A Nova Zelândia é a maior exportadora de produtos lácteos do mundo e se orgulha de fornecer produtos de baixo custo e alta qualidade para mais de 120 países do mundo. Parte do sucesso da indústria é atribuído à sua excelência na qualidade e segurança dos alimentos. Nas próximas páginas, explicarei alguns dos principais elementos do sistema de qualidade do leite da Nova Zelândia.
Por que melhorar a qualidade do leite cru
Qualidade baixa e inconsistente do leite tem dois importantes impactos na indústria de lácteos.
• O primeiro importante impacto é para o produtor. O produtor perde rendimento devido às penalidades aplicadas pelos laticínios e, em alguns casos, a fazenda perde em produção de leite, seja devido às perdas na produção atual devido às infecções de mastite e altos níveis de células somáticas ou perdas mais diretas e óbvias devido ao leite que é inadequado para o abastecimento.
• O segundo impacto afeta o processador de lácteos. O leite de baixa qualidade pode limitar seriamente a qualidade dos produtos lácteos que podem ser feitos a partir dele e isso também pode afetar a eficiência do processamento. Contagens bacterianas ruins podem levar o leite a ser instável no processamento, com as proteínas desnaturando e “grudando” nos evaporadores. Isso subsequentemente força o processador a realizar lavagens completas nas plantas mais regularmente do que é preciso, com o custo de produção aumentando proporcionalmente.
O produto feito com leite de baixa qualidade também pode ter um prazo de validade menor devido à ação de enzimas liberadas pelas bactérias antes do processamento.
As ofertas de leite inconsistente e de baixa qualidade podem limitar a capacidade dos processadores de lácteos para se diferenciar no mercado. O laticínio pode ficar alocado nas posições inferiores e menos lucrativas do mercado e os produtos processados pela companhia podem eventualmente ser substituídos por produtos de melhor qualidade. Certamente, produtos de baixa qualidade são mais vulneráveis aos movimentos de preços e à competição.
Isso significa que a qualidade do leite é extremamente importante quando se tenta alcançar a estratégica do laticínio no mercado. Infelizmente, é difícil de melhorar a qualidade do leite rapidamente, envolve um esforço concentrado por uma série de partes interessadas e pode frequentemente requerer soluções bastante complexas.
Essas soluções incluem:
• Penalidades e incentivos
• Informação e educação
• Suporte tecnico no campo
• Sistemas de Boas Praticas na Fazenda
• Investimento pelos produtores
Boa qualidade do leite
Medir a qualidade do leite é um primeiro passo importante. No geral, na Nova Zelândia, a qualidade do leite é determinada por uma série de testes diferentes, mas os seguintes são os mais relevantes.
• Contagem Bacteriana Total (CBT) - 50.000 células/ml
• Bacterias Termodúricas - 1.500 células/ml
• Bacterias Coliformes - 500 células/ml
• Células Somáticas - 400.000 células/ml
• Substâncias inibidoras - 0,003 UI/ml
Também testamos para adição de água, aflatoxinas, sedimento, odor/sabor/aparência (avaliação sensorial) e resíduos de contaminantes introduzidos ao leite durante alimentação e ordenha.
Na Nova Zelândia em 1975, uma mudança na política da qualidade do leite gerou uma grande melhoria. Antes disso:
• 42% dos tanques tinham contagens de CBT de mais de 1.000.000/ml;
• O leite em silos se deteriorava rapidamente;
• O sabor dos produtos lácteos era adversamente afetado;
• Os níveis de contagem de células somáticas (CCS) eram excessivos, as vezes mais que 1.000.000/ml (veja gráfico abaixo para o efeito da alta CCS na produção de caseina);
• Houve o uso descuidado de antibióticos;
• Silos de creme de leite gelatinosos;
• Queijos estragados ocorriam.
O que foi feito com relação à qualidade do leite cru após 1975?
Por volta de 1975, houve o reconhecimento de que a qualidade do leite cru era ruim e um “limite ao crescimento” e que uma resposta estratégica integrada era requerida. A Nova Zelândia introduziu novas medidas em toda a indústria. Essas incluíram:
• Desenvolvimento de materias didaticos;
• Emprego e treinamento de Assessores de Campo;
• Desenvolvimento de sistemas de confiança de análise do leite cru;
• Introdução de penalidades;
• Início da introdução de sistemas de Boas Praticas Agropecuárias nas Fazendas.
