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Avaliação de pontos críticos na contaminação e proliferação bacteriana em colostro: ordenha, armazenamento e fornecimento

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E LUCAS SILVEIRA FERREIRA

CARLA BITTAR

EM 19/04/2007

11 MIN DE LEITURA

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O monitoramento de sistemas de produção leiteira nos Estados Unidos tem reportado taxas de mortalidade de bezerras em aleitamento inaceitáveis (8,4 a 10,7%) do ponto de vista econômico e produtivo em rebanhos leiteiros. A falha na transferência de imunidade passiva, resultado do inadequado programa de colostragem, tem sido identificada como fator de risco chave destes altos índices de mortalidade. O adequado programa de colostragem considera a qualidade do colostro fornecido (concentração de anticorpos), a quantidade fornecida na primeira alimentação, e o tempo do nascimento à primeira alimentação.

O monitoramento de sistemas leiteiros tem reportado a crescente adoção de práticas recomendadas para o fornecimento de colostro como o fornecimento de grandes volumes de colostro à primeira alimentação através de mamadeiras em contraponto a mamada na vaca. Entretanto, a manutenção de altas taxas de mortalidade durante o período de aleitamento indicam que ainda há espaço para melhoria nos programas de manejo de colostro e de bezerras. Neste aspecto, qualidade do colostro em termos de contaminação bacteriana, representa uma importante oportunidade de trabalho.

Embora os fatores de imunidade do colostro sejam essenciais para a saúde do bezerro, a contaminação bacteriana do colostro pode anular alguns destes benefícios. As bactérias patogênicas que podem ser transmitidas através do colostro ou do leite, tanto por contaminação direta da glândula mamária quanto por contaminação após a ordenha incluem: Mycobacterium avium spp. paratuberculosis, Salmonella spp., Mycoplasma spp., Listeria monocitogenes, Campylobacter spp., Mycobacterium bovis, e Escherichia coli.

Esses agentes infecciosos podem agir diretamente para causar doenças como as enterites ou septicemia. Também tem sido sugerido que a presença de bactérias no intestino delgado no momento da administração do colostro pode interferir na absorção de imunoglobulinas. Possíveis mecanismos para este efeito podem incluir competição entre microrganismos e moléculas de Ig por receptores comuns nas células do epitélio intestinal, ou ligação física das imunoglobulinas pelos microrganismos no lúmen intestinal, reduzindo assim a disponibilidade de imunoglobulinas absorvíveis.

Embora estudos de campo descrevendo a significância deste efeito em bezerros são extremamente limitantes, um estudo recente reportou que existe uma associação negativa entre a contagem de bactéria no colostro e a absorção de imunoglobulinas (Poulsen et al., 2002). Este estudo também reportou que 82% das amostras de colostro coletadas excederam os padrões industriais de 100 mil UFC/ mL. O estudo também reportou que a contagem de bactérias totais e de coliformes fecais no colostro foi positivamente correlacionada com consistência fecal anormal em bezerros.

Fica claro que mais estudos de campo são necessários para investigar a relação entre a contagem de bactérias no colostro e a eficiência de absorção de anticorpos, assim como o desempenho dos animais. Entretanto, se existe relação negativa, é necessário o desenvolvimento e a recomendações de práticas de como prevenir a contaminação do colostro, durante a ordenha ou durante os processos de armazenamento e fornecimento. Assim, Stewart et al. (2005) conduziram experimento com o objetivo de descrever os pontos críticos da contaminação bacteriana durante os processo de coleta e fornecimento de colostro. Também foi objetivo dos autores descrever os efeitos da refrigeração (vs. temperatura ambiente) e o uso do preservante sorbato de potássio na contagem de bactérias de colostro fresco armazenado por ate 96 horas.

Material e métodos

O experimento foi conduzido em uma propriedade comercial com 400 vacas alocadas em free-stall para vacas em período de transição. Nesta propriedade comercial, o colostro da primeira ordenha é rotineiramente coletado em sistema de balde ao pé dentro da primeira hora após o parto. Os bezerros recém nascidos são alimentados com 3.8 litros de colostro da primeira ordenha da mãe, através de tubo esofágico, usualmente entre 15 e 30 minutos após a ordenha da mãe.

