O mercado doméstico da carne ovina tem evoluído bastante nos últimos anos e, embora, a ovinocultura de corte ainda seja uma atividade de pouca expressão econômica dentro do agronegócio pecuário brasileiro, a mesma vem apresentando incrementos ano após ano com relação à produção, formalização da produção e consumo, com tendências positivas e expectativas animadoras para todos os entusiastas do segmento.
2. Produção
Com um efetivo ovino representado por cerca de 13,85 milhões de cabeças, o Brasil tem aumentado gradativamente a sua produção de carne ovina ao longo da presente década, apresentando uma projeção para 2008 da ordem de 123 mil toneladas, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Por outro lado, analisando os dados disponibilizados pelo Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SIF/MAPA) e presentes no Gráfico 1, é possível observar que o volume de abates mais que duplicou desde 2002, perfazendo neste primeiro semestre de 2008 aproximadamente 124,5 mil cabeças que, por sua vez, representam algo em torno de 2 mil toneladas de carne ovina, considerando carcaças de 16 kg.
Gráfico 1. Volume de abates inspecionados Jan-Jun, em mil unidades.
Em relação ao mesmo período de 2007, o volume de abates no primeiro semestre de 2008 sofreu uma pequena retração de 3,3%, paralisando a tendência crescente e firme existente até então, que estava relacionada a um aumento da produção, da formalização e do consumo de carne ovina no mercado doméstico. No entanto, os números atuais indicam uma deficiência no fornecimento de animais para abate em alguns Estados, segundo as variações percentuais apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Taxa de crescimento do abate inspecionado.
Como é possível observar na Tabela 1, a quantidade de animais abatidos sofreu variações substanciais em alguns Estados, o que impactou fortemente nos resultados deste primeiro semestre de 2008. Enquanto que em Estados como Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins, o volume de abates se elevou de forma bastante significante, estando fiel à tendência geral estabelecida em anos anteriores, alguns outros Estados como Ceará, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul tiveram uma retração considerável na quantidade de ovinos abatidos durante os seis primeiros meses do ano, que impactaram negativamente no volume total, especialmente no caso do Rio Grande do Sul que fechou o semestre com um déficit de quase 17 mil cabeças em relação ao mesmo período do ano passado, considerando que os gaúchos são os maiores produtores, como mostrado no Gráfico abaixo.
Gráfico 2. Participação na produção doméstica de carne ovina, Jan-Jun.
O Gráfico 2 deixa claro que o Rio Grande do Sul é o mais importante produtor, sendo responsável por quase 68% da produção e o principal fornecedor de carne ovina para o mercado da região Centro-Sul. Em seguida, se encontram o Mato Grosso do Sul que ocupou a colocação da Bahia, seguida por Minas Gerais que abateu quase 7 mil cabeças e surge como um forte player no mercado doméstico, superando Goiás e São Paulo.
3. Importações
O Uruguai é a origem de no mínimo 98% de toda a carne ovina importada pelo Brasil, sendo essencial para o atendimento da demanda do mercado doméstico e correspondendo a cerca de 60% do total de carne ovina formal consumida no país.
Gráfico 3. Volume importado e valor de produtos cárneos ovinos em mil toneladas e em milhões de dólares, Jan-Jun.
De acordo com o Gráfico 3, o volume importado de produtos cárneos ovinos tem mantido um crescimento regular e firme desde 2004, atingindo 3,71 mil toneladas neste primeiro semestre de 2008, superando em 26,1% o mesmo período de 2007, sendo estimulado também pelo déficit na oferta interna. Também é possível observar que a tendência de valorização da carne ovina importada permanece, havendo um descolamento do valor em relação ao volume a partir de 2004, o que resultou em um valor de aproximadamente 10,1 milhões de dólares em 2008, 64% superior ao mesmo período de 2007.
No entanto, esse fenômeno não é apenas um reflexo da valorização da carne ovina no mercado internacional em conseqüência da oferta limitada por parte dos principais exportadores, mas também resultado da mudança da demanda brasileira em relação aos produtos cárneos ovinos importados, como fica evidenciado nos Gráficos 4 e 5.
Gráfico 4. Participação percentual nas importações, Jan-Jun 1998.
Gráfico 5. Participação percentual nas importações, Jan-Jun 2008.
Enquanto que no final da década de 1990 a demanda brasileira estava concentrada em ovinos em pé e em cortes e carcaças de animais adultos de menor valor, tendo como principal destino a população rural da região Sul do país, atualmente, há uma maior demanda por produtos de melhor qualidade direcionados para o mercado consumidor existente nos grandes centros, com maior poder aquisitivo e mais exigente.
Essa mudança no perfil da demanda tem ocasionado na importação de uma quantidade de produtos ovinos de maior valor agregado, como cortes com e sem osso, e em uma redução acentuada nos embarques de ovinos em pé e de carcaças, principalmente de animais adultos ou mutton.
4. Perspectivas e considerações finais
Embora crescente em alguns Estados do país, a produção doméstica formalizada no primeiro semestre de 2008 sofreu uma leve retração em relação ao mesmo período do ano passado, como conseqüência de um menor fornecimento de animais para abate, principalmente no Rio Grande do Sul, que acabou tamponando o aumento da produção existente em algumas outras regiões do país.
Os produtos cárneos ovinos oriundos do Uruguai continuam a predominar no mercado formal, no entanto, cada vez mais o valor das importações têm se elevado, o que a curto e médio prazo pode desestimular os embarques e favorecer a pecuária ovina nacional, incentivando a indústria nacional e o setor produtivo a realizar maiores investimentos em novas plantas frigoríficas e unidades de produção, assim como, estimular políticas públicas que ajudem a incrementar a produção doméstica em quantidade e qualidade, dando maior dinamismo e fluidez à cadeia produtiva da carne ovina no país.
Sigamos em frente!!
Bibliografia consultada
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Food Outlook, n.1, Rome: GIEWS-FAO, 2008. 95p.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária de Defesa Agropecuária . Serviço de Inspeção Federal. Disponível em:
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior . ALICE Web. Disponível em:
SOUZA, D.A. Mercado interno e perspectivas para a carne ovina. 2006. Disponível em: www.farmpoint.com.br - Seção Espaço Aberto.
SOUZA, D.A. Mercado doméstico da carne ovina: qual a situação e para onde estamos indo?. 2008. Disponível em: www.farmpoint.com.br - Seção Conjuntura de Mercado.