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Voltando da Suécia, melhoristas focam as características funcionais

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/07/2005

6 MIN DE LEITURA

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Por Fernando Enrique Madalena1

Dias atrás tive oportunidade de participar da reunião da Associação Européia de Produção Animal (EAAP) em Uppsala, na Suécia, e gostaria de compartilhar com os leitores do MilkPoint algumas das impressões recolhidas sobre assuntos de melhoramento de gado leiteiro.

Seleção por características funcionais

A ênfase colocada nas características funcionais pelos melhoristas europeus é realmente impressionante. Parece que só se fala nisso: melhorar a fertilidade, longevidade, facilidade de partos e resistência a doenças, como medir, como avaliar, como comparar os sistemas dos diferentes países e que importância econômica tem estas características em relação às de produção.

Há problemas técnicos, genéticos, estatísticos e operacionais, e os cientistas estão debruçados sobre eles. Parece que finalmente levaram a sério o que já se sabia há muito tempo: que a ênfase exagerada na seleção para maior produção acarretou perdas na fertilidade e saúde. Agora, é correr atrás do prejuízo.

Seleção direta para resistência a doenças

Tem 30 anos que países escandinavos implementaram programas de seleção para resistência às doenças, registrando a sua incidência. No caso da mamite, por exemplo, anota-se a incidência da mamite clínica, o que permite seleção mais efetiva que a seleção indireta com base na contagem de células somáticas, que é apenas um indicador. Anota-se também doenças da reprodução, metabólicas e outras. Sempre me impressionou este fato.

A obtenção de dados de qualidade em centenas de milhares de vacas é essencial para que o melhoramento da saúde tenha possibilidades de sucesso, porque se trata de características de baixa herdabilidade, o que só pode ser compensado com o acúmulo de informações de muitos parentes de cada animal avaliado geneticamente.

Só na Suécia são 7.500 fazendas com 350.000 vacas em controle leiteiro e inseminação. Eu sei que isso para o Brasil é fichinha, falando em quantidade. Mas vai organizar anotações confiáveis da incidência de cada doença em todo esse gado. Quem já teve a ver com controle leiteiro, genealógico ou zootécnico sabe de que estou falando. Fui conferir com o Prof. Jan Rendel, hoje aposentado, em cujo livro estudava trinta anos atrás, e que foi meu chefe na FAO.

Rendel explicou-me que as anotações das doenças são feitas pelos veterinários, mas algumas também pelos próprios produtores. Tendo agora uma idéia de como aquele povo gosta das coisas certinhas, não duvido da qualidade dos dados (refiro-me ao dia a dia, tipo ônibus com horário certo afixado no ponto, é para passar às 09:32, e passa mesmo!). O resultado desse esforço se vê na tendência genética: enquanto no Holandês deles (SLB) aumentou a produção e as doenças, na SRB (Sueca Vermelha e Branca) a produção aumentou menos, mas não houve deterioração da fertilidade e da saúde. Essas são as duas raças predominantes (cada uma com 47% do total de vacas). A média nacional de produção por lactação é de 8.000 kg, da contagem de células somáticas de 170.000 e a incidência de mamite clínica de 28 por 100 vacas/ano. A Suécia foi declarada livre de leucose e de IBR e não tem sido detectado nenhum caso de "vaca louca" em mais de 70.000 animais testados. Em fim, não estou recomendando raça nenhuma para o Brasil, apenas acredito na seriedade do trabalho.

Cruzamentos nos EUA

O Prof. Gary Rogers, da Universidade do Tenessee, salientou que também nos EUA aumentou a produção de leite e sólidos por vaca, mas o desempenho nas características funcionais diminuiu. Ele apresentou uns números de arrepiar: a taxa de mortalidade de vacas adultas no Tenessee é de 8% ao ano, enquanto que nos outros Estados aquela taxa é semelhante ou maior, como na Florida, onde a mortalidade chega a 11%. A taxa de descarte por outras doenças do que as reprodutivas e a mamite, também é elevada, de 8% ao ano.

Como muitos outros palestrantes, ele apontou como saídas: a seleção por índice de mérito econômico, incluindo as características funcionais além das de produção, e a utilização de cruzamentos, que hoje está em alta nos EUA, onde se estima que 10 a 15% do rebanho leiteiro já é cruzado, afirmou Rogers.

Tudo bem, ambas as recomendações estão certíssimas, mas eu fiquei pensando que os índices de seleção para mérito econômico foram inventados já em 1943, por um americano, L.N. Hazel, tendo sido amplamente utilizados na avicultura e suinocultura; porque será que não foram também utilizados no gado leiteiro, onde só se falava em produção e tipo? Da mesma forma, já faz 35 anos que Robert Touchberry demonstrou nos EUA que os cruzamentos de Holandês com Guernsey eram 20% mais econômicos que o Holandês puro, e depois houve outros trabalhos, como os de McDaniel e os de Gowe e McAllister no Canadá, com outros cruzamentos, mas com a mesma conclusão.

