ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Reduzir o medo das vacas pode aumentar a produção de leite

POR RAFAELA CARARETO POLYCARPO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2012

5 MIN DE LEITURA

8
0
Todos nós sabemos que o estresse é prejudicial ao desempenho principalmente quando se trata de rebanhos leiteiros. Há mais de 100 anos, WD Hoard, fundador da "Hoard´s Dairyman" já havia escrito que pessoas que trabalham com vacas leiteiras devem ter muita paciência. Ele já sabia que por algum motivo, o tratamento rude com animais acarretava em diminuição do fluxo de leite. Outro famoso pesquisador americano que tem muitas publicações sobre bem estar animal, Jack Albright, também há muito tempo afirmou que vacas leiteiras calmas, manejadas por pessoas calmas produziam mais leite do que as mais agitadas. Apesar destes antigos relatos e fatos bem conhecidos, muitas pessoas ainda se esquecem com frequência das mensagens de Hoard e Albright.

Com o passar dos anos, mais estudos foram desenvolvidos para documentar os efeitos prejudiciais do manejo inadequado aos animais. Alguns estudos relatam que ao bater em uma vaca esta pode ter queda de até 10% na produção de leite. Outros estudos como do australiano Paul Hemsworth, mostraram que vacas mansas produziam mais leite que animais mais agitados. E que as vacas que possuíam por algum motivo medo, eram menos produtivas e este medo podia se medido, por exemplo, pelo grau de inquietação do animal na sala de ordenha; quando a vaca evitava alguma pessoa ou então quando ficava inquieta quando estava próxima a determinado indivíduo.

Formação da memória medo...

O que faz uma vaca ter medo das pessoas? Será que uma vaca possui memória do medo? Sim. Pesquisas sobre o cérebro feitas por Joseph LeDoux da Universidade de Nova York mostram que os animais possuem excelentes lembranças, tanto de coisas boas, como de coisa ruins. E que as memórias do medo podem nunca mais serem apagadas, são, portanto permanentes. Estas memórias do medo ficam armazenadas em uma parte específica do cérebro chamada amígdala.

Com o passar do tempo os animais podem aprender a substituir uma memória de medo e tornar-se mais acostumado com o local ou situação que lhe resultou em uma experiência assustadora. Mas eles só podem substituir e nunca apagar a lembrança ou memória do medo, logo em nossa rotina diária de manejo, temos que dar ênfase na prevenção de situações que possam a levar o animal a ter ou ficar com medo.

As situações mais comuns que podem causar medo nos animais a ponto de criar uma memória são relacionadas a lugares, a objetos estranhos, ou a ambos. Exemplo: medo de uma pessoa com um tipo de vestuário associado a uma experiência dolorosa ou assustadora.

No caso específico de propriedades leiteiras, seria muito prejudicial se uma vaca ficasse com medo da sala de ordenha. Por isso é essencial que a primeira experiência das novilhas na sala de ordenha seja sem nenhum tipo de estresse. Se uma vaca escorrega, cai, toma choque ou é batida na primeira vez que entra em uma sala de espera ou de ordenha ela pode desenvolver uma memória do medo que será acionada toda vez que este animal retornar a estes lugares.

"Vacas não reconhecem os rostos humanos, reconhecem lugares, cheiros, vozes, vestuário e certos objetos" - Temple Grandim

Apresentando as novilhas para a sala de ordenha...

Os cuidados para que novilhas não se tornem vacas assustadas devem começar quando esta ainda for uma bezerra. Estudo francês mostra que bezerras jovens que foram tratadas por pessoas calmas, tranquilas, sem estresse, se tornam vacas adultas mais calmas e com menor zona de fuga (Veja matéria relacionada a zona de fuga ).

Uma dica de manejo interessante e fácil de ser aplicada: se o tratador (a) das bezerras for uma pessoa extremamente calma e paciente, peça para que ele e o ordenhador usem diariamente uma roupa ou um acessório igual, como por exemplo, um avental, jaleco, macacão, chapéu ou boné. Ao fazer isto as bezerras irão guardar uma boa memória destes acessórios e ao entrarem na sala de ordenha associarão estes objetos a um ambiente agradável, familiar e seguro.

O ideal é que novilhas conheçam os lugares novos como a sala de espera e a sala de ordenha da maneira mais natural possível. Em rebanhos pequenos esta primeira visita pode ser inclusive de maneira voluntária, deixando que os animais explorem os ambientes inéditos de acordo com a sua vontade. Outra opção, em rebanhos maiores, é que estes novos lugares sejam apresentados durante a rotina da fazenda como, por exemplo, antes de passarem pelo pé dilúvio ou realizar uma pesagem, porém neste caso a atividade tem que ser realizada com muita calma, pois caso contrário, poderá causar medo e trauma que não serão mais esquecidos pelos animais.

Às vezes, as vacas precisam de certos cuidados veterinários, como injeções, tratamento de caso de feridas no úbere e etc. O ideal é que estes procedimentos NUNCA sejam feitos na sala de ordenha, pois se isso acontecer, os animais poderão associar a sala de ordenha a dor, medo e estresse. Eu sei que isto na prática é muito difícil de acontecer, ou por falta de infraestrutura, ou mesmo pela facilidade e praticidade de aproveitar o animal que já está ali na sala de ordenha "no jeito" de ser medicado. Se isto vier a ocorrer, peça pelo menos que o ordenhador use no apenas momento do tratamento um acessório bem diferente do que usa na ordenha, como por exemplo, outro boné, chapéu, ou um avental de cor diferente. Isto fará com que o animal associe o medo e o estresse ao objeto estranho e não somente a sala de ordenha. Mas para isto funcionar nenhum outro funcionário da fazenda deve usar o mesmo acessório ou outros parecidos.

