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Efeitos colaterais da genética de alta produção

POR FERNANDO ENRIQUE MADALENA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/02/2008

10 MIN DE LEITURA

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Por Fernando E. Madalena1

Há uma grande preocupação no mundo todo com a queda continuada da fertilidade e da saúde do gado leiteiro de alta produção. Na recente Conferência da FAO, em Interlaken, em setembro passado, sobre o estado mundial dos recursos genéticos animais, o Interbull organizou Simpósio sobre o tema "Que tão sustentáveis são os programas de melhoramento das principais raças de gado de leite internacionais?", no qual me coube fazer apresentação, em que se baseia este artigo.

Deterioração da fertilidade e da saúde

Nas últimas décadas, a produção de leite por vaca teve um aumento substancial nos países do primeiro mundo, de onde provém a genética usada no Brasil, mas, como pode ser observado na Figura 1, esse aumento da produção foi acompanhado por importante deterioração da fertilidade.

Figura 1. Evolução da produção de leite por lactação (Leite), intervalo de partos (IEP) e número de serviços por concepção (S/C) nos EUA.



Fonte: Lucy, 2001.

A prevalência de doenças também tem aumentado e é motivo de preocupação. Por exemplo, Zwald et al (2004) comunicaram incidência de deslocamento do abomaso de 3% de casos por lactação, 10% de cetose, 20% de mamite, 10% de claudicação, 8% de cistos ovarianos e 21% de metrite, em vários estados dos EUA.

Redução da vida útil e aumento da mortalidade

Os problemas de fertilidade e doenças refletem na redução da vida útil e aumento da taxa de descarte, bem como no aumento da mortalidade. Estes parâmetros têm atingido valores insustentáveis, tendo a vida útil caído, nos EUA, para 2,8 lactações por vaca, ou 32 meses, o que requer reposição de 38% do rebanho, cifra inatingível a não ser com sêmen sexado. Com tanto descarte, 61% do rebanho é de vacas de primeira e segunda cria, que são menos produtivas que as adultas. Apenas 12 a 20% desse descarte é devido à baixa produção, sendo o resto devido a infertilidade e doenças. Por outro lado, a taxa de mortalidade de vacas passou de menos de 2% ao ano para 6 a 11%, dependendo da região.

Também no Brasil, como em outros países importadores de genética de alta produção, os problemas de fertilidade são notórios. Por exemplo, Vasconcelos et al. (2007) relataram taxas de concepção de 17 a 25%, em vacas, em fazenda modelo em São Paulo. Wolff et al. (2004) verificaram aumento no intervalo parto-primeiro cio de vacas Holandesas, no Paraná, no decênio 1991-2000. Vida útil de apenas 2,7 lactações foi relatada para fazendas em Castro, PR (Balde Branco, 2003). Molina et al. (1999) comunicaram prevalência de 30,3% de vacas com afecções podais, concluindo que "as afecções podais em vacas em lactação confinadas constituem um sério problema em fazendas na bacia leiteira de Belo Horizonte".

Antagonismo genético entre a produção e a fertilidade e saúde

A seleção para maior produção de leite aumenta também a capacidade de consumo de alimento, mas, tal aumento não é o suficiente para atender totalmente os requerimentos energéticos adicionais, decorrentes do aumento da produção, especialmente nas primeiras semanas após o parto, ocasionando, então, balanço energético negativo e maior mobilização de reservas corporais, o que provoca diminuição da fertilidade e aumento de doenças como mamite, febre do leite, cetose e outras.

Em estudo com mais de 118 mil lactações, na raça Holandesa, no Brasil, Silva et al. (1998) verificaram forte correlação genética desfavorável (rg = 75%) entre a produção de leite na primeira lactação e o primeiro intervalo de partos, estimando que para cada 200 kg de ganho genético na produção, aumentar-se-iam 7,9 dias no intervalo.

Infelizmente, o antagonismo genético entre produção e fertilidade encontrada no Holandês persiste também em populações de gado mestiço, segundo resultados de Silva et al. (2001) e Grossi e Freitas (2002).

