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Suplementação com Colina para Vacas em Transição

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/12/2013

6 MIN DE LEITURA

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A importância da colina como um nutriente indispensável é reconhecida para vários animais, como ratos, cães, suínos, aves e peixes. No entanto, seu papel na nutrição de vacas leiteiras ainda não é unanimidade entre nutricionistas. Na edição 2013 do Simpósio de Nutrição de Ruminantes promovido pela Universidade da Florida, o Dr. Ric Grummer, professor emérito da Universidade de Wisconsin, apresentou uma palestra mostrando os avanços no conhecimento sobre o tema desde a publicação do NRC (2001). Neste artigo vamos apresentar os pontos principais discutidos nessa palestra.



Via de regra técnicos e nutricionistas referem-se à colina como uma vitamina, embora esse elemento não se encaixe na descrição clássica desse grupo nutricional. A colina não é co-fator em nenhum sistema enzimático, pode ser sintetizada pelo organismo animal e é requerida em quantidades muito superiores às vitaminas. A capacidade de síntese endógena de colina não significa que esta seja um nutriente dispensável ou não essencial. Os principais sintomas de deficiência de colina são taxas reduzidas de crescimento, disfunção renal e desenvolvimento de esteatose hepática (síndrome do fígado gorduroso).

A forma mais comum de colina nos sistemas biológicos é a fosfatidilcolina (PC), um fosfolipídio presente em todas as membranas celulares e de lipoproteínas que têm a função de fazer o transporte de lipídios pelo sistema circulatório. A colina também funciona como doadora de grupos metil, podendo atuar como poupadora de metionina. Também é um componente chave da acetilcolina, um dos mais importantes neurotransmissores.

A última edição do NRC de Bovinos Leiteiros, a “bíblia” dos nutricionistas, é de 2001. Naquela época os autores concluíram que a determinação dos requerimentos por colina, tanto para vacas em lactação quanto para vacas secas, ainda não era possível, e que eram necessários mais trabalhos de pesquisa sobre o tema. Já se vão mais de 11 anos desde essa publicação, e muitos dados interessantes foram produzidos desde então.

Uma extensa revisão da literatura científica (Bobe et al., 2004) mostrou que 50 a 60% das vacas em transição sofrem de esteatose hepática moderada a severa. O interessante dessa informação é que foram revisados estudos realizados em diferentes países, utilizando animais de diferentes grupos genéticos, em sistemas de produção variados, e os dados não representam animais ou rebanhos problema. A consistência observada entre esses estudos sugere fortemente que o desenvolvimento da síndrome do fígado gorduroso é uma etapa normal do ciclo biológico das vacas leiteiras.

Com a proximidade do parto, as vacas passam por alterações endócrinas que resultam em redução da ingestão de alimentos, disparando um período intenso de mobilização das reservas gordurosas corporais para atender à demanda energética do final da gestação, produção de colostro e subsequente lactação. Como consequência dessa mobilização de lipídios, os teores sanguíneos de ácidos graxos livres (AGNE) aumentam em até 10 vezes. No início da lactação esses teores se mantém elevados, porém num nível não tão elevado. Quando começa a síntese de leite o fluxo sanguíneo para o fígado praticamente duplica, de forma que a quantidade de AGNE que chega a esse órgão é bastante grande. Dados de pesquisa mostram que ao parto a quantidade desses compostos capturada pelo fígado aumenta em até 13 vezes.

Nem todos esses AGNE serão estocados, contribuindo para o fígado gorduroso, mas há estudos mostrando que quando a concentração sanguínea dessas gorduras é máxima, cerca de 600 g de AGNE podem ser depositadas no fígado em 24 horas, o que pode corresponder a um aumento de 6 a 7% no teor de gordura do órgão. Como referência, a comunidade veterinária considera que acima de 5% de gordura no fígado caracteriza-se esteatose hepática moderada a severa. E é importante destacar que esse aumento dramático na deposição de AGNE no fígado não é um problema que acomete vacas com escore de condição corporal (ECC) excessivo, ou vacas mal alimentadas ou com condições de conforto precárias. É um aspecto normal da biologia das vacas em período de transição.

