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Pesquisador abordará os impactos ambientais da pecuária durante Congresso em Goiânia

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 12/11/2012

11 MIN DE LEITURA

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A bioeficiência em sistemas de produção de leite será um dos temas de debate do Congresso Internacional do Leite, que será realizado em Goiânia dos dias 21 a 23 de novembro. O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira irá abordar o tema.

Mineiro de Belo Horizonte, o médico-veterinário pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em ciência animal com foco em nutrição de ruminantes pela mesma instituição, o pesquisador, Pereira, participa de uma linha de pesquisa ambiciosa que tem como objetivo estabelecer as exigências nutricionais de bovinos leiteiros criados em clima tropical.

Pereira integra a equipe que está implantando o Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária, que entrará em funcionamento em outubro deste ano. O investimento orçado em mais de R$ 12 milhões, é visto pela Embrapa Gado de Leite como prioritário e definirá os rumos da pesquisa na instituição.

De caráter interinstitucional e interdisciplinar, as ações do Complexo serão conduzidas em parceria com 17 instituições, envolvendo 75 pesquisadores de todo o país. O Complexo irá mobilizar boa parte do pessoal de pesquisa da instituição em ações multidisciplinares que abrangem genômica, reprodução, sanidade, ambiência, nutrição, etc.

Na entrevista a seguir, concedida ao jornalista Rubens Neiva, Pereira fala sobre nutrição de ruminantes, impactos ambientais da pecuária e dos resultados esperados na realização das pesquisas.

Como andam as pesquisas em nutrição de bovinos no Brasil?

Luiz Gustavo R. Pereira - Estamos prestes a dar um grande salto nesta área. Em outubro, a Embrapa Gado de Leite irá inaugurar o Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária. Este Complexo irá realizar pesquisas em quatro grandes áreas: metabolismo e impactos ambientais da pecuária; zootecnia de precisão; biotecnologia e ambiência e saúde animal. Os trabalhos sobre nutrição se concentram nas primeiras duas áreas. Os estudos que iremos desenvolver nos permitirá entender melhor aspectos da nutrição de ruminantes nas condições tropicais e os impactos da atividade pecuária no meio ambiente.

O que vem a ser este Complexo Multiusuário?

LGRP - Trata-se de um conjunto de laboratórios destinados a apoiar as pesquisas em vários segmentos da pecuária, seja ela de corte ou leite; de pequenos ou grandes ruminantes. A estrutura foi construída em um dos campos experimentais da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco - MG (Campo Experimental José Henrique Bruschi). O Complexo vem sendo construído em etapas. Ao final, serão 21 instalações diferentes distribuídas em 13,7 mil metros quadrados de área construída que já demandaram um investimento de R$ 8,5 milhões. Nossa expectativa é ter em funcionamento no Complexo Multiusuário um laboratório de bioenergética equipado com quatro câmeras respirométricas para bovinos e oito pra pequenos ruminantes, além de um setor de bioeficiência alimentar equipado com sistema automático de controle de consumo alimentar.Os equipamentos estão sendo importados da Europa e Estados Unidos, e parte sendo adquirida no Brasil. Tivemos muito cuidado ao projetar esta estrutura. Para isto visitamos laboratórios nos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Escócia, Alemanha e Austrália. Reunimos ideias de vários destes laboratórios para criar uma estrutura compatível com o que há de mais eficiente no mundo.

Como funciona uma câmara respirométrica?

LGRP - As câmaras são instrumentos para o estudo da nutrição e permitem avaliar tanto o alimento quanto o animal. Trata-se de um compartimento fechado, onde os animais se alimentam, dotado de equipamentos sofisticados de aferição. Quando uma vaca consome um determinado alimento, ocorre um processo de fermentação e o resultado é a produção de gases e a perda de calor. Nas câmaras respirométricas é possível mensurar este fenômeno, calculando o quanto está sendo consumido de oxigênio e a quantidade de gases emitidos no processo. São medidas também as perdas na forma de incremento calórico, urina e fezes. Em suma, o uso de câmara respirométrica em estudos de bioenergética, permite o estudo detalhado do processo digestivo e metabólico, de como o alimento é aproveitado pelo animal.

Estes estudos não eram realizados anteriormente no Brasil?

LGRP - Este será o segundo laboratório deste tipo no país. O primeiro entrou em funcionamento em 2006, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Lá, está em funcionamento uma câmara para bovinos e três para ovinos. A instituição é pioneira nos trabalhos com câmara respirométrica, inicialmente liderados pelo professor Norberto Mário Rodriguez. Há seis anos a UFMG vem gerando informações e tecnologias sobre a questão. Aliás, a UFMG - juntamente com outras 17 instituições nacionais, somando 75 professores e pesquisadores - é uma das parceiras nas pesquisas que serão realizadas na Embrapa. Essa será a principal característica do Complexo Multiusuário: potencializar redes de pesquisa, agregando ações e compartilhando as informações geradas.

De que forma o produtor rural se beneficiará com os resultados destas pesquisas?