O balanço energético negativo é determinado geneticamente e não se resolve com nutrição
Segundo Lucy (2005) existe consenso de que o desempenho reprodutivo da vaca de leite é influenciado por ponto característico de condição corporal, geneticamente determinado, ao qual ela migra, depois de iniciada a lactação, através da utilização do tecido adiposo, cuja perda dependeria desse ponto característico e da massa de tecido adiposo disponível, e não das exigências nutricionais. A seleção para maior produção produziu vacas com maior predisposição genética para direcionar os nutrientes para a produção de leite, ao invés de formar gordura corporal, o que é regulado através de mecanismos hormonais. Conseqüentemente, segundo Chagas, et al. (2007), "mesmo quando o consumo de nutrientes é aumentado em altos níveis, o resultado é simplesmente um aumento na produção, sem necessariamente melhorar o desempenho reprodutivo".

Vacas mais angulosas tem pior condição corporal, menor fertilidade e mais doenças

Infelizmente, durante dezenas de anos, tem se inculcado a produtores e técnicos que vaca leiteira tem que ser angulosa, tendo-se selecionado intensamente para esta característica, junto com outros componentes do tipo. De fato, ao se selecionar para maior angulosidade se melhora sim a produção, mas, por outro lado, também se seleciona contra a fertilidade, porque a maior angulosidade implica em pior condição corporal, um indicador de como a vaca estoca e mobiliza, durante a lactação, sua reserva de energia no tecido adiposo. Condição corporal adequada é reconhecidamente necessária para a reprodução eficiente

Na Fig. 2 se apresenta um exemplo da correlação negativa entre o valor genético para intervalo de partos e a condição corporal, sendo que os reprodutores que transmitem pior condição corporal tendem a transmitir intervalos de partos maiores, e vice-versa.

Figura 2. Relação entre os valores genéticos de reprodutores Holstein, no Reino Unido, para escore de condição corporal e intervalo de partos. Cada ponto representa os valores genéticos de um reprodutor.



Fonte: Pryce et al. (2000).

Também tem sido verificado antagonismo genético entre angulosidade e prevalência de doenças, o qual é atribuído ao estresse metabólico, decorrente do balanço energético negativo. Estes fatos têm levado às Associações de Criadores a reverter a seleção, procurando-se agora selecionar os animais com pior forma leiteira, os menos angulosos. Parece brincadeira. O certo mesmo seria esquecer a ilusão da seleção por tipo e selecionar diretamente pelas características econômicas.

Vacas grandes comem mais, mas, não dão mais leite

A seleção de animais de grão tamanho é anti-econômica, uma vez que o tamanho tem quase nula correlação genética com a produção (VanRaden et al., 2006), mas, obviamente, aumenta os requerimentos de nutrientes para mantença.

Na Tabela 2 se apresentam os resultados de experimento de seleção para tamanho na Universidade de Minnesota, onde as vacas de linhagem selecionada para maior tamanho não produziram mais leite que as selecionadas para tamanho menor, de forma que a margem econômica do alimento ("income over feed cost") foi maior para a linhagem "pequena", que também apresentou maior fertilidade e dias em produção.

Os autores concluíram que a seleção deveria ser praticada com base nas características econômicas, entretanto, segundo eles, a seleção para menor tamanho, que implicaria em sacrificar um pouco de seleção para produção, poderá não ser necessária nos EUA enquanto houver "fácil aceso a alimentos relativamente baratos". Eis a confirmação de mais uma perversidade do regime de subsídio à produção.

Tabela 1. Resultados da seleção para tamanho, em Holstein, por três gerações, usando-se, a cada ano, sêmen comercial dos três reprodutores de maior e menor valor genético para tamanho, dentre a metade dos reprodutores de maior PTA para produção disponíveis nos EUA.



Fonte: Hansen et al. (1999).

No Brasil, onde os concentrados não são subsidiados e os níveis econômicos de produção por vaca são muito menores que na América do Norte e Europa, as despesas para mantença representam maior proporção do custo que naquelas regiões, e, conseqüentemente, o peso das vacas adquire maior importância econômica negativa. Pesquisas do nosso grupo na UFMG demonstraram ser mais importante economicamente reduzir 1% o peso das vacas que aumentar 1% a produção de leite (Lôbo et al., 2000, Vercesi Filho et al., 2000, Martins et al., 2003).