O impacto dessas medidas foi profundo. A Nova Zelândia produz leite que é:
• Mais de 98,5% melhor para CBT (menos de 50.000/ml)
• Mais de 93% melhor para coliformes (menos de 500/ml)
• Mais de 92% melhor para termodúricos (menos de 1.500/ml);
• Mais de 99,9% melhor para Substâncias Inibidoras (menos de 0,003 UI/ml);
• Uma média de CCS de aproximadamente 170.000 células/ml.
Quais foram os principais fatores que permitiram essa mudança positiva?
Equipamento de ordenha
Os equipamentos de ordenha e os padrões de instalação foram melhorados. Na Nova Zelândia, novas instalações precisam ser aprovadas antes do leite ser fornecido a partir delas. Além disso, novos equipamentos de ordenha devem passar por um processo de aprovação antes que tenham permissão para ser vendido e instalado nas fazendas.
Sistemas de limpeza também foram re-projetados, de forma que equipamentos de limpeza e soluções de limpeza fossem mais efetivos e mais bem adaptados aos equipamentos de ordenha mais modernos.
Os sistemas de bombeamento de leite foram re-projetados, de forma que houvesse menos aeração do leite na máquina de ordenha. Ao mesmo tempo, os produtores foram treinados para serem mais eficientes quando aplicam e removem os copos na ordenha. Isso também reduziu a aeração (e subsequente danos à gordura).
O pré-resfriamento do leite usando placas de resfriamento antes de entrar no tanque de leite também melhorou. Isso permitiu que o leite fosse resfriado mais rapidamente e de forma muito mais eficiente.
Resfriamento do leite
De acordo com a regulamentação da Nova Zelândia, os produtores precisam resfriar seu leite para 7°C dentro de 3 horas após o término da ordenha e, como uma diretriz, o leite deve ser pré-resfriado a 18°C ou menos antes de entrar no tanque da fazenda. Esses padrões estão sendo modificados para terem ainda mais impacto.
Equipamento de ordenha, Instalações da Sala de Ordenha e Padrões de Manejo de ordenha
Foi criado o código de boas práticas em produção leiteira (NZCP 1) que foi adotado por todas as companhias de lácteos. Ele determina os padrões para colheita e armazenamento de leite antes da coleta. Esse código é administrado pelo Ministério de Indústrias Primárias.
Manutenção da máquina de ordenha
Um sistema padrão de manutenção e funcionamento da máquina de ordenha foi desenvolvido e todos os técnicos são treinados para utilizá-la. Esse sistema removeu inconsistências na manutenção e instalação e os produtores podem ter muito mais confiança de suas recomendações técnicas no que se refere à manutenção da máquina de ordenha.
Também emitimos diretrizes sobre questões como validade para componentes de borracha e teteiras, uso adequado de filtros de leite e padrões apropriados para configurações de vácuo e pulsação. Sem isso, não poderíamos efetivamente ter administrado os danos nos tetos, as infecções de mastite e as contagens de células somáticas.
Boas Praticas Agropecuarias
Os sistemas de Boas Práticas Agropecuárias são essenciais para melhorar e manter a qualidade do leite. As análises no leite são um processo reativo e as inspeções das fazendas podem apenas julgar padrões no dia da inspeção. Boas Práticas Agropecuárias dá mais equilíbrio à estratégia geral e coloca a responsabilidade da qualidade para o produtor, dando aos auditores externos confiança de que há um sistema integrado e documentado em prática para garantir a qualidade do leite.
Os sistemas da Nova Zelândia são designados para serem simples e práticos, de forma que todos os produtores possam entendê-los e aplicá-los facilmente. Se for muito difícil, haverá pouco entusiasmo para manter o sistema e os produtores “inventarão” registros ao invés de manter registros verdadeiros.
Outra importante característica do programa Boas Práticas Agropecuárias da Nova Zelândia é que ele fornece benefícios para os produtores; isto é mais do que uma ferramenta a se cumprir e fornece boas informações de manejo que economizam tempo e dinheiro do produtor.
Esses sistemas são auditados regularmente, uma ou duas vezes por ano, para um padrão consistente, realizados por auditores bem treinados que validam as operações dos produtores e servem para encorajar, informar e educar. Então, a auditoria faz mais do que simplesmente identificar deficiências; oferece boas soluções viáveis. Os sistemas de Boas Práticas Agropecuárias vêm com um amplo e confiável material de suporte voltado a permitir que os produtores entendam melhor as boas práticas e como essas podem ser aplicadas na fazenda. Eles estão prontamente disponíveis, fáceis de entender e são atualizados regularmente.
