O sistema de produção de silagens (Figura 01) pode ser dividido em várias módulos ou compartimentos, cada um relacionado a um ou mais componentes ou partes do sistema, conforme descrito a seguir:

* Fase de Manejo agrícola (Figura 02);
* Fase de ensilagem ou colheita (Figura 03);
* Fase fermentativa (Figura 03);
* Fase de desensilagem ou descarregamento e alimentação (Figura 04);
* Fase de balanceamento de rações à custo mínimo e máximo desempenho (Figura 04).

FIGURA 01. Etapas do sistema de produção de silagem


A primeira parte (Figura 02) engloba um conjunto de atividades, desde a colocação da semente no solo até a forragem a ser ensilada. Este segmento do sistema de produção envolve a genética da planta forrageira, sua sanidade, solo (características físico-químicas e de topografia), clima, e manejo. As sementes, ao serem semeadas no campo, geram plantas sujeitas às condições climáticas do período (luz, temperatura, água) e ao manejo (irrigação, característica física e químicas do solo, pragas e doenças, plantas daninhas, entre outros aspectos), sendo necessário prever e identificar o estádio de maturação que apresenta as melhores características para ensilagem. A qualidade da forragem, quantificada em carboidratos (estruturais e solúveis) e proteínas, está relacionada ao valor nutricional final da silagem, e a sua produtividade por área com custos e mecanização. A produtividade da cultura constitui fator determinante dos custos finais da silagem, portanto, não é possível obter silagens de baixo custo com produções agrícolas deficitárias.

Da forragem a ser ensilada à silagem estabilizada (do ponto de vista fermentativo), podem ser criados outros compartimentos ou subdivisões do sistema, cada um tentando reproduzir as etapas do processo. Deve-se considerar, durante o processo de ensilagem, a colheita da forragem, a produtividade, o dimensionamento de máquinas e silos, a estrutura de armazenamento; na fermentação, a anaerobiose e as características da planta ensilada (Figura 3).

FIGURA 02. Primeira etapa do sistema de produção de silagem: da semente à forragem a ser ensilada



FIGURA 03. Segunda etapa do sistema de produção de silagem: da forragem a ser ensilada até a silagem estabilizada



No processo de ensilagem estão envolvidos os seguintes parâmetros: velocidade e eficiência de enchimento dos silos, o seu número e tamanho, número e capacidade de colheita das colhedoras de forragem, número e volume de carretas e tratores e suas respectivas velocidades de trabalho, distância da área até os silos, altura do corte das plantas, tamanho das partículas, produtividade da cultura, uso de pré-secagem e/ou aditivos, forma de enchimento, compactação, dias úteis trabalhados (em função principalmente do clima), número de horas trabalhadas por dia, além da sua disponibilidade e qualificação para o trabalho a ser executado (Figura 4).

Por outro lado, a qualidade da fermentação depende de estádio de maturação (acúmulo de matéria seca em função de quantidade e da maturação dos grãos), açúcares fermentecíveis, pequeno poder tampão, elevado número de microrganismos lácticos, tamanhos dos fragmentos vegetais, vedação adequada (com material simples disponível como tábuas, pneus, plástico, terra, esterco etc.). Para obtenção da anaerobiose concomitante com o enchimento do silo, devem ser considerados velocidade adequada de enchimento, compactação contínua, uso de aditivos (microbiológicos, químicos, físicos - pré secagem, processamentos -, e nutrientes), tipo de silo e drenagem de efluentes (Figura 4).

FIGURA 04. Terceira etapa do sistema de produção de silagem: da silagem à ingestão de ração total e desempenho metabólico animal



A parte do descarregamento ou da desensilagem é influenciada pela estabilidade aeróbia ou resistência à deterioração quando o silo é aberto (açúcar residual, microrganismos aeróbios, ácidos orgânicos, etc.), forma de desensilagem (fatia ou degrau), limpeza de resíduos de silagem que ficam no silo, tamanho da fatia diária e tempo de exposição ao ar que, para ser mínimo, deve exigir um dimensionamento correto entre tamanho do silo e do rebanho, condições climáticas e proteção da camada exposta. Essa fração do sistema é tão importante quanto as demais, porém não vem recebendo a devida atenção por parte dos pecuaristas.

Comentário do autor: A decisão sobre ensilar ou não tem base em diversos fatores, como conscientização do produtor de que está diante de uma empresa agrícola, complexidade do processo para produção de silagens, controle de dados (escrituração, detalhes, eficiência), concentração de atividades (cooperação, organização, tercerização), características produtivas do rebanho e da propriedade, clima (acúmulo termal / unidade fototérmica, temperatura, luminosidade e água), definição de valor nutritivo e custos. Apesar do conceito teórico para produção de silagem ser simples, sua correta execução é complexa. Com controle de dados, análise crítica, uso de modelos e simulações, o produtor pode melhorar suas decisões, analisando a estrutura e o rebanho da propriedade e se adequar para enfrentar a estacionalidade de produção das plantas forrageiras.

FONTE: DEMARCHI, J. J. A. A. Distribuição espacial das características físico-químicas e da microbiota fúngica de silagem de milho (Zea mays) armazenada em silos tipo trincheira. Rio Claro, SP:2001.92 p. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas - Microbiologia Aplicada). Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista / UNESP.