Antagonismo genético entre a produção e a tolerância ao calor

Calor e umidade são reconhecidamente prejudiciais para a reprodução do Bos taurus, e seus efeitos são agravados pela alta produção de leite. Trabalhos conduzidos na Universidade de Georgia têm verificado antagonismo genético entre a produção e a tolerância ao calor. Bohmanova et al. (2005) compararam os PTA dos 100 reprodutores com menor e com maior PTA para tolerância ao calor, dentre mais de 172 mil reprodutores Holstein dos EUA, verificando que os 100 menos tolerantes ao calor apresentavam maior produção de leite (+1124 kg/lactação), menor fertilidade e menor vida produtiva que os 100 mais tolerantes. Segundo os autores, a seleção continuada para maior produção, sem considerar a tolerância ao calor, resultará em diminuição desta última característica.

Endogamia globalizada

Um outro problema que causa perda de fertilidade e saúde é o aumento da endogamia, que, no caso do Holandês, decorreu do uso intensivo de reprodutores famosos em nível mundial. Segundo Funk (2006) a endogamia média no rebanho Holandês dos EUA passou de 2,7% em 1970 para 6,8% em 2000, com previsão de aumento para 8,2% em 2010 e 9,7% em 2020. Devido ao intenso uso dos reprodutores famosos como pais das novas baterias de touros em teste, houve um gargalo na genética disponível. Por exemplo, dos mais de 73.000 touros avaliados pelo Interbull no mundo, nascidos em 1990, metade eram filhos de apenas cinco pais.

Como a genética das principais raças de leite está globalizada, através de importações de sêmen e embriões, o gargalo genético se estende a todos os países. Van Doormaal et al. (2005) relataram que quase todos (entre 94,2 e 99,7%) os reprodutores aprovados em 12 países da América do Norte e Europa, nascidos em 1999, eram descendentes de Round Oak Round Apple Elevation, e entre 24 e 85% eram também descendentes de seu filho, Hanoverhill Starbuck. Na Nova Zelândia e na Irlanda o percentual de descendentes de Elevation era um pouco menor, 89 e 82%, respectivamente. Assim, devido a globalização da genética nas raças leiteiras internacionais, há, infelizmente, poucas possibilidades de se fugir da endogamia, em se mantendo as tendências de seleção vigentes.

No Brasil, o parentesco com antecessores famosos foi o fator que mais influenciou os preços do sêmen importado (Madalena et al., 1985), e Elevation já contribuía, naquela época, com 12% dos genes dos doadores de sêmen de Holandês importado. Este reprodutor e Pawnee Arlïnda Chief foram os avôs paternos de 24% e 22%, respectivamente, de mais de 82 mil vacas analisadas por Zambianchi (2001), ou seja, os dois reprodutores contribuíram na herança genética de 46% dos animais da raça Holandesa estudados.

"Solucionática"

As ferramentas para solucionar os problemas apontados passam todas pela correção do rumo equivocado, e consistem no o uso de:

Cruzamentos entre raças, p. ex. com Jersey (mas, qual Jersey, o da América do Norte ou o da Nova Zelândia?), ou, com as raças Vermelha Sueca ou Norueguesa (muito promissoras, mas ainda não testadas no Brasil). A superioridade econômica do cruzamento tríplice de Jersey/Holandês/Gir, no caso de abate dos machinhos, foi verificada por Teodoro e Madalena (2005).

Linhagens diferentes de Holandês, sendo a opção mais óbvia a do Friesian da Nova Zelândia, que ainda tem alguns animais sem contaminação pelo Holstein (mas também não devidamente testada no Brasil).

Reprodutores, dentro de cada raça, que aumentem o lucro, o que implica que o produtor ou seu assessor técnico elabore o seu índice econômico de seleção e adquira sêmen dos reprodutores superiores para aquele índice (mas, isto último é só uma possibilidade teórica, pois inexiste sêmen a venda de reprodutores testados no Brasil para todas as características de interesse econômico).

Em todo caso, nenhuma ação deveria ser tomada sem o respaldo de pesquisa competente prévia. O Brasil já vem correndo atrás do prejuízo e simplesmente não pode se dar ao luxo de ignorar o que faz com o principal recurso genético utilizado para a produção de leite.

