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Manejo do neonato de pequenos ruminantes

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/10/2011

10 MIN DE LEITURA

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O nascimento é o processo de transição mais dramático que o individuo enfrenta em toda a sua vida. O nascimento é caracterizado pelo trauma e estresse do parto e por um período de asfixia que pode ser exacerbado durante a ocorrência de uma distocia (parto com dificuldade). Mais da metade das mortes dos neonatos ocorre no primeiro ou no segundo dia de vida. Essas mortes são geralmente causadas por distúrbios não-infecciosos, como hipotermia, hipoglicemia e anormalidades relacionadas a distocia (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

O neonato tem que se adaptar ao ambiente extra-uterino, e todos os órgãos e sistemas estão envolvidos nesse processo. Em um intervalo muito curto de tempo, o neonato tem que assumir controle de suas trocas gasosas, eliminar seus próprios excrementos, controlar a sua temperatura e seu fluxo sanguíneo e ainda procurar por comida (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Se o parto for normal, a maioria dos neonatos sobrevive a esse período de transição sem problemas. Deve-se lembrar que no final do período gestacional o feto sofre uma série de mudanças metabólicas estimuladas pelas modificações hormonais que preparam para o parto, o que resulta em um preparo para a vida livre. Entretanto, em alguns casos, normalmente associados a distocias e partos demorados, ocorre alta incidência de mortalidade do recém-nascido (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

A maioria dos problemas que ocorrem no neonato é de aparecimento súbito e com sinais clínicos pouco específicos, dificultando o diagnóstico da causa do óbito. Os principais sinais clínicos observados em um neonato com problema são fraqueza, inatividade, demora em desenvolver o comportamento normal de se levantar e mamar, temperatura corpórea baixa e variação nos batimentos cardíacos e nos movimentos respiratórios.

Cuidados com o sistema respiratório

Se o parto ocorrer normalmente, os movimentos respiratórios se iniciam espontaneamente cerca de 60 segundos após a expulsão. Se houver um atraso na parição, os movimentos respiratórios podem se iniciar antes mesmo de o feto ter sido expelido (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Em ovinos, foi demonstrado que as mudanças que ocorrem para iniciar os movimentos respiratórios espontâneos estão associados a estímulos térmicos e táteis relacionados à presença da mãe (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Logo após o nascimento, é importante ter certeza de que as vias respiratórias altas estão livres de fluido, muco e restos de anexos fetais. Isso pode ser feito com o auxílio dos dedos ou, de preferência, com um sistema de sucção. A elevação do posterior do neonato resulta em saída de grande quantidade de fluido. Em partos normais, isso pode não ser necessário, já que existem evidências de que um terço desse fluido é absorvido pelo sistema linfático dos pulmões do neonato. Esfregar o tórax do neonato com panos secos e toalhas normalmente resulta em estímulo tátil suficiente para auxiliar o início dos movimentos respiratórios (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Inatividade ou letargia

O instinto maternal é imprescindível na estimulação do cordeiro/cabrito, sendo em parte responsável pela sobrevivência do neonato. A inatividade ou letargia é caracterizada por uma demora em se levantar e mamar. Por isso, um dos primeiros cuidados básicos é estimular o comportamento materno e, se necessário, obrigar o cordeiro/cabrito a se levantar e mamar. Essas duas atividades fazem com que o cordeiro/cabrito gere calor através da atividade muscular e obtenha nutrição e suporte imunológico através da ingestão do colostro. Se não houver a ingestão de colostro, após algumas horas este deve ser administrado através de sonda esofagiana (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Hipoxia/Acidose

A ocorrência de hipoxia no neonato tem como principais causas, movimentos respiratórios fracos, atelectasia, mistura de sangue venoso e arterial no coração, circulação pulmonar anormal e má difusão de gases nos alvéolos. A indicação na tentativa de reverter estes casos seria a suplementação com oxigênio utilizando um cilindro portátil e máscara. Se a ressuscitação não resultar em respiração espontânea após 2 a 3 minutos, dificilmente o neonato sobreviverá.

