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As dores da indústria: outro lado ou o mesmo lado da moeda?

POR VALTER GALAN

E MAYSA SERPA

ESPAÇO ABERTO

EM 13/01/2022

5 MIN DE LEITURA

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O ano de 2021 “doeu” tanto para indústrias quanto para produtores. Do lado da produção de leite, os custos de produção “pegaram forte” o produtor, derrubando margens e fazendo a produção cair, até setembro, quase 1,5% em relação a 2020 (estima-se que, no total ano de 2021, a produção brasileira apresente recuo entre 2% e 3% em relação aos volumes produzidos em 2020), com tendência de entrar em 2022 com quedas maiores.

Como mostra o gráfico 1, os custos subiram e os preços ao produtor não os acompanharam, pressionando bastante as margens.

gráfico com indices e variações de preço do leite

Esta grande dificuldade dos produtores ficou evidente na matéria recentemente publicada aqui no site “O lamento dos produtores de leite: visão sobre a atual situação da atividade no país”.

Bom, se o produtor termina o ano perdendo, é óbvio concluir que a indústria saiu ganhando, certo? Errado!

A situação econômica do país, a forte redução do consumo de lácteos (acelerada no 2º semestre de 2021) e a consequente dificuldade de repasse de preços fez com que a indústria amargasse o que, provavelmente, foi seu pior ano no passado recente. 

Consultado sobre o assunto, Sávio Santiago, Diretor de Originação na UltraCheese, pontuou: “Parte do ano de 2020 trouxe um alento para a indústria. Após o impacto positivo no consumo provocado pelo auxílio emergencial, as margens – que já vinham se achatando antes da pandemia – se recuperaram até o fim daquele ano. A ressaca de consumo em 2021 com a queda de renda, impôs, para maioria das indústrias, o pior ano da história em resultados. Margens negativas sucessivas esgotaram o fôlego readquirido em 2020 e já comprometem a sustentabilidade das operações, zerando a capacidade de investimento”.

Os gráficos 2 e 3 mostram a evolução da margem estimada da indústria no leite UHT e no queijo muçarela, duas das principais commodities comercializadas no mercado brasileiro.

grafico evoluçao das margens da industria

evolução da margem da industria no queijo muçarela

Sobre essas margens negativas, Cícero Hegg, Sócio Fundador da Tirolez, apontou o papel do varejo. “Eu acho que deixou de existir o que no passado tinha: as redes de supermercados usavam muito a muçarela como chamariz para os seus consumidores. A gente percebe que, hoje, o setor varejista deixou de olhar dessa forma para esse produto. Então, muitas vezes, a indústria está com resultados negativos - como está mostrado claramente no gráfico que vocês apresentam [Gráfico 3]. Dos doze meses, em dez a muçarela esteve no vermelho, porque muitas vezes o [setor] industrial abaixa o preço e o supermercado fica com uma margem maior ainda”.

Hegg continuou ponderando sobre a falta de companheirismo do segmento: “O que não deixa de ser, talvez, uma falta de companheirismo no segmento. Então, eu acho que é [necessária] uma convergência do setor primário e secundário - produção de leite e indústria -, a fim de [promover] um diálogo melhor com a rede varejista, no sentido de promover estes produtos quando há a sazonalidade. Assim, a própria demanda faz o preço da muçarela e dos [outros] produtos lácteos baixarem [no varejo]. Eu cito a muçarela, mas cito também o próprio leite longa vida”.

Nest cenário, são diversas e, muitas vezes opostas, as dores da indústria láctea brasileira:

  • De forma geral, as margens hoje são muito ruins e sugeririam um ajuste (baixa) bastante forte no curto de sua principal matéria-prima, o leite;
  • Por outro lado, a indústria sempre trabalha com a expectativa de que uma melhora de mercado virá e, mesmo neste cenário de margens muito ruins, busca preservar a base de fornecedores que tem hoje – é mais barato pagar hoje do que ter de ir ao mercado para recuperar leite no futuro. Além disso, o (elevado) nível de fragmentação da indústria leva pequenos, médios e grandes indústrias a defender sua base de fornecedores, não olhando muito (ou quase nada) para o resultado de curto prazo;
  • Ao mesmo tempo, sabe-se que o mercado brasileiro está “curto” em leite, com produção baixa e importações inviáveis. Qualquer reação de demanda gerará uma forte reação de preços, já que o mercado está desabastecido.

