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Evolução do programa de colostragem nos EUA nos últimos 16 anos

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 29/12/2008

7 MIN DE LEITURA

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Em 2007, o Sistema Nacional de Monitoramento da Saúde Animal (NAHMS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), conduziu um importante levantamento nacional. Foram monitorados os 17 estados mais importantes na produção de leite, representando 79,5% de todas as fazendas leiteiras dos EUA. Este é o quarto levantamento nacional realizado e, assim como nos levantamentos anteriores, práticas de fornecimento e manejo de colostro foram levantadas. Este radar técnico mostra como foi a evolução nestas práticas durante os últimos 16 anos e busca uma reflexão sobre qual seria o atual cenário nacional, tendo em vista a falta de levantamentos no Brasil.

Importância do Colostro

Em outros radares técnicos tratamos da grande importância do colostro na vida do neonato. Em resumo, devido ao tipo de placenta dos ruminantes, os bezerros nascem sem imunoglobulinas circulantes, dependendo do consumo de colostro para obter imunoglobulinas. O processo pelo qual a vaca passa imunoglobulinas ao bezerro via colostro é chamado de transferência de imunidade passiva. Estudos têm mostrado que falha na transferência de imunidade passiva aumenta as taxas de morbidade e de mortalidade, reduz a taxa e a eficiência de crescimento de bezerros, além de poder reduzir a produção na primeira e segunda lactação de novilhas.

Separação do bezerro de sua mãe

A separação dos bezerros de sua mãe logo após o nascimento é uma maneira de reduzir a chance de transmissão de doenças da vaca para o bezerro. A separação pode prevenir, por exemplo, a ingestão de fezes, cama ou outro material no ambiente contaminado pela vaca com Mycobacterium avium (paratuberculosis), o agente causador da Johne's disease ou paratuberculose.

Em 2007, 55,9% das operações - representando 65,6% das bezerras recém-nascidas, foram separadas de suas mães imediatamente antes de mamar nas mesmas. Deixar a bezerra mamar colostro diretamente de sua mãe resulta em uma série de problemas, como o aumento no risco de não adquirir imunidade passiva adequada devido a inadequada quantidade de colostro ingerido. Quando uma bezerra mama colostro diretamente de sua mãe não é possível medir com alguma precisão a quantidade de colostro ingerida. Da mesma forma, é impossível medir a qualidade (quantidade de anticorpos) do colostro consumido. A prática de separar as bezerras de suas mães logo após o nascimento aumentou de 19,2% em 1991 para 65,6% em 2007 (Figura 1).


Figura 1. Porcentagem de bezerras por tempo após o nascimento para separação de suas mães, nos diversos levantamentos realizados.

Fornecimento de Colostro

O fornecimento de colostro realizado pelo tratador em mamadeira aumenta as chances dos bezerros receberem a quantidade necessária de anticorpos para promover adequada transferência de imunidade passiva durante as primeiras 24h de vida. A porcentagem de bezerras que receberam colostro fornecido pelo tratador via balde ou mamadeira permaneceu praticamente a mesma de 1991 a 2002, mas reduziu de 63,5% para 52% de 2002 para 2007.

A porcentagem de bezerras que recebeu a primeira alimentação de colostro de suas mães teve uma constante redução de 1991 a 2002, mas aumentou na fase seguinte (Figura 2). Ainda é grande o número de produtores brasileiros que não realizam a colostragem de forma artificial, ou seja, através de mamadeira ou balde. Esta é a única situação em que a quantidade de colostro ingerida pelo bezerro pode ser medida.


Figura 2. Porcentagem de bezerras por métodos de fornecimento da primeira alimentação de colostro.

Em 2007, 45,8% das fazendas estudadas - representando 43,1% das bezerras - forneceram mais que 1,9L (2 quartos de galão), mas menos que 3,8L (1 galão) de colostro durante as primeiras 24 horas de vida da bezerra. Esta prática de alimentação (fornecer entre 1,9 e 3,8 L de colostro em 24h) não foi alterada de 1996 a 2007 (Figura 3).


Figura 3. Para bezerras em operações que normalmente fornecem colostro por aleitamento artificial, porcentagem de bezerras por quantidade de colostro fornecido nas primeiras 24h.

Qualidade do colostro

Embora o colostro forneça imunoglobulinas e outros fatores de imunidade para bezerros, também pode ser uma rota de transmissão de doenças da vaca para o bezerro. Como resultado, a qualidade do colostro tem um papel vital na saúde de bezerros. O colostro de alta qualidade não é somente aquele que tem adequada concentração de imunoglobulinas, mas que também se apresenta livre de patógenos. Esta é uma preocupação ainda muito pequena entre os produtores brasileiros, mas que já tem alguma importância entre os produtores americanos, principalmente com relação a paratuberculose.