Referências

As referências bibliográficas citadas se encontram nos trabalhos seguintes:

Madalena, F.E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção - Revisão bibliográfica. 2007a. https://www.fernandomadalena.com

Madalena, F.E. Comparações entre o Friesian da Nova Zelândia e o Holstein internacional - Revisão bibliográfica. 2007b. https://www.fernandomadalena.com

Madalena, F. E. 2008a. How sustainable are the breeding programs of the global main stream dairy breeds? - The Latin-American situation. Livestock Research for Rural Development. Volume 20, Article # 19. https://www.cipav.org.co/lrrd/lrrd20/2/mada20019.htm

Madalena, F. E. 2008b. A esquecida metade Bos taurus do F1. Anais do 6o. Encontro de Produtores de Gado Leiteiro F1. BHTE, Abril 2008 (no prelo)



1Professor da UFMG
www.fernandomadalena.com

FERNANDO ENRIQUE MADALENA

Consultor autônomo. www.fernandomadalena.com

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NELSON JONES FRANKLIN DA SILVA

JACUTINGA - RIO GRANDE DO SUL - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 05/03/2012

Parabéns pelo artigo, a 20 anos trabalhei em cooperativa e com genética americana, melhoramos a produtividade "sim" mas, foi com manejo e alimentação também, quanto a genética, nossos problemas também aumentaram assustadoramente, temos que repensar urgente o uso de raças mais adaptadas as nossas condições de produção temos vários  exemplos espalhados por aí dando muito certo.

Um abraço

Nelson Jones Franklin

Jacutinga - RS- Representante comercial
FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 08/04/2010

Prezado Renato Nogueira Diógenes Filho,

Desconheço pesquisas comparando o Jersey da América do Norte ou da Nova Zelandia usados em cima de vacas F1 - gir/holandês. Acho o assunto muito relevante e tal pesquisa seria de fácil implementação reunindo algumas fazendas que já estejam fazendo o cruzamento das três raças.
Saudações cordiais!
RENATO NOGUEIRA DIÓGENES FILHO

JAGUARIBE - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/04/2010

Caro Prof. Madalena,
parabéns pelo artigo, e concordo inteiramente com os pontos abordados, e também sou adepto ao cruzamento tríplice entre Gir/Holandês/Jersey, buscando somar características de interesse econômicos pertinentes as tres raças, e no artigo é comentado sobre o uso de Jersey da América do Norte ou da Nova Zelandia, já temos trabalhos de pesquisa comparando o desempenho das características de interesse econômico (quando usados em cima de vacas F1 - gir/holandês) das duas linhagens em território nacional?
Cordialmente, Renato Filho.
FABIO TAVEIRA SANDIM

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/04/2010

Parabéns Madalena.

A tempos venho observando em nossa propiedade, de animais mestiços girolando, a correlação citadas em seu artigo, animais de porte menor e automaticamente com melhor escore corporal tem maior persistencia na produção de leite e que são animais que emprenham mais cedo. Parabéns mais uma vez pelo artigo todos que querem fazer melhoramento no girolando deveriam ler isso, principalmente juizes de associações.


Quanto a essa forma tão angulosa que se buscam hoje no girolando principalmente em animais de pista, é de se pensar qual o sistema que cada produtor deve direcionar seus animais. Já que no brasil uma das principais importancia no girolando é produção de leite a pasto.
SEJ JOHN

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 03/01/2009

A algum tempo o "alerta" do Prof. Madalena vem "aparecendo" na literatura especializada dos EUA, Europa e Oceania. Para nós brasileiros, o "alerta" é ainda mais importante, pois enquanto eles preocupam-se com a raça holandesa (principalmente) e jersey, nós, brasileiros, temos que nos preocupar também com os rumos do Gir.

Qualquer bom observador percebe a concentração genética que está havendo em torno de linhagens leiteiras dos criatórios Faz. Brasília, Calciolândia, Silvânia e em menor grau FB, Poções e FAN...
Permanecendo assim (faça uma verificação nas ultimas duas baterias de testes de touros da ABCGIL/EMBRAPA) e logo teremos "problemas" similares aos encontrados na raça holandesa... ainda mais com o uso intensivo de FIV e TE.

Portanto, vejo com otimismo iniciativas como a os criadores goianos que já estão promovendo a 2a bateria de testes de touros com animais de outras linhagens leiteiras oriundas de criadores do chamado Gir "Padrão", bem como a possibilidade de importação de genética indiana - embriões e semen.
É importante que "novas famílias" leiteiras sejam consolidadas no Gir.
CLEBER MEDEIROS BARRETO

UMIRIM - CEARÁ

EM 03/03/2008

Prezado Prof. Madalena,

Venho manifestar a minha sincera admiração pela forma como o senhor conduz os seus trabalhos, que tanto discute sobra a complexa e mau estruturada cadeia produtiva do leite em nosso país.