Para finalizar, deixo aqui uma mensagem de Hoard WD:
"A regra a ser seguida em todos os momentos e para todos animais, gado jovem, adulto ou velho é ter paciência e bondade. Um homem deixa ser útil em um rebanho quando perde a paciência ou é rude com os animais. Os homens devem ser pacientes, gado não são seres racionais. Lembrem-se o estábulo e a sala da ordenha é como a Casa das Mães, portanto trate cada vaca como uma mãe deve ser tratada. A produção e a descida do leite se dão em razão da maternidade, o tratamento rude diminui o fluxo de leite. Mantenha sempre essas ideias em mente para lidar com o seu rebanho" Hoard WD.

Referências
- ALBRIGHT, J. L. Social considerations in grouping cows. In: Wilcox, C.J.; Van Horn, H.H. Large Dairy Herd Management. Ed. University Press of Florida, Gainesville, p.757-779, 1978.
- ALBRIGHT, J. L., ARAVE, C.W. The Behaviour of Cattle. CAB International, Cambridge, UK, 1997.
- ARAVE, C.W.; ALBRIGHT, J.L. Cattle Behavior. Journal of Dairy Science, v.64, p.1318-1329, 1981.
- https://www.hoards.com/

RAFAELA CARARETO POLYCARPO

Profa. Dra. Universidade de Brasília - UnB

8

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

WALTER MIRANDA

CARLOS CHAGAS - TOCANTINS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/12/2017

Minhas vacas não são tão top quanto as que acima foram mencionadas mas em termos de docilidade são perfeitas....e ainda atendem pelos nomes....elas  indo pro pasto passando pelo corredor e eu chamo o nome de alguma ela se vira pra olhar são muito dóceis.

aprendi que saõ inteligentes e que aprendem a rotina muito rápido....

tema muito interessante obrigado a todos....
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/06/2012

Prezado Cláudio Winkler: Tenho algumas vacas, principalmente novilhas primíparas, que se comportam como se fossem cachorrinhos. Quando adentro ao sistema em que elas se encontram, dirigem-se até mim, cheirando, pedindo carinho e se deixar, até lambendo (rsrsrs). Por óbvio, isso não acontece somente comigo, mas com todos os que ali se encontram. Resultado disso, média de trinta e sete litros/dia por animal em suas primeiras lactações. Por lado outro, sinal de tratamento adequado, de interação entre animal e homem, com respeito e com amor, como deve, sempre, ser. Depois, dizem que o confinamento integral de bovinos de leite é desumano (rsrsrs).

Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=
VIVIAN FISCHER

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 30/05/2012

Posso citar inclusive um trabalho nacional de Mônica Peters sobre comportamento e redução de produção leiteira de vacas mais jovens ao manejo aversivo efetuado apenas durante a condução das vacas do campo até a sala de ordenha.

PETERS, Mônica Daiana de Paula ; SILVEIRA, I. D. B. ; RODRIGUES, Caroline Moreira . Interação humano e bovino de leite. Archivos de Zootecnia (Universidad de Córdoba), v. 56, p. 9-23, 2007.

Mais detalhes na dissertação de mestrado.

CLAUDIR JORGE KUHN

TOLEDO - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/05/2012

Muito oportuno o artigo.Vou procurar melhorar o manejo.
CLAUDIO WINKLER

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 29/05/2012

Ótimo artigo. Como colocou o Guilherme, vacas pouco estressadas não se importam com a presença de pessoas circulando entre elas. Interessante que chego a me irritar com isso às vezes quando preciso retirar algum esterco acumulado na sala de espera enquanto ainda há vacas lá. Você tenta "tocar" a vaca para que ela lhe dê a devida licença e desta forma consiga-se alcançar o "montinho", mas essa nem se mexe, de tão relaxada que está ... Enfim, obviamente melhor assim do que o contrário.

PAULO R. F. MÜHLBACH

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/05/2012

Artigo muito bom; oportuno num país onde, talvez, 90% das vacas  leiteiras (não zebuínas) são  rudemente maneadas (de modo desnecessário, se o manejo fosse adequado) durante a ordenha!
MARCO AURELIO SAMBAQUI GAMBORGI

GASPAR - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2012

Belíssimo artigo Dra. Rafaela, muitas vezes nos esquecemos que a produção de leite é uma atividade repleta de detalhes, detalhes estes que fazem toda a diferença. E entender a dinâmica dos animais é fundamental para torna-las mais produtivas e garantir a sustentabilidade do negócio. Certamente vou aplicar as informações deste artigo na rotina da minha propriedade.
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/05/2012

Prezada Rafaela: Há uma conduta muito simples que pode demonstrar se as vacas estão sendo bem tratadas, sem gritarias, sem surras, sem estresse - basta você circular entre o rebanho. Se elas nem ligarem para a sua presença e continuarem fazendo o que estavam (por exemplo, alimentando-se), sem constantes olhadas para os lados, para estudar o que você está fazendo, isto é sinal que não há excessos na lida diária.

Utilizo este termômetro sempre que estou dentro das instalações de minha propriedade e verifico, "in loco", que os animais não estão estressados e que a presença dos seres humanos não é vista por eles como uma ameaça.

Por lado outro, a "memória do medo" existe mesmo. Já tive uma novilha que não podia ver o meu Médico Veterinário que se apavorava, mas, em relação aos demais integrantes da equipe, em nada alterava a sua presença. Só podemos atribuir este estado de coisas à lembrança de alguma intervenção dolorosa efetivada pelo mesmo na rês, em tempos idos. É até engraçado - basta ele chegar para que ela modifique seu estado de ânimo.

Parabéns e obrigado por mais esta lição.

Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG

=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures