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Cruzamento entre Holandês e Jersey - III - Desenvolvimento de bezerras e novilhas

ANDRÉ THALER NETO

EM 01/03/2013

6 MIN DE LEITURA

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Por André Thaler Neto e André Luiz Garcia Dias

Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Centro de Ciências Agroveterinárias – Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC)


Nos primeiros dois artigos abordamos aspectos relacionados ao desempenho produtivo e reprodutivo do cruzamento entre raças leiteiras especializadas, especialmente Holandês e Jersey. Neste texto, vamos debater o desenvolvimento das fêmeas, temática normalmente pouco abordada quando se avalia os recursos genéticos para a pecuária leiteira. Visando auxiliar o produtor no manejo das bezerras mestiças desenvolvemos algumas pesquisas com estas categorias animais, devido à deficiência de informações que ainda existem sobre o tema. 

Bezerras mestiças logicamente nascem com peso menor do que as Holandesas, estando este tamanho menor relacionado à menor facilidade de parto, conforme abordado em artigo anterior. Em um experimento com 40 bezerros (machos e fêmeas) Holandês ou ½ Holandês x Jersey (F1), observamos uma diferença de 7,6 kg no peso médio ao nascer, sendo 42,8 vs. 35,2 kg, respectivamente (Dias, 2010). Estas diferenças diminuem muito quando se comparam bezerras ¾ Holandês com as puras da raça Holandesa, sendo de 1,9 kg, de acordo em pesquisa norte americana (Maltecca et al., 2006). Ao alimentar bezerras F1 e puras de modo semelhante até o desaleitamento aos 42 dias de idade (4 litros de leite por dia e concentrado inicial à vontade) observamos taxas de crescimento muito próximas entre mestiças e puras (Fig. 1), sendo as diferenças no peso ao desaleitamento consequência do peso ao nascer. O consumo de concentrado e a conversão alimentar também foram similares. O ganho médio de peso dos bezerros foram próximos a 500 gramas/dia, ganhos compatíveis com os padrões estabelecidos para raça Holandesa nos Estados Unidos (Heinrichs e Losinger, 1998). O experimento foi conduzido até os 84 dias de vida, sendo que as bezerras recebiam concentrado à vontade, acrescido de 20% de feno de alfafa picada (até o limite de 5 kg de dieta total por bezerro), com ganhos de aproximadamente 1 kg/dia.


Figura 1. Peso vivo e altura dos bezerros Holandês (__) e mestiços ½ Holandês x Jersey (--), de acoro com a idade. Fonte: Dias (2010)

Em outra pesquisa avaliamos o desenvolvimento de novilhas mestiças Holandês x Jersey em relação às novilhas puras Holandês, entre 2 e 24 meses de idade, em rebanhos localizados em Santa Catarina e no Paraná (Rodrigues, 2009). Observou-se pesos mais elevados na medida em que aumenta a proporção da raça Holandesa. Pode-se observar, que os animais mestiços ½ Holandês x Jersey apresentam peso próximo aos dos grupamentos com maior proporção da raça Holandesa (3/4 e 5/8), o que pode estar relacionado a uma maior heterose nas fêmeas F1. Utilizando como modelo a primeira inseminação aos 15 meses, a partir das equações de regressão da figura 2, pode-se estimar para novilhas F1 e para o grupamento com 5/8 e 3/4 Holandês pesos equivalentes a aproximadamente 84 e 91% do peso das puras Holandês. De modo semelhante, estes grupos genéticos teriam aos 24 meses 87 e 89% do peso das puras Holandês, respectivamente. Se considerarmos um peso mínimo à inseminação de 360 kg para fêmeas da raça Holandesa, e adotarmos pesos equivalentes pelas equações da figura 2, teremos para fêmeas ½ Holandês x Jersey e para 5/8 e 3/4 Holandês, um peso de 302 e 327 kg, respectivamente. A partir destes resultados pode-se adotar uma recomendação prática de inseminar novilhas mestiças Holandês x Jersey a partir de 310 a 320 kg de peso. Valores mais precisos poderão ser obtidos quando houver disponibilidade de rebanhos experimentais com número adequado de vacas mestiças adultas, de tal forma que o peso à primeira inseminação possa ser estabelecido como sendo de 55% do peso da vaca adulta, como indicado pelo NRC (2001).


