Ou pior, que deixará poucos filhos e esses poucos também serão reprodutivamente inferiores? Não seria melhor ter certeza, prevenir, do que arcar com os prejuízos de uma estação de monta ruim? Não seria melhor realizar um exame andrológico, do que ter que trocar o animal vendido?
Na primeira parte deste artigo, vimos que através de exames simples podemos identificar problemas, descartar e classificar os machos que serão usados na estação de monta ou que serão comprados. Neste aspecto, o exame andrológico é uma ferramenta essencial na avaliação da fertilidade dos machos em idade reprodutiva.
Neste artigo, abordaremos a parte mais importante do exame andrológico: a avaliação do sêmen, desde sua colheita até os parâmetros aceitáveis. Em um ejaculado existem espermatozóides vivos, com movimento progressivo, com movimento circular, mortos, normais, anormais, etc. Portanto são realizadas avaliações para saber a quantidade de espermatozóides que realmente gerariam uma prenhez.
Se no exame clínico alguns parâmetros podem ser realizados facilmente, no exame do sêmen apenas um Médico Veterinário capacitado poderá atuar, já que alguns detalhes podem prejudicar a integridade do exame e até mesmo do animal. A seguir veremos as etapas constituintes do exame do sêmen - colheita, exame imediato e exame mediato.
Colheita
Pode ser feita com o uso de vagina artificial ou eletroejaculador. Estas técnicas, quando realizadas por profissional capacitado, são seguras e não causam dor ao animal. A escolha é baseada, entre outros fatores, pelo temperamento do animal: para machos agressivos ou amendrotados é utilizado o eletroejaculador, para os demais a vagina artificial.
Os carneiros e bodes adaptam-se facilmente à vagina artificial, que deve ser montada com pressão e temperatura adequadas. Se a temperatura estiver demasiadamente elevada, o animal pode ter a mucosa peniana queimada, traumatizando-o para colheitas posteriores. No caso de temperatura baixa e/ou pouca pressão, a excitação pode não ser suficiente e o macho não consegue ejacular.
Abaixo, vemos a foto de uma vagina artificial montada, pronta para ser preenchida com água e ar.
Figura 1. Vagina artificial utilizada no exame andrológico
Para a colheita com eletroejaculador, o animal pode permanecer em pé ou deitado de lado. A técnica consiste em introduzir o eletrodo lubrificado no reto, e produzir estímulos elétricos na região, alternando momentos de estimulação e relaxamento, até a ejaculação.
Figura 2. Eletroejaculador
Exame imediato
Ocorre logo após a colheita do sêmen e são analisados volume, cor, odor, turbilhonamento e motilidade. Consiste nas seguintes análises:
Volume: cada ejaculação fornece entre 0,5 a 2 mL de sêmen. Esse parâmetro tem maior importância no sêmen colhido em vagina artificial, porém é de valor limitado quando é proveniente de colheita por eletroejaculador, pois se espera um volume maior, já que há maior produção de líquido seminal pela estimulação elétrica.
O volume maior não necessariamente está relacionado com maior quantidade de espermatozóides, pois esta depende do volume e da concentração. Assim, um ejaculado com menor volume e alta concentração pode conter mais espermatozóides do que um sêmen de maior volume e com baixa concentração.
Cor: o sêmen normal de carneiro tem a cor esbranquiçada tendendo para a pérola ou branco-marmóreo; quanto mais esbranquiçado, maior o número de espermatozóides. No caso dos bodes, a coloração amarelo citrino é uma característica da espécie, sendo igualmente aceita. O ejaculado aquoso implica em poucos espermatozóides, sendo constituído basicamente de líquido seminal.
Caso haja a presença de pus ou sangue, a coloração tende a esverdeado ou avermelhado, respectivamente. No caso da eletroejaculação, pode haver presença de urina, que trará uma coloração amarelada para o sêmen. O mesmo pode acontecer quando o animal fica extremamente excitado, e acaba liberando urina no momento da ejaculação em vagina artificial. Nesse caso, os espermatozóides morrem rapidamente.
Odor: o sêmen é praticamente isento de odores. Quando há presença de urina, que é letal para os espermatozóides, o odor é diferenciado.
Turbilhonamento: é o movimento dos espermatozóides, percebido através de ondas quando da observação de uma pequena gota de sêmen no microscópio, ou quando se observa o ejaculado contra a luz. O turbilhonamento é uma relação entre concentração e a motilidade, e é expresso em pontuação de 1 a 5, sendo 1 quando há poucas ondas (baixa concentração) e com movimento vagaroso (baixa motilidade) e 5 com muitas ondas formadas (altamente concentrado) e extremamente rápidas (ótima motilidade). O turbilhonamento de pequenos ruminantes é muito mais alto do que aquele observado para bovinos, sendo o comum entre 4 e 5.
Motilidade: é a porcentagem de espermatozóides vivos com movimento progressivo. O mínimo aceitável é de 60%, sendo o mais comum ao redor de 70% a 90%.
Vigor: é a velocidade de progressão dos espermatozóides. É expresso em valor de 0 a 5, sendo o mínimo aceitável 3 e o valor ideal de 4 a 5.
Exame mediato
É realizado após a colheita e exame imediato de todos os reprodutores a serem analisados, no caso de avaliação de mais de um macho. São quantificadas a concentração e patologias, e é a parte mais demorada e trabalhosa do exame andrológico.
Concentração: mede a quantidade de espermatozóides por mL de ejaculado. O padrão é 3,5 bilhões de espermatozóides por mL, oscilando de 3 a 6 bilhões, de acordo com o volume total de sêmen.
Patologia: este exame quantifica o número de espermatozóides anormais. Existem duas classificações básicas: defeitos maiores e defeitos menores. Os defeitos maiores são alterações sérias na forma do espermatozóide, que causam grande diminuição de fertilidade. Os defeitos menores são alterações que causam menor dano à fertilidade. As patologias são expressas em porcentagem, quanto menor a porcentagem melhor é o sêmen.
Os pequenos ruminantes possuem naturalmente o sêmen com baixíssimas patologias, portanto seu padrão é mais rigoroso que aquele utilizado para bovinos.
Para os defeitos maiores são aceitos até 5% individualmente e para os menores no máximo 10%. A somatória geral de todos os defeitos deve ser de, no máximo, 15%.
Bibliografia:
PUGH, D. G. Clínica de Ovinos e Caprinos, 1ª ed. São Paulo : Editora Roca Ltda, 2005
Agradecimentos:
Profa. Dr. Anneliese de Souza Traldi