Mercado
A produção de carne ovina no centro-sul brasileiro é insuficiente para atender a demanda do mercado, de forma que atualmente o Brasil é um importador de carne ovina de tradicionais produtores como a Argentina, Uruguai e Nova Zelândia, entre outros. Entretanto, nossa extensa área territorial, com extensas áreas de pastagens, nos permitiria ser um exportador de carne ovina para atender o mundo como já estamos fazendo com a carne bovina, suína e de aves.
Atualmente, em função da incapacidade de atender a demanda do mercado interno, o preço do quilo da carne de ovinos posiciona-se ao redor de R$ 3,00 a R$ 4,00/kg vivo. Isto leva-nos a calcular um preço de R$ 90,00 a R$ 120,00/arroba produzida. Preço que é 50 a 100% superior ao preço pago pelos frigoríficos no estado de São Paulo por uma arroba bovina. Aliado ao bom preço devemos considerar o ciclo produtivo relativamente curto quando comparado ao ciclo de produção da carne bovina, principalmente quando os outros 3 pontos, genética, saúde e nutrição, são bem manejados dentro do sistema de produção.
Genética
No Brasil podemos contar com mais de 10 opções de raças para corte, todas com importantes características para serem exploradas dentro dos diferentes sistemas de produção adotados no território nacional. Entretanto, vamos discutir algumas características mais importantes e direcionadas ao sistema de produção de ovinos superprecoces.
Quando pensamos em produzir animais superprecoces, características relacionadas a crescimento, conversão alimentar, musculosidade, acabamento de carcaça e rusticidade são importantes quando da escolha de uma raça paternal, enquanto características ligadas à fertilidade, prolificidade, rusticidade, produção de leite e principalmente capacidade de reprodução o ano inteiro, devem ser consideradas na escolha da raça maternal.
Dentre as características que devem ser levadas em conta na escolha de uma raça maternal, a capacidade de se reproduzir o ano inteiro deve receber atenção especial em função da demanda pela carne ovina ser constante ao longo do ano, de forma que o produtor de cordeiro superprecoce deverá ter ocorrência de partos bem distribuídos ao longo do ano no rebanho, permitindo abates contínuos sem risco de deixar o consumidor desabastecido. Neste quesito devemos considerar a raça Santa Inês, que ao contrário da maioria das raças ovinas que são poliéstricas estacionais, apresenta cio o ano inteiro desde que não limitada por condições de baixo nível nutricional.
Nutrição
Conforme já exposto acima no início do texto, após definirmos a genética, devemos nos concentrar na alimentação dos animais, pois por melhor que seja a composição genética do rebanho que passa a ser estabelecido, a não observação de um manejo nutricional adequado irá impedir o aproveitamento pleno da genética adquirida.
Desta forma, alguns itens deverão ser considerados quando discutimos nutrição. Primeiramente devemos ficar atentos ao planejamento da produção forrageira da propriedade, de forma a maximizar a produção e utilização das pastagens no verão, além de produzir volumosos de forma eficiente e economicamente viável para suplementação do rebanho nos meses de inverno, período em que ocorre a redução da capacidade produtiva das pastagens.
Neste contexto, devemos considerar a necessidade de suplementação das matrizes com volumosos, para suprir a queda de produção das pastagens, e de confinamento dos cordeiros para acabamento e abate. Nas duas situações a utilização de rações com 18% de proteína bruta e alta energia deverá ser considerada para atender as exigências nutricionais destas categorias.
Creep-feeding
A produção de cordeiros superprecoces depende da exploração do elevado potencial de crescimento dos cordeiros, de forma que nenhum fator nutricional e/ou sanitário seja limitante à expressão máxima do potencial genético dos animais. Desta forma, o uso da técnica de creep-feeding, consiste em um manejo que visa suprir os cordeiros com ração de alto valor nutritivo, com 19% de proteína bruta e alta energia, adequada para elevar o desempenho destes animais, para que não sofram com a desmama precoce (ao redor de 45 a 60 dias de idade), sendo a maioria destes cordeiros abatidos após 30 dias de confinamento, com idade média entre 75 a 90 dias.
Outro benefício do creep-feeding, refere-se à rápida reconcepção das matrizes, que são menos exigidas pelos cordeiros, além de sofrerem o desmame antecipado quando comparado ao manejo normal. Assim podemos conseguir até dois partos por ano em algumas matrizes do rebanho. Uma observação importante para quem adota o sistema de creep-feeding é que os cordeiros devem mamar à vontade, e por isso atenção deverá ser dada à nutrição das matrizes que deverão ter a sua disposição pastagens de boa qualidade e com excelente disponibilidade no verão, ou volumoso de boa qualidade no inverno. Uma suplementação com ração com 18% de proteína bruta e alta energia, sempre deverá ser considerada durante a lactação, principalmente quando os partos são gemelares, para sustentar uma produção de leite adequada para garantir que os animais sejam desmamados com peso ao redor de 15 a 18 kg, para que sejam confinados e rapidamente abatidos.
Confinamento
Para a produção de animais superprecoces, o ganho de peso individual em confinamento deve ser ao redor de 200 a 300 gramas/dia para que os animais cheguem rapidamente ao peso de abate, com um bom grau de acabamento de carcaça. Assim, a utilização da silagem de milho passa a ser determinante como volumoso, uma vez que este é o volumoso de maior valor nutritivo dentre as opções brasileiras. O fornecimento de uma dieta composta por 40% de silagem de milho e 60% de ração, com 18% de proteína bruta com alta energia, garantirá um desempenho conforme exposto acima.
Além da relação volumoso:concentrado e da qualidade dos alimentos com relação à proteína e energia, a picagem do volumoso é de suma importância para garantir boa digestibilidade e consumo de matéria seca. Desta forma recomenda-se um tamanho médio de partícula do volumoso inferior a 5mm, e o fornecimento de ração na forma peletizada, o que melhora a digestibilidade da dieta, aumenta a taxa de passagem, maximizando o consumo de matéria seca que se refletirá em bons ganhos de peso, com boa conversão alimentar. Sugere-se um período de confinamento de 30 a 40 dias, com 10 dias de adaptação, momento em que altera-se a relação volumosos:concentrado de 70:30 para 40:60.
Sanidade
Com a intensificação dos sistemas de produção de carne ovina, os desafios sanitários passam a adquirir maior importância. Dentre os principais, podemos citar alguns como as verminoses, urolitíase nos machos, intoxicação por cobre e toxemia da prenhez em ovelhas gestantes.
Todas estas doenças poderão ser controladas desde que conhecimentos prévios de sua etiopatogenia sejam de domínio dos ovinocultores. Entretanto, para alguns, estes conhecimentos ainda são de pouco domínio, o que nos estimula a discuti-los nesta seção de uma forma sucinta e objetiva, recomendando algumas formas de manejo para reduzir a incidência destas patologias sobre os rebanhos.