Fatores que determinam a concentração de imunoglobulinas incluem a idade da mãe e seu histórico de doenças, exposição a patógenos, ordenha ou perda de colostro no pré-parto. Os procedimentos que reduzem o risco de contaminação com patógenos incluem a máxima higiene na ordenha, pasteurização (já é realizada em vários sistemas de produção nos EUA), armazenamento, e manejo de colostro de vacas livres de doenças. O fornecimento de colostro de baixa qualidade pode resultar em bezerros com imunidade reduzida e, em ultima instancia, aumento de animais infectados.

Produtores de leite podem estimar a qualidade do colostro através do colostrometro, o qual se utiliza da gravidade específica ou da densidade como medida indireta da concentração de imunoglobulinas G (IgG). Alternativamente, o soro de bezerros entre 1 e 7 dias pode ser avaliado quanto a concentração de IgG ou proteína total, o que pode ser utilizado para medir o status de transferência de imunidade passiva.A concentração de IgG no sangue de 1000 mg/dL deve ser alcançada para fornecer adequada proteção contra falha na transferência de imunidade passiva. O estudo de 1991 reportou que maid de 40% dos bezerros apresentavam concentração de IgG abaixo de 1000 mg/dL ou apresentavam falha na transferência passiva.

Em 2007, 13% das operações que ofereceram colostro em balde ou mamadeira estimaram o nível de imunoglobulinas no colostro ou avaliaram sua qualidade antes do fornecimento, comparado com 39% de operações em 2002. Os métodos mais comumente utilizados para a avaliação da qualidade de colostro em 2007 foram o colostrometro e o aspecto visual (Figura 4).


Figura 4. Para operações que estimam o nível de imunoglobulinas no colostro ou avaliam sua qualidade, porcentagem de fazendas de acordo com o método utilizado para medir imunoglobulinas (levantamento de 2007).

No geral, 2,1% das operações mediam de forma rotineira a transferência passiva através da avaliação de proteína no soro. Uma maior porcentagem de fazendas de grande porte (14,5%) avaliou rotineiramente a transferência passiva comparada com fazendas de médio e pequeno porte (2,4 e 1,1%, respectivamente).

Substitutos comerciais de colostro podem ser uma alternativa para alimentar bezerros. Entretanto, os substitutos de colostro variam fortemente em sua habilidade em promover adequada transferência de imunidade passiva. É importante lembrar que estes produtos ainda não estão disponíveis no Brasil e que alternativas como utilizar receitas contendo gema de ovo não tem apresentado bons resultados.

Armazenamento de colostro

O método de armazenamento de colostro também afeta a qualidade de colostro seja por aumentar o crescimento bacteriano ou por reduzir seu período de armazenamento. Estudos demonstraram que a refrigeração reduz o crescimento de patógenos quando o colostro é armazenado por 24h. Ainda, a refrigeração é recomendada se o colostro for armazenado por menos de 24h, enquanto o congelamento em freezer é recomendado quando o armazenamento é superior a este período.

Os métodos mais comumente utilizados para armazenamento de colostro em 2007 foram o congelamento e a refrigeração, embora a maior parte dos produtores não realize o armazenamento de colostro excedente (Figura 5). Este também é um gargalo nos sistemas de produção no Brasil, onde ainda é baixa a adoção da prática de manutenção de banco de colostro.


Figura 5. Para operações que normalmente fornecem colostro por aleitamento artificial, porcentagem de operações de acordo com o método de armazenamento de colostro (levantamento de 2007).

Comentários

Os números apresentados revelam que mesmo nos EUA, onde a criação de bezerros tem sido seguida como exemplo e onde se tem a maior geração de dados de pesquisa, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para melhora os índices zootécnicos relativos a produção de fêmeas de reposição.

Desde 1991, a maneira com que o colostro é manejado e fornecido a bezerros tem sido alterada nos EUA. Um maior número de produtores tem separado as crias de suas mães imediatamente após o nascimento, o que reduz o risco de transmissão de doenças. Acredito que esta prática tenha aumentado nos últimos anos, mas que tenha ocorrido uma nova redução em sua adoção, sempre baseada na idéia de que o bezerro poderá mamar sozinho o colostro de sua mãe em quantidade adequada. A qualidade do colostro tem sido avaliada em uma maior porcentagem de fazendas americanas e provavelmente no Brasil, principalmente aquelas de maior porte que já possuem um colostrometro como ferramenta de manejo. No entanto, a quantidade de colostro fornecida não se alterou desde 1991, estando abaixo da recomendação de 10% do peso ao nascer dos bezerros nas primeiras 24h. Infelizmente levantamentos desde tipo não são realizados no Brasil, o que muitas vezes dificulta a identificação de pontos de estrangulamento na criação de fêmeas leiteiras. Quem sabe este projeto não possa ser colocado em prática em um futuro próximo. Bezerras felizes em 2009!

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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DURVAL MARTINS DA SILVEIRA

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/12/2008

Infelizmente no Brasil ainda é baixo o conhecimento sobre o colostro e sua importância para os neonatos, principalmente nas primeiras horas de vida. Isto pode ser entendido de duas formas: baixo nível de conhecimento de grande parte dos produtores, como também a falta de assistência técnica direta nas propriedades.

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