Para 2022, Cícero concorda que a “bola” está com o consumidor: “Eu entendo que vai ser assim para 2022: vai depender muito da demanda, porque a produção está curta e foi cortada. Não temos os dados [do IBGE] ainda finalizados, mas tudo indica que vai ter um resultado menor do que 2020 e vai depender agora da demanda para a gente poder estimular a produção. O resultado de tudo isso é que a indústria não tem o que fazer, senão aumentar seus preços [no varejo], porque não é só o leite [matéria-prima] que aumentou o custo, mas também os outros insumos. Todos, sem exceção, a começar pelo frete, as embalagens, as caixas de papelão, os fermentos... A própria mão-de-obra, o custo do trabalhador também subiu com os reajustes que foram negociados. É um ano desafiador, mas eu sempre defendo o caminho do entendimento. Eu acho que cada um tem que fazer a sua parte e buscar companheirismo nas atividades que desempenham conjuntamente. Todo mundo quer que seja um resultado bom”.

O gerenciamento do curto prazo x o médio prazo e as expectativas geradas pelo mercado parecem ser a grande “dor” da indústria neste momento – algo que, de fato, não é exatamente novo... Muita coisa mudou no leite brasileiro, mas muita coisa simplesmente não muda!

Neste sentido de mudança, Cícero apontou a responsabilidade da indústria com a originação do leite. “Um tema que é muito importante, que hoje está sendo muito falado, é a originação do leite. Ou seja, o que cada empresa, cada cooperativa, está conseguindo trabalhar junto com o produtor de leite para melhorar a quantidade produzida de forma permanente e permitir que o produtor tenha rentabilidade, porque não adianta pensar que ele vai continuar [produzindo] eternamente sem rentabilidade”.

“Então, a questão é a originação, o trabalho junto com o produtor. Sempre defendi e defendo que o melhor caminho é o entendimento e a conversa. Então, isso passa, por exemplo, pelo fornecimento do sêmen, do embrião. Até os clubes de compra, onde a gente pode antecipar as compras de cereais que vão alimentar o gado, ajudar num silo e tudo mais. Trabalhos como a própria Embaré vem fazendo e outros [laticínios], como nós fazemos também, mas talvez não tem sido feito o suficiente”, finalizou.

VALTER GALAN

MilkPoint Mercado

MAYSA SERPA

Médica Veterinária, MSc. e doutoranda em Sanidade Animal pela UFLA.

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LUIZ BATISTA DE REZENDE

ITABERAÍ - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/01/2022

Discordo completamente do Grafico 1 no quesito farelo de soja, a variação ao longo de 2021 foi de 28% e não houve esta queda de 72% conforme mostrado no grafico
LUIZ BATISTA DE REZENDE

ITABERAÍ - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/01/2022

Este grafico 1 que compara a variação de preços ao longo de 2021 no que se refere a farelo de soja ele está distorcido não sei a fonte de dados que foi usada, mas compro farelo de soja 2 cargas por mês e variação no mesmo periodo foi de 28%.
JULIANA TORRES SANTIAGO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 18/01/2022

Olá Luiz, como vai?
Os dados de farelo de soja são retirados do Departamento de Economia Rural (DERAL) do Paraná, e estão disponíveis neste link: https://www.agricultura.pr.gov.br/system/files/publico/Precos/pmva.xls. Em Fev/21 o farelo estava cotado a R$3.150/ton, em Jun/21 a R$ 2.356/ton e, em Nov/21, o preço já estava em R$2.285/ton. Portanto, para o farelo, observou-se, de janeiro a novembro, uma queda gradual nos preços, efeito da maior oferta do complexo soja ao longo do ano quando comparada com 2020.
MAIKENY NAYANE COELHO

PERDÕES - MINAS GERAIS

EM 14/01/2022

Quero enfatizar o comentário dos dois companheiros e reforçar o seguinte as indústrias estão cada vez mais ricas e o produtor a cada ano numa situação pior, conforme citado no próprio artigo o preço do litro de leite não acompanha o custo de produção. O que pode acontecer num futuro próximo é as indústrias ficarem com suas fábricas ainda mais ociosas do que já é sabido que estão hoje, já que sempre colocam a conta para o produtor pagar. De nada adiantará suas instalações e equipamentos de última geração se não tiverem a matéria prima. Fica a dica
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 14/01/2022

E de que vai adiantar tu ter o resfriador cheio e o laticínio vazio? Tu vai vender o leite de porta em porta? Se tá ruim vender pro laticínio, compra uma pasteurizadora e uma embaladora, e faz marca própria, daí vai ser bom, por que não vai ter o laticínio "maldoso" tirando todo o lucro.

O problema da cadeia de leite é que ela é bastante comprida, então JAMAIS o leite vai acompanhar o preço final. Tirando o mercado, quem concentra a maior rentabilidade é justamente o produtor, mas nunca vai ser o bastante.

Produtor de leite tem um problema que acha que o mundo tá contra ele e nada dá lucro. O problema é sempre o laticínio. Seria muito bom o produtor ir lá, conversar com o laticínio, quem sabe até estagiar pra conhecer como funciona o processo, pra cultivar o respeito mutuo. Até que o produtor não se aliar com o laticínio para achar uma forma de ficar bom para ambos os lados, vai ser sempre a mesma situação.