Os procedimentos padrões para limpeza de todos os equipamentos na coleta e fornecimento do colostro na primeira ordenha são os adotados rotineiramente em propriedades comerciais com a desmontagem do equipamento; enxágüe com água morna; imersão em água quente contendo detergente; limpeza das superfícies interna e externa com escova; enxágüe com água quente contendo desinfetante ácido; e secagem em temperatura ambiente.

Três amostras distintas de colostro da primeira ordenha foram obtidas de 41 vacas recém paridas. A limpeza do úbere seguiu uma rotina que incluiu pré-dipping com solução iodada 0.5%, secagem das tetas com toalha limpa e desinfecção das extremidades das tetas com gaze embebida em álcool. A primeira amostra foi então retirada de forma asséptica diretamente em um tubo estéril com quantidades iguais de colostro coletadas dos 4 quartos sendo armazenadas a menos de 20oC (Grupo 1).

O animal foi então ordenhado para coleta da segunda amostra de colostro, a qual foi coletada assepticamente do balde ao pé em um tubo estéril de 240 mL, dentro de 15 a 20 minutos após a ordenha da vaca. Uma alíquota de 15 mL foi tomada desta segunda amostra e congelada (Grupo 3). Finalmente, uma terceira amostra foi coleta diretamente do tubo esofágico (Grupo 2) em um tubo de 20 mL dentro de um prazo de 15 a 30 minutos da ordenha da vaca sendo também congelado.

Para descrever o efeito da refrigeração e do uso de preservante, uma amostra de colostro da primeira ordenha foi colhida diretamente do balde ao pé dentro de 15 a 20 minutos após a ordenha. Uma alíquota de 15 mL foi colhida e congelada imediatamente. O volume restante foi então dividido em 12 alíquotas idênticas de aproximadamente 15 mL cada sendo estas submetidas a 4 diferentes tratamentos:

Grupo 4: armazenamento em geladeira (4oC);
Grupo 5: armazenamento em temperatura ambiente;
Grupo 6: sorbato de potássio (0.5% armazenado em geladeira 4oC);
Grupo 7: sorbato de potássio (0.5% em temperatura ambiente).

Para estes 4 grupos de tratamento as sub-amostras foram congeladas após 24, 48 e 96 horas de armazenamento conforme o tratamento. Todas as amostras de colostro congeladas foram submetidas ao laboratório para procedimento de cultura microbiológica de forma a se determinar contagem de bactéria total (CBT) e contagem de coliformes fecais (CCF).

Resultados e discussão

A contagem de bactérias foi baixa nas amostras colhidas diretamente do úbere, com todas as amostras colhidas atendendo o objetivo máximo de contagem total para fornecimento aos bezerros menor que 100.000 UFC/mL. Entretanto, houve um significante aumento na contagem de bactérias em amostras colhidas diretamente do balde ao pé (Tabela 1 e Figura 1). Não houve diferença na contagem de bactéria total (CBT) ou de coliforme fecal (CCF) quando se comparou as amostras do balde ao pé com as amostras do tudo esofágico. Apenas 64% das amostras colhidas do tubo esofágico apresentaram contagem de bactéria total menor que 100.000 UFC/mL.

Figura 1. Contagem de bactéria total ou de coliformes fecais de amostras de colostro colhidas diretamente do úbere, do balde ao pé ou do tubo esofágico.


Tabela 1. Contagem de bactéria total e de coliformes fecais em amostras de colostro colhidas em diferentes momentos e armazenadas sob diferentes condições.


As análises indicaram uma interação significativa entre o método (refrigerado vs. temperatura ambiente, com ou sem preservante) e o período de armazenamento do colostro (24, 48 e 96h). Quando se avaliou a CBT em amostras não tratadas armazenadas em temperatura ambiente, a contagem de bactéria aumentou rapidamente durante as primeiras 24h, seguida de uma discreta redução, apresentando-se constante até às 96h (Tabela 1 e Figura 2).