Acho que finalmente (ao menos aqui nesse fórum), o senhor está se fazendo entender, trazendo para o debate assuntos importantes com a possibilidade de discussão entre as várias vertentes da produção de leite no Brasil.

Quando comecei a ler o exemplar de "Leite e Sociedade", apreciei bastante boa parte do seu conteúdo, entretanto, em alguns pontos encontramos algumas colocações que classificaria como intransigentes para uma publicação literária, comprometendo a obra, mas não tirando o brilho de seu todo.

Esse fato nos remeteu ao pseudoconflito entre ciência e religião forjado durante séculos por pessoas que não tinha muito conteúdo sobre o assunto. Temos vários problemas sim, e haveremos de contorná-los à medida que o tempo (conjuntura) e a ciência nos subsidiem com suas inferências sobre os mais diversos assuntos.

Sempre que o assunto abordado aqui nesse fórum é sobre genética na produção de leite, o que vemos é o "tudo ou nada", de ambas as partes (europeu x zebu). De um lado (europeu), em sua grande maioria as pobres vacas holandesas tidas como os super demônios, alimentadas por um sistema de produção aparentemente caro e não sei porque considerado inviável. Já do outro lado vemos as super vacas indianas e seus cruzamentos com toda sua rusticidade candidatas a redenção da pecuária leiteira nacional, através da produção a pasto.

Falando aqui do Nordeste, gostaria de deixar o nosso triste testemunho, desde a nossa graduação em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba, passando por um mestrado em Zootecnia na Universidade Federal de Fortaleza: Definitivamente, nos termos que são discutidos e expostos os temas relacionados à pecuária leiteira nacional pelas nossas academias seja para um lado ou para outro, tenho certeza que não andaremos muito, pois da mesma forma que existem os defensores e como se chamou anteriormente "grupos dominadores, que repassam seus prejuízos financeiros" das raças européias, vemos um campo fértil para os eloqüentes e apaixonados, não sei por que raios pelos zebuínos para produção de leite.

Foi nesse cenário que saí da academia... sem nada. Grandes confinamentos com gado europeu e seus colossais prejuízos, embora ocorressem, nunca vi. Nem tão pouco produção lucrativa a pasto com os seus zebuínos puros e seus mestiços.

Para finalizar, deixo como sugestão a teoria dos magistérios não interferentes criada pelo Jay Gould para psudoconflitos, onde cada apreciador ou pesquisador de determinado tronco genético ou de seus cruzamentos continue trabalhando com as suas convicções, nos legando informações sobre a condução dos sistemas de produção adotados, mas principalmente sem deixar de reconhecer a importância que ambos os campos tem a oferecer para o negócio leite.

Atenciosmente,
Cleber Medeiros Barreto
WILIAM TABCHOURY

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/02/2008

Prezado Prof. Madalena,

Nossos cumprimentos pelas oportunas colocações em relação à necessidade de uma seleção genética na raça halandesa buscando animais tecnicamente mais eficientes e economicamente mais rentáveis.
Esta linha vem sendo adotada, há mais de 30 anos, na Holanda pela Holland Genetics (empresa do Grupo CRV).

Os estudos científicos realizados pelo NRS (órgão responsável pelo controle dos rebanhos da Holanda e da Bélgica), provenientes da avaliação de 560 mil animais classificados para tipo, chegaram ao biotipo ideal de uma vaca leiteira holandesa funcional.

As conclusões deste trabalho sinalizaram para um animal de estatura mediana (1,42 cm na garupa), com ótima força leiteira, excelente conjunto de pernas e patas e com aparelhos mamários muito bem aderidos ao corpo.

No tocante à força leiteira, a Holanda também inovou em introduzir este conceito novo que visa selecionar animais de frame moderado, abertura de peito, capacidade corporal, largura de garupa e score corporal medianos.

Desta forma, chegou-se ao foco de seleção do biotipo animal ideal da vaca funcional, que visa a obtenção de uma vaca menos angulosa, mais harmônica no seu conjunto físico, dotada de muita capacidade de produção de leite e com estrutura física capaz de suportar esta produção por várias lactações. Tudo isso foi feito porque o sistema de seleção genética na Holanda priorizou, nestes últimos 60 anos, a durabilidade e a produção de sólidos.

