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Milho brasileiro é duro e, por isso, menos aproveitado pelos ruminantes

POR JOSÉ ROBERTO PERES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/04/2001

6 MIN DE LEITURA

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José Roberto Peres

No texto apresentado no dia 6 de abril foram mostrados alguns dados da literatura internacional que evidenciam a importância da vitreosidade ou dureza do milho e seu impacto sobre a degradação do grão no rúmen.

Como foi mencionado, partindo da constatação que no mercado brasileiro a predominância quase que absoluta é do milho duro, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras vem desenvolvendo pesquisas desde 1997 com o objetivo de caracterizar a textura do milho brasileiro e compará-la ao norte-americano, evidenciando as conseqüências práticas das diferenças encontradas entre eles na nutrição de ruminantes. Algumas dessas informações serão discutidas a seguir.

Um primeiro experimento teve como objetivo caracterizar a textura de 14 híbridos de milho americanos e 5 brasileiros, todos amplamente utilizados em seus respectivos mercados. Para isso foram determinados a densidade e a vitreosidade dos grãos maduros. Um resumo dos resultados pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1: Vitreosidade e densidade do grão maduro de 14 híbridos americanos e 5 brasileiros

 

Tabela 1



A grande diferença encontrada caracteriza o tipo de híbrido que vem sendo usado nos dois países. Enquanto nos EUA existe absoluta predominância de híbridos dentados, que são mais macios e produtivos, no Brasil a predominância é de híbridos duros.

Em um segundo experimento, utilizou-se o híbrido mais duro, o mais macio e um intermediário de cada país. Esses híbridos foram degradados no rúmen usando a técnica "in situ" (colocação do material em sacolas de nylon dentro do rúmen, através de cânulas), em experimento conduzido na Universidade de Wisconsin, EUA. A tabela 2 apresenta os principais resultados obtidos.

Tabela 2: Parâmetros de degradação ruminal de híbridos de milho brasileiros e americanos

 

Tabela 2




Para que se entenda melhor, a taxa de degradação (kd) é a quantidade degradada por hora no rúmen, ou seja, enquanto 19% do amido dos híbridos norte-americanos foi degradado por hora, este valor foi de apenas 7% no caso dos híbridos brasileiros. A degradação efetiva é a quantidade total degradada no rúmen (neste caso admitindo-se a taxa de passagem de 8% por hora). Enquanto os híbridos brasileiros degradaram 48,5%, os norte-americanos atingiram um valor médio de 77,4%.

Os dados mais uma vez mostram a grande discrepância existente entre os materiais das duas origens e demonstra variação ainda maior que aquela encontrada na França, conforme o artigo apresentado anteriormente.

Nesta mesma linha de pesquisa, um terceiro experimento comparou dois híbridos de textura dura e dois de textura macia (todos brasileiros), cultivados no verão de 1999-2000. Os grãos foram colhidos em 3 pontos de maturação: dentado inicial (DI), metade da linha de leite (ML) e linha preta (LP). Eles foram cortados em 4 partes simulando um processamento por ensiladeira e incubados in situ em 6 vacas com cânulas ruminais. Os tempos de incubação foram 24 horas, para estimar a degradação efetiva no rúmen e 72 horas para estimar a fração indigestível. Também foi determinada a vitreosidade dos grãos e seu teor de matéria seca.

A média dos resultados se assemelha aos dados anteriormente apresentados tendo ocorrido diferença significativa (P<0,001) na degradação efetiva em 24 horas (52,5% para o milho duro e 63,3% para o macio); no resíduo após 72 horas (15,5% para o duro e 7,6% para o macio); e na vitreosidade (67,1% do endosperma para o milho duro e 44,3% para o macio). A figura 1 apresenta os resultados por estágio de maturação.

Figura 1: Degradação em 24 horas de incubação ruminal (% da matéria seca) do grão de milho em dois híbridos duros e dois macios, em três estágios de maturação

 

Figura 1



Observe que, com o avançar do estágio de maturação, a diferença entre a degradabilidade ruminal do dois tipos de híbrido se acentua. No estágio de linha preta (ponto em que se colhe os grãos) a degradabilidade dos híbridos duros cai marcadamente.

Na prática, isto significa que deve ser considerada a textura do grão para se determinar o ponto de ensilagem. A perda de digestibilidade pôr atraso na colheita é menor nos híbridos macios, reduzindo o risco no processo de ensilagem (permite uma janela maior na colheita). Híbridos duros não admitem erro no ponto de ensilagem. O ponto máximo seria metade da linha do leite. Sendo assim, a dureza (ou vitreosidade) parece se justificar como parâmetro para escolha de híbridos para ensilagem, onde se dá ênfase à degradação ruminal do amido.

Outros fatores além da vitreosidade parecem estar implicados na menor degradabilidade dos híbridos duros com o avançar da maturação, visto que o efeito de estágio de maturação sobre a vitreosidade foi linear, enquanto que o mesmo efeito sobre os parâmetros de degradação ruminal foram quadráticos.

Baseado nestes dados os autores afirmam que é total a falta de direcionamento na seleção de híbridos para VACAS no Brasil, já que o nutricionista espera que sejam desenvolvidos híbridos de alta digestibilidade de amido e as indústrias de sementes fazem o marketing em cima de óleo e proteína altos e fibra de alta digestibilidade. A questão do amido sequer foi cogitada até o momento. Deve-se, portanto, começar a dar valor a outros fatores além da resistência a pragas e doenças e à produção de grãos por hectare na seleção dos híbridos.

Algumas perguntas ficam ainda por ser respondidas pelos pesquisadores e pelos envolvidos com produção de milho no Brasil:

1. Porque no EUA só se cultiva milho dentado e no Brasil só se cultiva milho duro, principalmente considerando que os dentados são mais produtivos?
2. Se houver uma resposta razoável para a pergunta anterior, o caminho para o Brasil seria continuar trabalhando na produção de milho duro, ou podemos desenvolver materiais dentados adaptados ao nosso país?
3. Quanto de desempenho animal estamos perdendo como conseqüência da menor degradação ruminal dos grãos?
4. Podemos melhorar o desempenho de nossas vacas utilizando os poucos híbridos mais macios disponíveis em nosso mercado?

Comentário do autor: Como nutricionista, gostaria de ter respondidas as questões anteriores. Este pode ser um grande gargalo na produção de nossos animais, especialmente os de alto potencial genético. Na minha opinião não somente o ponto de ensilagem é importante, conforme mostram os dados (e com freqüência se observa material ensilado tardiamente pôr problemas climáticos). Seria interessante que se determinasse se o fornecimento de híbridos "moles" de milho grão nos concentrados traria algum benefício (já que neste caso ele é moído, o que favorece a digestão). Espera-se que as pesquisas continuem e, em breve, se tenha as respostas e soluções para estas questões. Este é um exemplo de pesquisa aplicada às necessidades do produtor.

Fontes:

Calestine, G.A; M.N. Pereira; R.G.S. Bruno; R.G. Von Pinho; C.E.S Correa. 2001. Effect of corn grain texture and maturity on ruminal in situ degradation. J.D.Sci. 79(supl. 1). (no prelo)

Clóvis Eduardo Sidnei Correa, médico veterinário, doutorando da Universidade Federal de Lavras Consultor técnico da Sul de Minas Veterinária, em Lavras, MG. e-mail: cecorrea@ufla.br

Prof. Dr. Marcos Neves Pereira, Universidade Federal de Lavras.

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