Que a nutrição de vacas leiteiras é uma ciência complexa, isto é um fato. Muita desta complexidade é derivada de uma cascata de fatores que impactam a nutrição e são particulares de cada propriedade leiteira, ou seja, cada propriedade é entendida como um “universo a parte” e deve ser tratada como tal pelo técnico nutricionista. A partir deste primeiro princípio, entendemos que não existem receitas de bolo, ou soluções milagrosas. Cada caso é um caso.
No entanto, quando começamos a entender os fatores que realmente impactam na nutrição, didaticamente classifico em três grandes pilares para facilitar o entendimento: Animais e alimentação; manejo alimentar e pessoas e formulação.
Cada pilar possui suas subdivisões e suas particularidades e iremos falar sobre cada um destes nos próximos textos aqui no Milkpoint. Todavia, inicialmente iremos abordar um assunto central dentro do primeiro pilar (Animais e Alimentação). Trataremos de um ponto bastante importante, especificamente ligado a fisiologia dos animais: a curva de lactação.
A curva de lactação é uma ferramenta consagrada, que gera informações bastante pertinentes ao manejo. No entanto, que informações são estas? Como elas vão refletir no manejo a ser adotado pela fazenda?
O que é a curva de lactação?
Curvas de lactação são, por definição, representações da variação da produção de leite diária do animal, em função da duração da lactação, gerando uma divisão da lactação em estágios. O formato desta curva depende de três fatores principais: pico, persistência e o momento da secagem, que define a duração da lactação (Figura 1).
O pico de lactação (Ponto 1) é entendido como a maior produção de leite registrada pelo animal. Fisiologicamente, ocorre entre 45 a 60 dias após o parto. Sabidamente, é o período que os animais têm grande resposta a questão nutricional e estratégias para se maximizar o pico de produção são importantes, pois isto irá gerar um efeito residual durante toda a lactação. Em outras palavras, se investirmos para aumentar um litro no pico poderemos colher entre 200 a 250 litros durante a lactação.
A persistência de lactação (Ponto 2) seria o quanto a vaca “consegue manter” a produção máxima atingida durante toda a lactação. Para ilustrar tal fato, se gerarmos um comparativo entre vacas multíparas (mais de um parto) e primíparas (vacas de primeiro parto), pode-se inferir que as multíparas apresentam maior pico e são menos persistentes que primíparas.
As primíparas têm menor pico de produção e sua curva de lactação acaba sendo mais plana, ou seja, a produção possui menores variações, sendo mais persistente. Isto pode ser explicado, fisiologicamente, pelo fato deste animal ainda estar em crescimento e a demanda nutricional ainda ser diferente daquela de uma vaca adulta. Vacas que não são especializadas, ou seja, não possuem melhoramento genético para produção de leite, o pico, a persistência e também a duração da lactação são menores.
Importante sempre destacar que temos uma curva diferente para o consumo dos animais. O consumo de matéria seca (CMS) tem uma característica de ter o seu pico posterior ao pico de produção de leite, o que no início de lactação acaba por impactar em um balanço energético negativo, ou seja, o animal tem uma demanda alta de nutrientes e o suprimento através do CMS é limitado. Com isso, a demanda é superior ao que podemos suprir para o animal e como consequência, o animal perde condição corporal.
Temos que traçar estratégias nutricionais para que os animais realmente percam menos condição corporal, pois isso irá impactar positivamente tanto em produção, mas também em saúde e reprodução.
A secagem (Ponto 3) seria, em média, aos 305 dias (10 meses), seguida de um período seco, normalmente de 60 dias antes do parto previsto. Em alguns casos, dependendo da categoria, da produção e do manejo da fazenda, podemos reduzir o período seco, mas isto é prosa para outro texto.
Se tivermos problemas reprodutivos (de qualquer etiologia, inclusive por falha nutricional) no rebanho, a duração da curva de lactação se alonga e temos que secar vacas que estão com dias em leite (DEL) com valores muito superiores aos 305 dias. Com isto, importante destacar, que a produção de leite e a resposta à nutrição diminuem a cada dia e não adianta querer puxar média de leite em vaca velha de DEL.
Sendo assim, temos que traçar estratégias nutricionais que sejam focadas em otimizar custo nestas dietas.
Percebam que a cada ponto da curva podemos realizar estratégias nutricionais específicas para se utilizar a fisiologia da vaca da melhor forma. Estratégias que visem otimizar o pico de lactação, melhorando a qualidade e o balanceamento da dieta ofertada, além de buscar a escolha de animais que geneticamente tenham maior persistência ou a adoção de tecnologias que aumentem a persistência, como é o caso do BST, são estratégias interessantes que podem ser usadas quando se pensa em explorar a produção de leite.
No próximo texto iremos abordar as principais estratégias nutricionais focando nesta curva de lactação. Não percam.
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