Figura 2 - Peso em função da idade de novilhas leiteiras de diferentes Grupamentos Genéticos. Fonte: Rodrigues (2009).

Na figura 3 encontram-se imagens de novilhas dos grupos genéticos avaliados neste experimento.


Figura 3 - Imagem de novilhas avaliadas no experimento, sendo ¾ Holandês (A), 5/8 Holandês (B), ½ Holandês x Jersey (C e D)

Alguns estudos sobre idade e peso à puberdade em novilhas mestiças foram realizados nos Estados Unidos (Getzewich, 2005; Williams, 2007), porém com número relativamente pequeno de animais por grupamento genético. Nestes trabalhos observou-se uma tendência de aumento da idade e peso à puberdade à medida que aumenta a proporção de Holandês, porém no trabalho de Williams (2007) as médias diferiram somente entre novilhas com mais ou menos de 50% de proporção de Holandês, com valores intermediários para as novilhas ½ Holandês x Jersey. No trabalho de Getzewich (2005) a puberdade ocorreu em média próximo aos 11 meses em novilhas puras Holandês, aos 10 meses em novilhas F1 e aos 9 meses nas puras Jersey, com pesos médios à puberdade de aproximadamente 300, 250 e 190 kg, respectivamente.

Alguns trabalhos têm demonstrado superioridade nos bezerros mestiços em imunidade, além de diminuição de mortalidade. Weigel e Barlass (2003) evidenciaram menor taxa de mortalidade nas fases inicias de vida em bezerros mestiços quando comparados ao Holandês puro, a partir de questionários aplicados a produtores de leite. No mesmo país, Maltecca et al. (2006) observaram menores taxas de mortalidade perinatal e de ocorrência de diarreia nos primeiros dias de vida em bezerros mestiços ¾ Holandês x ¼ Jersey, comparados a puros Holandês, associado a uma maior concentração de imunoglobulinas (IgG) nesta fase. No experimento realizado por Dias (2010) em Santa Catarina também foram observadas maiores concentrações séricas de proteínas totais e de imunoglobulinas no soro sanguíneo em bezerros mestiços nas primeiras duas semanas de vida, porém as concentrações médias destes indicadores de status imunitário foram consideravelmente maiores ao mínimo esperado para a idade em ambos os grupamentos genéticos, não havendo mortalidade de bezerros durante o experimento. Não houve diferença quanto ao aparecimento de diarreia, sendo que os valores médios de escore fecal observados em ambos grupamentos genéticos foram próximos a escore 1 (fezes normais), o que pode estar relacionado com um eventual baixo desafio dos bezerros a contaminantes no local de alojamento. Por outro lado, bezerros mestiços necessitaram menos tratamentos com antibióticos para diarreia.

A partir das informações obtidas, concluímos que bezerros mestiços apresentam alguma vantagem em termos sanitários no seu desenvolvimento inicial, apresentando crescimento semelhante aos puros Holandês nesta fase. Novilhas mestiças apresentam desenvolvimento mais lento que as puras Holandês. Entretanto, como as diferenças em tamanho entre as novilhas ½ Holandês x Jersey ou com percentual maior de Holandês são pequenas, as mesmas podem ser manjadas de modo semelhante, indicando-se a primeira inseminação a partir de 310 a 320 kg de peso vivo, respectivamente.