Moderados aumentos na CBT também foram observados durante todo o período de 96h em amostras não tratadas e armazenadas sob refrigeração, e para amostras tratadas armazenadas em temperatura ambiente (Tabela 1 e Figura 2). Após a estocagem de 96 horas não houve diferença entre os grupos 4, 5 e 7. Por outro lado, as CBT de amostras armazenadas com sorbato de potássio e refrigeração apresentaram uma grande redução e se mantiveram baixas durante todo o período. A CBT deste grupo foi menor do que qualquer outro tratamento em todos os tempos de avaliação (Tabela 1 e Figura 2).

Figura 2. Efeito do método de armazenamento e da adição de sorbato de potássio na contagem de bactéria total de colostro de acordo com o tempo de armazenamento.


Quando a CCF foi avaliada em amostras não tratadas e armazenadas em temperatura ambiente, a contagem aumentou rapidamente durante as primeiras 24h seguida de uma significante redução às 48 e 96h (Tabela 1 e Figura 3). A contagem de coliformes aumentou moderadamente durante as primeiras 24h em amostras não tratadas e armazenadas em geladeira, e continuou a se elevar lentamente até às 96h.

A contagem total em amostras contendo preservante e armazenadas em temperatura ambiente permaneceram relativamente constantes até 48h, reduzindo-se às 96h. A contagem de coliforme fecal em amostras contendo preservante e armazenadas sob refrigeração reduziram-se rapidamente até às 24h e permaneceram baixas até às 96h. Este tratamento foi o que apresentou as menores contagens às 24, 48 e 96h de armazenamento, à exceção do grupo 7 às 96h de armazenamento (Tabela 1 e Figura 3).

Figura 3. Efeito do método de armazenamento e da adição de sorbato de potássio na contagem de bactéria total de colostro de acordo com o tempo de armazenamento.


Se o fornecimento de colostro sem contaminação bacteriana é um importante fator na saúde do bezerro, o primeiro passo para atingir este objetivo é a redução da contaminação durante os processos de colheita e armazenamento. Embora este estudo tenha sido limitado no que diz respeito à avaliação de práticas em propriedades comerciais, identificou pontos críticos de controle de contaminação, quantificando o grau de contaminação em cada fase desses processos nesta propriedade em específico. O estudo demonstrou que a maior parte das amostras de colostro coletadas de forma asséptica diretamente do úbere tem contagem de bactéria extremamente baixa, e freqüentemente sem crescimento. Entretanto, os resultados mostram um aumento significativo na CBT e na CCF nas amostras de colostro do balde ao pé.

Assim, identificou-se o processo de ordenha como um significante ponto de controle de contaminação. As possíveis fontes de contaminação podem incluir a pele do teto, má higienização da linha de leite, mangueiras ou do balde ao pé. Estes resultados indicam que uma melhoria na preparação do úbere antes da ordenha ou na limpeza dos equipamentos de ordenha é necessária nesta propriedade estudada. O estudo não mostrou contaminação adicional ocorrendo durante o processo de fornecimento de colostro (amostras do tubo esofágico), embora isso possa servir como mais uma fonte de contaminação em propriedades que não realizam de forma adequada a limpeza dos utensílios para fornecimento de colostro.

Os resultados observados neste estudo são comparáveis aos publicados onde a população microbiana total em colostro não tratado com preservante e armazenado em temperatura ambiente se multiplica rapidamente e depois diminui de forma discreta.

O estudo demonstrou que o crescimento bacteriano tanto para CBT quanto CCF foi significativamente retardado em colostro não tratado mantido sob refrigeração. Entretanto, às 48h e 96h de armazenamento não houve diferença deste grupo quando comparado ao grupo armazenado em temperatura ambiente. Por outro lado, a CBT em amostras não tratadas, armazenadas em temperatura ambiente, foram menores após 96h de armazenamento quando comparadas com a CBT de amostras não tratadas mantidas em geladeira. Estes resultados mostram que a refrigeração é efetiva em retardar o crescimento bacteriano em colostro.

O tratamento de colostro com sorbato de potássio como preservante reduziu a taxa de crescimento bacteriano e preveniu ou retardou o processo de fermentação em amostras tratadas mantidas em temperatura ambiente. Entretanto, o melhor tratamento foi a associação de sorbato de potássio com a refrigeração. A CCF e a CBT destas amostras foram significativamente reduzidas às 24h e permaneceram estáveis até às 96h.