Dez anos do Interbull

O Interbull, um serviço de avaliação genética que permite comparar animais de diferentes países, completou 10 anos de funcionamento. O serviço está sediado na Universidade de Uppsala, e realizou um workshop paralelo à reunião da EAAP. Arualmente, tem participação de 31 países, principalmente os do primeiro mundo.

Na última avaliação genética, só da raça Holandesa entraram 85.000 touros. Isto permite não apenas comparar resultados de diferentes países, mas também aproveitar a informação plenamente, já que os animais são avaliados com base em todos os dados disponíveis de seus parentes, de qualquer país em que foram registrados.

O Interbull foi desenvolvendo metodologias estatísticas apropriadas para estas avaliações internacionais, e continua a fazê-lo. Foi também incorporando outras características nas avaliações, além da produção e tipo, visando, agora, a avaliação pelo mérito econômico.Os responsáveis do Interbull estão analisando em incluir também as informações sobre o DNA dos animais, que nos próximos anos estarão ficando cada vez mais disponíveis. Se as complexidades técnicas são tremendas, as operacionais não ficam atrás, uma vez que a diversidade dos sistemas de anotação. Realmente o Interbull faz um trabalho fantástico.

Forma e função

Chamou-me a atenção o comunicado do Dr. T. Lawlor, da Associação de Criadores de Holstein dos EUA, de que foi recentemente comprovado que selecionando-se para forma leiteira, aquela das vacas mais descarnadas, aumenta-se a produção de leite, mas também se diminui a fertilidade, de maneira que a recomendação será para reverter aquela seleção. Foi questionado sobre se haveria revisão das escalas de pontuação, mas não entendi a resposta.

De todo modo isto é mais um exemplo dos caminhos que pode levar selecionando-se apenas pela forma dos animais e não pelas funções econômicas. Se quiser produção selecione pela produção, se quiser longevidade, selecione pela longevidade. Se vai usar um indicador, no caso o tipo, prove primeiro que ele é adequado.

O que não faz sentido é ficar durante décadas selecionando de uma forma para depois chegar à conclusão de que aquilo era contra a produção. Vale destacar que a meio século atrás a moda no gado de corte era o tipo "compacto", o que levou a alta incidência de nanismo. Muitos aprenderam a lição de que se deve selecionar pela função e não pela forma, mais ainda há quem continue a bater na mesma pedra.

Aleitamento restrito

Eu estava lá apresentando o trabalho de Fabiano Junqueira sobre a maior economicidade da ordenha com bezerro ao pé, para ver a matéria no MilkPoint, clique aqui) quando me deparei com trabalho semelhante realizado na Suécia, com gado Holandês (Froberg et al.). Sem o apojo, o sistema não funciona muito bem, mas o interessante é que eles não têm medo da pesquisa.

Congresso Mundial no Brasil

Fui lá também para promover o 8o Congresso Mundial de Genética Aplicada à Produção Animal (8WCGALP) que estamos organizando para Agosto de 2006 em Belo Horizonte. A sessão de melhoramento de gado leiteiro é organizada conjuntamente com o Interbull.

Os três temas que eles escolheram mostram as preocupações atuais: cruzamentos e consangüinidade, equipamentos automáticos para controles zootécnicos e de saúde e novas características, com ênfase no lucro. Mais detalhes deste Congresso, clique aqui para ver.

Os anúncios foram muito aplaudidos e sentimos o grande interesse dos europeus pelo Brasil e sua genética animal. Eles vão comparecer em peso.


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1Fernando Enrique Madalena é professor da UFMG

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ANTONIO NUNES FERREIRA

NOVA FRIBURGO - RIO DE JANEIRO

EM 17/07/2005

Professor Fernando,



Parabéns pelo excelente artigo. Realmente muito bom!



Somos representantes no Brasil da Svenk Avel a principal cooperativa genética da Suécia e temos ressaltado justamente a excelência da seleção genética na raça SRB.



Convidamos o professor e seus leitores a visitarem nosso site https://www.geneticasueca.com.br target=, onde certamente encontrarão mais informações sobre a seleção desenvolvida na Suécia com as raças SRB Sueca Vermelha e Branca e SLB que é o gado Holandês Preto e Branco.



Atenciosamente,

Antonio Nunes Ferreira
LUIS EUGENIO TEIXEIRA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/07/2005

Importante direcionar a seleção genética de acordo com o nosso ambiente,pois o resultado é a longo prazo e custo é alto.



É preciosa a participação do prof. Fernado Madalena,que alia o rigor científico ao bom senso da realidade do campo. Parabéns.

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