O mercado doméstico da carne ovina tem evoluído bastante nos últimos anos e, embora, a ovinocultura de corte ainda seja uma atividade de pouca expressão econômica dentro do agronegócio pecuário brasileiro, a mesma vem apresentando incrementos ano após ano com relação à produção, formalização da produção e consumo, com tendências positivas e expectativas animadoras para todos os entusiastas do segmento.
Ainda que tenha confirmado as tendências anteriormente citadas em outros artigos (Mercado interno e perspectivas para a carne ovina), os resultados preliminares do Censo Agropecuário 2006, já disponibilizados pelo IBGE, nos fornecem algumas informações numéricas mais seguras com relação ao rebanho e a evolução das populações ovinas e da atividade no país, nos permitindo visualizar com mais clareza o cenário da ovinocultura nacional.
2. Rebanho
De acordo com os novos dados, demonstrados no Gráfico 1, o atual efetivo ovino brasileiro é de cerca de 13,85 milhões de cabeças, valor este, levemente inferior aos 13,95 milhões de 1995, o que nos dá a nítida impressão de que o rebanho não evoluiu nos últimos 10 anos.
Gráfico 1. Evolução do efetivo ovino brasileiro, em milhões de cabeças.
No entanto, como é possível observar nos Gráficos 2 e 3, as populações ovinas cresceram significativamente em todas as regiões do país, exceto na região Sul - a segunda mais importante em termos de efetivo. Mesmo já apresentando uma retração no rebanho desde a década de 1980, o decréscimo do efetivo sulista, e em especial no Rio Grande do Sul, teve forte influência da crise da lã que atingiu o mercado a partir de 1990. Como a lã era o principal produto da ovinocultura praticada até então no sul do país, o impacto da crise acentuou ainda mais a tendência já existente.
Gráfico 2. Evolução regional do efetivo ovino brasileiro, em milhões de cabeças.
Gráfico 3. Evolução regional do efetivo ovino brasileiro, em milhões de cabeças.
A Tabela 1 mostra a taxa de crescimento dos efetivos nas regiões do país ao longo dos últimos 10 anos. Verifica-se que a região Sul apresentou uma retração de quase 32% do rebanho que, por sua vez, não foi compensada pelos ritmos de crescimento apresentados pelas outras regiões. Essa incapacidade de reagir de forma mais precoce à redução do numeroso rebanho gaúcho impediu que o efetivo brasileiro superasse o patamar dos 14 milhões de cabeças em 2006.
Tabela 1. Taxa de crescimento regional do efeito ovino brasileiro.
Apesar da queda no efetivo ovino nacional se dever à redução drástica do rebanho lanífero na região Sul, nos últimos anos, há um movimento de desaceleração desse processo, tendendo à estabilização, segundo estimativas do próprio IBGE (Produção da Pecuária Municipal). Se essa tendência se confirmar, pode-se esperar um novo ciclo de crescimento para o efetivo sulista, resultando em um aumento continuo do rebanho nacional, incrementado pelas altas taxas de expansão da ovinocultura nas outras regiões do país.
3. Produção
Baseado no volume crescente de abates, na forte demanda do mercado doméstico e no volume das importações, o Gráfico 4 demonstra que a produção e o consumo brasileiros de carne ovina tem aumentado e, de acordo com estimativas da FAO, o país produziu algo em torno de 117 mil toneladas em 2006, apresentando um consumo da ordem de 124,1 mil toneladas nesse mesmo ano.
Gráfico 4. Produção e consumo de carne ovina no mercado brasileiro, em mil toneladas.
A partir da quantidade de ovinos abatidos sob inspeção federal, é possível estimar a participação percentual dos Estados na produção nacional formalizada. O Gráfico 5 deixa claro que o Rio Grande do Sul é o maior produtor, sendo responsável por quase 76% da produção e o principal fornecedor de carne ovina para o mercado da região Centro-Sul. Em seguida, se encontram a Bahia e alguns Estados com menos tradição na ovinocultura, como Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás.
Gráfico 5. Participação na produção doméstica de carne ovina, 2007.
O volume de carne ovina exportada pelo Brasil nos últimos 10 anos é insignificante, no entanto, o volume das importações é essencial para o atendimento da demanda do mercado doméstico.
Gráfico 6. Volume importado e valor de produtos cárneos ovinos em mil toneladas e em milhões de dólares.
