O rebanho ovino no Nordeste do Brasil é de aproximadamente nove milhões de cabeças, representando cerca de 53% do efetivo nacional. Embora a atividade tenha crescido substancialmente nos últimos dez anos, como conseqüência da ampliação dos mercados da carne e da pele desses animais, a sazonalidade do período chuvoso e as secas periódicas que ocorrem na região impõem severas restrições ao suprimento de forragens e, conseqüentemente, à produção dos pequenos ruminantes.
Assim, os produtos oriundos da ovinocultura não atendem as demandas quantitativas e qualitativas sinalizadas pelo mercado. Nas condições atuais de manejo alimentar, onde a forragem básica é fornecida pela caatinga, têm sido registradas reduções nas taxas de crescimento e até perda de peso em animais jovens. Desse modo, os ovinos são abatidos com idade avançada, o que representa perdas substanciais do ponto de vista econômico.
A alimentação representa um dos maiores custos na produção animal, principalmente quando se utilizam fontes de alimentos como o milho, que, apesar das elevadas qualidades nutricionais, apresentam elevados custos. Em geral, alguns produtos industriais, como aqueles da produção da farinha de mandioca, subprodutos da produção de cerveja e de processamento de frutas, possuem potencial e disponibilidade para serem utilizados como alimentos energéticos e podem ser usados na alimentação dos ruminantes.
Figura 1. Animais alimentados com pendúnculo de caju desidratado e Leucena.
A suplementação alimentar alternativa para ser viável economicamente, depende da disponibilidade e custo da matéria prima, e isto varia muito de região para região, pois deve se utilizar produtos ou subprodutos existentes na localidade, visando assim minimizar os custos de produção, viabilizando o sistema.
Com o crescimento da fruticultura irrigada no Nordeste, ampliaram-se as opções de volumosos para dietas de cordeiros e cabritos em confinamento. Assim, várias culturas processadas nas agroindústrias, como o caju, a acerola, a manga, a laranja e o maracujá, produzem quantidades consideráveis de subprodutos de boa qualidade, podendo ser aproveitados para a alimentação animal.
O caju é um caso típico de resíduo da agroindústria que pode ser bem aproveitado. O fruto do cajueiro é constituído da castanha e de um pedúnculo (pseudofruto), o qual a maior parte é deixada no campo após a retirada da castanha, sendo desperdiçado desta forma, mais de 90%. O pedúnculo do caju seco possui um grande potencial para ser utilizado como ingrediente em rações, constituindo uma potencial fonte de nutrientes na ração para a alimentação de ovinos e caprinos, podendo chegar a 20% na ração.
A cultura do caju ocupa uma área considerável do Nordeste. Nos Estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, os maiores produtores, são cultivados cerca de 700.000 hectares deste fruto, e nos tabuleiros costeiros, especialmente no Ceará, são também registrados milhares de hectares ocupadas por florestas nativas de cajueiros. Entretanto, apenas cerca de 5% dos pedúnculos são processados para a fabricação de doces, cajuína, refrigerantes e bebidas alcoólicas, o que representa perdas (ou excedentes) da ordem de dois milhões de toneladas anuais. Portanto, este subproduto constitui uma abundante fonte de volumoso para a dieta de ovinos e caprinos em confinamento.
Figura 2. Cajueiro e cajus.
Existe a possibilidade de transformação do pedúnculo, por microorganismo (levedura) em um ingrediente com maior teor de proteína quando comparado com o pedúnculo do caju seco. Nesta transformação, mais de 30% da energia contida no substrato é metabolizada até a sua conversão em proteína.
As leveduras são de alta eficiência na conversão de açucares em proteína e a muito tempo reconhecidas como reserva natural de vitaminas do complexo B. Conforme os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa e por outras instituições, o pedúnculo de caju é rico em vitamina C, fibras e compostos fenólicos.
Tabela 1. Composição químico-bromatológica (%) do pedúnculo do caju desidratado (modificado de Leite et al., 2005).
*MS-Matéria Seca; PB-Proteína Bruta; FDN-Fibras em Detergente Neutro;
NDT-Nutrientes digestíveis totais.
Bibliografia Consultada
LEITE, E. R; BARROS, N. N; BOMFIM, M. A. D;CAVALCANTE, A. C. R. Terminação de Ovinos Alimentados com Farelo do Pedúnculo do Caju e Feno de Leucena. Comunicado Técnico On Line, Dezembro de 2005.
FURUSHO, I.F; PÉREZ, J. R . O. A; LIMA, G. F. C; KEMENES, P. A; HOLANDA, J. S. Desempenho de cordeiros Santa Inês, terminados em confinamento, com dieta contendo pedúnculo do caju. Anais da XXXIV Reunião da SBZ - 28 de Julho a 1o de Agosto de 1997 - Juiz de Fora - MG.