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A produção de ovinos e o melhoramento genético no Brasil - Parte 1

POR BRUNO FERNANDES SALES SANTOS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/09/2009

8 MIN DE LEITURA

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A pesquisa, desenvolvimento e aplicação de tecnologias que envolvem a genética têm sofrido grandes mudanças nos últimos anos. Há tempos a genética animal é cada vez mais influenciada pela ciência em muitos sentidos, e os princípios científicos vêm sendo amplamente aplicados nos processos que envolvem a produção animal. No caso da Ovinocultura, mas principalmente em outras atividades, a observação pode ser complementada pela mensuração, e a intuição muitas vezes substituída ou influenciada pelos cálculos e predições científicas.

O rápido desenvolvimento da informática e da tecnologia da informação tem contribuído imensamente com a coleta de informações e o cálculo do mérito genético de diferentes rebanhos. Além disso, outro grande responsável pelo progresso genético é a biotecnologia, envolvendo, sobretudo a genética molecular e as técnicas reprodutivas. Estas por sua vez não teriam função genética propriamente dita, porém nos permitem identificar os animais superiores e multiplicá-los em maior velocidade. Técnicas como inseminação artificial, transferência de embriões, clonagem, marcadores genéticos e moleculares estão disponíveis no mercado. A maior questão é saber quando e como tais tecnologias deveriam ser aplicadas a fim de efetivamente causar impacto em toda uma população ou mesmo causar desenvolvimento em um determinado rebanho. Para entender melhor estes aspectos o claro entendimento dos princípios de melhoramento genético se faz necessário.

A cadeia de produção ovina no Brasil está passando por um período interessante em sua história. Nunca antes se ouviu falar tanto a respeito da carne de cordeiro como nos dias atuais. As churrascarias geralmente oferecem cortes como paleta e carré ou ainda o chamado "carneiro" como parte do rodízio. Diversos restaurantes e bares incluíram pratos à base de cordeiro em seus cardápios, e correntemente encontramos os cortes cárneos nas prateleiras dos supermercados. Estes fatos não são totalmente inesperados, uma vez que o crescimento populacional e elevação do poder de consumo da população em geral refletem uma melhoria ou incremento na dieta, sobretudo, com o aumento do consumo de carnes.

Ao redor do mundo um incremento no consumo de carne ovina tem sido observado (ver figura abaixo). As tradicionais operações de importação de carne ovina por parte da Europa e dos Estados Unidos vêm sendo complementadas pelas importações da China, de maneira que a demanda crescente não tem sido acompanhada pelo crescimento do rebanho. Diversos países com tradição histórica na produção de ovinos vêm reduzindo seu plantel devido, sobretudo, à competição com as demais atividades ligadas ao agronegócio, crescimento urbano e populacional, dentre outros fatores. Frente a tal cenário podemos chegar a uma conclusão simples, o mundo necessita de maior produção de carne ovina. E haverá necessidade de aumento na produtividade para que a demanda seja atendida.

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Uma das ferramentas mais eficazes de incremento da eficiência em produção animal é o melhoramento genético. Diferentemente dos demais aspectos ligados à ciência animal como nutrição, sanidade e reprodução, os efeitos do melhoramento genético são percebidos ao longo dos anos e geralmente de maneira impactante. Um típico exemplo é o caso do suíno moderno, com maior quantidade de músculo e menor quantidade de gordura quando comparado ao chamado "porco tipo banha" do passado. Também observamos os efeitos do melhoramento em outras espécies como em aves (frango moderno), pecuária leiteira, pecuária de corte e etc. Assim, a genética tão importante quanto à nutrição, por exemplo, deve ser encarada com a mesma seriedade, porém, ainda estamos muito aquém desta realidade no Brasil.

