente beneficiando a estrutura intestinal de forma geral. Além disso, a presença de alguns compostos pode ter ação probiótica, estimulando a colonização do intestino por microrganismos benéficos, com importantes impactos na saúde do animal, que acabam afetando positivamente o desempenho.

O consumo prolongado de IgG também tem efeitos na microbiota intestinal, agora sinalizando microrganismos indesejáveis e de então controlando seu crescimento. Não à toa ocorre redução gradativa destes compostos e de nutrientes na secreção mamária das vacas após o parto. Esta alteração na composição da dieta líquida do recém-nascido deve ser feita de forma gradativa, para que haja principalmente adaptação da população microbiana.

Assim, ao mesmo tempo em que se prolonga o consumo de nutrientes e compostos bioativos (IgG incluídos), tem-se uma alteração gradativa nestes componentes de forma que a adaptação da microbiota possa ocorrer.

O presente trabalho mostra benefícios interessantes na avaliação até os 4 dias de vida, mas muitos trabalhos mostram que estes são ainda perceptíveis ao final do período de aleitamento. Então, se você ainda não conseguiu organizar a logística na sala de ordenha para levar leite de transição para o bezerreiro, pense com carinho. Mas, se atente também ao bom acondicionamento e refrigeração, se for o caso, do leite de transição até o fornecimento. Ele é um ótimo substrato para o crescimento microbiano e, portanto, se a higiene não for exemplar, essa prática de manejo pode ser um tiro no pé.  
 

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Referência

Van Soest, B. Weber Nielsen, M. Moeser, A. J. Abuelo, A. and VandeHaar, M. J. 2022. Transition milk stimulates intestinal development of neonatal Holstein calves. J. Dairy Sci. 105:7011–7022. https://doi.org/10.3168/jds.2021-21723.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

ANA PAULA DA SILVA

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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