Você já pensou em usar um medidor de temperatura vaginal automatizado para gerenciar o estresse térmico em ovelhas?
Atualmente as mudanças climáticas tem sido um desafio para os produtores quando falamos em temperatura, e quando essa não está dentro da faixa de conforto térmico para as ovelhas podemos observar alterações fisiológicas, reprodutivas e produtivas. Por isso é importante monitorar os animais com o objetivo de reduzir os efeitos do estresse térmico e garantir o melhor desempenho.
As ovelhas são capazes de regular a sua temperatura corporal num determinado intervalo de temperatura ambiente. Você sabia que as alterações ambientais podem influenciar na sua produtividade? É isso mesmo, esses animais conseguem regular a temperatura interna por mudanças respiratórias, diminuição da frequência alimentar e procura sombra com mais frequência.
Quando medimos a temperatura retal é comum observar um aumento na resposta de defesa, o que pode levar a dados imprecisos. Além disso, o uso inadequado de termômetros também pode resultar em leituras incorretas.
Na Austrália, Lewis Baida et al. (2022) validaram um dispositivo que possibilita melhor mensuração de temperatura em ovelhas Merino (não prenhes e não lactantes) com menor frequência da intervenção humana. E assim, medir a temperatura vaginal dos animais pode ficar mais prática e fidedigna. Essa informação é de suma importância na criação de ovelhas, uma vez que a temperatura corporal desempenha um papel crucial na saúde e no bem-estar desses animais, afetando diretamente sua performance.
Qual dispositivo desenvolvido?
O dispositivo utilizado (Figura 01) é uma adaptação de um molde de silicone originalmente destinado a implante de progesterona (CIDR) para acomodar um registrador de temperatura e requer um investimento financeiro que justifica alta precisão das informações fornecidas. Ele realiza a medição da temperatura vaginal das ovelhas e armazena os dados em uma caixa de comunicação para posterior extração dos números obtidos.
Figura 01. Dispositivo desenvolvido para medição da temperatura vaginal em ovelhas.
Fonte: Lewis Baida et al. (2022).
Nesta pesquisa os animais foram manejados no curral e a implantação do dispositivo foi feito por profissionais treinados, usando um aplicador próprio. O dispositivo desenvolvido foi inserido na vagina numa profundidade de 10 cm e o tempo desse manejo durou menos de 1 minuto. Neste passo você precisará do auxílio de um profissional para orientação e realização da implantação segura para o animal, garantindo que os dados sejam coletados de forma correta.
Quais foram os resultados encontrados?
Valores de temperatura retal comparados com os valores de temperatura vaginal variaram pouco. No entanto, a temperatura retal foi relativamente superior aos valores de temperatura vaginal o que pode ter ocorrido por causa intervenção humana durante a medição, demonstrando que o manejo menos estressante melhora a estabilidade da temperatura corporal.
A temperatura vaginal aumentou em alguns períodos do dia e esse comportamento ocorreu no mesmo momento da presença dos tratadores quando foram medir manualmente a temperatura retal. Possivelmente a alteração da temperatura corporal está relacionada à resposta da ovelha em relação ao manejo com os tratadores.
A comparação entre as duas metodologias de medição da temperatura corporal demonstra a possibilidade do uso do dispositivo intravaginal. Este método tem a vantagem de não necessitar de manipular os animais com muita frequência, possui alta precisão (± 0,06 °C), alta sensibilidade e o tempo de resposta rápido. Assim, este dispositivo possibilita menor necessidade da frequência de manejo para medir a temperatura corporal e menos estresse para o animal.
A pesquisa também demonstrou que quando em ambiente controlado os implantes vaginais adaptados podem contribuir para a melhor definição dos estágios reprodutivos e alterações hormonais no período do estro que influenciam na temperatura vaginal. E assim, existe um potencial desse dispositivo ser capaz de determinar estágios do ciclo reprodutivo das ovelhas uma vez que possuem uma mudança fisiológica no fluxo sanguíneo vaginal e do útero nos diferentes momentos reprodutivos.
O estresse térmico prejudica a produtividade dos ovinos?
A resposta é “sim”, a equipe de Wanjala em 2022 realizou uma revisão de estudos com este tema e concluíram que o estresse térmico pode causar diversas alterações em ovelhas gerando possíveis impactos econômicos e prejuízos na produção. Estes pesquisadores também comentaram sobre o impacto do clima durante escolha genética da raça e que isso influencia diretamente em como os animais irão responder aos desafios térmicos.
Veja o esquema a seguir (Figura 02).
Figura 02. Resposta ao estresse térmico em ovelhas.
Fonte: Adaptado de Wanjala et al. (2022).
Portanto, conclui-se que é fundamental mensurar a temperatura corporal dos ovinos para gerenciamento do estresse térmico e consequentemente melhora na produção e qualidade do produto, e a medição da temperatura vaginal é um método válido e interessante, uma vez que possui alta precisão (± 0,06 ° C), sensibilidade e tempo de resposta rápido para quantificar o impacto das condições do ambiente térmico.
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Autores
Ana Carolina Guimarães Fenelon, Médica Veterinária (FAMEV - UFU), Mestranda em Ciências Veterinárias, Universidade Federal de Uberlândia.
Lucas Eduardo Gonçalves Vilaça, Médico Veterinário (FAMEV - UFU, Mestrando em Ciências Veterinárias, Universidade Federal de Uberlândia.
Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento - Médica Veterinária (FAMEV - UFU), Mestra e Doutora em Zootecnia, área de concentração: Produção Animal (UNESP- Jaboticabal), Professora Titular da FAMEV- UFU
Referências
Lewis Baida, B. E., Baumert, M., Kushwaha, A., Swinbourne, A. M., Leu, S. T., & van Wettere, W. H. (2022). Validation of indwelling vaginal sensor to monitor body temperature in ewes. Animal Biotelemetry, 10(1), 1-11.
Wanjala, G., Astuti, P. K., Bagi, Z., Kichamu, N., Strausz, P., & Kusza, S. (2022). A review on the potential effects of environmental and economic factors on sheep genetic diversity: Consequences of climate change. Saudi Journal of Biological Sciences, 103505.