AGRADECIMENTOS

Aos Produtores Raul e Ricardo da Fonseca Guimarães (Carambeí – PR), Celestino Brunetta (Ibicaré – SC), Itamar Parizzi e Luiz Carlos Belotto (Joaçaba e Herval d’Oeste – SC), Marlon Possamay (Pouso Redondo – SC) e Jandir Bombardelli (Toledo – PR), os quais abriram suas propriedades, auxiliaram nas coletas de dados e disponibilizaram os dados dos arquivos zootécnicos de seus rebanho para utilização em projetos de pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, A.L.G. Avaliação do parto de vacas da raça Holandesa inseminadas com Holandês ou Jersey e do desenvolvimento, sanidade e concentração de imunoglobulinas dos bezerros. Programa de Pós-Graduação em em Ciência Animal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2010. 38 p.
GETZEWICH, K.E. Hormonal regulation of the onset of puberty in purebred and crossbred Holstein and Jersey heifers. . Animal Science, Virginia Polytechnic University Blacksburg, 2005. 69 p.
HEINRICHS, A.J.; LOSINGER, W.C. Growth of Holstein dairy heifers in the United States. J Anim Sci, v. 76, p.1254-60, 1998.
MALTECCA, C.; KHATIB, H.; SCHUTZKUS, V.R.; HOFFMAN, P.C.; WEIGEL, K.A. Changes in conception rate, calving performance, and calf health and survival from the use of crossbred Jersey x Holstein sires as mates for Holstein dams. J Dairy Sci, v. 89, p.2747-54, 2006.
RODRIGUES, R.S. Crescimento, Desempenho Produtivo e Eficiência Reprodutiva de Fêmeas Leiteiras Mestiças Holandês x Jersey em Comparação ao Holandês. Programa de Pós-Graduação em em Ciência Animal, Unversidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2009. 57 p.
WEIGEL, K.A.; BARLASS, K.A. Results of a producer survey regarding crossbreeding on US dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 86, p.4148-54, 2003.
WILLIAMS, C.M. Effects of Crossbreeding on Puberty, Postpartum Cyclicity, and Fertility in Pasture-Based Dairy Cattle. Animal Science, North Carolina State University, Raleigh, 2007. 93 p.




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BALDUINO LUIS THOMAZI JÚNIOR

CAXIAS DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 31/03/2014

Obrigado pelo retorno!
O objetivo desse cruzamento é obter terneiros de corte.
Abraço
ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 27/02/2014

Prezado Balduino
Eu não teria muita preocupação com facilidade de parto no caso de cruzamento Jersey com Gir. Caso seja aí no Rio Grande do Sul, entendo importante refletir sobre os objetivos deste cruzamento.
Como sou um técnico de região de clima subtropical (Santa Catarina) não tenho a devida experiência em cruzamentos com zebuínos leiteiros. Pesquisadores e técnicos de regiões tropicais poderão auxiliá-lo com mais propriedade
BALDUINO LUIS THOMAZI JÚNIOR

CAXIAS DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 27/02/2014

Boa tarde
Qual a sua opinião sobre a cobertura de touro Gir leiteiro sobre vacas jersey na segunda cria?
O bezerro pode nascer muito grande devido a heterose?
EDVARDO PEREIRA DE MELO

TERESINA - PIAUÍ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/03/2013

Excelente artigo preenchendo uma lacuna em nossos conhecimentos.
EDISON ANTONIO PIN

DOIS VIZINHOS - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 07/03/2013

O bom desse debate é a construção de conhecimento,
é o desafio ao considerado imutável.
Melhor ainda é vivenciar cada sistema de produção
e tirar nossas próprias conclusões.

ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 06/03/2013

Michel

Entendo que teu comentário resume a importância da pesquisa sobre os diferentes recursos genéticos: oferecer opções para que produtores e técnicos escolham aqueles que podem melhor se adequar aos seus modelos e/ou objetivos de precisão. Concordo também contigo que a utilização de um sistema de cruzamento, assim como de qualquer outro recurso genético, não pode ser utilizado como alternativa a manejo e alimentação adequados.
Obrigado pelo comentário
MICHEL KAZANOWSKI