Infelizmente a ovinocultura brasileira está estagnada no que se refere ao melhoramento genético. Observam-se três distintos cenários que deveriam estar adequadamente conectados, mas que, no entanto estão equivocadamente relacionados:

- Atividade de subsistência: seria aquela realidade onde o produtor mantém um rebanho para abastecer o consumo da propriedade ou promover a venda ou troca por produtos de consumo. Muito comum em diversas regiões do nordeste, sul do país e nos estabelecimento rurais ao redor do Brasil.

- Produção comercial: atividade que tem por objetivo abastecer o mercado com a carne ovina. Este segmento depende de diversos fatores produtivos para que os produtos cheguem ao consumidor final com qualidade e em quantidades suficientes para atender à demanda. De maneira geral, as atividades ligadas à produção comercial devem ser economicamente viáveis e resultar em benefícios sócio-econômicos para toda a cadeia. Assim, a produtividade deve ser priorizada e exerce importante papel neste cenário.

- Criação de animais puros ou "elite": este segmento compreende as propriedades que têm por objetivo principal o fornecimento de animais superiores (mais produtivos) para os dois sistemas anteriores. Em uma atividade estruturada os animais mais produtivos de uma população (pequena proporção) teriam um valor econômico agregado superior ao dos animais "comuns" por serem mais produtivos e, portanto, proporcionarem maior possibilidade de retorno econômico.

Uma vez apresentados os diferentes cenários, poderemos discutir mais adiante onde se encontram os equívocos na relação entre os mesmos e a função do melhoramento genético em todo o contexto.

A maioria dos criadores, produtores e envolvidos com a cadeia de produção de ovinos têm a percepção que seria excelente se os animais jovens, filhos e filhas de determinado carneiro ou ovelha fossem melhores que seus pais. Esta é a idéia geral do melhoramento genético, sendo que o conceito "melhor" estaria ligado à idéia de mais produtivo (mais pesado ao desmame ou abate, maior eficiência reprodutiva, menor mortalidade e etc.) se este for o objetivo de seleção. Também existe o conceito de que o melhor seria o mais próximo do padrão racial, ou que atingiu a melhor colocação no maior número de exposições, ou ainda o que promoveu o maior valor de venda em leilões.

A grande pergunta é: Qual é o objetivo ou função produtiva da espécie ovina na atual conjuntura? Acredita-se que a resposta à questão seja: produzir carne para a população. E certamente pelos sinais vindos do mercado a resposta está correta. Assim, a idéia é promover o melhoramento genético da população de ovinos com o objetivo de atingir melhor resultado na produção de carne.

O primeiro passo em direção a atingir um patamar produtivo de excelência seria determinar ou mensurar o nível de produtividade das propriedades, rebanhos, raças, regiões e de todo o país (kg cordeiro/ha/ano). É possível para todo e qualquer criador medir sua eficiência desde que anotações básicas sejam aplicadas e que os animais sejam identificados, assim, a escrituração zootécnica é fundamental. Uma vez identificado o nível de produção é possível determinar o que pode ser melhorado ou quais características ou parâmetros necessitam evoluir. A seqüência incluiria a identificação de quais animais poderiam fornecer os genes responsáveis pelo incremento em tais características e como proceder para que estes genes sejam difundidos no rebanho, resultando em crescimento da produção com o passar dos anos.

Todas as etapas são importantes e em geral o comprometimento, o tempo, os custos e o conhecimento exigidos para efetuar trabalhos deste tipo impedem, no Brasil, que um maior desenvolvimento nesta área fosse obtido até hoje. Felizmente, a iniciativa de alguns criadores, empresas do setor e pesquisadores permite que trabalhos isolados estejam sendo realizados, demonstrando os benefícios e melhores resultados obtidos por aqueles que se propõem a promover progresso genético real em seus rebanhos.