Isto foi feito através de um equilíbrio perfeito entre produção, tipo e funcionalidade, destacando-se a sanidade e a fertilidade. Os resultados são impressionantes e conferem à Holanda o maior índice médio mundial da Raça Holandesa.

Estatísticas do NRS (https://www.nrs.nl) sinalizam um desempenho médio na Holanda para o ano de 2006 de durabilidade de 3,5 crias, produção de leite e de sólidos de 9.705 kg de Leite, com 4,34% de Gordura e 3,48% de Proteína (sem uso de BST, maioria em regime de 2 ordenha e baixo nível de concentrados na dieta), f395 dias de intervalo entre partos, sanidade de úbere com 238 mil de Contagem de células somáticas, entre outros.

Isto comprova que é possível melhorar significativamente o desempenho técnico e econômico das vacas holandesas, a partir de uma seleção que prioriza a obtenção de um biotipo funcional dos animais, das suas características de fertilidade e sanidade.

O resultado prático é a geração de animais com elevado potencial de produção de leite e de sólidos, mais eficientes do ponto de vista de eficiência alimentar e, o que melhor, mais fáceis de serem manejados no dia-a-dia.
Por fim, vale destacar que este tipo de seleção deve ser priorizada ainda mais em condições de clima tropical.

Grande abraço e parabéns!

Wiliam Tabchoury
Gerente Produto Leite da Lagoa da Serra Ltda.
ANTONIO NUNES FERREIRA

NOVA FRIBURGO - RIO DE JANEIRO

EM 21/02/2008

Professor Madalena,

Parabéns pelo excelente artigo, como de costume, tecnico, avançado e muito claro.

Nós da Svensk Avel que selecionamos e divulgamos a raça Sueca Vermelha, recomendando para que seja utilizada nos cruzamentos com outras raças leiteiras aguardamos ansiosos por novos estudos dos cruzamentos entre raças efetuados dentro do panorama nacional de maneira a corroborar aqui os êxitos obtidos nos estudos efetuados no exterior onde os produtores já colhem expressivos resultados economicos dos cruzados.

Que as vantagens dos cruzamentos entre raças e as melhoras advindas dele e do melhor aproveitamento da heterose sejam mais divulgadas por tecnicos como os que aqui se manifestam acima, de maneira a trazer mais conhecimento, aceitação e consequente benefícios aos produtores de leite.

Parabéns !
Abraço
Antonio Nunes
FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 19/02/2008

Prezado Cleber Medeiros Barreto,

Obrigado pelos comentários. Sua observação sobre a utilização de cruzamentos em sistemas de produção mais intensivos é interessante, mas, creio que não necessariamente haja uma relação. Alguns exemplos vêm à cabeça, como o da Nova Zelândia, onde o gado de leite era Jersey antigamente e hoje é majoritariamente cruzado, com Holandês e Ayrshire; o de Queensland, na Austrália tropical, onde o gado de corte era Hereford, Sorthorn, etc, e hoje é mestiço de raças européias com Brahman.

Nesses dois casos não houve uma grande intensificação, fora daquela decorrente do avanço normal dos tempos. Nos EUA, onde o gado até recentemente era Holstein ou de outras raças puras, já se estima que há 10 a 15% de vacas cruzadas, sem mudança no sistema de produção.

Também, no caso de antagonismo genético entre características, é mais eficiente se fazer linhagens especializadas e cruzá-las que selecionar em apenas uma única população. É o caso da avicultura de corte, onde linhagens paternas selecionadas para crescimento rápido são cruzadas com linhagens maternas selecionadas para postura, sendo ambas as características antagônicas.

O mesmo princípio poderia ser aplicado para contornar o antagonismo no melhoramento da produção e a fertilidade no gado de leite.

Atenciosamente,
Fernando e. Madalena
FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 18/02/2008

Prezado Helvecio,

É isso aí, foco no lucro e no retorno sobre o capital investido.
Abraço,

Fernando E. Madalena
CLEBER MEDEIROS BARRETO

UMIRIM - CEARÁ

EM 18/02/2008

Muito bom artigo, em que são abordados fatores reais sobre uma situação pontual e desafiadora que é a "carga" genética apropriada para produção de leite no nosso país.

