Essa utilização eficiente da forragem colhida pelo animal depende do atendimento de requisitos básicos como sanidade, conforto animal e suplementação de nutrientes deficientes na forragem para atender as exigências nutricionais do animal para determinado nível de produção.
Contudo, o fornecimento exclusivo de pastagens tropicais não atende as exigências nutricionais de vacas leiteiras com produções diárias superiores a 10-14 kg de leite. O comprometimento das reservas corporais para garantir a produção de leite nessas condições tem sido uma preocupação constante e crescente nos nutricionistas, em função, principalmente, do avanço no potencial genético dos rebanhos atuais. Desta forma, a suplementação com concentrado para suprir as deficiências nutricionais de ordem qualitativa e quantitativa dos animais, pode ser uma prática importante para aumentar a produtividade dos sistemas de produção de leite em pastagens tropicais manejadas intensivamente. Resta saber qual concentrado fornecer e se é necessário ou não utilizar concentrados com elevados teores de proteína bruta (PB).
Os teores de PB das plantas forrageiras são, altamente, influenciados pelas doses de N aplicados após cada corte ou pastejo. Os teores elevados de PB em amostras de pastejo simulado das forragens apresentadas na Tabelas 1 se devem à combinação entre forma de amostragem (pastejo simulado), adubação nitrogenada para alta produção e idade jovem da planta. Conseqüentemente, em sistemas de produção intensiva de leite em pastagens tropicais, onde doses elevadas de N são aplicadas, visando lotações altas dos pastos, estes desde que colhidos no ponto certo, conterão teores elevados de proteína bruta.
Dados de composição bromatológica de amostras de pastejo simulado de forrageiras tropicais bem manejadas, obtidos de trabalhos de pesquisa do Departamento de Zootecnia da ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz") e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul são mostrados nas Tabelas 1. Conforme apresentado na Tabela 1, pastagens tropicais quando bem manejadas produzem forragem com bons teores protéicos.
Tabela 1. Composições bromatológicas (%MS) de amostras de pastejo simulado de forragens tropicais relatadas em trabalhos de pesquisa.
Ao fazermos uma simulação utilizando o programa do NRC, 2001 (National Research Council), utilizando pastagem de Tifton 68, com 68% de NDT, PB variando de 14 a 20% da MS e consumo exclusivo de 12 kg de MS de pasto, temos energia líquida para produções de 10 a 11 kg de leite (3,8% de gordura e 3,2% de proteína bruta), porém proteína metabolizável para produções de 12 a 15 kg de leite, com variação nos teores de PB de 14 a 20%, respectivamente. De acordo com estes dados, vacas mantidas em pastos tropicais bem manejados, tem sua produção de leite limitada primeiramente por energia e não por proteína.
No trabalho realizado por Fontaneli (2005) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com capim elefante, quicuio e tifton 68, contendo entre 20,6 e 22,1% de PB, as vacas produziram entre 20,4 e 26,72 kg de leite/dia, quando suplementadas diariamente com 5,5 a 7,2 kg de concentrado. O concentrado continha apenas milho moído e mistura mineral, conforme recomendado pelo NRC (2001).
No estudo de Voltolini, realizado no departamento de zootecnia da Esalq-USP, vacas mantidas em pastagens de capim Elefante com apenas 12% de PB na MS, com produções diárias ao redor de 18,5 kg de leite, não responderam a teores de PB na matéria natural do concentrado superiores a 15,8%.
É muito importante o balanceamento adequado da dieta em proteína, pois além do impacto no fator produtivo, os suplementos protéicos representam parcela considerável do custo das dietas para vacas em lactação.
Comercialmente, no Brasil, os concentrados fornecidos para vacas em lactação mantidas em pastagens tropicais variam de 16 a 24% de PB na matéria natural. Estes valores de proteína bruta justificam-se apenas em condições de pastagens mal manejadas, com teores baixos de PB ou no caso de vacas no início de lactação, com produções de leite superiores a 30 kg/dia.
No departamento de Zootecnia da Esalq-USP está sendo realizado mais um experimento no sistema de pastagens de capim Elefante (sistema apresentado no artigo de novembro de 2008 no radar técnico de pastagens), utilizando suplementação com concentrados que possuem diferentes teores de PB. Estão sendo avaliados três concentrados: 1º concentrado energético, contendo apenas milho, polpa cítrica e minerais, com 7,6% de proteína bruta (PB) na matéria seca (MS); 2º concentrado protéico, com 13% de PB na MS e 3º concentrado protéico, com 18,4% de PB na MS. O experimento teve início em Dezembro de 2008 e deverá se estender até maio de 2009. Este estudo, assim como os de Fontaneli e Voltolini, servirá para nos mostrar na prática o que as simulações de formulação de rações nos indicam, ou seja, que vacas mantidas em pastos tropicais bem manejados, tem sua produção de leite limitada primeiramente por energia e não por proteína.
Referências:
Fontaneli, R.S. Produção de leite de vacas da raça Holandesa em pastagens tropicais perenes no planalto médio do Rio Grande do Sul. 2005. 174 p. Tese (Doutorado em Plantas Forrageiras) - Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
National Research Council. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th rev. ed. National Academy Press, Washington, DC. 2001.
Voltolini, T. V. Adequação protéica em rações com pastagem ou cana-de-açúcar e efeito de diferentes intervalos entre desfolhas da pastagem de capim Elefante sobre o desempenho lactacional de vacas leiteiras. Tese de Doutorado, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, 2006.