As relações equivocadas citadas anteriormente estão relacionadas às funções dos diferentes cenários ou tipos de produção, sobretudo, do rebanho de animais puros, uma vez que estes animais supostamente deveriam conduzir os rebanhos comerciais e também os de subsistência a um maior nível produtivo. Dificilmente observamos a ocorrência prática de tal função uma vez que geralmente os critérios utilizados para definir os animais ditos superiores são única e exclusivamente baseados em características de fenótipo, como aparência do animal, peso, padrão racial, preço obtido em determinado leilão, colocação na pista de julgamento e etc. O fenótipo é o resultado da expressão genética de um animal e das influências ambientais a que tais expressões foram submetidas (meio ambiente, clima, manejo, nutrição, manejo reprodutivo, medicamentos, exercícios e etc.). Assim, um animal geneticamente superior deveria produzir mais e melhor uma determinada característica, independente do ambiente a que for submetido.

O maior desafio é identificar este animal de maior potencial genético, que ferramentas utilizar, a que condições ambientais submetê-lo a fim de permitir que o mesmo expresse seu potencial produtivo, como saber se este animal irá melhorar o desempenho de rebanhos submetidos às condições diferentes aquelas onde o mesmo é selecionado, como mensurar a evolução ou o retrocesso obtido, e como agir para que o potencial genético dos rebanhos siga evoluindo sempre de maneira a possibilitar maiores taxas produtivas com o passar dos anos.

Diversos criadores questionam se isso é possível. Ao mesmo tempo inúmeros produtores se perguntam por que os resultados deste ano não foram melhores que os do ano passado ou aos de dois anos atrás. Ainda existem os casos onde o primeiro e segundo ano de atividade o resultado é excelente com bons resultados reprodutivos, alta incidência de partos duplos, baixa mortalidade e bom ganho de peso dos cordeiros, porém a partir de determinado momento os resultados começam a piorar e mais problemas começam a surgir, quando teoricamente deveriam ser melhores uma vez que o nível de manejo melhorou, os pastos estão mais bem manejados e ainda, novos reprodutores foram adquiridos trazendo assim o tão esperado "melhoramento genético".

A idéia da sequência de artigos que estaremos publicando através do FarmPoint é justamente discutir como as sequências de eventos dentro dos sistemas de produção de ovinos são influenciadas pelo melhoramento genético, como promover melhoramento genético dentro dos rebanhos, quais as ferramentas tecnológicas existentes, qual a situação dos outros países do mundo e como os mesmos conduzem seus rebanhos com relação à genética. O objetivo final é apresentar ao leitor argumentos simples e de fácil entendimento, complementando o que os demais autores já escreveram em artigos anteriores, de maneira que possamos contribuir para que o leitor desenvolva o espírito crítico necessário para compreender as bases por trás da palavra genética e o que a mesma realmente significa. É fundamental que o criador aprenda a distinguir o trabalho realizado, atualmente, pelas exposições e leilões e as influências que os mesmos exercem nos rebanhos comerciais.

Acreditamos plenamente em uma cadeia produtiva organizada e bem estruturada onde os animais realmente superiores terão capacidade de efetivamente elevar a produtividade do rebanho nacional, e assim fazer com que a atividade ovina possa exercer a função sócio-econômica que todos esperam.

BRUNO FERNANDES SALES SANTOS

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JAIME DE OLIVEIRA FILHO

ITAPETININGA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/09/2009

Para que tudo isso possa acontecer, temos que entender que a classe dos ovinocultores e não só esta classe mais todas outras precisam estar unidas, recebendo informações e trocando idéias entre si, e apoio dos orgãos de grupos organizados como Sebrae, onde já disponibilizam tecnologia para que haja esse melhoramnto genético, fazendo com que os bons reprodutores façam rodízio nas propriedades com base em resultados já comprovados por outros colegas do seu próprio grupo, não vamos cometer o mesmo erro da bovinocultura que está escrava de um sistema onde os frigoríficos é quem pôem as regras e o produtor é que paga as contas, precisamos desde já no começo do desenvolvimento da cadeia produtiva sair de maneira organizada e só conseguiremos isso através da união da classe, ou cometeremos os mesmos erro dos nossos colegas bovinocultores.

Jaime de Oliveira Filho
Tecnólogo em Agronegócios
email:conservicesovinos@yahoo.com.br

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