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É ou não é leite condensado? Leite condensado e mistura láctea condensada, entenda as diferenças

PPGCTLD/UFJF

EM 14/07/2023

9 MIN DE LEITURA

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O leite condensado é um produto conhecido mundialmente e encontra-se entre os cinco produtos lácteos mais exportados pelo Brasil, ocupando a segunda posição no ranking de 2022 (CEPEA, 2022). É um produto presente em 90% das casas brasileiras, sendo utilizado em preparações culinárias diversas, principalmente sobremesas e bebidas (ABRAS, 2020).

No final do século XIX, o leite condensado chegou ao mercado brasileiro e era utilizado, principalmente, como bebida na alimentação de crianças. O leite condensado surgiu em 1856, após Gail Borden patentear um método de condensação que permitiu  transportar e armazenar leite por longos períodos e sem a necessidade de refrigeração  (MEIRELLES, 2019).  

O novo produto foi importante para a redução da mortalidade infantil e se popularizou durante a guerra civil dos Estados Unidos (1861-1865) por seu alto valor calórico (MOSTARO, 2021; PERRONE, 2011).

Apesar de ser um produto com alto teor de açúcar adicionado (cerca de 45%), o leite condensado também possui nutrientes importantes, como as proteínas e a gordura do leite. Dentre as variedades disponíveis estão o leite condensado com alto teor de gordura, integral, parcialmente desnatado (ou semidesnatado) e desnatado. A principal diferença entre eles está na quantidade de gordura presente no produto final (NIEUWENHUIJSE, 2016; BRASIL, 2018).

  • Leite condensado com alto teor de gordura: mínimo de 16,0g/100g de gordura; mínimo de 34,0g/100g de proteínas nos sólidos lácteos não gordurosos; e mínimo de14,0g/100g sólidos lácteos não gordurosos.
     
  • Leite condensado integral: entre 8,0g/100g a 16,0g/100g de gordura; mínimo de 34,0g/100g de proteínas nos sólidos lácteos não gordurosos; e mínimo de 28,0g/100g sólidos lácteos totais.
     
  •  Leite condensado parcialmente desnatado: entre 1,0g/100g e 8,0g/100 de gordura; mínimo de 34,0g/100g de proteínas nos sólidos lácteos não gordurosos; mínimo de 20,0g/100g sólidos lácteos não gordurosos; e mínimo de 24,0g/100g de sólidos totais.
     
  • Leite condensado desnatado: máximo de 1,0g/100g de gordura; mínimo de 34,0g/100g de proteínas nos sólidos lácteos não gordurosos; e mínimo de 24,0g/100g de sólidos lácteos totais.

O leite fluido, leite em pó ou leite evaporado são as principais matérias-primas utilizadas pelos laticínios brasileiros para produção de leite condensado (RENHE; PERRONE; SILVA, 2011). Nos últimos dois anos, a alta no preço do leite teve um impacto direto na produção de derivados lácteos.

Em Minas Gerais, o estado com maior participação na produção nacional de leite, a inflação do leite acumulou 60% entre janeiro de 2020 a janeiro de 2022(OLIVEIRA et al., 2022). No cenário nacional, o custo de produção do leite teve um aumento de 27% em 2021, em comparação à média geral desde de 2017, sendo as maiores altas registradas a partir de julho de 2020 (STOCK; LEITE, 2022).

Durante o período de entressafra (outono/inverno) já é esperado o aumento no preço do leite, pois a menor disponibilidade de pasto contribui para o declínio da produção. Contudo, a guerra no Leste Europeu, aumento do preço dos fertilizantes, dos combustíveis, das commodities agrícolas e a pandemia de Covid-19 foram fatores que aceleraram os aumentos sucessivos nos preços do leite (NEIVA, 2022).

As mudanças socioeconômicas influenciaram diretamente as decisões de compra do consumidor e a indústria de alimentos precisou se adequar ao período pós-pandêmico (SOUZA, 2023). Diante disso, quando se trata de leite condensado, um produto alternativo e de menor custo ganhou espaço nas prateleiras dos mercados, a mistura láctea condensada. Mas qual é a diferença?

O leite condensado é o produto obtido pela eliminação parcial da água do leite com adição de açúcar. Já a mistura láctea “é o produto que contém na sua composição final mais que 50% de produtos lácteos ou produtos lácteos compostos” (BRASIL, 2017; BRASIL 2018). Basicamente, a diferença está na composição. O leite condensado é feito exclusivamente de leite (fluido, em pó ou concentrado) e açúcar (sacarose), enquanto a mistura láctea condensada é feita com soro de leite, um co-produto da indústria de laticínios (Tabela 1).

