Estas perguntas são bastante comuns e atualmente existem muitos subsídios em termos de informações científicas e novas tecnologias que podem auxiliar o produtor na escolha mais acertada de estratégia de secagem no seu rebanho.
A duração ideal do período seco por exemplo tem sido muito estudada nas duas últimas décadas. Pesquisas realizadas na Universidade de Wisconsin (Gümen, Rastani et al. 2005, Rastani, Grummer et al. 2005) mostram claramente que períodos secos de menor duração tendem a melhorar a situação de balanço energético negativo no pós-parto, que por consequência faz com que a primeira ovulação pós-parto e início de ciclicidade ocorra com menos dias em leite e ainda com um incremento positivo na taxa de concepção. Ou seja, períodos secos mais curtos tendem a melhorar a situação metabólica e fertilidade da vaca no pós-parto. Contudo, pesquisas também indicam que vacas com períodos secos menores que 40 dias, embora produzam colostro de boa qualidade, tendem ter menor produção de leite no pós-parto – sendo este efeito mais evidente em vacas de primeira lactação se comparado a multíparas.
Na prática, é sabido que a simples decisão de secar ou não uma vaca depende obviamente do nível de produção da vaca e custo da dieta, possibilidade de utilização de bST para prolongar a lactação em alguns casos particulares, taxa de lotação dos lotes de final de lactação e de vacas secas, da condição corporal do animal, contagem de células somáticas e contaminação da glândula mamária, do estado reprodutivo (prenha ou vazia) e da data de concepção do animal, e ainda se a gestação é gemelar ou não.
Isto parece bastante básico, mas muitos produtores no Brasil tendem a ter uma grande porcentagem de vacas com período seco excessivamente longo ou maior que 60 dias, basicamente por falta de informação da data exata da concepção – principalmente em rebanhos que utilizam touros de repasse, sendo que por não saberem exatamente a data de concepção, produtores tendem a secar vacas muito cedo antes do parto. Por outro lado, vacas com gestações gemelares, mais comuns em rebanhos de maior produção, claramente antecipam o momento do parto em cerca de 10 dias, fazendo com que o período seco seja muito curto. Portanto, o controle exato do momento da concepção e se a vaca esta prenha de uma gestação gemelar são variáveis fundamentais para ter melhor controle da duração do período seco.
Devido ao melhoramento genético, do nível de manejo, e da utilização do bST as produções de leite e persistência de lactação em rebanhos comerciais têm aumentado consistentemente nas últimas décadas. Como consequência, temos sim muitas vacas produzindo altíssimos volumes no momento da secagem! E agora, como proceder com o manejo de secagem desse animal de maior produção?
Durante a prática da “secagem gradual”, a diminuição da frequência de ordenha ou da densidade & energia da dieta pré secagem para diminuir a produção, normalmente estão relacionados com aumento de contagem de células somáticas no parto subsequente. Por exemplo, foi encontrado que a diminuição da densidade energética antes da secagem aumenta os níveis circulantes de ácidos graxos não esterificados (AGNE) devido à mobilização de gordura corporal, que por consequência diminuem a capacidade defensiva do sistema imune da vaca em um dos períodos de maior incidência de infecção da glândula – durante os primeiros dias após a secagem. Portanto, a prática de “secagem gradual” não parece ser uma boa opção em rebanhos modernos.
Devido a limitações da “secagem gradual”, alternativamente tem-se recomendado a utilização da “secagem abrupta”, onde a vaca é manejada sem nenhuma alteração na frequência da ordenha ou mudanças de dieta até o momento da secagem. Como o próprio nome explica, nesse manejo a secagem ocorre de forma abrupta. A secagem abrupta é utilizada em rebanhos mais produtores devido à sua clara vantagem financeira em relação à secagem gradual, pois o produtor tem a oportunidade de retirar mais leite de suas vacas no final da lactação, principalmente para produtores utilizando mais agressivamente o bST. Porém, pesquisas realizadas no Canadá mostram que o nível de estresse e o problema de vazamento de leite é aumentado, e o tempo em que a vaca fica em pé no pós-secagem é 5 vezes maior em animais recebendo a secagem abrupta se comparado à secagem gradual. Estando isso associado à diminuição do bem-estar animal, e maior incidência de mastites devido ao atraso da formação do tampão de queratina no canal do teto devido ao vazamento de leite – o que representa uma porta de entrada para patógenos causadores de mastite. Portanto, nenhuma das práticas de secagem acima mencionadas parece ser ideal para vacas de alta produção.