O melhor destino para os AGNE que chegam ao fígado seria a completa oxidação a fim de prover energia ou sua reesterificação e exportação na forma de triglicerídios (TG), via formação de lipoproteínas, especialmente a de densidade muito baixa (VLDL). Durante o período de transição a oxidação hepática de ácidos graxos aumenta em cerca de 20%. No entanto isso não é suficiente para dar conta de toda a carga de AGNE que chega pela corrente sanguínea. Além disso animais ruminantes naturalmente apresentam baixa capacidade de exportar TG do fígado via VLDL. Esses fatores são os responsáveis pelo desenvolvimento da síndrome do fígado gorduroso em vacas leiteiras que apresentam elevada concentração de AGNE no sangue.

Já está bem estabelecido, em diversas espécies animais, que a taxa de exportação de VLDL pelo fígado está estreitamente correlacionada à taxa de síntese de fosfatidilcolina (PC) (Cole et al, 2011). Dessa forma, parece evidente que deficiência de colina é um fator limitante para a formação de VLDL, e que muito provavelmente vacas leiteiras no período de transição sejam deficientes em colina. Um estudo recente (Lima et al, 2012) mostrou redução na incidência de casos de cetose, mastite e morbidade quando se forneceu colina protegida da degradação ruminal (CPR) a vacas leiteiras de 25 dias até 80 dias depois do parto. Uma meta-análise recém concluída (Grummer & Crump, não publicado), que avaliou 13 estudos em que se forneceu CPR a vacas em transição, mostrou aumento médio na produção de leite da ordem de 2,2 kg/vaca/dia e no consumo de matéria seca da ordem de 700g/vaca/dia para os animais que receberam a CPR desde o pré-parto. Da mesma forma que a revisão de Bobe et al (2004), esta análise incluiu estudos realizados em países diferentes, com animais mantidos sob condições de manejo bastante diversificadas.

Outro aspecto interessante é que tanto a colina como a metionina atuam no organismo animal como doadores de grupos metil para diferentes rotas metabólicas, de forma que a metionina protegida pode ser uma alternativa à PCR para suplementação de vacas em transição, pois os grupos metil da metionina podem ser utilizados para síntese endógena da PC. Um trabalho recém publicado (Osorio et al., 2013) mostrou que a suplementação de vacas em transição com fontes protegidas de metionina pode ser benéfica para a saúde e desempenho dos animais. As vacas que receberam metionina tenderam a apresentar menos incidência de cetose pós-parto.

Pelo que foi exposto acima, há fortes evidências para sugerir que a suplementação de vacas leiteiras em transição com CPR é benéfico para o desempenho e saúde, e que o uso dessa tecnologia pode ser um elemento importante para aumentar a eficiência produtiva de rebanhos leiteiros. Ainda há bastante o que se estudar sobre o tema, mas tudo indica que seja um campo bastante promissor.


Referências:
BOBE, G.; YOUNG, J. W.; BEITZ, D. C. 2004. Invited review: Pathology, etiology, prevention, and treatment of fatty liver in dairy cows. Journal of Dairy Science, 87:3105-3124.
COLE, L. K., J. E. VANCE, AND D. E. VANCE. 2011. Phosphatidylcholine biosynthesis and lipoprotein metabolism. Biochim. Biophys. Acta, 1821:754-761.
GRUMMER, R. R. 2013. Choline: A Limiting Nutrient for Transition Dairy Cows. Proceedings of the Florida Ruminant Nutrition Conference, p.22-29.
LIMA, F. S.; M.F. SÁ FILHO, L.F. GRECO, J.E.P. SANTOS, 2012. Effects of feeding rumen-protected choline on incidence of diseases and reproduction of dairy cows. The Veterinary Journal, 193:140-145
Osorio, J. S.; P. Ji, J. K. Drackley, D. Luchini, J. J. Loor, 2013. Supplemental Smartamine M or MetaSmart during the transition period benefits postpartal cow performance and blood neutrophil function. Journal of Dairy Science, 96: 6248–6263

 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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JÉSSICA

LAVRAS - MINAS GERAIS - ZOOTECNISTA

EM 31/05/2016

Prezado Alexandre..

