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Agregando Valor Nutricional ao Leite - A genética dos Ácidos Graxos

POR GERSON BARRETO MOURÃO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/10/2010

9 MIN DE LEITURA

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Introdução

A combinação de lipídios no leite mais favorável à saúde humana corresponde a 30% de ácidos graxos saturados, 60% de monoinsaturados e 10% de poliinsaturados (Hayes & Khosla, 1992). Distante destas proporções, o leite se caracteriza pela predominância de ácidos graxos saturados (70%), associados a altos níveis de colesterol de baixa densidade e consequentemente, ao aumento do risco de doenças cardiovasculares; estando relacionado negativamente à saúde humana (Parodi, 1999). No entanto, a fração de ácidos graxos do leite também pode possuir vários componentes benéficos, como os ácidos graxos insaturados, principalmente o ácido oléico (C18:1) e o ácido linoléico conjugado (CLA).

A partir de modelos experimentais existem indicativos de que o CLA pode estar associado à inibição do crescimento de tumores, a um efeito anti-aterogênico, à redução na deposição/secreção de gordura, à restauração da sensibilidade à insulina e à modulação da resposta imunológica (Pariza et al., 2001).

Estes resultados remetem à necessidade da manipulação da composição da gordura do leite, tornando este produto mais saudável e atraente ao consumidor, sendo a genética uma importante ferramenta para tal fim.

Conhecimento Atual

Em estudo envolvendo as raças Holandesa e Pardo Suíço, Kelsey et al. (2003) determinaram o efeito da raça sobre o perfil de ácidos graxos do leite, sendo ainda identificada uma maior concentração de ácido linoléico conjugado (CLA) na gordura do leite da raça Holandesa comparada à raça Pardo Suíço. Diferenças no perfil de ácidos graxos dentro e entre raças bovinas leiteiras também foram encontrada (Famula et al.,1995) e Soyeurt et al., 2006), indicando ser possível alterar a composição dos ácidos graxos do leite através da seleção genética e do uso de cruzamentos, explorando-se assim os efeitos de heterose e complementaridade entre raças.

Recentemente, foram determinadas as primeiras estimativas de parâmetros genéticos (Arnould & Soyeurt, 2009) associadas a esta característica. Valores de coeficiente de herdabilidade variáveis foram obtidos nos diferentes trabalhos, com estimativas de herdabilidade baixas (Bobe et al., 2008; Mele et al., 2009, Garnosworthy et al., 2010) a medianas e altas (Soyeurt et al., 2007; Stoop et al., 2008) para os mesmos ácidos graxos (Tabela 1); possivelmente devido a variações na metodologia e nos dados empregados. Há, contudo, concordância entre os estudos de que existe variabilidade genética para as concentrações de ácidos graxos na gordura do leite, o que sugere a possibilidade de inclusão desta característica como critério de escolha de reprodutores.

Tabela 1. Coeficientes de herdabilidade para proporção dos ácidos graxos saturados butírico (C4:0), láurico (C12:0), mirístico (C14:0), palmítico (C16:0), esteárico (C18:0) e os ácidos graxos insaturados oléico (C18:1) e linoléico conjugado (CLA) na gordura do leite.



O padrão de correlações genéticas encontrado por Stoop et al. (2008) é sugestivo de que a seleção para aumento de produção de leite favorece o aumento da proporção dos ácidos graxos palmítico (C16:0) e oléico (C18:1), com os quais esta característica está correlacionada positivamente, em detrimento dos ácidos graxos láurico (C12:0), mirístico (C14:0), esteárico (C18:1) e linoléico conjugado (CLA), com os quais possui correlação genética negativa. Já foi demonstrado que em vacas selecionadas para alta produção de leite também há um aumento da proporção de C16:0 e diminuição de ácidos graxos monoinsaturados (Kay et al., 2005). Observa-se ainda que um aumento na proporção de gordura e proteína no leite ocasiona um aumento de C16:0 e uma redução de C18:1 e CLA (Tabela 2) (Stoop et al., 2008).

Tabela 2. Correlações genéticas entre os ácidos graxos individuais, grupos de ácidos graxos e características de produção de leiteª.



Entre os ácidos graxos individuais, têm-se estimativas de correlações genéticas moderadas e negativas entre o ácido butírico (C4:0) e a maioria dos demais ácidos graxos. As correlações genéticas entre os ácidos graxos de cadeia curta e média (C6:0 a C14:0) são negativas, enquanto C16:0 apresenta correlações negativas com todos os ácidos graxos à exceção dos ácidos butírico (C4:0), capróico (C6:0) e esteárico (C18:0). O ácido esteárico (C18:0) também apresenta correlações negativas com os demais ácidos graxos, no entanto estas são baixas. As correlações entre os ácidos graxos insaturados de cadeia longa, ou seja, de 18 carbonos, são positivas (Stoop et al., 2008) (Tabela 3).