Felizmente, existe hoje no Brasil uma alternativa farmacológica que auxilia o procedimento de secagem de vacas de leite de alta produção. A cabergolina (Velactis®), um medicamento injetável que deve ser aplicado pela via intramuscular unicamente no momento da secagem, pode inibir em questão de poucas horas os principais estímulos hormonais (prolactina e IGF1) para produção de leite. Desta forma o produtor pode realizar a secagem de forma abrupta sem ter problemas com vazamento de leite excessivos e de bem-estar animal.
Artigos científicos (Bach, De-Prado et al. 2015, Boutinaud, Isaka et al. 2016, Bertulat, Isaka et al. 2017) recente publicados no “Journal of Dairy Science” mostram claramente que Velactis acelera o processo de involução da glândula em cerca de 4 dias baseado em marcadores fisiológicos como níveis de prolactina, conteúdo de lactose, lactoferrina e células de defesa no leite residual durante o processo de involução do tecido glandular do úbere. Além disso, (Bertulat, Isaka et al. 2017) mostram que o uso do Velactis reduz drasticamente o problema de vazamento de leite e sofrimento (edema e dor) da vaca – melhorando a saúde do úbere, capacidade imunitária da glândula, e forma significativa facilita o manejo da secagem.
Como mensagem final, fica a recomendação de se ter um controle de dados reprodutivos mais organizados com o objetivo de predizer mais precisamente o momento do parto, incluindo as vacas carregando gestações gemelares, mais comuns em rebanhos mais produtores. Indubitavelmente, a secagem gradual não é recomendada em rebanhos modernos pelos motivos acima mencionados, e o uso de secagem abrupta está associado a um melhor retorno econômico no final da lactação. Porém a utilização do facilitador de secagem – o Velactis, que melhora a involução da glândula e diminui problemas de vazamento de leite, revela-se claramente vantajoso para rebanhos que optam pela utilização da secagem abrupta.
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Referências:
Bach, A., A. De-Prado and A. Aris (2015). "The effects of cabergoline administration at dry-off of lactating cows on udder engorgement, milk leakages, and lying behavior." Journal of dairy science 98(10): 7097-7101.
Bertulat, S., N. Isaka, A. de Prado, A. Lopez, T. Hetreau and W. Heuwieser (2017). "Effect of a single injection of cabergoline at dry off on udder characteristics in high-yielding dairy cows." Journal of Dairy Science 100(4): 3220-3232.
Boutinaud, M., N. Isaka, V. Lollivier, F. Dessauge, E. Gandemer, P. Lamberton, A. D. P. Taranilla, A. Deflandre and L. Sordillo (2016). "Cabergoline inhibits prolactin secretion and accelerates involution in dairy cows after dry-off." Journal of dairy science 99(7): 5707-5718.
Gümen, A., R. R. Rastani, R. R. Grummer and M. C. Wiltbank (2005). "Reduced Dry Periods and Varying Prepartum Diets Alter Postpartum Ovulation and Reproductive Measures." Journal of Dairy Science 88(7): 2401-2411.
Rastani, R. R., R. R. Grummer, S. J. Bertics, A. Gümen, M. C. Wiltbank, D. G. Mashek and M. C. Schwab (2005). "Reducing Dry Period Length to Simplify Feeding Transition Cows: Milk Production, Energy Balance, and Metabolic Profiles." Journal of Dairy Science 88(3): 1004-1014.