Finalizando a tua resposta. De nada vai adiantar tua matéria prima, se tu não tiver onde processar ela. Tu depende tanto do laticínio quando o laticínio depende de ti.
EM RESPOSTA A MAURICIO NESTOR
MARLUCIO PIRES

EDEALINA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2022

A rentabilidade deve estar muito boa mesmo. A debandada de produtores para outras atividades deve ser pq o produtor não gosta de dinheiro.
EM RESPOSTA A MARLUCIO PIRES
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 18/01/2022

Pode ser que na tua região exista essa saída. Aqui na minha região... Todo produtor reclama do leite à pelo menos 10 anos. E os poucos que saem da atividade, acabam voltando.

Existe a realidade que as margens de lucro estão cada vez mais estreitas e que o amadorismo no agronegócio vai deixar de existir logo. Mas achar que o produtor tem de receber 100% de lucro (ou mais) em cima do litro do leite é uma ilusão pura. Já vi produtor reclamar que o leite "não sobrou"... depois de ter pago TODAS as contas da casa, e todos os gastos da propriedade, incluindo gastos relacionados a soja, granifero, suinos.... Ninguém faz a conta apenas do leite. Nunca está bom o bastante.
EM RESPOSTA A MAURICIO NESTOR
OTÁVIO BEZERRA DO RÊGO BARROS FILHO

PESQUEIRA - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/03/2022

Maurício, és exclusivamente produtor de leite? Dependes 100% da produção? Se a resposta for não, te convido a vir produzir leite.
EM RESPOSTA A OTÁVIO BEZERRA DO RÊGO BARROS FILHO
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 21/03/2022

Otávio, e se minha resposta for sim? O que me recomendas? O que espera que eu encontre me convidando a produzir leite?

Até onde vi, 100% dos produtores que conheço não produzem apenas leite na propriedade, no mínimo que for, existe a saída de excedente do rebanho, e a produção de ao menos uma safra de grãos para vender, seja uma safra de soja, de aveia, de trigo, ninguém separa uma lavoura apenas para fazer silagem para os animais.
EM RESPOSTA A OTÁVIO BEZERRA DO RÊGO BARROS FILHO
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 22/03/2022

E se a resposta for sim? Me sugere a fazer o que? A maioria dos produtores de leite que eu já vi (leia-se, todos) tem outras atividades na propriedade. Nem que seja uma das safras do ano para venda. Ou vai me dizer que produtor de leite planta apenas milho para silagem e não tira uma lavoura de soja ou trigo ou aveia no ano.
MARLUCIO PIRES

EDEALINA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2022

Daí eu pergunto? Pra que serve o tal do longa vida, que só a embalagem já deve estar custando quase 80 centavos, se não a indústria não usa seu prazo de validade pra forçar negociação? Deixa o varejo sem leite. Escolhe a rede mais parceira. Pelo amor de Deus
JUSCELINO RAMOS JÚNIOR

AVELINÓPOLIS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/01/2022

Bom dia!
Em primeiro lugar gostaria de saber desde quando leite uht e muçarela passaram a ser commodities? Segundo ponto: será que algum laticínio poderia publicar o balanço seu, referente ao ano de 2021? Sugiro a Piracanjuba. Terceiro ponto: concordo com o comentário de que a rede varejista poderia colaborar, diminuindo um pouco suas margens, com a finalidade de estabilizar o consumo e dar maior sustentação à classe produtora.
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 14/01/2022

Arroz e feijão também são commodities...

E produtor de feijão também vive reclamando das coisas hahahaha
MAURICIO NESTOR

ALTO DO AMPARO - PARANÁ

EM 14/01/2022

Achei o balanço da jussara em 10 segundos de google. Toda empresa de capital publico tem essas informações disponíveis.
RONEY JOSE DA VEIGA

HONÓRIO SERPA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/01/2022

Até que enfim alguém citou o varejo como elo da cadeia!!! Existe uma relação conflituosa entre indústria e varejo, isso promove um descompasso entre o preço de venda pela indústria e o preço ao consumidor praticado pelo varejo!! E a corda sempre arrebenta no produtor! A indústria tem se tornado muito eficiente na produção, mas muito pouco profissional na comercialização de seus produtos!
JEAN DE PINHO MENDES

PARNAÍBA - PIAUÍ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/01/2022

Sempre somos cobrados a sermos mais eficazes em nossas propriedades. Somos chamados de incompetentes, de não fazermos ajustes necessários. Mas, e a indústria? O principal ajuste é reduzir do produtor. Cadê a competência em vender mais seus produtos? Quais as novas opções de produtos? Onde estão medidas de marketing para aumentar suas vendas?

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