Suporte de fiscalização do governo
Todas as características acima têm um forte suporte regulatório. Os laticínios normalmente contratam companhias independentes e privadas de auditoria nas fazendas, como a QCONZ, para administrar esse processo, mas os padrões e como eles são aplicados são definidos e executados pelo Ministério das Indústrias Primárias em consulta com a indústria.
Se a fazenda não cumprir e houver riscos que ameacem a qualidade do leite e sua adequação para o abastecimento, então o laticínio penaliza o produtor em primeira instância. Se for realmente sério, então a oferta de leite pode ser interrompida. Se a oferta é interrompida pelo Ministério, então os produtores não podem fornecer leite à nenhum laticínio até que os problemas sejam corrigidos.
Para problemas menos sérios, o laticínio pode administrar isso dando a fazenda tempo suficiente para corrigir, mas sem a ameaça de interrupção do fornecimento. Para problemas muito menores eles simplesmente registram e estimulam o produtor a melhorar.
Inovações
À medida que nossos requerimentos de mercado surgem, os sistemas usados precisam também ser atualizados ou eles perderiam rapidamente seu impacto. Por exemplo, na Nova Zelândia, nos últimos anos, tivemos:
• Estreitamento dos padrões das análises microbiológicas;
• Introdução de melhores análises de resíduos para substâncias como aflatoxina e resíduos químicos;
• Melhora nos padrões de filtração do leite;
• Desenvolvimento e lançamento de um sistema de manejo de mastite chamado SMARTSAMM (abordagem sazonal para controlar a mastite);
• Alteração de nossos sistemas de manutenção de máquinas de ordenha para lidar com a introdução de maquinaria mais moderna.
• Treinamento de nossos veterinários especificamente no manejo da mastite e desenvolvimento de uma lista de veterinários “certificados”, isto é, somente veterinários que são treinados, são autorizados a oferecer conselhos aos produtores.
• Desenvolvimento de sistemas de capturas de dados eletrônicos para auditores que permitem o registro quase em “tempo real” da auditoria e resultados do serviço de auditoria.
• Desenvolvimento do uso de uma agenda de qualidade do leite no qual os produtores podem manter todos os registros essenciais simples e facilmente. Esse é agora o quinto ano para a Fonterra e tem uma aceitação muito ampla dos produtores. Anteriormente, os produtores eram apresentados a grandes manuais e requerimentos complexos de registros – a maioria dos produtores achava isso muito difícil e as taxas de adoção eram baixas.
• E agora que os produtores estão muito familiarizados com os requerimentos de Sistemas de Qualidade do Leite/Boas Práticas, a falha em manter bons registros e sistemas de manejo resulta em uma penalidade monetária à fazenda, como se fosse uma penalidade no análise do leite.
• Além disso, a maioria dos laticínios está agora muito focada nos requerimentos de produção sustentável, isto é, protegendo os cursos d’água naturais de invasões de vacas leiteiras, protegendo áreas naturais, como florestas e zonas úmidas importantes, replantando árvores e abrigos para animais, gerenciando de perto as aplicações de nutrientes para minimizar a lixiviação em sistemas de água subterrânea. O bem-estar animal também possui mais destaque nesses sistema estendidos de melhores práticas. Além de ameaçar o futuro da indústria, práticas ruins de sustentabilidade quase certamente se tornarão uma barreira ao comércio em mercados mais sofisticados. Essas questões “emergentes” estão conosco agora e precisam ser levadas muito a sério.
Sobre o QCONZ (Quality Consultants of New Zealand)
A QCONZ é uma empresa de serviços que fornece treinamento, consultoria, assistência técnica e serviços de auditoria para a indústria de lácteos na Nova Zelândia, Austrália, Brasil, América do Sul e Ásia. No Brasil, o QCONZ implementa e inspeciona produtores de Boas Práticas na Fazenda (BPF) para DPA e implementou o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL) em mais de 120 laticínios em Minas Gerais. Atualmente está realizando o programa Leite Legal qualidade do Leite do Senar / Sebrae / CNA com 15.000 em Minas Gerais. A QCONZ também já realizou outros projetos para DPA, BRF, Itambé, Danone, Bela Vista, Unilever, Sebrae Minas, SECTS Minas, Emater Minas e Balde Cheio, entre outras organizações líderes na indústria de lácteos.
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