De acordo com o Gráfico 6, o volume importado de produtos cárneos ovinos tem mantido um crescimento regular e firme desde 2004, atingindo 7,79 mil toneladas em 2007, apenas 8,6% superior ao ano anterior. Esse baixo incremento em 2007 se contrapõe com os quase 52% verificados em 2006. Esse fato pode ser indicativo de algumas situações referentes à capacidade de abastecimento dos principais fornecedores e/ou ao nível de consumo no mercado doméstico, mas ainda é cedo para afirmar alguma coisa.
Também é possível observar que a tendência de valorização da carne ovina importada permanece, havendo um descolamento do valor em relação ao volume a partir de 2004, o que resultou em um valor de 18,4 milhões de dólares para 2007, 23,3% superior a 2006, mesmo estando a demanda brasileira concentrada em cortes de dianteiro e costilhar, e em carcaças de animais adultos de menor valor, fornecidos em 98% pelo Uruguai, com o pouco restante oriundo de embarques da Argentina e Chile.
5. Consumo
Com o aumento do consumo total para cerca de 124,1 mil toneladas, em 2006, estima-se que houve um leve incremento no consumo per capita de carne ovina, passando dos estagnados 0,46 kg para quase 0,7 kg, neste ano.
De acordo com o Gráfico 7, o volume de abates se elevou em cerca de 17% em 2007, mantendo a tendência de crescimento firme, sendo um indicativo do aumento da produção e de consumo de carne ovina no mercado doméstico, assim como, demonstrando que a produção nacional está caminhando para uma maior formalização, uma vez que, baseado no cruzamento de informações do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e dos Serviços de Inspeção (Federal, Estadual e Municipal), estima-se que no mínimo 90% da carne ovina consumida no país é de origem clandestina, com grande presença de auto-consumo.
Gráfico 7. Volume de abates de ovinos, em mil unidades.
6. Considerações finais
Embora o efetivo ainda se mantenha estável, a produção e o consumo de carne ovina no mercado brasileiro aumentaram significativamente nos últimos anos, refletindo o direcionamento da ovinocultura para a produção de carne.
No entanto, a quantidade demandada pelo mercado doméstico é superior a ofertada, favorecendo as importações de carne ovina uruguaia, que chega ao mercado interno a preços bastante competitivos, sobretudo, com uma taxa de câmbio tão favorável como a atual. Além disso, trata-se na grande maioria de carne congelada oriunda de animais adultos (mutton) de genética Corriedale e de cortes de dianteiro e costilhar, uma vez que os cortes traseiros e de maior valor são exportados para a União Européia.
As regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste vêm apresentando um ritmo de crescimento superior, e alguns estados como Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul, embora com um efetivo limitado em relação a outros estados como Bahia e Ceará, já estão abatendo quantidades significantes de ovinos por ano, podendo, a longo prazo, se tornarem as principais regiões fornecedoras de carne ovina para o mercado doméstico.
Aparentemente, a população gaúcha de ovinos já se estabilizou e deve voltar a crescer nos próximos anos, considerando também, que o consumo de carne ovina está crescendo de forma regular e o Rio Grande do Sul é o maior produtor do país, sendo um importante fornecedor para o mercado de alta demanda da região Centro-Sul, além de ser o único com capacidade de competir com a carne importada do Uruguai.
Dessa forma, a produção e o consumo de carne ovina no mercado interno se encontram aquecidas e a expectativa para o rebanho nos próximos anos é de crescimento, o que caracteriza a ovinocultura de corte como um setor em ascensão.
Quando conduzida com bom nível gerencial e tecnológico, a produção de carne ovina surge como uma grande alternativa capaz de gerar emprego e renda, e competir com outras alternativas de uso da terra.
Assim, no Brasil, o agronegócio da carne ovina apresenta um enorme potencial de expansão horizontal e vertical, sustentada pela alta demanda do mercado doméstico e pela limitada oferta no mercado internacional.
Sigamos em frente!!
Bibliografia consultada
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Food Outlook, n.2, Rome: GIEWS-FAO, 2007. 91p.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT. Disponível em:
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006 - resultados preliminares, Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 146p.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária de Defesa Agropecuária . Serviço de Inspeção Federal. Disponível em:
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior . ALICE Web. Disponível em:
SOUZA, D.A. Análise do mercado internacional e doméstico da carne ovina. 2007. 40f. Monografia (Especialização em Administração Rural) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.