Braz H. Nunes Rodrigues1, João A. Magalhães1, Expedito A. Lopes 2
Na região Nordeste do Brasil, a pecuária leiteira exibe índices de produtividade muito baixos, com uma grande variação nos níveis de tecnologia utilizados. Os sistemas de produção de leite a pasto constituem alternativas de baixo custo, comparativamente aos sistemas baseados no uso de concentrados. Esses sistemas têm sido majoritariamente baseados no uso de capim-elefante.
No entanto, várias outras gramíneas podem ter potencial para uso nos sistemas de produção de leite. A avaliação de plantas forrageiras, visando a seleção de espécies é fundamental, principalmente ao se considerar que a produtividade e o valor nutritivo de uma pastagem dependem muito do manejo adotado, sofrendo grande influência das condições ambientais. No processo de avaliação, estudos de adubação que venham permitir que a planta expresse todo o seu potencial produtivo, eliminando a influência negativa da baixa fertilidade do solo, são de alta importância.
No Piauí, a existência de um longo período seco, acompanhado de altas temperaturas, constitui, além da baixa fertilidade dos solos, efeito restritivo ao crescimento das plantas forrageiras, resultando em reduzida disponibilidade de forragem e baixo valor nutritivo do material remanescente das pastagens. A irrigação, quando possível, elimina esta sazonalidade de produção das pastagens, com efeito benéfico sobre a produção dos animais em pastejo. Além disso, nessas áreas com temperatura e radiação constantes, a irrigação tem a oportunidade de mostrar maior viabilidade técnico-econômica, em comparação a outras regiões do país localizadas em maiores latitudes.
Na formulação de um sistema de produção de leite em pastagem irrigada nas condições da região nordestina, é fundamental obter-se informações que subsidiem recomendações próprias, dentre outras, em relação à: i) resposta da espécie/cultivar forrageira ao pastejo intensivo em função da quantidade de água de irrigação e dos níveis de fertilização aplicados para as condições regionais; ii) maneira mais eficiente (econômica e biologicamente) de produzir forragem irrigada; iii)momento (idade) adequado para colocar os animais e retirá-los da pastagem; e iv) potencial de produção de leite(capacidade de suporte) de cada forrageira. É imprescindível, portanto, estudos dessa natureza, visando encontrar respostas para esses questionamentos.
Assim, visando buscar respostas para parte desses questionamentos, a Embrapa Meio-Norte conduziu um trabalho em sua Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Parnaíba-PI cujo objetivo foi avaliar o potencial de produção de matéria seca e proteína bruta do capim Tanzânia, sob diferentes níveis de irrigação e adubação nitrogenada. Os níveis de água aplicados foram calculados em função do fracionamento da evaporação do tanque classe "A" (ECA) entre duas irrigações consecutivas, o que proporcionou uma aplicação total, no período de 05 cortes da gramínea, de três lâminas de água: 200, 600 e 1000 mm. As doses de nitrogênio (N) avaliadas foram: 100, 200 e 300 kg/ha.ano, na forma de uréia. Aplicou-se, em fundação, de maneira uniforme em todas as parcelas, 100 kg/ha de P2O5 e 50 kg/ha de K2O, nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. A gramínea, que já havia sido implantada no ano anterior, recebeu quatro cortes de uniformização durante o período das chuvas e um último corte de uniformização no início do período de estiagem, quando se iniciaram os tratamentos de irrigação e ocorreu a aplicação dos níveis de N em cobertura. A primeira amostragem ocorreu 28 dias após este corte de uniformização e as demais se procederam, também, em intervalos de 28 dias, totalizando cinco cortes no período.
Os resultados do experimento demonstraram que não houve efeito significativo para lâmina de água (L) e a interação LxN na produção de matéria seca (MS) da gramínea, sendo observado apenas o efeito isolado de N para MS, com a produtividade máxima de 27.678 kg/ha obtida com a aplicação do nível de nitrogênio correspondente a 300 kg/ha.
Uma vez que não ocorreu efeito significativo para as lâminas de água aplicadas, sugere-se a aplicação do menor nível (0,2 ECA), em função da economia de água e conseqüente redução nos custos de produção da forragem.
Com relação ao teor de proteína bruta (%PB), os efeitos das doses crescentes de nitrogênio e lâmina de água demonstraram linearidade, onde os valores médios encontrados de %PB para a cultivar, com destaque para a combinação dos maiores níveis de L e N (15,72 %), comprovam o valor nutritivo dessa forrageira para a produção de leite a pasto.
1Embrapa Meio-Norte
2Embrapa Caprinos