A acidose respiratória e metabólica são fenômenos que ocorrem normalmente no momento do nascimento, e é corrigida no máximo em 48 horas. Quando ocorre algum problema no parto (distocia), a acidose torna-se mais severa, afetando a função cardíaca e respiratória, levando a redução do vigor e diminuição do reflexo de sucção. Uma maneira simples de avaliar a acidose do neonato é a determinação do tempo para que este assuma decúbito esternal (ficar de peito no solo), o que deve acontecer dentro de 4 a 6 minutos após o parto. A presença de bom tônus muscular e o reflexo de pedalar são indicativos de uma boa oxigenação, enquanto que a presença de esclera e conjuntiva hemorrágicas indicam hipoxia e acidose, sendo o prognostico ruim (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006). Neste caso, a correção da acidose metabólica pode ser feita através da administração de bicarbonato de sódio, mas, a administração tem que ser monitorada por um veterinário, porque se o cordeiro/cabrito não estiver respirando normalmente, o tratamento pode resultar em piora da acidose respiratória.

Devido à diminuição do reflexo de sucção, cordeiros/cabritos em hipoxia e/ou acidose apresentam uma menor absorção de imunoglobulinas, por isso esses animais devem ser suplementados com uma maior quantidade de colostro.

Hipoglicemia

Os cordeiros/cabritos são suscetíveis a hipoglicemia, normalmente, a glicose é alta no sangue do neonato, o ideal seria monitorar os níveis de açúcar no sangue antes de se realizar a suplementação. Uma vez diagnosticado a necessidade de suplementação, a aplicação endovenosa tem bons resultados. Dificilmente o animal apresentará problemas de hipoglicemia se estiver mamando ou recebendo colostro ou leite (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Regulação da temperatura

Após o nascimento, o neonato tem que se ajustar a um ambiente no qual a temperatura pode variar consideravelmente, sendo na maior parte das vezes menor que a do útero. A temperatura corporal no neonato cai rapidamente em relação à da mãe, em cordeiros e cabritos, a temperatura é restabelecida em algumas horas (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).
Existem duas formas de controle de temperatura nos neonatos:

1º) aumento da atividade metabólica cerca de três vezes em relação à do feto logo após o nascimento. Esse mecanismo desempenha um papel importante na manutenção da temperatura corporal do neonato. O aumento do metabolismo acontece até certo limite. Se este não for suficiente para manter a temperatura do neonato, levará a hipotermia;

2º) é a redução da perda de calor. O neonato de tem pouca gordura subcutânea, portanto, a sua insulação é pobre. Associado a isso, a superfície corpórea está molhada, levando a perda de calor por evaporação. Algumas medidas podem auxiliar na manutenção da termorregulação, como: utilização de aquecedores, lâmpadas aquecedoras, cobertores elétricos, quando necessário, fornecer condições para que os neonatos sequem rapidamente, diminuindo a perda de calor e proporcionando alimentação adequada o mais rápido possível, no caso o colostro (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Cuidados com o umbigo

Normalmente o umbigo se rompe espontaneamente durante o parto. Os cuidados a serem tomados com o cordão umbilical consistem em possibilitar que o parto ocorra em um local adequado, limpo e seco, de maneira que não seja primordial a desinfecção do umbigo. Quando necessário, o cordão deve ser limpo com uma solução antisséptica, seco e tratado com tintura de iodo ou um spray de antibiótico, durante 3 dias.

Importância do colostro

A imunidade no recém nascido é adquirida pela ingestão do colostro, que confere um aporte de imunoglobulinas a serem absorvidas no trato intestinal por um determinado prazo, resultando em níveis plasmáticos adequados à proteção contra as diversas formas de infecção (Sangild, 2003).

As proteínas séricas totais representam a somatória das frações albumina e globulinas. As variações dos valores séricos das proteínas totais no recém nascido decorem das flutuações do estado de hidratação e principalmente da absorção das imunoglobulinas de origem colostrais (Sangild, 2003).