Conclusões

O estudo demonstrou que o processo de ordenha do colostro é um ponto crítico de controle significante para a contaminação bactéria de colostro de primeira ordenha. Armazenar colostro não tratado em temperatura ambiente resultou no mais rápido crescimento das contagens de bactéria, seguida por taxas intermediárias em amostras não tratadas armazenadas sob refrigeração ou amostras tratadas com sorbato de potássio mantidas ou não em geladeira. O tratamento mais efetivo foi a adição do preservante em amostras mantidas em geladeira. Mais estudos são necessários para descrever a relação entre contagem de bactéria e subseqüente saúde animal de forma a definir recomendações para máxima contagem de bactérias em colostro de primeira ordenha.

Referências:

Poulsen, K. P., F. A. Hartmann, and S. M. McGuirk. Bactéria in colostrum: Impact on calf health. Page 773 in Proc. 20th Am. Coll. Intern. Vet. Med., Dallas, TX. 2002.

Stewart, S.; Godden, S.; Bey, R. et al. Preventing Bacterial Contamination and Proliferation During the Harvest, Storage, and Feeding of Fresh Bovine Colostrum. J. Dairy Sci., v. 88, p.2571-2578, 2005.


Comentários

É comum observarmos baixo desempenho em bezerros nas duas primeiras semanas de vida após o nascimento, mesmo em bezerreiros bem manejados no que diz respeito a colostragem e manejo alimentar e de instalações. O manejo de colostro vem sendo melhorado em diversos sistemas de produção de leite sendo enfatizada a quantidade de colostro fornecido e o tempo à primeira alimentação. Em alguns sistemas já se observa maior preocupação com a qualidade do colostro fornecido, de forma que os bezerros recém-nascidos recebam colostro de primeira ordenha em suas duas primeiras refeições, quando ocorre maior absorção de imunoglobulinas (anticorpos).

Também tem sido preocupação dos produtores a formação de banco de colostro, sendo o colostro excedente armazenado em freezer para eventual falta na ocasião de parição de animais com produção menor que uma refeição para o recém nascido, situação comum em novilhas de primeira cria. Entretanto, a falta de freezer ou congelador disponível pode limitar a adoção desta prática em curto prazo.

O trabalho demonstrou que a ordenha é a principal fonte de contaminação bactéria total e de coliformes fecais de colostro. A limpeza de equipamentos de ordenha é o principal fator para a melhoria da qualidade do colostro, sendo recomendável contagem menor que 100.000 UFC/mL para fornecimento para recém nascidos.

Na falta de freezer, o armazenamento sob refrigeração é o método mais eficiente no controle da proliferação de bactérias totais e de coliforme. A adição de sorbato de potássio como preservante (0,5% peso/volume) pode também ser realizada e, quando associada ao armazenamento sob refrigeração, demonstrou ser ainda mais eficiente no controle da proliferação de bactérias.

Além do fator tempo (horário da primeira alimentação) e do fator quantidade (volume fornecido ao recém nascido), o fator qualidade também deve ser considerado no manejo de bezerros. A qualidade do colostro é principalmente mensurada através de sua concentração em imunoglobulinas, mas a contaminação e proliferação bacteriana também devem ser consideradas. O bom manejo de ordenha também deve incluir a ordenha de colostro.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

LUCAS SILVEIRA FERREIRA

Engenheiro agronômo formado pela UFSCar e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ - USP na área de nutrição e avaliação de alimentos para bovinos. Atualmente exerce a função de Nutricionista de Ruminantes na Agroceres MMX Nutrição Animal

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ROGERIO EDUARDO DE SOUZA JUNIOR

PASSOS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 20/04/2007

Artigo de muita importância, pois a colostragem é a primeira fonte de proteção dada pela mãe ao bezerro, este que nasce desprovido de Ig´s devido à conformação placentária dos bovinos. Então, como citado, não só a quantidade e o período em que é admistrado o colostro são importantes, sendo a qualidade deste colostro de suma importância para a sobrevida deste bezerro(a).

Este artigo vem apontar estratégias para melhoria da qualidade, desconhecidas por muitos produtores e até por técnicos.

Muito obrigado

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