As infecções umbilicais estão entre as quatro mais importantes doenças dos bezerros. Em Hannover, na Alemanha, 611 bezerros foram avaliados, sendo que 434 (71%) apresentavam problemas umbilicais e, destes, 402 tinham até 7 dias de vida. No Brasil, os relatos de pesquisa apontam uma ocorrência de 8% e 7%, em trabalhos conduzidos nos anos de 1987 e 1997, respectivamente.
Assim sendo, em continuidade ao tema sobre as onfalopatias, neste artigo serão abordadas as principais enfermidades infecciosas, os métodos de controle e prevenção das onfalopatias (doenças do umbigo).
As onfalopatias infecciosas comprometem um ou vários vasos e segmentos umbilicais da região extra e intra-abdominal. A infecção do umbigo está diretamente associada com o nível de contaminação do ambiente em que o bezerro nasce e vive durante os primeiros dias. É importante destacar o conceito que existe uma relação inversamente proporcional entre o aparecimento de onfalopatias infecciosas e o bom manejo do neonato.
Quando um rebanho enfrenta problemas com infecções umbilicais, deve-se ter em mente que, fora a morte do animal, as piores conseqüências desta enfermidade são as possíveis seqüelas deixadas pela doença. A ocorrência destas onfalopatias nos primeiros meses de vida pode comprometer outros órgãos e prejudicar a vida produtiva do animal. Os principais problemas associados às infecções umbilicais são o abscesso hepático, a artrite infecciosa, a pneumonia e as enterites. Em um dos trabalhos realizados no Brasil, conduzido pelo Prof. Luciano, 33,5% dos animais acometidos com infecção umbilical apresentaram artrite infecciosa, 28,5% apresentaram broncopneumonia e 5% apresentaram enterite. Outros pesquisadores relatam a associação das onfalopatias infecciosas com a dificuldade de recria dos animais. Se a ficha cadastral de cada animal que sofreu de onfalopatia nos primeiros meses de vida fosse marcada e cada produtor e técnico começasse a acompanhar com atenção a vida produtiva destes animais, poderiam constatar, num levantamento particular, o quanto estes animais estão mais predispostos a problemas clínicos durante sua vida produtiva.
Para realizar o diagnóstico da onfalopatia infecciosa é necessário o exame local, onde se pode encontrar aumento de volume, calor, corrimento purulento e sensibilidade. Entretanto, é possível que um umbigo com aspecto seco e normal possa estar com infecção no úraco, veia ou nas artérias umbilicais. Nestes casos, suspeite de animais com dores à palpação do umbigo e animais com febre de origem desconhecida. Uma boa anamnese e um exame clínico completo do animal auxiliam o esclarecimento do diagnóstico.
Os principais patôgenos que acometem o umbigo são Corynebacterium piogenes (principalmente), e bactérias dos gêneros Streptococcus e Staphylococcus.
Via de regra, a denominação mais utilizada para os problemas infecciosos no umbigo é Onfaloflebite. Entretanto, apesar de serem sempre responsabilizadas pela enfermidade as Onfaloflebites ocorrem em apenas cerca de 30% dos casos. Veja na tabela 1 a distribuição das onfalopatias infecciosas.
Tabela 1 - Patologias Infecciosas do umbigo
Nos casos mais simples de patologias infecciosas do umbigo o tratamento envolve limpeza do local com solução anti-séptica, aplicação freqüente de iodo 5 a 10 % e a antibióticoterapia. É importante lembrar que a utilização de pomadas repelentes previne a ocorrência de miíases, fato muito comum, que agrava o processo, comprometendo o prognóstico do quadro. Nos casos mais complexos, a melhor opção é a correção cirúrgica.
O controle dos problemas umbilicais envolve as seguintes práticas após o nascimento do bezerro:
- mergulhar o umbigo em solução de álcool iodado 10%
- cortar o umbigo com tesoura limpa e flambada a aproximadamente 2 cm da pele
- mergulhar novamente na solução de álcool iodado 10%
- mergulhar diariamente em solução de álcool iodado 10% durante a primeira semana de vida.
OBS: nos casos em que a prática de mergulhar o umbigo na solução não for possível no manejo da fazenda, utilizar sprays com a solução de álcool iodado 10%.
É essencial associar à rotina mencionada acima um bom manejo do neonato. Entende-se por um bom manejo: manutenção de um ambiente limpo e arejado, contato com a mãe logo após o nascimento para limpeza lingual do feto, acesso ao colostro nas primeiras horas de vida, adequado tratamento do umbigo (produto e forma de aplicação), evitar movimentos bruscos durante a enfermagem do umbigo e evitar traumas na região umbilical.
Estas medidas, se realizadas periodicamente na propriedade, com certeza reduzirão a probabilidade da ocorrência das onfalopatias e, consequentemente, o risco da existência de animais que apresentem seqüelas desta enfermidade em sua vida produtiva.
Figura 1- Aspecto do umbigo após o procedimento curativo/preventivo descrito acima
Fonte:
FIGUEIREDO, L.J.C., Onfalopatias de Bezerros, Salvador: EDUFBA, 1999. 94p.
Dairy Herd Mangement / agosto de 1999.
SMITH, B.P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais. São Paulo:
Manole, 1993. p.204, 377, 378.