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Margens apertadas e pouco leite no campo

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/01/2022

4 MIN DE LEITURA

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O título desse artigo ilustra um pouco das dificuldades enfrentadas pela cadeia produtiva do leite no Brasil ao longo de 2021.

Foi um ano de margens apertadas, de difícil repasse de preços entre indústria e varejo e, ao mesmo tempo, com pouco leite no campo devido a um aperto nas margens do produtor.

Essa dificuldade toda foi oriunda de um consumo mais fraco, em que uma parcela dos consumidores das classes mais baixas, que ajudaram na demanda no ano passado, não tiveram fôlego e nem bolso para sustentar seu próprio consumo.

E isso ocorreu por vários motivos, principalmente econômicos, como alto desemprego, o menor aporte de recursos em programas de assistência à renda e a alta da inflação. No caso específico da inflação, que já não incomodava por vários anos, atingimos índices anualizados no patamar de 10%, o que prejudica o poder de compra das famílias. Além disso, a política monetária para seu controle envolve aumento de juros, o que encarece o crédito, o investimento e acaba afetando a retomada da economia.

O aperto de margem que recaiu sobre o produtor de leite veio inicialmente com uma elevação de preços dos concentrados a base de milho e farelo de soja. Em seguida a alta dos fertilizantes também encareceu o alimento volumoso. Por outro lado, o baixo consumo acabou induzindo um recuo nos preços do leite ao produtor de agosto de 2021 em diante.

Esse conjunto de fatores afetou a oferta de leite, com recuo de 4,9% no terceiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo trimestre do ano passado; no ano, a queda acumulada é de 1,2%.

O cenário mais difícil de rentabilidade tem levado produtores a repensar a atividade, com alguns projetos em aceleração e outros em situação de vulnerabilidade. O fato é que existem dois movimentos em curso no campo, sendo um de elevados investimentos em tecnologia e escala e outro de produtores deixando a atividade.

No mercado de derivados lácteos, o leite UHT tem enfrentado dificuldades para trabalhar diferenciação, agregação de valor e, consequentemente, margens. Especialmente após a recessão brasileira, em 2015 e 2016, as margens pioraram e a absorção de preços pelo consumidor tem sido mais difícil.

Historicamente, o spread  da indústria sobre o produtor, representado pela diferença de preços entre eles, ficou em R$1,88/litro, deflacionado pelo IGP-DI (Gráfico 1). Em 2021, esse spread recuou para R$1,24, o que colocou as margens industriais em situação complicada, dado que desse valor ainda é necessário deduzir os custos industriais, logística, embalagens, além dos custos fixos. O leite UHT está em um mercado onde a agregação de valor e a diferenciação precisam ser pensadas constantemente.

Existe uma parcela da população disposta a pagar mais por esse leite, mas esse consumidor tem de perceber o diferencial do produto, seja em rastreabilidade, pagada de carbono, saudabilidade, ou outras características físicas ou mesmo de percepção do consumidor.

No caso do queijo muçarela, a situação também foi difícil. Apesar do retorno gradativo do foodservice, a indústria de muçarela não conseguiu repassar os aumentos de custo que tiveram e o spread médio sobre o produtor também recuou em 2021. Em média, esse spread está em torno de R$8,61/kg, mas em 2021 caiu para R$6,03/kg (Gráfico 2).

No ano passado, o spread industrial foi um pouco acima da média histórica, mostrando que os repasses de preços aconteceram e o consumidor absorveu. Inclusive, as vendas de queijos pelos supermercados registraram bom volume e classes mais baixas de renda tiveram forte presença no consumo. Este ano, uma parcela dessa população não conseguiu manter suas compras.

Finalmente, no caso do leite em pó, a situação foi ainda mais adversa, por ser um produto que historicamente consegue manter uma margem sobre a matéria prima em torno de R$7,60/kg. Mas em 2021, esse valor recuou para R$4,35/kg (Gráfico 3), mesmo com uma menor concorrência com o produto importado.

Isso ilustra bem como algumas regiões de maior consumo de leite em pó como a Norte e a Nordeste sentiram o impacto negativo da pandemia sobre a economia e a renda das famílias.

Portanto, foi um ano com margens apertadas em determinados produtos. Obviamente que nem todos os derivados lácteos e laticínios sentem da mesma forma. O mix de vendas faz diferença na rentabilidade da empresa e as margens dos produtos também são variáveis. O direcionamento para nichos específicos e diferenciais de agregação de valor ao produto ajudam muito a atenuar as baixas margens na negociação de commodities.

Por outro lado, em grandes plantas industriais essas commodities são fundamentais para diluir os custos fixos, mas ganhos de eficiência e produtividade precisam ser incorporados quase que constantemente na rotina das empresas.

Uma lição importante deste cenário é de que a sustentação da cadeia do leite depende do consumidor, de seus gastos. É preciso entender suas preferências, suas demandas e o seu orçamento. Mas também é possível influenciar suas decisões.
 

Autor
Glauco Rodrigues Carvalho
Pesquisador - Embrapa Gado de Leite 

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