José Roberto Peres

Um experimento realizado entre 15 de maio e 04 de novembro de 2000, numa estação experimental da EMBRAPA em Capão Leão, no Rio Grande do Sul, avaliou o desenvolvimento de novilhas Jersey mantidas em pastagens anuais de azevém e aveia preta em sistema rotacionado. As 15 novilhas foram suplementadas uma vez ao dia na proporção de 0,75% do peso vivo na forma de: 1) 100% milho moído; 2) 70% de milho moído + 30% de farelo de soja; 3) 40% de milho moído + 60% de farelo de soja.

Embora estas forragens não possam ser cultivadas na maior parte do País (requerem clima temperado associado a chuvas), os resultados (tabela 1) são interessantes e talvez possam dar uma "mensagem" a todos.

Tabela 1: Parâmetros de crescimento de novilhas Jersey em pastagens suplementadas



Médias seguidas por letras iguais na mesma linha não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05)

Adaptado de: Pereira, L.M.R et al. (2001)

Como pode ser observado, não foram constatadas diferenças significativas entre os tratamentos para quaisquer dos atributos estudados. Os autores argumentam que estes resultados concordam com dados de outros autores, que observaram ausência de efeito da suplementação energética e protéica em situações de alta disponibilidade de forragem de alta qualidade.

Eles continuam por inferir que, embora as características da pastagem como disponibilidade, composição bromatológica, digestibilidade e proporção entre seus constituintes não tenham sido analisadas, pode-se atribuir, pelo menos parcialmente, a ausência de resultados à grande disponibilidade de pastagens, que oscilou entre 5000 e 8000 kg de matéria seca por ha. Pode-se supor que a elevada qualidade da pastagem (característica destas forragens) supriu as necessidades energéticas e protéicas das novilhas Jersey, que normalmente apresentam moderada capacidade de ganho de peso, o que contribuiu para que não se detectassem efeitos dos suplementos.

Comentário MilkPoint: estes dados mostram um fato que deveria ser entendido por todo produtor de leite especializado: a importância da disponibilidade de volumoso de alta qualidade. Não importa se na forma de azevém, aveia preta, capim napier ou silagem de milho. O volumoso de qualidade permite desempenho adequado com pouca ou nenhuma suplementação, o que torna o sistema mais barato e, consequentemente, viável economicamente. É uma pena que o experimento não tinha um grupo "testemunha", sem suplementação, pois acredito que este grupo confirmaria as "especulações" sobre os resultados.
Observando os dados da tabela 1 observa-se que a condição corporal dos animais ao início do experimento era bastante baixa, o que pode indicar uma possível restrição alimentar anterior ao período de teste. Isto pode ter induzido um ganho compensatório, que alteraria os resultados favoravelmente. Não é possível avaliar este efeito pois não são mostrados os dados das pesagens parciais (a cada 28 dias). Outro possível efeito que pode ter sido mascarado, talvez pelo pequeno número de animais é um eventual ganho adicional em altura dos animais com o aumento da suplementação protéica, embora esta pequena diferença não tenha, necessariamente, qualquer implicação na capacidade produtiva dos animais.

Fonte: Pereira, L.M.R. et al. 2001. Desenvolvimento corporal de novilhas leiteiras em pastagem de Azevém e Aveia submetidas a três níveis de suplementação energético-protéica. In: Anais da 38a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba - SP.