Por Oscar Queiroz1 e Luiz Gustavo Nussio2
A diminuição na margem de lucro resultante não só pela falta de aumentos significativos no preço da arroba, mas também pelo aumento de competição e tecnificação entre os produtores torna fundamental a diminuição nos custos de produção para aumentar a receita da fazenda.
Considerando que o custo da alimentação dos animais é responsável por cerca de 65% do custo total de produção, é cada vez mais importante que o produtor conheça o impacto do valor de cada ingrediente da ração na receita da fazenda.
A silagens são usadas em sistemas que visam diminuir o efeito da sazonalidade de produção e explorar da melhor maneira o mercado. A determinação do custo da silagem não ocorre de maneira tão simples como com os outros ingredientes da ração: farelos e grãos são comprados a preço pré-determinado e com data para pagamento.
A confecção da silagem de cana-de-açúcar, por exemplo, envolve o sistema de plantio, manutenção do canavial, corte e ensilagem, no qual rendimentos podem ser alterados por inúmeros fatores. A simples utilização de um trator adequado a compactação pode resultar em diferenças de até 7% nas perdas do volumoso.
Contudo, não é raro encontrar fazendas desprovidas de uma análise de custo. Em outros casos, é comum que técnicas simplistas sejam adotadas para se estimar o custo total do volumoso. O montante de recursos usados durante o processo de ensilagem ou o custo da adubação do canavial, não são os únicos parâmetros que devem adotados para a avaliação do custo da silagem. Tendo isso em vista, os produtores que lançam mão dessa técnica deveriam saber responder prontamente a seguinte pergunta: Você sabe quanto custa sua silagem?
A análise de custo é tão melhor, quanto maior a número de detalhes que ela contém. Uma análise segura deve passar por todos os processos que envolvem o sistema de produção, ou seja, o estabelecimento da cultura, a manutenção, o corte, a ensilagem da forragem e o fornecimento do volumoso aos animais.
Tomando-se como exemplo uma propriedade que produza cana-de-açúcar por volta de 340 t MV/ ciclo de produção (102 t MS/ ciclo) com índices de perdas razoáveis (perdas de colheita 10%, perdas no silo 15% e perda no cocho de 5%), pode se exemplificar o nível de detalhamento exigido para se obter uma estimativa de custo que se aproxime ao valor real observado.
O estabelecimento da cultura vai ser marcado pelos custos envolvendo a formação da cana planta e, posteriormente, a manutenção da cana soca, os cortes, a ensilagem e o fornecimento do volumoso.
Os custos de produção da cana planta (15,26 % do custo total) podem ser divididos dentro de classes que facilitam o entendimento e a organização dos dados. São sugeridas as seguintes classes: insumos (referentes ao adubo de plantio, cobertura, herbicidas, inseticidas, análise de solos), preparo do solo (calagem, aração e gradeação), plantio (sulcação, distribuição de mudas, picagem de mudas, cobertura e repasse) e tratos culturais (aplicações, capina).
Os custos de manutenção da cana soca (14,28% do custo total) podem ser alocados dentro das classes insumo e tratos culturais, sendo que custos por ciclo de produção estão sensivelmente ligados a produção que tende a diminuir a partir do primeiro corte.
A depreciação do silo, e o custo de manutenção que fatalmente está associado ao tipo de silo e ao material usado em sua construção, constituem um item normalmente esquecido na contabilidade da fazenda, eles formam uma classe chamada de investimento (4,61% do custo total).
Um fator importante que representa cerca de 10 a 15% do custo total é o uso de aditivos. A utilização de aditivos está implicitamente ligada ao tipo de silagem a ser elabora, neste caso a silagem de cana-de-açúcar vem mostrando bons resultados com o uso de inoculantes bacterianos, cuja finalidade é de reduzir perdas na fermentação e preservar a silagem quando exposta ao ar. È importante, contudo lembrar que o aditivo não vai melhorar a qualidade da forragem ou corrigir erros básicos de manejo do silo.
A colheita e a ensilagem formam, sem dúvida, a classe de maior importância logística para o sistema, erros em dimensionamento de frota podem levar a grandes prejuízos quanto maior for o tempo para se fechar o silo. Perdas por respiração celular, perdas de açúcar decorrentes da ação de leveduras e outros microrganismos (maior em plantas com teor alto de açúcar, como cana) são freqüentes e cada vez maiores em função do contato da forragem com o ar.
Dentre os itens considerados dentro desta classe estão: colheita, transporte, compactação e fechamento dos silos. Todos os itens que envolvem máquinas e equipamentos da fazenda tem embutido no seu custo horário a depreciação decorrente do uso.
Então é isso? Não! O item mais esquecido das análises é justamente a descarga e a distribuição da silagem aos animais. A retirada da silagem, o transporte e a distribuição podem representar nada mais, nada menos do que 26,5% de todo o custo.
O uso de trabalho manual para a descarga tanto na retirada como na distribuição deve ser contado como um custo agregado à confecção da silagem, tendo em vista o número de horas que os trabalhadores demoram a executar este serviço e o custo horário por cada trabalhador envolvido.
Essa série de dados permite a elaboração do custo da tonelada de silagem. É sempre desejável se pensar no custo da MS por tonelada, afinal comparações de volumosos com diferença de umidade podem fornecer uma idéia errada do custo. Uma silagem com 30 % de MS e outra com somente 28% de MS ambas custando R$59,64 t/ MV apresentam uma diferença de custo por tonelada de MS de R$ 198,8 para R$ 213,00 respectivamente.
Os passos descritos podem ser usados como exemplos de uma análise detalhada para um determinado sistema de produção, porém cada propriedade deve adequar sua análise excluindo e inserindo itens importantes ao seu sistema.
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1Mestrando em Ciência Animal e Pastagens
2Professor Associado do Departamento de Zootecnia - USP/ESALQ - nussio@esalq.usp.br