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Como estará a cadeia produtiva do leite em 150 anos? Um futuro cheio de "nanos" e "fagos"

POR RAFAEL FAGNANI

ESPAÇO ABERTO

EM 07/12/2016

6 MIN DE LEITURA

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futuro na produção de leite Quem não gosta de um bom filme futurístico e de ficção científica não é mesmo? São inúmeros temas hollywoodianos para todos os gostos, desde viagens intergalácticas até a vida cotidiana. Mas você já pensou como seria a cadeia produtiva do leite em um futuro não tão próximo? Ou como seria um filme que retratasse esse tema? Que tal embarcarmos juntos nessa viagem?

Esse exercício criativo é chamado de prospecção, e existem muitos profissionais atuando na área. Alguns são contratados por diretores de cinema, para projetarem um cenário cheio de tecnologias. Outros atuam no mundo corporativo, fazendo prospecção de mercado, de clientes, produtos e várias outras. Em ambos os casos, as metodologias empregadas não envolvem apenas a criatividade, mas também uma séria análise de informações e revisões bibliográfica em bases científicas do setor. Isso significa que a maioria das tecnologias do futuro são evoluções do que já existe ou está sendo estudado.

Dessa forma, é também possível projetar o futuro do leite. A partir de uma revisão bibliográfica bem profunda e um pouco de sensibilidade, é possível esboçar as tecnologias mais promissoras para o nosso setor. Pessoalmente, aposto que em 150 anos a nanotecnologia será o carro chefe em toda a cadeia produtiva do leite. E você? Como imagina o futuro do setor lácteo em 150 anos?

Vamos começar pela produção? Sim, as vacas de carne e osso ainda estarão lá, porém com muitas diferenças em relação as drogas usadas no controle, tratamento de mastites e durante a secagem dos animais. Existem muitas pesquisas sobre a nanotecnologia e a liberação controlada de fármacos. O foco são as células tumorais, mas também existem estudos sobre as células bacterianas. E o melhor, essa nova maneira de entrega e liberação de princípios ativos possuem resultados muito promissores em relação à resistência bacteriana. Transferir essa tecnologia para o pós-dipping ou para a secagem das vacas é questão de tempo.

A ordenha robótica estará cada vez mais acessível. Talvez não a estrutura em si, mas com certeza as tecnologias envolvidas, como exemplo os sensores da composição centesimal do leite e de mastite momentos antes da ordenha. Esses sensores já são realidade na ordenha robótica e a tendência é que estejam em qualquer tipo de ordenhadeira, do mesmo modo como os freios ABS se tornaram item de série em carros populares. Os resultados serão transmitidos para uma nuvem e poderão ser acessados em qualquer momento.

Os sensores também estarão disponíveis na etapa do transporte, permitindo que antes de ser colocado no caminhão, o leite seja analisado para fraude. O processo será automatizado, excluindo a possibilidade do transportador interferir no registro de resultados. Os sensores podem ser acoplados na mangueira, que automaticamente libera ou não a entrada do leite nos caminhões. A protagonista por trás dessas análises instantâneas é a micro espectroscopia infravermelha, uma técnica que combina a microscopia e espectroscopia infravermelha.

Essa ferramenta já é realidade e permite avaliar se o leite está fraudado com água, soro, ureia, melamina e várias outras substâncias ao mesmo tempo. A micro espectroscopia infravermelha possui muitas vantagens em relação à outras técnicas conhecidas até o momento, pois consegue analisar amostras sem nenhuma pré-operação, é fácil de usar e possui alta especificidade e sensibilidade, além de poder ser usada para detectar resíduos de antibióticos. Tornar essa técnica portátil e automática também é questão de tempo.

E o controle da multiplicação microbiológica? Como estará em 150 anos? A tendência é dependermos cada vez menos da cadeia do frio, pois as superfícies de aço inox e das embalagens onde o leite entra em contato também podem receber a nanotecnologia. Alguns estudos já comprovaram o efeito bactericida de nano partículas de prata, óxido de ferro, óxido de titânio, óxido de cobre e óxido de zinco. Embalagens revestidas com esses compostos inorgânicos já são comercializadas, inclusive no Brasil, aumentando o prazo de validade do leite pasteurizado. Mais alguns ajustes na estabilidade e durabilidade e a tecnologia já poderá revestir todas as superfícies de latões, tanques resfriadores, tanques isotérmicos de caminhões, silos de estocagem e muito mais.