Ponderações sérias e explícitas (cartas em destaque) que de fato nos obriga a uma reflexão sobre a realidade da produção de leite brasileira. Gostaria apenas de lembrar que quando se utilizou cruzamentos e hibridização em outras espécies vegetais e animais, a intensificação dos sitemas veio no pacote.

Parabéns ao professor Madalena pelo importante artigo.

Atenciosamente,
Cleber Medeiros Barreto
HELVECIO OLIVEIRA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 15/02/2008

Professor, bom dia!

Com grande satisfação vi em seu trabalho a constatação das supeitas, aliás evidências, que sempre defendíamos na escola. Prezo-me por há muito não ater-me a sistemas de produção de leite que não levem a conta a parte econômica.

Felizmente não estamos na contramão da história. Além de divulgar seu trabalho na mídia digital com os amigos, imprimirei várias cópias para deixar nos quadros das fazendas que tenho acesso, como uma oração ou um espanta mal olhado; para afastar de vez as assombrações que possam chegam nadando no nitrogênio líquido.

Parabéns!!

Forte abraço, Helvécio.
LUIZ F. A. MARQUES

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/02/2008

O artigo do Prof. Enrique Madalena é bem claro ao enfocar o balanço energético negativo (BEN = perda de condicao corporal) e doenças (mamite) como fatores de queda na eficiência geral da produçao de leite. ~

Muitos produtores em diversas regiões do Brasil vêm obtendo solução a estes problemas, introduzindo a raça Simental em seus rebanhos leiteiros. Os resultados imediatos já foram a baixa contagem de células somáticas (baixa CCS = ausência de mamite), insignificante BEN , (mais robusta) e manutenção de bom índice reprodutivo no intervalo entre partos com menor número de serviços por concepção.
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/02/2008

A forma veemente como os prof. Madalena e Leo defendem suas convicções são de causar inveja a qualquer criador apreciador da raça Holstein.

Agora que os preços mais altos de leite e necessidade de RSC sobre terras cada vez mais caras colocaram novamente a raça holandesa em evidência, realmente o alerta do artigo acima merece reflexões.

Com a comoditização da produção e algum senso matemático, sistemas intensivos produzindo 25 a 30 mil litros/ha/ano tornam-se cada vez mais imprescindíveis para a profissionalização do produtor de leite frente aos resultados econômicos de outras cadeias do agronegócio. Neste aspecto, a raça holandesa tem papel importante a cumprir e é verdade que os desafios da fertilidade e saúde, cada vez altos e mais caros, demandam estudos e medidas dos pesquisadores, produtores de génetica e centrais de inseminação.

Já disse a prof. Rosangela Zoccal que os 52 litros/dia/fazenda médios do último censo ainda deixam muito a desejar em termos de profissionalismo em nossa atividade. Mas os recordes na exportação e a inserção do Brasil como player mundial no comercio de lácteos nos dá muito ânimo para permanecer na atividade de forma profissional.

Como diz o artigo, é importante que a eficiência seja mais prioritária que o pedigree no desenvolvimento de touros e que nós produtores cada vez mais influenciemos essa demanda.
FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 12/02/2008

Prezado Edson Felix Costa,

Obrigado pelos comentários. Em teoria os cruzamentos com zebu deveriam amenizar os problemas, principalmente naqueles cruzamentos que apresentam maior heterose, mas, ao se formarem novas raças de Bos taurus/B. indicus, o antagonismo genético entre produção e fertilidade continúa, conforme referido no artigo.

O senhor me pergunta o que eu acho, porém, me desculpe, mas acredito que ninguém deve achar nada, senão que devem ser feitas as pesquisas correspondentes, para falarmos apenas do que sabemos e não do que achamos, e assim tomarmos decisões com bases sólidas. Para ser consistente, prefiro não fazer públicas as minhas hipóteses, espero que o senhor compreenda.

Atenciosamente,

Fernando Enrique Madalena
EDSON FELIX COSTA

ALTINHO - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/02/2008

Prezado Prof. Madalena,

Parabéns pela lucidez das suas colocações, que permite a nós produtores, em geral cientificamente leigos, compartilharmos do seu vasto conhecimento científico amelhado por tantos anos de estudo.

Trazendo o foco para a realidade da produção nacional, baseada em cruzamentos de raças tão distintas e seus mestiços, o professor acha que o nosso consumo de material genético, alternando taurinos e algum sangue zebuíno, pode nos encaminhar para uma realidade diferente da que se prenuncia para os nossos colegas dos países ditos desenvolvidos, ou a realidade que nos espera é a mesma daqueles?

