Este assunto merece grande atenção dos clínicos e nutricionistas, pois envolve fatores sanitários, fatores de manejo e características da dieta. Em linhas gerais a resposta à questão acima é a veia umbilical, a artéria hepática, a veia porta e o ducto biliar. Um dos caminhos mais comuns é via veia umbilical em bezerros acometidos de onfalopatias infecciosas - Figura 1 - (assunto dos últimos artigos); a via pela veia porta é também muito comum, uma vez que este vaso drena o trato gastrointestinal; a via artéria hepática ocorre em casos de septicemia; via ducto biliar ocorre em casos de obstrução e nos casos de ascensão de problemas infecciosos no duodeno. O abscesso hepático também pode ocorrer em decorrência de infecções em órgãos adjacentes ao fígado, ou ainda em decorrência de traumatismos, como por exemplo, ocasionados por um corpo estranho alojado no retículo.
A maioria dos estudos bacteriológicos aponta o Fusobacterium necrophorum como o principal agente causador dos abscessos hepáticos, sendo esta bactéria gram-negativa isolada em 90% das culturas. O Fusobacterium necrophorum é classificado em quatro biotipos: A, B, AB e C. Os tipos A e B são os mais encontrados no abscesso hepático e o tipo AB é o mais isolado nas afecções podais. O F. necrophorum é também um habitante normal da flora gastrointestinal de animais e humanos, sendo freqüentemente isolado nas lesões da parede do rúmen (rumenites, paraqueratose). Como a veia porta drena o sistema gastrointestinal e leva para o fígado as bactérias ali coletadas, é possível que muitos abscessos hepáticos sejam causados por este complexo chamado: rumenite-abscesso hepático (Tabela 1). Outras bactérias também presentes no abscesso hepático são Actinomyces pyogenes, Bacteróides sp., Clostridium sp., Pasteurella sp., etc.
Os abscessos hepáticos possuem um impacto significativo sobre a produtividade do rebanho, uma vez que causam a redução da ingestão de matéria seca e a redução do desempenho produtivo dos animais acometidos.
Dados de pesquisa indicam que a incidência do abscesso hepático varia de 12 a 32%, e que a incidência e a severidade dos abscessos aumentam à medida que é reduzida a quantidade de volumoso da dieta. O gráfico 1 apresenta os resultados de um levantamento que ocorreu durante 4 anos e que reuniu dados de 4,6 milhões de animais, dentre eles novilhos e novilhas de corte e vacas holandesas. Observe a alta incidência do abscesso hepático nos dados obtidos.
É muito difícil diagnosticar um abscesso hepático. Na maioria das vezes, as suspeitas são baseadas no histórico do animal. Exames de sangue e provas da função hepática são pobres indicadores da lesão. As suspeitas de abscesso hepático são realmente confirmadas somente na necropsia do animal.
O controle do abscesso hepático envolve inicialmente um cauteloso manejo do neonato, uma correta desinfecção do umbigo (prevenção de onfalopatias) e ainda a manutenção de um ambiente rumenal saudável e com a menor ocorrência possível de acidose no rebanho.
Por fim, vale a pena ainda ressaltar o fato de que todos os estudos realizados até o presente momento no sentido de encontrar uma vacina contra o F. necrophorum, que controle a ocorrência do abscesso hepático, não apresentaram resultados concretos que confirmem a viabilidade econômica em se introduzir uma nova vacina no rebanho.
Figura 1 - Ilustração da veia umbilical acometida, observe que a veia umbilical dirige-se em direção ao fígado.
Gráfico 1- Incidência de abscesso hepático em novilhas e novilhos de corte e em vacas holandesas
Tabela 1- Associação entre lesões ruminais e abscesso hepático
Fonte:
NAGARAJA, G.T. et al. Liver abscesses in Feedlot cattle. Part 1. Causes,
pathogenesis, pathology and diagnosis. Medicine e Management - Food animal, v.18, n.9, p.230-241, sep.,1996.
NAGARAJA, G.T. et al. Liver abscesses in Feedlot cattle. Part 2. Incidence,
Economic importance and prevention. . Medicine e Management - Food animal, v.18, n.10, p.264-273, oct.,1996.