LGRP - Citando como exemplo a linha de pesquisa em nutrição, os estudos relacionados à exigência nutricional para os bovinos em condições tropicais, permitirão a formulação de dietas de forma mais eficiente para o rebanho. Atualmente, quando um nutricionista brasileiro faz o balanceamento de uma dieta para um rebanho leiteiro, ele utiliza dados de publicações como as do "National Research Council" (NRC), que foram desenvolvidos para as condições de clima temperado do hemisfério norte. O clima do Brasil não pode ser comparado com o dos Estados Unidos, assim como uma vaca Gir tem necessidades diferentes de uma vaca Holandesa. É lógico que não vamos abolir as recomendações das publicações internacionais, mas para um balanceamento nutricional adequado, temos que levar em conta as características de produção nos trópicos tais com as principais raças utilizadas e a disponibilidade de alimentos. Nosso desafio é gerar informações confiáveis sobre o valor nutritivo dos alimentos e das exigências nutricionais. Tais informações poderão permitir ajustes nos modelos internacionais existentes, visando à adequação destes, às condições tropicais.

A pecuária nacional ainda não dispõe de procedimentos próprios, com fórmulas e tabelas de exigências nutricionais, para as características brasileiras?

LGRP - Os estudos relacionados à pecuária de corte estão mais avançados. O BR-CORTE (Exigências nutricionais de zebuínos e tabelas de composição de alimentos), disponibilizado na forma de software livre disponível para produtores rurais, indústria de rações e pesquisadores, é um dos melhores exemplos de inovação na área de nutrição animal no Brasil. Já para o rebanho leiteiro, ainda prevalece o uso de dados de tabelas internacionais. Os trabalhos desenvolvidos em instituições com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a própria UFMG já demonstraram que muitas destas equações desenvolvidas fora do Brasil não são adequadas para as nossas condições. A soma de esforços na área de pesquisa em exigências nutricionais, potencializada com a estruturação do Complexo Multiusuário, poderá contribuir para a geração de recomendações de exigências nutricionais de bovinos leiteiros úteis não apenas para o Brasil, mas para as regiões tropicais.

Mas as características de um farelo de soja, por exemplo, não são as mesmas no mundo todo?

LGRP - As características do farelo de soja podem ser as mesmas, mas as vacas são diferentes. Uma vaca holandesa que produz 50 litros de leite por dia vai precisar de uma quantidade de combustível (alimento) compatível com esta produção. Os rebanhos utilizados nos trópicos, na sua maioria formada por zebuínos e seus mestiços como o Girolando, possuem características próprias de produção, o que resulta em exigências nutricionais peculiares. No entanto, toda vez que se discute sobre as diferenças entre o bovino nos trópicos e o bovino nas regiões de clima temperado, incorre-se em polêmica. A questão proteica, por exemplo: hoje, nos Estados Unidos, sugere-se reduzir a quantidade de proteína da dieta. Será que esta recomendação é válida para as condições brasileiras? Ou esta decisão pode afetar negativamente os índices reprodutivos? No Brasil, privilegiam-se as pastagens de forrageiras tropicais, que também carecem de uma avaliação criteriosa. Em síntese, não pretendemos ignorar o know how dos centros de pesquisa da Europa, Canadá ou Estados Unidos, mas precisamos ir a campo e desenvolver um modelo mais afinado com a nossa realidade. Esta é a premissa básica para conseguirmos adotar a nutrição de precisão de forma exitosa em condições tropicais.

Em quanto tempo o produtor poderá ter acesso aos resultados desta pesquisa?

LGRP - Os trabalhos são de médio a longo prazo. O prazo inicial é de aproximadamente cinco anos para reunir as informações já existentes e executar novos experimentos para que possam ser gerados os primeiros resultados aplicáveis, mas os trabalhos já estão em curso. Para o produtor de leite pode parecer demorado, mas este é o tempo da ciência e acreditamos que os resultados da pesquisa irão impactar bastante no setor produtivo. Afinal, a alimentação do rebanho ainda é responsável por parte considerável dos custos de produção.

Entre as ações do Complexo Multiusuário está a questão da sustentabilidade. É sabido que a pecuária é uma grande emissora de gases que provocam o aquecimento global. Como a pesquisa tratará a questão?

