Ao iniciarmos mais um período de plantio, com as primeiras chuvas em algumas regiões, alguns produtores de leite começam a ser assolados pelas dúvidas de sempre sobre qual volumoso é o mais barato de ser produzido. Acho que a questão tem facílima resposta se mudarmos a pergunta; ao invés de mais barato, a pergunta a ser feita é qual volumoso é mais rentável quando pensamos em produção de leite ao longo de todo o ano.
Quando questionamos produção anual, devemos considerar algumas questões estratégicas. A primeira é qual o custo por tonelada de matéria seca produzida, considerando principalmente custo oportunidade da forrageira. Vemos diversos números sendo apresentados em mídias ou em pesquisas considerando custos de produção, porém com visões enviesadas da realidade ou mesmo direcionadas, que acabam por confundir principalmente os produtores de média e baixa tecnificação.
Questões como uso de silagem de milho ou sorgo versus cana-de-açúcar pululam quase que mensalmente nas revistas e informes dirigidas ao produtor de leite, sem que se apresentem comparativos considerando o que verdadeiramente importa que é conversão da forrageira em litros de leite. Dificilmente uma forrageira para plantio no período das águas terá um desempenho tão bom quanto o milho caso se observem todos os cuidados quanto ao plantio, ponto de corte e ensilamento.
Mesmo sabendo que cada região tem particularidades quanto à época de plantio, nas regiões onde trabalho temos obtido médias de produção de silagem de milho ao redor de 55.000 Kg de matéria original ou 18.000 Kg de matéria seca, sendo que alguns produtores têm trabalhado com médias de toda a área até 20% maiores. Em ambos os casos os custos da tonelada da matéria seca tem se situado ao redor de R$ 215,00 (conforme tabela de custos abaixo), pois ao levar em conta o custo oportunidade da saca de milho temos uma visão mais realista se o lucro vem da atividade pecuária ou parte é lucro agrícola.
Fonte: Fundação ABC e MILKON$ULT
Existe algum segredo para obtenção dessas médias? Acredito que não, pois as mesmas são fruto de um encadeamento de práticas agronômicas ao alcance de todos. Práticas como plantio direto, adensamento de plantio, adubação de base, uso de sementes certificadas, etc... estão ao alcance de todos, bastando contratar a assessoria de um bom Engenheiro Agrônomo. A partir do ponto em que o milho irá se aproximar do ponto de corte, a decisão gerencial da fazenda ajudará e complementará tudo o que foi feito corretamente até aquele momento.
A segunda e mais importante decisão refere-se ao corte da silagem, pois decisões como ponto de corte e velocidade de ensilamento são cruciais na obtenção de uma silagem que trará maior retorno financeiro para a propriedade. Tenho trabalhado com recomendações de corte quando o grão ainda apresenta 2/3 da linha do leite ou no máximo ½ linha do leite, o que difere da recomendação de algumas sementeiras que tem recomendado pontos de corte quando a planta está um pouco mais seca, visando melhor aproveitamento do amido.
Isso talvez fosse verdadeiro se trabalhássemos com milhos DENT, menos duros e com maior digestibilidade, como os milhos nacionais são FLINT e por isso mais vítreos, o que vemos é a passagem de muito milho não digerido presente no esterco quando utilizamos pontos de corte ao redor de 1/3 da linha do leite. A segunda variável refere-se à velocidade de ensilamento, e aí acredito não haver dúvidas, que quanto mais rápido conseguirmos fechar o material, melhor.
Sendo assim, o uso de automotrizes não é mais um luxo e sim uma necessidade quando falamos de áreas de milho superiores a 50 hectares. Nos casos onde a topografia não permite o uso de máquinas maiores, o plantio escalonado e o ensilamento em pequenos silos impõe-se como necessidade absoluta de forma que não se perca qualidade do material já pronto, degradando pela exposição ao sol, sereno e ar.
A terceira decisão relativa ao corte refere-se ao tamanho da partícula, e essa talvez seja a mais difícil de definir, pois ela traz dois componentes praticamente antagônicos. Se por um lado quanto menor a partícula melhor o processo de ensilamento e fermentação, as vacas necessitam de fibra efetiva para seu processo digestivo e o material muito fragmentado tem de forma geral levado os animais a quadros de acidose e baixa produção de sólidos.
Esta decisão adquire uma variável a mais, quando consideramos como será feita a dieta, se é uma misturadora que fará a TMR, se a dieta será feita no Garfomix, se trabalha com fresa desensiladora ou com carga manual, pois o que observamos é que quanto maior o fracionamento do material ensilado pelo uso da fresa e de carretas misturadoras com facas, maior tem que ser o tamanho da partícula no momento do corte.
De forma geral, acredito que a obtenção de uma boa silagem de milho é o ponto básico para qualquer propriedade que queira produzir leite ao longo de todo o ano sem muitos sobressaltos. Mesmo para aqueles produtores que trabalham com gramas tropicais em piquetes ao longo do período das águas, a produção de material ensilado de qualidade para fornecer aos animais no período de outono e inverno pode fazer toda a diferença entre produzir leite com tranqüilidade ou ter que correr atrás de fornecedores de bagaço, feno ou outras fontes de volumoso para produzir leite em épocas de pouca chuva.