Tabela 1:Produção brasileira de peles de acordo com a espécie de produção.
Piolhos
Os piolhos representam insetos sem asas, visíveis a olho nu, que acometem diferentes espécies de mamíferos e aves, ocorrendo também com grande freqüência como parasita humano. Os piolhos são os ectoparasitos que ocorrem com maior freqüência em ovinos e caprinos, causando a doença conhecida como pediculose (LEITE, 2002; SERTSSE & WOSSENE, 2007).
A pediculose é mais comum nos meses de inverno, provavelmente por que as práticas de alimentação, a temperatura e o confinamento de animais em pequenas áreas favorecem a disseminação e a proliferação desses parasitas (ALVES-BRANCO et al., 2001; ANDERSON et al., 2005).
Os piolhos podem ser classificados em duas categorias: mordedores e sugadores. Os piolhos mordedores fixam-se no pêlo dos animais e se alimentam de descamações do tecido epitelial e secreções da pele; já os sugadores picam o seu hospedeiro, se alimentando de sangue.
O piolho Damalinia ovis (também conhecido como Bovicola ovis, Figura-1 "A") é o piolho mordedor que infesta o corpo de ovinos e o Damalinia caprae (ou também Bovicola caprae, Figura-1 "B") é o piolho mordedor que acomete os caprinos. Em um estudo realizado no Ceará identificou-se o Bovicola caprae como a espécie de maior prevalência na região (62,17% do total de casos de pediculose em caprinos), apresentando uma ocorrência anual (LEITE, 2002). A espécie Linognathus ovillus (piolho sugador da face, Figura-2) e Linognathus pedalis (piolho sugador da pata) são os piolhos que acometem ovinos. Linognathus stenopis corresponde a principal espécie de piolho sugador de caprinos (ANDERSON et al., 2005).
Figura-1: A = Damalinia ovis (piolho mordedor de ovinos). B = Damalinia caprae (piolho mordedor de caprinos).
Figura-2: Exemplar do Linognathus ovillus (piolho sugador de ovinos). No detalhe (flecha), aspecto do aparelho bucal que é modificado nessa espécie para permitir a perfuração da pele de seus hospedeiros.
Tabela-2: Prevalência da pediculose (%) de acordo com a espécie de piolho causador (sumário de dados epidemiológicos internacionais considerando a freqüência de casos de piolho em relação a todos os tipos de doenças causadas por ectoparasitos de pele em ovinos e caprinos).
Como identificar e tratar os animais enfermos
Os principais sinais clínicos da infestação por piolhos incluem prurido intenso (coceira que faz com que o animal procure postes, troncos e arames para se esfregar e aliviar o desconforto), queda da lã e perda de peso (ANDERSON et al., 2005). Em infestações mais graves, especialmente naquelas causadas por piolhos do gênero Linognathus, pode ocorrer anemia (ALVES-BRANCO et al., 2001), febre e até claudicação (manqueira).
O Damalinia ovis é um piolho extremamente móvel que pode se espalhar por todo o corpo do animal causando irritação, inquietude, anorexia (interrupção da alimentação), perda de peso e formação de nódulos que comprometem a qualidade do velo (SERTSSE & WOSSENE, 2007). Quanto ao local do parasitismo no corpo do animal se observa uma maior predileção, no caso da Damalinia caprae, pela parte externa da região do glúteo, região onde se observa uma maior concentração de pêlos no caso dos caprinos (BRITO et al., 2005).
O diagnóstico da pediculose é feito através da inspeção da pele e pêlos dos animais, sendo que a classificação da espécie do piolho pode ser feita em laboratórios especializados a partir da remessa dos parasitas capturados (para o envio dos insetos recomenda-se o acondicionamento em frascos contendo álcool etílico a 70%).
Os animais diagnosticados com pediculose devem ser separados e tratados, pois a transmissão se dá pelo contato direto entre animais doentes e sadios (ANDERSON et al., 2005). Outras formas de contaminação também devem ser consideradas, como as instalações de manejo, material de tosquia e até mesmo a roupa de técnicos e tratadores, que acabam funcionando como fontes de reinfecção para animais em que o tratamento já foi iniciado.
Para combater a piolheira podem ser utilizados banhos por aspersão ou imersão com inseticidas fosforados ou piretróides, que devem ser repetidos após sete a dez dias, para abranger todas as formas evolutivas dos piolhos. Cuidados especiais devem ser tomados no caso dos banhos de imersão para que o velo seja completamente embebido pela solução inseticida, evitando, dessa maneira, as reinfecções ou ineficácia do tratamento (PLANT, 2006).
Cabe a ressalva de que a maioria dos inseticidas utilizados não atua sobre os ovos dos piolhos, reforçando, portanto, a necessidade das reaplicações dos produtos.
No caso do Linognathus stenopsis podem ser utilizados antiparasitários sistêmicos (injetáveis) como as ivermectinas, que agem sobre o piolho através do sangue ingerido do hospedeiro (VIEIRA et al., 1987).
A inspeção sistemática de todos os animais representa a melhor forma de avaliar a eficácia do tratamento instituído, bem como, diagnosticar as possíveis reinfecções. Sendo assim, a avaliação da pele e dos pêlos deve ser uma rotina nas propriedades, pois o sucesso da exploração muitas vezes depende do quanto conhecemos do nosso rebanho!
Referências
ALVES-BRANCO, F.P.J; PINHEIRO, A.C.; SAPPER, M.F.M. O controle dos piolhos de bovinos (Damalinia bovis e Linognathus vituli). In:___. Vale a Pena Relembrar aos Criadores de Bovinos. 1.ed. Bagé: Comunicado Técnico 41 Embrapa Pecuária Sul, p.1-2, 2001.
ANDERSON, D.E.; RINGS, D.M.; PUGH, D.G. Enfermidades do Sistema Tegumentar. In:___. Clínica de Ovinos e Caprinos. 1.ed. São Paulo: Editora Roca Ltda. v.1, p. 233-234, 2005.
BRITO, D.R.B.; SANTOS, A.C.G.; GUERRA, R.M.S.N.C. Ectoparasitos em rebanhos de caprinos e ovinos na microrregião do Alto Mearim e Grajaú, Estado do Maranhão. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.14, n.2, p.59-63, 2005.
LEITE, E.R. O Agronegócio das Peles Caprina e Ovina. In:___. Reuniões Técnicas sobre Couros e Pele. 21.ed. Campo Grande: Documento 127 Embrapa Gado de Corte, p.35-50, 2002.
PLANT, J.W. Sheep ectoparasite control and animal welfare. Small Ruminant Research, v.62, p.109-112, 2006.
SERTSSE, T.; WOSSENE, A. A study on ectoparasites of sheep and goats in eastern
part of Amhara region, northeast Ethiopia. Small Ruminant Research, v.69, p.62-67, 2007.
VIEIRA, L.S.; CAVALCANTE, A.C.R.; XIMENES, L.J.F. Epidemiologia e controle das principais parasitoses de caprinos e ovinosnas regiões semi-áridas do Nordeste. 1.ed. Sobral: Embrapa Caprinos, 1987.