A transferência passiva de anticorpos tem que acontecer preferencialmente nas primeiras 2 horas de vida para o cordeiro e para cabrito até 4 horas, mas esta ingestão pode acontecer até 12 horas, porém passado este tempo a absorção intestinal de imunoglobulinas começa a cair (PUGH, 2002). O sucesso ou a falha na transferência passiva de anticorpos colostrais podem ser mensurados pelo teste semi-quantitativo de sulfato de sódio, que é de fácil realização (Tabela 1), ou por kits comerciais ou por teste laboratoriais definitivos como o radioimunoensaio. As proteínas totais podem ser mensuradas pelo soro por meio refratometria, tornando-se possível a detecção precoce de animais carentes e a adoção de estratégias de incremento da imunidade passiva (BICUDO et.al. 2009).

Tabela 1 -Método de avaliação do sucesso ou falha na transferência passiva de neonatos.

Teste de sulfato de sódio para transferência passiva



Após o parto, o interessante é realizar o exame da glândula mamaria da ovelha/cabra, observando se não há presença de mastite, ferimentos nos tetos que dificultem o neonato a mamar e obstrução do orifício do teto.

O neonato precisa de 10 a 20% de seu peso corpóreo de colostro, preferencialmente entre 3 a 12 após o nascimento. A recomendação para a suplementação com colostro é 50mL/kg nas primeiras 2 horas depois do nascimento, num total de 200mL/kg no primeiro dia (PUGH, 2002).

Não é recomendada a utilização de substitutos comerciais de colostro por não aumentar os níveis de imunoglobulinas, o ideal é ter um banco de colostro. As doadoras de colostro não podem apresentar doenças infecto-contagiosas e estar com o calendário de vacinação em dia. Para a ordenha é preciso que haja a desinfecção das mãos do ordenhador e dos tetos, além dos frascos de armazenagem sejam limpos e de preferência esterilizados. Vale lembrar que o recomendado para o colostro de cabras é realizar tratamento térmico (56ºC por 1 hora) para prevenir a transmissão do vírus da artrite encefalite caprina (CAE).

O colostro de vaca pode ser usado, porém as imunoglobulinas estão menos concentrada em relação ao colostro de ovelha e cabra e o fornecimento de colostro de outra espécie pode gerar crises hemolíticas, como por exemplo, a anemia (PUGH, 2002).

No caso de suplementação com leite artificial de neonatos órfãos, tem que respeitar a exigência de 10 a 20% do peso corpóreo, e divididos em 4 a 6 vezes ao dia, aquecido a aproximadamente 37ºC e as mamadeiras e bicos sempre limpos para evitar diarréias. Como o substituto do leite de ovelha e cabra não tem os mesmos valores físico-químicos comparados com o in natura podem ser acrescidos de antibiótico para diminuir a incidência de enterites e problemas respiratório e enriquecido com vitamina A (20.000 a 30.000 IU/kg de matéria seca), vitamina E (30 a 40 mg/kg de matéria seca) e vitamina D (2500 a 3500 IU/kg) de matéria seca. A tabela 2 mostra a composição de leite de ovelha e cabra.

Tabela 2 -Composição do leite de ovelha e cabra em porcentagem de matéria seca.



Considerações finais

A saúde dos cordeiros/cabritos não está ligada somente ao manejo das ovelhas/cabras, mas também aos cuidados a serem adotados durante o seu nascimento.

Os cordeiros/cabritos são os produtos finais e destinados para finalidade específica em cada tipo de criação, merecendo atenção mesmo antes do nascimento. As ovelhas/cabras prenhes no terço final de gestação devem ser agrupadas ou mantidas em baias individuais pré-maternais onde receberão as vacinas estabelecidas no calendário sanitário da propriedade e suplementação alimentar balanceada seguindo principalmente a quantidade de fetos, a fim de que o desenvolvimento do(s) feto(s) não seja prejudicado e o colostro seja de alta qualidade para transferir a imunidade passiva.