QUEDAS DO IGUAÇU - PARANÁ - OVINOS/CAPRINOS

EM 06/03/2013

Caro André,

Importante é o produtor levar em consideração qual o sistema ele desenvolve e o quanto o cruzamento pode-lhe ser útil.
Confinamentos tem alto investimento por animal alojado, portanto quanto maior a produção melhor se dilui este custo. Nesse quisito nada supera o holandes puro.
Em sistemas a pasto o cruzamento é a melhor alternativa? Depende! Se pensarmos em sólidos a holandesa ainda leva vantagem, pois apesar de menor porcentagem destes tem produção maior o que acaba levando vantagem sob o Jersey. Sistemas a pasto bem manejados tem condições que favorecem a criação de vacas holandesas (água, sombra, bons corredores, etc).
Agora se a idéia é trabalhar com uma produção sazonal, como ocorre na NZ, o cruzamento favorece a fertilidade, portanto é mais facil conseguir a concentração de partos pretendida. Se a opção é reduzir as intervenções no momento do parto, cruzar é uma boa saída. Se pretendes trabalhar a pasto, com animais de menor porte, que tem menor necessidade de mantença e não quer partir para o Jersey, com seu sistema mamario problemático e estatura demasiamente baixa nem criar suas holandesas passando fome para que elas não crescam demais, temos mais uma vez a opção de cruzar. Se queres animais mais longevos e com menor incidencia de problemas que levem a descartes voluntários, favorecendo a seleção de animais lucrativos o cruzamento pode ajudar.
Cruzar é uma ferramenta. Alguns indices melhoram, no entanto, o cruzamento não deve ser usado como formula para resolver problemas decorrentes de um sistema de produção mal executado. Forragem de alta qualidade, conforto e manejo tem peso muito maior que a cor do animal que está sendo criado.

Abraço

Michel Kazanowski
ALEXANDRE DOS REIS E SILVA

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/03/2013

Muito esclarecedor! Obrigado pelas informações!
EDISON ANTONIO PIN

DOIS VIZINHOS - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 05/03/2013

AQUI NO SUDOESTE DO PARANÁ,
ESTAMOS "PELEANDO" PARA RATIFICAR
A MESTIÇA (JXH) DEFINITIVAMENTE.
O ARTIGO CORROBORA A NOSSA INTENÇÃO.
ANDRÉ THALER NETO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 04/03/2013

Jaime
Existe um trabalho científico nos Estados Unidos, apontando piores resultados em profundidade do úbere. este é um tema que precisa ser melhor pesquisado para direcionar a seleção dos reprodutores visando a diminuição de problemas desta natureza.
JAIME HENRIQUEZ

OUTRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/03/2013

Desde hace más de 15 años empezamos este proceso de cruzamiento entre Holstein - Jersey. El problema que he detectado es la caida de la ubre, los ligamentos del F1 tienen esa consecuencia.
FERNANDO BACK

FORQUILHINHA - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/03/2013

Parabéns Thaler pelo artigo.Artigos como este podem subsidiar a tomada de decisão nos rumos da genética do rebanho.Penso que cada propriedade tem suas caracterisiticas próprias em relação a condições de clima , intensidade de manejo como também a comercialização de excedentes devem ditar uma genética com animais mais apurados ou com uma boa orientação nos cruzamentos.
PEDRO E. DAL PIZZOL

RIO DO SUL - SANTA CATARINA - MÉDICO VETERINÁRIO

EM 04/03/2013

Meus Parabéns professor!
Abraço...
MANOEL CAVALCANTI DE LACERDA NETO

RECIFE - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/03/2013

Achei bastante interessante o trabalho. Já foi proprietario de um rebanho (137) cabeças de de mestiças holandez/Gersey, com desenvolvimento ponderal das filhas proximo a do holendez puro. Ferteis demais, acasalava entre 12 a 15 meses.leiteiras excelentes, com média na primeira lactação na ordem de 18 a 22 quilos. A origem do meu rebanho foi de uma liquidação de plantel da Fazenda Califórnia em Macaiba-RN.
PARABENS PELA EXCELÉNCIA DO PRABALHO.
LAUDELINO JOAQUIM DE CARVALHO

VARGEM GRANDE DO SUL - SÃO PAULO

EM 04/03/2013

Excelente artigo e muito oportuno. Parabéns.
WILLIAM FLORIANI

LAGES - SANTA CATARINA - ESTUDANTE

EM 03/03/2013

Excelente artigo professor. Parabéns!

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