Existem duas espécies de parasitos achatados e em forma de fita segmentada muito frequentes em ruminantes chamadas
Moniezia expansa e
Moniezia benedeni, que devido à semelhança com a tênia humana ou solitária, são chamadas de tênias dos bovinos, ovinos e caprinos (BELLUZO et al., 2001).
Esses vermes representam cestóides longos, com 2 metros ou mais de comprimento, caracterizados morfologicamente por apresentarem segmentos mais largos que longos (
Moniezia expansa possui em média 1,5 cm de largura enquanto que a
Moniezia benedeni pode chegar até 2,5 cm) e dotados de ventosas em sua extremidade anterior (Figura 1), que lhe conferem adesão ao organismo do hospedeiro (URQUHART et al., 1998)
Os vermes do gênero
Moniezia apresentam uma grande prevalência nos rebanhos do Brasil e do mundo. Em estudo conduzido por Brito et al., (2009), foram encontrados ovos do parasita em 9,9% das amostras de fezes de caprinos e 4,17% nas de ovinos pesquisados no Estado do Maranhão.
Santos et al., (2006) observaram uma prevalência de 14,1% de ovos de
Moniezia sp. em amostras de fezes coletadas no Rio Grande do Norte, sendo identificado um maior número de parasitas a partir de amostras fecais provenientes de fêmeas caprinas jovens.
Wang et al., (2006) apontam a prevalência de infecção de 7,7% de
Moniezia expansa e 3,7% de
Moniezia benedeni em ovinos de diferentes raças na China, representando o principal parasita da classe
Cestoda (vermes achatados) isolado no país.
Infecções por
Moniezia podem ocorrer durante todos os meses do ano, embora ocorra um aumento no número de casos no final do período de estiagem no mês de setembro (McMANUS et al., 2009). Nesse sentido, Cesar et al., (2008) reportam uma maior contagem de ovos por grama de fezes (OPG) no período primavera/verão em relação ao outono/inverno, destacando a influência de fatores climáticos e pluviométricos na ocorrência da doença.
Animais de todas as idades estão sujeitos a infecção por
Moniezia, embora cabritos e cordeiros com até 1 ano de vida apresentem uma maior susceptibilidade (URQUHART et al., 1998).
Figura 1 - Aspecto macro (A) e microscópico (B e C) do gênero
Moniezia. Detalhe da anatomia do parasito destacando o corpo segmentado (proglotes com formato mais largo do que curto) em forma de fita longa e a presença de ventosas na região da cabeça.

Após a fixação do parasito na parede do intestino delgado do hospedeiro, a
Moniezia elimina continuamente os segmentos finais de seu corpo juntamente com as fezes, sendo muito comum a observação desses pequenos filamentos amarelados ou esbranquiçados nas fezes de ovinos (BELLUZO et al., 2001) e caprinos. Esses segmentos repletos por ovos do verme são ingeridos por ácaros que naturalmente vivem nas pastagens e que atuam como hospedeiros intermediários (HI), permitindo o desenvolvimento do parasita até seu estágio larvário infectante. A infecção do hospedeiro definitivo (representado por bovinos, ovinos e caprinos) ocorre pela ingestão dos ácaros portadores das larvas de
Moniezia durante o pastejo (URQUHART et al., 1998).
Como as espécies de
Moniezia não possuem tubo digestivo, a absorção dos nutrientes se dá através de seu próprio tegumento (revestimento externo do parasita), não havendo o consumo de sangue do hospedeiro definitivo (BELLUZO et al., 2001) como ocorre em outras parasitoses gastrointestinais que acometem ovinos e caprinos. Nesse sentido, infecções por
Moniezia geralmente são pouco patogênicas aos animais acometidos, causando síndromes de má absorção, diarréias, constipação, definhamento e obstrução intestinal apenas nos quadros de infecções maciças pelo parasita (URQUHART et al., 1998).
A observação dos sinais clínicos e dos proglotes do parasita nas fezes representam os principais achados para o estabelecimento do diagnóstico da parasitose, que pode ser confirmado laboratorialmente através da contagem de OPG.
Para o controle das infecções por
Moniezia preconiza-se a adoção de medidas integradas de manejo e uso de anti-helmínticos com eficácia comprovada contra os vermes chatos (cestodicidas). Drogas incluindo niclosamida, praziquantel, bunamidina e vários compostos benzimidazóis podem ser utilizados (URQUHART et al., 1998).
No entanto, frente à grande resistência anti-helmíntica desenvolvida, sobretudo para as drogas da classe benzimidazólica (como é o caso do albendazol e mebendazol que atuam frente a nematódeos e cestódeos gastrointestinais), alternativas de manejo devem ser instituídas complementando as medidas convencionais de tratamento (BATH et al., 2005; TORRES-ACOSTA & HOSTE, 2008).
Medidas gerais como a formação de piquetes para a adoção de pastejo rotacionado, separação do rebanho de acordo com a faixa etária ou categoria animal e o correto manejo nutricional são de vital importância para o controle de todos os tipos de parasitose. Especialmente no caso das infecções por
Moniezia preconiza-se a aragem dos terrenos como forma de controle do número de hospedeiros intermediários, além da estabulação de ovinos e caprinos durante a noite, período em que as temperaturas amenas favorecem a saída dos ácaros das raízes das pastagens em direção às folhas, favorecendo a transmissão da
Moniezia.
Referências bibliográficasBATH, G.F., VAN WYK, J.A., PETTEY, K.P. Control measures for some important and unusual goat diseases in southern Africa. Small Ruminant Research, v.60, p.127-140, 2005.
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