Obrigado,

Edson Felix
FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 11/02/2008

Prezados Leovegildo Lopes de Matos, Roberto Carvalheiro, Nelson Pineda e Rui da Silva Verneque,

Agradeço, sensibilizado, os bondosos comentários, sempre estimulantes, e concordo inteiramente com as suas ponderações. Não é de hoje que compartilhamos com os amigos as suas visões de cadeias pecuárias verdadeiramente integradas, baseadas na valorização do trabalho do produtor.

Abraços,

Fernando Enrique Madalena
RUI DA SILVA VERNEQUE

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 09/02/2008

O Dr. Fernando Enrique Madalena é sempre claro nas suas exposições. Emite opiniões e faz recomendações baseadas em informações científicas. Jamais recomenda algo que ainda não esteja devidadamente respaldado pela pesquisa.

Parabéns, mais uma vez, pelo brilhante artigo.

Precisamos valorizar mais questões de fertilidade no rebanho nacional. Longos intervalos de parto e alta idade ao primeiro parto são comuns no país, o que reduz sobremaneira o lucro da atividade. E, infelizmente, boa parte dos produtores (muitos dos quais por não possuir uma escrituração zootécnica adequada) não sabem do prejuizo que têm, decorrência de problemas de fertilidade. Uma melhor organização dos sistemas de produção poderia identificar animais com problemas de reprodução, auxiliando no descarte dos mesmos e aumentando o lucro da atividade.
NELSON PINEDA

ORIENTE - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/02/2008

Caro Madalena,

Parabens, o teu artigo deveria se obrigatorio também para todo os juizes e técnicos de gado de corte do mundo tropical. Porque os paralelos com produção de leite são enormes.

Você lança de forma clara os antagonismos entre a seleção artificial e suas conseqüências sobre a adaptabilidade e capacidade reprodutivas dos bovinos em ambientes tropicais com restrições alimentares sazonais.

Alerta sobre a importância de preservar o valor adaptativo e a habilidade do animal sobreviver e reproduzir-se. Hoje as pistas de julgamento estão na contra mão deste principio. É freqüente hoje ouvir os criadores e midia exaltar os altos pesos de nascimento e pesos adultos descabidos que são a antítese da seleção dum zebu funcional.

Gressler, que seguramente foi teu aluno, coloca que a adaptação fisiológica refere-se à capacidade de um único individuo de realizar ajustes, durante o transcorrer de sua vida, às mudanças ambientes. Esta adaptação fisiológica é um processo complexo que envolve uma série de características que atuam em conjunto para regular e manter as funções fisiológicas em determinado ambiente e é sempre limitada pela adaptação genética.

Freqüentemente, a adaptação fisiológica está associada negativamente com o aumento da produção em animais bovinos e é afetada pela capacidade do animal de se manter sob stress alimentar, calórico, parasitário e enfermidades. O animal mais adaptado em uma população é aquele que exibe uma combinação harmoniosa de todas as características e maior adaptabilidade.

O antagonismo entre a procura incessante pelo ganho médio diário e adaptabilidade tem sustentação ampla na literatura com evidências de que a seleção artificial intensa e prolongada pode criar antagonismos e desequilíbrios biológicos. Após longos períodos de intensa seleção artificial, o desempenho de características reprodutivas e o valor adaptativo tendem a se reduzir.

O melhoramento genético da produtividade dos bovinos de corte nas regiões tropicais deve ser baseado no reconhecimento de que a produtividade observada é conseqüência de dois grupos de fatores genéticos, um relacionado com o potencial de produção e o outro à resistência do stress ambiente. A alta produtividade estar associada negativamente com a sobrevivência, tolerância ao calor e parasitas nos ambientes tropicais. Cabe nos criadores de ter o bom senso de encontrar e entender este equilíbrio, pois não sempre maiores performances representa maior lucro no empreendimento pecuário.

Um abrço amigo,
Nelson Pineda
ROBERTO CARVALHEIRO

JABOTICABAL - SÃO PAULO

EM 08/02/2008

Parabéns Madalena!

Importante não só para os da "turma do leite", mas também para os da turma da carne que só usam a balança...

Abraço,

Roberto

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