Será que ainda vamos depender da pasteurização para garantir a inocuidade do leite? É muito provável que sim, mas podemos imaginar um desenvolvimento ainda maior de outras tecnologias complementares que não sejam térmicas. Entre as mais estudadas estão as altas pressões hidrostáticas, campos elétricos pulsados, campos elétricos de rádio frequência, tratamentos ultrassônicos, de ultravioleta e com jatos de plasma frio. Apesar dos nomes futurísticos, essas tecnologias não são tão modernas e já estão sendo estudadas há algumas décadas. 


Entre as mais curiosas e promissoras está o uso de bacteriófagos para controlar abacteriófagos - leite multiplicação microbiológica e matar patógenos. Os bacteriófagos são vírus que infectam apenas as bactérias, não possuindo efeito nas células humanas. Ou seja, o inimigo do meu inimigo é meu amigo! Os bacteriófagos podem ser isolados da natureza (água, solo, etc) e então modificados geneticamente em laboratório. Sua anatomia é bem extraterrena e ele se parece muito com uma sonda espacial que injeta seu material genético dentro de células. Confira na figura ao lado.

A principal vantagem do uso de bacteriófagos é que os cientistas podem selecioná-los e/ou programa-los geneticamente para matarem apenas as bactérias patogênicas, sem interferência na microbiota natural e benéfica do leite. Além disso, também não possuem efeitos nas características físicas e sensoriais dos alimentos. Alguns já estão classificados como seguros (GRAS) pela FDA e USDA e podem ser aplicados alimentos por sprays ou imersão. Outros são específicos para dissolverem biofilmes em superfícies que entram em contato com alimentos. No futuro os bacteriófagos poderão ser incorporados até no pós-dipping e nos tratamentos de mastite.

Por fim, as embalagens também serão melhoradas ao longo desses 150 anos. O objetivo dos pesquisadores é que as embalagens interajam com o consumidor, fornecendo mais do que rótulos e informações nutricionais. A rastreabilidade também estará presente, nos permitindo saber exatamente de onde veio o produto e por onde passou antes de chegar às gôndolas. Sensores de qualidade e do prazo de validade aprovados por órgãos regulamentadores também podem ser desenvolvidos.

Portanto, podemos esperar um futuro onde pequenas coisas fazem a diferença, como a nanotecnologia e os bacteriófagos. Mas principalmente, esperamos que nos próximos anos mais pesquisas associem o leite a uma vida saudável e que essas conclusões estejam cada vez mais claras na consciência das pessoas.

Para saber mais, entrem em contato... e que tal fazer mestrado com a gente em 2017?
CAPPOZZO, Jack C.; KOUTCHMA, Tatiana; BARNES, Gail. Chemical characterization of milk after treatment with thermal (HTST and UHT) and nonthermal (turbulent flow ultraviolet) processing technologies. Journal of dairy science, v. 98, n. 8, p. 5068-5079, 2015.

CROOK, Jennifer A. et al. Efficacy of ultraviolet (UV-C) light in a thin-film turbulent flow for the reduction of milkborne pathogens. Foodborne pathogens and disease, v. 12, n. 6, p. 506-513, 2015.

FRANCI, Gianluigi et al. Silver nanoparticles as potential antibacterial agents. Molecules, v. 20, n. 5, p. 8856-8874, 2015.

PELGRIFT, Robert Y.; FRIEDMAN, Adam J. Nanotechnology as a therapeutic tool to combat microbial resistance. Advanced drug delivery reviews, v. 65, n. 13, p. 1803-1815, 2013.

PÉREZ PULIDO, Rubén et al. Application of bacteriophages in post-harvest control of human pathogenic and food spoiling bacteria. Critical reviews in biotechnology, p. 1-11, 2015.

SANTOS, P. M.; PEREIRA-FILHO, E. R.; RODRIGUEZ-SAONA, L. E. Rapid detection and quantification of milk adulteration using infrared microspectroscopy and chemometrics analysis. Food chemistry, v. 138, n. 1, p. 19-24, 2013.

UKUKU, Dike O. et al. Survival, injury and inactivation of human bacterial pathogens in foods: Effect of non-thermal treatments. Foodborne Pathogens and Food Safety, p. 82, 2015.
 

RAFAEL FAGNANI

Consultor, professor e pesquisador em produtos de origem animal. Atua na UEL e na UNOPAR nos cursos de med. veterinária e em programas de residência e mestrado.

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