Mais essa agora... bactérias conversam! Sim, é verdade; conversam muito e sobre diversos assuntos. Esclareço caros leitores da MilkPoint que não estou usando uma metáfora, mas de fato bactérias conversam e esse bate-papo é cientificamente comprovado existir e se chama quorum sensing.
Com quem falam? Surpreendentemente além de conversarem entre si (aquela rodinha de conversa dentro da própria comunidade) as bactérias conversam com o hospedeiro, ou seja, com cada um de nós. Como falam? Visto serem organismos muito simples e diminutos elas usam uma forma mais rudimentar de comunicação feita pela liberação de moléculas químicas.
E sobre o que conversam? Aí depende. Quando a roda de conversa é entre elas alguns assuntos pertinentes seriam: “em que quantidade nossa espécie está?”; “vamos esperar até nascerem mais alguns de nossa espécie?”; “agora temos um número grande, vamos produzir nossa toxina?” Toxina?! Sim, é importante lembrar que temos bons e maus habitantes compondo nossa flora. Sorte a nossa contar com bactérias do bem que são nossas aliadas para manter a ordem no ambiente intestinal.
Nosso valente exército de micro-organismos do bem é capaz de combater diretamente o desenvolvimento de bactérias que podem nos causar doenças e para isso usam diferentes estratégias. Algumas são mais sutis, como disputar por comida ou por espaço para se estabelecerem no intestino. Outras são mais diretas como a produção de substâncias que inibam a bactéria indesejável. E tem a interessante estratégia de pedir reforços ao comunicarem-se com o nosso sistema imune por meio de uma verdadeira “linha cruzada” (ou cross-talk). O sistema imune capta a mensagem e entra em ação.
E mesmo quando o cenário é de calmaria, não pensem que o silêncio impera. Os bate-papos continuam, nem que seja para sinalizar: “está tudo funcionando bem por aqui”, “o intestino está regulado”, “a alimentação está equilibrada”, “os inimigos estão sob controle”. Nessa hora é liberada uma dose generosa de serotonina produzida ali mesmo no intestino, e nos sentimos felizes e de bem com a vida.
Prestar atenção e valorizar nossa flora intestinal é uma boa dica. Mas lembre-se que essa não é uma comunidade estática. Ao contrário ela está em constante renovação. Assim sendo é importante buscar formas de repovoar a comunidade com micro-organismos do bem. Consumir lácteos contendo culturas probióticas é uma boa estratégia. Outras seriam buscar hábitos de vida saudáveis, incluindo alimentação equilibrada e diversificada, para garantir uma “boa roda de conversa intestinal”.
Referência bibliográfica
Corthésy et al. Cross-talk between probiotic bacteria and the host immune system. Journal of Nutrition, 2007 Mar;137(3 Suppl 2):781S-90S.