Tabela 1. Principais ingredientes, observados em rótulos, utilizados nas formulações de leite condensado integral e mistura láctea condensada

Principais ingredientes, observados em rótulos, utilizados nas formulações de leite condensado integral e mistura láctea condensada

A mistura láctea condensada não se trata de uma versão fraudulenta do leite condensado, mas um produto alternativo, que já existe há um tempo e é regularizado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). A legislação permite a substituição dos constituintes do leite em formulações alternativas, desde que a denominação de venda seja acompanhada da palavra “mistura de (nome do produto lácteo ou produto lácteo composto) e (produto adicionado)” (BRASIL, 2017).

Embora o termo obrigatório “mistura” esteja presente, nem sempre é uma informação em destaque e a similaridade entre as embalagens é o que tem causado maior confusão por parte dos consumidores (REVADAM, 2021; SCARABOTTO, 2022).

O processamento de co-produtos é uma tendência mundial, dada a necessidade de um destino sustentável e suas características nutricionais. Com o leite não tem sido diferente (AHMAD et al.,2019). O soro de leite é resultado da produção de produtos lácteos, como iogurte grego, queijo e requeijão cremoso (ROCHA-MENDOZA et al., 2021). O soro é o líquido que resta após a remoção de gordura e de caseína, a proteína majoritária do leite. Na produção de queijos, por exemplo, em média 9 kg de soro de leite são gerados a cada 1 kg de queijo produzido (PARASHAR et al., 2016).

O soro de leite é um co-produto com muita matéria orgânica e potencialmente poluidor quando descartado de forma inadequada. Por outro lado, contém nutrientes importantes como proteínas, lipídeos, carboidratos (75% de lactose), vitaminas solúveis e minerais (AHMAD et al.,2019). Em vista disso, o soro de leite tem sido amplamente utilizado como ingrediente na indústria de alimentos por ser um produto mais econômico e uma alternativa sustentável para o seu gerenciamento (ROCHA-MENDOZA et al., 2021).

Uma das consequências da utilização de co-produtos como matéria-prima no desenvolvimento de produtos lácteos é a oferta com menor custo. Entretanto, esse fato não é exclusividade do leite condensado. A utilização de co-produtos, como soro de leite, também pode ser observada em creme culinário, composto lácteo, bebida láctea, leites fermentados, dentre outros (BRAZ, 2022; REVADAM, 2021).

É esperada a diferença entre a mistura láctea condensada e o produto tradicional quanto ao sabor e a textura, pois a caseína e a gordura são os principais componentes do leite responsáveis por essas características sensoriais e praticamente não estão presentes no soro de leite (RENHE; PERRONE; SILVA, 2011; PINHO, 2022).

Por essa razão são utilizados aditivos como o amido e a gordura vegetal para melhorar as características da mistura, o que no leite condensado tradicional não é necessário e nem permitido pela legislação brasileira (BRASIL, 2018).

A mistura láctea condensada tem dividido opiniões e gerado repercussões negativas, já que na prática não tem produzido nas receitas o mesmo resultado do produto tradicional (PINHO, 2022). É uma opção para substituir o leite condensado com economia e para atender as necessidades de uma parcela da população com menor renda (REVADAM, 2021).

Vale ressaltar que são produtos diferentes e que vão produzir resultados diferentes, tanto em termos de características sensoriais quanto tecnológicas. Então, a melhor dica para o consumidor é que fique atento à embalagem e à sua descrição, desse modo, maior é a chance de adquirir um produto que atenda às suas expectativas e necessidades.

 

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Autores
Larissa da Costa Teodoro

Larice Aparecida Rezende Santana

Rodrigo Stephani

Ítalo Tuler Perrone

Humberto Moreira Húngaro

Mirian Pereira Rodarte

 

Referências

AHMAD, Talha et al. Treatment and utilization of dairy industrial waste: a review. Trends In Food Science & Technology, [S.L.], v. 88, p. 361-372, jun. 2019. Elsevier BV. https://dx.doi.org/10.1016/j.tifs.2019.04.003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SUPERMERCADOS - ABRAS. Super Hiper. CONSUMIDORES E CATEGORIAS. Ano 46, número 527, jun/jul 2020. Disponível em: <https://www.abras.com.br/ >. Acesso em: 19 mai. 2023

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Decreto nº 9013 de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial da União, 30 de mar. 2017

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 47 de 26 de outubro de 2018. Fixa a identidade e os requisitos de qualidade que deve apresentar o leite condensado. Diário Oficial da União, 06 de nov. 2018

BRAZ, Kecieli Martins. Estudo do grau de similaridade entre embalagens de produtos lácteos. 2022. 39 f. TCC (Graduação) - Curso de Bacharel em Agroindústria, Universidade Federal de Sergipe, Nossa Senhora da Glória, 2022. Disponível em: https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/15913/2/Kecieli_Martins_Braz.pdf. Acesso em: 19 maio 2023.

CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Boletim do Leite. 2022. Disponível em: https://cepea.esalq.usp.br/br/categoria/boletim-do-leite.aspx. Acesso em: 19 mai. 2023.

MEIRELLES, M. “O mais popular dos doces brasileiros”: História crítica do brigadeiro. Revista Aedos, v. 11, n. 25, p. 330–354, 2019.

MOSTARO, Letícia. Como é feito o leite condensado? 2021. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/artigos/industria-de-laticinios/como-e-feito-o-leite-condensado-223927/. Acesso em: 19 maio 2023.

NEIVA, Rubens. Leite e derivados registram queda de preços no mercado. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/73980442/leite-e-derivados-registram-queda-de-precos-no-mercado. Acesso em: 17 maio 2023.

NIEUWENHUIJSE, Hans. Concentrated Dairy Products: Sweetened Condensed Milk. [s.l.] Elsevier, 2016.

OLIVEIRA, Samuel José de Magalhães et al. Inflação do leite de 2020 a 2022. In: Embrapa Gado Leite de. Anuário do Leite: pecuária leiteira de precisão. Juiz de Fora: Si, 2022. p. 26-28. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1144110/anuario-leite-2022-pecuaria-leiteira-de-precisao. Acesso em: 19 maio 2023.

PARASHAR, Archana et al. Incorporation of whey permeate, a dairy effluent, in ethanol fermentation to provide a zero waste solution for the dairy industry. Journal Of Dairy Science, [S.L.], v. 99, n. 3, p. 1859-1867, mar. 2016. American Dairy Science Association. https://dx.doi.org/10.3168/jds.2015-10059.

PERRONE, Ítalo Tuler. Tecnologias para fabricação de doce de leite, leite condensado e soro em pó. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 32, n. 262, p. 24-33, maio/junho 2011. Disponível em: https://www.epamig.br/ilct/wp-content/uploads/2020/07/LEITE-E-DERIVADOS-TECNOLOGIAS-PADR%C3%95ES-DE-IDENTIDADE-E-QUALIDADE.pdf. Acesso em: 19 maio 2023.

PINHO, Raquel. Entenda a diferença entre leite condensado ou mistura láctea condensada. 2022. Disponível em: https://www.segs.com.br/demais/346380-entenda-a-diferenca-entre-leite-condensado-ou-mistura-lactea-condensada. Acesso em: 17 maio 2023.

RENHE, I. R. T.; PERRONE, I. T.; SILVA, P. H. F.(org.). Leite condensado: identidade, qualidade e tecnologia. Juiz de Fora: Templo, 2011. 232 p

REVADAM, Rafael. Como o soro de leite passou de um descarte poluente para uma matéria-prima em produtos caros. Brasil de Fato. 17 out. 2021. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/10/17/como-o-soro-de-leite-passou-de-um-descarte-poluente-para-uma-materia-prima-em-produtos-caros. Acesso em: 17 maio 2023.

ROCHA-MENDOZA , Diana et al. Invited review: acid whey trends and health benefits. Journal Of Dairy Science, [S.L.], v. 104, n. 2, p. 1262-1275, fev. 2021. American Dairy Science Association. https://dx.doi.org/10.3168/jds.2020-19038.

SCARABOTTO, Larissa. Whey ou soro de leite em produtos lácteos: comportamento do consumidor e análise de rótulos. 2022. 41 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Francisco Beltrão, 2022. Disponível em: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/30567/1/soroleitewhey.pdf. Acesso em: 17 maio 2023.

SOUZA, Júlia Campos . O comportamento do consumidor de alimentos no contexto pós-pandemia. 2023. 79 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de São Carlos, Buri, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/17775/TCC%20-%20J%c3%balia%20C%20Souza%20FINAL.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 17 maio 2023.

STOCK, Lorildo Aldo; LEITE, José Luiz Bellini. Preços e custos na produção do leite no Brasil. In: Embrapa Gado Leite de. Anuário do Leite: pecuária leiteira de precisão. Juiz de Fora: Si, 2022. p. 44-45. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1144110/anuario-leite-2022-pecuaria-leiteira-de-precisao. Acesso em: 19 maio 2023.

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