Após o nascimento, o cordeiro/cabrito tem que começar a respirar, livrar o trato respiratório dos fluidos, estabilizar e manter a temperatura corporal, desenvolver e adquirir coordenação motora. O observador deve estar atento para reconhecer essas características. Não ocorrendo em tempo abio, poder-se iniciar procedimentos de suporte à vida e chamar o médico veterinário.

No caso de neonatos suplementados com leite/colostro artificial é imprescindível um monitoramente intensivo e as vacinas estabelecidas para o rebanho têm que ser administradas mais cedo para estes animais, a fim de suprir as deficiências impostas pela falta do colostro.

Bibliografia consultada

BICUDO, L.C.; LOPES, R.S.; TAKAHIRA, R.K.; RODELLO, L.; BICUDO, S.D.; BISCARDE, C.E.A. Proteínas séricas totais por refratometria com estratégia de monitoramento da aquisição de imunidade passiva em cordeiros com ingestão voluntária de colostro. 36º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (CONBRAVET), Porto Seguro - Bahia, 2009.

PRESTES, N.C., LANDIM-ALVARENGA, F.C. Obstetrícia Veterinária. Rio de Janeiro - Br: Guanabara Koogan, 2006, 241p.

SANGILD, P.T. Uptake of Colostral Immunoglobulins by the Compromised newborn Farm Animal. Acta vet. scand. Suppl. 98, 105 -122, 2003.

PUGH, D.G. Sheep & Goat Medicine. Philadelphia - USA: Saunders Company, 2002, 468p.

MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

Médico Veterinário (UNOESTE - Presidente Prudente), com Residência em Reprodução Animal (UNESP- Araçatuba) e Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Reprodução Animal (UNESP- Botucatu)

CARMO EMANUEL ALMEIDA BISCARDE

Formado em 2007 pela UFBa; Residente em Fisiopatologia da Reprodução e Obstetrícia pela FMVZ-UNESP-BTU; Mestre em Medicina Veterinária pela FMVZ-Unesp-BTU; Médico Veterinário da Universidade Federal Do Recôncavo da Bahia - UFRB.

VITOR SANTIAGO DE CARVALHO

Médico Veterinário do Hospital Veterinário da UFBA. Mestre em Ciência Animal nos Trópicos

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DANIELLE RAMOS

CURITIBA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 29/10/2014

Oi Leandro!! Bom dia! Claroo !

É dani.ramos93@outlook.com



Muito obrigada!
MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

ARAGUAÍNA - TOCANTINS - PESQUISA/ENSINO

EM 28/10/2014

Prezada Danielle,



Para que possa enviar o artigo para vc preciso de um email. Quanto ao teste de sulfato de sódio, vc vai encontrar em livros de neonatologia.



Agradeço por ter lido o farmpoint
DANIELLE RAMOS

CURITIBA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 27/10/2014

Boa Noite Leandro .. Sou academica de Medicina Veterinária .. Estudo da faculdade Envagelica do Paraná, estou fazendo meu tcc relacionado a transferencia de imunidade passiva em cordeiros. Gostaria de saber onde posso ter acesso ao artigo "Proteínas séricas totais por refratometria com estratégia de monitoramento da aquisição de imunidade passiva em cordeiros com ingestão voluntária de colostro." para saber um pouco mais sobre o teste de sulfato de sodio usado para a avaliação .. Obrigada DANIELLE LAIS RAMOS
MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

ARAGUAÍNA - TOCANTINS - PESQUISA/ENSINO

EM 28/10/2011

Prezado Tiago,



Muito obrigado pelos elogios, continue lendo os nossos radares técnicos
TIAGO

PORTO VELHO - RONDÔNIA - ESTUDANTE

EM 27/10/2011

Artigo muito bom e didático, parabéns aos autores. contribuiu para meus conhecimentos.

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