Estas correlações genéticas refletem os processos fisiológicos envolvidos na produção dos ácidos graxos do leite. Consequentemente, seus valores podem ser interpretados biologicamente. O ácido butírico (C4:0), correlacionado negativamente com a maioria dos demais ácidos graxos, é formado parcialmente no rúmen através de processos microbiológicos, juntamente ao acetato e proprionato, e é precursor da maioria dos ácidos graxos de cadeia curta e média. Aumentando a síntese lipídica na glândula mamária é possível converter mais C4:0 nestes ácidos graxos e portanto, menos ácido butírico estará presente no leite, ocasionando a correlação negativa.

O grupo correspondente aos ácidos graxos de cadeia curta e média (C6:0 a C16:0) é sintetizado na glândula mamária em um ciclo a partir do acetato e butirato (Bobe et al., 1999). O C16:0, entretanto, é parte sintetizado na glândula mamária e parte excretado do sangue, podendo apresentar um padrão de correlações distinto dos demais ácidos graxos saturados. Enquanto isso, os ácidos graxos insaturados de cadeia longa (C18) e o ácido linoléico conjugado (CLA) são originados principalmente da dieta, e suas proporções são altamente dependentes da biohidrogenação no rúmen e da atividade da enzima Δ9-dessaturase na glândula mamária (Macgibbon & Taylor, 2006).

Devido a essas rotas metabólicas, é esperado que os ácidos graxos de cadeia curta e média estejam sob maior controle genético que os ácidos graxos de cadeia longa. De fato, a herdabilidade estimada para o grupo de ácidos graxos saturados é maior (0,60) do que a estimada para os ácidos graxos insaturados (0,25), enquanto que a proporção da variância atribuída a efeito de ambiente é menor para o grupo composto pelos ácidos graxos saturados (0,25) quando comparada a proporção obtida para os ácidos graxos insaturados (0,50) (valores aproximados, estimados por Stoop et al., 2008).

Porém, há a perspectiva de que uso de técnicas moleculares ajude na compreensão do controle genético desta característica, com o conseqüente uso de marcadores moleculares. Vários polimorfismos relacionados ao perfil de ácidos graxos do leite tem sido identificados (Khatkar et al., 2004), dentre os quais destacam-se os polimorfismos nos genes DGAT1 (Grisart et al., 2002) e SCD1 (Taniguchi et al., 2004).

Tabela 3. Correlações genéticas entre as proporções dos ácidos graxos butírico (C4:0), capróico (C6:0), láurico (C12:0), mirístico (C14:0), palmítico (C16:0), esteárico (C18:0), oléico (C18:1) e linoléico conjugado (CLA) na gordura do leite. b



Baseado nestes resultados é possível inferir que existe potencial para se incluir o perfil de ácidos graxos do leite nas avaliações genéticas em programas de melhoramento animal. Contudo, algumas considerações devem ser feitas.

Primeiramente, ressalta-se que as informações acerca deste assunto são recentes e necessitam ser confirmadas para então incluir tais características como critérios de seleção. Tais pesquisas são a base para o desenvolvimento de estudos mais abrangentes, que avaliem as diferenças entre as estimativas dos parâmetros genéticos ao longo da lactação, a interação genótipo-ambiente, a influência dos efeitos de raça e de heterose sobre a composição da gordura do leite bem como metodologias e modelos matemáticos mais adequados a estas avaliações.

Além disso, ainda não foram estimados os parâmetros genéticos ou validados os marcadores moleculares referentes à composição da gordura nos rebanhos brasileiros, sendo precoce a definição da estratégia de melhoramento genético adequada às condições nacionais de produção leiteira.

A implantação de um programa de melhoramento genético depende primeiramente da informação sobre a estrutura genética da população. Assim, é necessário obter dados genealógicos e fenotípicos dos animais e sua progênie para o subseqüente cálculo dos parâmetros genéticos, os quais serão utilizados na predição dos valores genéticos e do ganho genético. Para uma característica específica estes parâmetros são indicadores da eficiência do processo de seleção genética como ferramenta para se alcançar o progresso genético do rebanho e para avaliar o impacto do processo de seleção para uma característica sobre as demais. É, portanto, um processo que requer planejamento em longo prazo.

Considerações Finais

Dessa forma, anteriormente à inclusão do perfil de ácidos graxos em avaliações genéticas, é fundamental o desenvolvimento de trabalhos que envolvam essa temática e o recolhimento de informações que suportem esses estudos, os quais irão prover uma melhor compreensão do controle genético desta característica e permitir a melhoria da qualidade do leite através da seleção de animais superiores para a reprodução.

Referências bibliográficas

ARNOULD, V.M.R.; SOYEURT, H. Genetic variability of milk fatty acids. Journal of Applied Genetics, v. 50, p. 29-39, 2009.
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GERSON BARRETO MOURÃO

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

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