LGRP - Os ruminantes são responsáveis por aproximadamente 5% do total dos gases de efeito estufa (GEE) produzido, mas da forma com que o assunto vem sendo abordado, parece que a pecuária tem que pagar toda a conta do aquecimento global. Devemos lembrar que o mesmo processo que gera os gases de efeito estufa (metano), a fermentação, realizada pelos microrganismos ruminais, capacita os bovinos a aproveitarem alimentos fibrosos (pastagens, silagens, fenos, etc) não utilizados para alimentação humana. O processo de fermentação-ruminação é uma evolução das espécies ruminantes de milhares de anos que garante o suprimento de grande parte da demanda por alimentos da crescente população mundial. Temos que lembrar que as vacas produzem um dos alimentos mais completos disponíveis para os seres humanos, o leite. Pesquisa realizada nos países nórdicos da Europa compararam a emissão de GEE gerada para a produção de leite, refrigerantes, suco de laranja, cerveja, vinho, água mineral gasosa e bebidas de soja e aveia. Os pesquisadores verificaram que, para cada 100g de leite, 99g de equivalente CO2 eram gerados, um dos valores mais elevados quando comparado às demais bebidas. Entretanto, quando a comparação foi realizada levando-se em consideração a quantidade de nutrientes, o leite apresentou vantagem em relação às demais bebidas. A produção de refrigerantes, por exemplo, gera menos GEE, mas também contribui menos com nutrientes para alimentação humana. Outro exemplo, a indústria do tabaco, emite menos gases de efeito estufa do que a atividade pecuária, mas o que ela está produzindo em troca: problema de saúde pública. Acredito que a função da pesquisa é contribuir para desmistificar o papel da atividade pecuária nas mudanças climáticas, analisando o problema de forma objetiva, sem qualquer engajamento político ou ambiental.

A pecuária de leite praticada nos trópicos, principalmente a brasileira, é vista de forma ainda mais negativa se comparada aos países de clima temperado. Há algum motivo para isso?

LGRP - Mais do que a produção entérica de gases poluentes, o que coloca a pecuária de leite nacional numa situação desconfortável são os índices produtivos. A produção média da pecuária de leite no Brasil é próxima a 1,5 mil litros de leite/vaca/ano. Este é um número passível de melhorias. O Canadá, por exemplo, propaga a sustentabilidade de sua pecuária porque conseguiu aumentar a produtividade por vaca de sete para nove mil litros de leite/vaca/ano, reduzindo com isso o tamanho do rebanho e contribuindo para a mitigação dos gases. Se o Brasil se guiar por esta lógica, será ainda mais fácil para nós levantarmos a mesma bandeira. Pela simples razão de que é muito mais simples para nós dobrarmos nossa produtividade do que foi para os canadenses incrementar dois mil litros de leite/vaca/ano a sua já alta produtividade. Toda ação que melhore a eficiência do sistema de produção reduz, proporcionalmente, a emissão de metano, uma vez que mais produto (carne, leite, lã, etc.) será produzido em relação aos recursos utilizados. O produtor deve desapegar-se de estratégias milagrosas e sim produzir de forma eficiente. Assim, terá mais lucro e gerará menos gases de efeito estufa. Mas ainda existem muitas questões a serem reveladas sobre a atividade pecuária nos trópicos. Estamos muito preocupados em avaliar a emissão e esquecendo de considerar o sequestro de carbono. Um trabalho feito nos EUA comparando sistemas de produção com gado confinado (vacas da raça Holandes) e a pasto (f1 holandes x jersey) produzindo a mesma quantidade de leite revelaram menor "pegada" de carbono para o leite produzido a pasto. Este argumento é interessante e indica a sustentabilidade do leite Brasileiro, produzido em sua maioria a pasto. Práticas como integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), o uso de leguminosas, a recuperação de pastagens, o manejo de pastagem que garanta oferta de forragem de elevada qualidade e que preserve o solo e a suplementação estratégica e racional para os períodos de entressafra são tecnologias importantes para a sustentabilidade da atividade leiteira. Do ponto de vista da pesquisa, o Complexo Multiusuário nos fornecerá os métodos, por meio de equipamentos reconhecidos mundialmente, para afirmar o quão sustentável é a atividade no Brasil.

A própria influência das atividades humanas no aquecimento global é um assunto polêmico. O senhor acredita que a agricultura, de forma específica, e o homem de uma maneira geral tenha responsabilidade nas mudanças do clima do planeta?

LGRP - Como você mesmo disse, este é um assunto polêmico. Há uma corrente que sustenta que o homem não tem capacidade de influir no clima do planeta e o que está ocorrendo é o resultado de um processo natural. Já outra corrente afirma que está em curso uma nova era geológica denominada Antropoceno. Este termo foi cunhado pelo prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen. Segundo ele, a influência humana no funcionamento do planeta é tão significativa que já justiçaria o início desta nova era. Pessoalmente, eu costumo transitar pelas duas correntes e há na pesquisa agropecuária defensores de ambas as teorias. Nós iremos confrontar esta duas visões em um dos painéis do 11º Congresso Internacional do Leite, que ocorrerá dos dias 21 a 23 de novembro no Atlanta Music Hall, em Goiânia, no estado de Goiás. Mas, independente de sermos ou não os agentes das mudanças climáticas globais, tenho a certeza de que somos capazes de produzir alimentos de forma mais eficiente. Esta é uma questão determinante para o Brasil que, cada dia mais, vem se consolidando como ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda de alimentos para os sete bilhões de habitantes do mundo hoje e para os 9,2 bilhões que habitarão o planeta em 2050.

A matéria é da Embrapa, adaptada pela Equipe Milkpoint.

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