Qual o mecanismo de atuação da colina que resulta em aumento da ingestão de MS e consequentemente produção de leite? Os trabalhos com uso de metionina também tem mostrado resultados positivos sobre consumo e produção. De que forma ocorre essa atuação?
RICARDO DE PAULA GUIMARÃES

UMUARAMA - PARANÁ - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 14/08/2014

segue e-mail Sr. Alexandre: rickiguima@hotmail.com
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 14/08/2014

Ricardo, me passe um e-mail para que eu envie alguns trabalhos.



Abs!
MARIANA POMPEO DE CAMARGO GALLO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 08/07/2014

Para mais informações sobre nutrição de vacas em transição, participem do Curso Online "Manejo e Alimentação de Vacas em Transição".



O curso já está no ar, mas ainda dá tempo de participar e tirar suas dúvidas com: Alexandre M. Pedroso (Embrapa) e Rodrigo de Almeida (UFPR).



Para se inscrever, acesse o site:

https://www.agripoint.com.br/curso/transicao/



Ou mande e-mail para cursos@agripoint.com.br
CLAUDIO CENTENO GABANCHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/04/2014

Mi estimado profesor, el problema de la remoción de reservas grasas corporal en forma de Nefa es la forma natural entre el bajo consumo de materia seca y las necesidades energéticas conducen a; incompleta oxidación de trigliceridos con acumulo de cuerpos cetónicos y posteriormente el acumulo de trigliceridos en el hepatocito: para disminuir NEFA se necesita mas NIACINA acompañado con una mayor densidad de Hidratos de carbono en la dieta así eleva la insulina y reduce la Hormona de Crecimiento; la oxidación incompleta de los trigliceridos se haria completa al 100% con BIOTINA y como Ud dice los remanentes de trigliceridos acumulados en los hepatocitos con colina para exportarlos al torrente sanguíneo; cree Ud que con UNA DIETA alta en hidratos de carbono sobre grasas disminuiríamos estos problemas en el periodo de TRANSICIÓN ????
JONAS BERGER

SANTA TEREZINHA DE ITAIPU - PARANÁ - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 18/03/2014

Ola,,,

Gostaria de saber  a necessidade diária de metionina e colina para vacas leiteiras .

Muito boa a matéria publicada
MARIA BEATRIZ TASSINARI ORTOLANI

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/03/2014

Abertas as inscrições para o curso online AgriPoint de Nutrição de Precisão em Rebanhos Leiteiros com o instrutor Alexandre Pedroso.

O curso inicia-se dia 07/04.

Para mais informações acesse: https://www.agripoint.com.br/curso/nutricao-precisao/
ADÃO RICARDO ARAÚJO PRUDÊNCIO

PIRAPORA - MINAS GERAIS

EM 14/02/2014

Professor Alexandre, onde consigo adquirir a colina protegida.
MARCELO VASCONCELOS SANTANA

SANTA FÉ DO SUL - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 28/01/2014

Caro Gustavo



OBRIGADO PELAS DICAS



MARCELO
GUSTAVO HENRIQUE PEREIRA VILELA

BOA ESPERANÇA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/01/2014

Caro Marcelo Vasconcelos Santana, vi sua indagação sobre a utilização de soro de leite na alimentação de gado de leite.

Recentemente vi uma tese de doutorado que tratava do assunto na alimentação de bezerros, espero que possa ajudar:

https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=9&cad=rja&ved=0CHQQFjAI&url=http%3A%2F%2Frevistas.ufba.br%2Findex.p


Até...
GUSTAVO HENRIQUE PEREIRA VILELA

BOA ESPERANÇA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/01/2014

Ótimo artigo, eu particularmente ainda não havia lido sobre o uso de colina em gado de leite...A cada dia que passa mais me convenço de que ainda sabemos muito pouco sobre nossa atividade, ainda temos muito o que aprender. Sendo assim, quero agradecer ao Prof. Alexandre Pedroso pela sua contribuição...
CLOVIS MAURICIO LOPES

CARANGOLA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/12/2013

O professor Alexandre Pedroso sempre  minucioso e com postura ética nos brinda com seu vasto conhecimento, obrigado.

Uma pergunta, o Sr. mencionou que a quantidade necessária da Colina seria maior que as vitaminas, é qual seria esta dosagem?

Clovis   

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