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Cuidados com a tuberculose bovina em sistemas confinados

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PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/07/2023

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O que é a tuberculose bovina?

A tuberculose bovina é uma doença zoonótica (doença infectocontagiosa transmitida de animais para humanos ou de humanos para animais) bacteriana crônica que acompanha a sociedade a milhões de anos (Galagan, 2014). Causada pelo Mycobacterium bovis, a tuberculose se caracteriza por apresentar lesões de aspecto nodular, principalmente em linfonodos e pulmões, acometendo bovinos, bubalinos, animais silvestres e podendo afetar o homem (Figura 1).

Figura 1. Transmissão da Tuberculose entre os animais.

Transmissão da Tuberculose entre os animais.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2023. Adaptado de Ramanujam e Kannan, 2023.

 

Muitas vezes, o animal doente não apresenta sinais clínicos, mas em estados mais avançados da doença pode-se verificar emagrecimento, febre, inapetência e infertilidade (Gong et al., 2021). Mesmo entre os animais sem sinais clínicos evidentes, a queda de produção pode chegar a 18% em rebanhos leiteiros (Kantor & Ritacco, 1994).

A tuberculose é transmitida principalmente por aerossóis (90% dos casos – MAPA, 2022), durante o contato direto entre animais. Quanto maior o grau de intensificação da produção e, consequentemente, maior o contato entre os animais, mais facilmente a bactéria se dissemina pelo rebanho. Assim, confinamentos têm ambiente propício para a propagação da doença, devido à aproximação e o contato direto uns com os outros, que costuma ter prevalência mais alta em bovinos leiteiros.

A tuberculose em um rebanho é introduzida, principalmente, pela aquisição de animais infectados, podendo se propagar nos bovinos, independente da idade, sexo e raça. Desta forma, com o aumento da idade das vacas e a permanência das mesmas na propriedade, pode ocorrer um acréscimo de prevalência de animais infectados. Além disso, a principal fonte de contaminação no rebanho se da por meio de leite contaminado para as bezerras (Lopes Filho, 2018).
 

Dados referentes a tuberculose bovina no Brasil

De acordo com a Coordenação de Epidemiologia do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária, entre os anos de 1999 e 2021 foram identificados 87.427 casos de bovinos doentes ou infectados, com diagnóstico confirmado de tuberculose bovina no Brasil (Figura 2).

Figura 2. Número de casos* de Tuberculose Bovina no Brasil entre 1999 e 2021.

Número de casos* de Tuberculose Bovina no Brasil entre 1999 e 2021.

*Caso definido como animal doente ou infectado, com diagnóstico confirmado.
Fonte: https://indicadores.agricultura.gov.br/saudeanimal/index.htm

Já em relação aos estados no Brasil, São Paulo, Pará, Espírito Santo, Acre e Minas Gerais têm altas prevalências de tuberculose em seus rebanhos (Figura 3).

Figura 3. Mapa da prevalência da tuberculose em diversas UFs no Brasil.

Mapa da prevalência da tuberculose em diversas UFs no Brasil.
Fonte. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

A nível global estima-se que a tuberculose bovina cause perdas a indústria pecuária cerca de U$ 3 bilhões por ano (Ramanujam & Kannan, 2023).
 

Por que devemos controlar a tuberculose bovina?

Além da perda de produção leiteira, já comentada anteriormente, a tuberculose bovina traz perdas ao produtor com custos de reposição do rebanho, diminuição da qualidade do leite, possíveis restrições de mercado e riscos que representa à saúde pública (Guimaraes et al., 2020; Tschopp et al., 2021). Neste contexto, foi criado no ano de 2001, o Programa Nacional de Controle de Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) com o objetivo de diminuir a prevalência das doenças nos rebanhos nacional.

Entre as ferramentas presentes no Programa para controle da tuberculose encontram-se a exigência de exames negativos para trânsito interestadual e para participação de animais em eventos pecuários e a eliminação sistemática de animais positivos. Também há a possibilidade de adesão voluntária à certificação de propriedade livre de tuberculose e brucelose, o que agrega valor ao produto.

Uma ótima ferramenta de controle, porém, não está à disposição para o controle da tuberculose: a vacinação. Nunca se conseguiu desenvolver uma vacina eficiente para o controle da tuberculose bovina, de modo que não há vacinas comerciais disponíveis no Brasil. Trata-se, de fato, de um grande gargalo no controle da enfermidade, visto que essa costuma ser a principal e mais eficiente ferramenta de controle de uma doença em rebanhos de bovinos.

A erradicação da febre aftosa no Brasil, por exemplo, só foi alcançada após décadas de política de vacinação massal. Mesmo o controle da brucelose, que teve significativa redução de prevalência em estados com boas coberturas vacinais, ocorre muito em função do uso dessa ferramenta.
 

Como podemos controlar a tuberculose bovina?

O ideal seria que a doença sequer ingressasse na propriedade. Sabemos, porém, que está presente na maioria dos rebanhos brasileiros. Ainda assim, é importante que o pecuarista não permita o ingresso de animais infectados em seu rebanho. Ao adquirir novos animais, o produtor deve mantê-los isolados do rebanho residente, submetendo-os a testes diagnósticos de tuberculose, executado por um médico veterinário habilitado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

A realização de quarentenas antes do ingresso de novos animais na propriedade protege os animais do rebanho não apenas da tuberculose, mas de diversas outras doenças que podem ser introduzidas com os novos animais. O ideal é que a quarentena seja realizada em piquete ou pasto que não permita o contato direto com os animais residentes do rebanho, com duração de pelo menos 30 dias.

Nesse período, o produtor e o médico veterinário devem não apenas realizar o teste para tuberculose, mas observar os animais para a possível manifestação de sinais clínicos de qualquer doença infectocontagiosa. Também pode-se realizar testes para outras doenças, como brucelose, e vacinação contra enfermidades endêmicas no Brasil, como botulismo, IBR, BVD e leptospirose.

Além do controle em animais recém-adquiridos, o ideal é que ao menos uma vez ao ano o produtor teste todo seu rebanho a partir de 6 semanas de vida. A identificação precoce e a eliminação de animais positivos costumam ter alto impacto na velocidade do processo de erradicação da doença.

Outro ponto importante para o controle da tuberculose bovina, e que muitas vezes é negligenciado pelo produtor, é a biossegurança. A adoção de medidas simples, como a troca frequente de agulhas em vacinações do rebanho; a limpeza regular de instalações, equipamentos e utensílios utilizados na propriedade; bem como a implementação de medidas adequadas de descarte de resíduos ajudam a minimizar a transmissão da doença e a proteger a saúde dos animais do rebanho.
 

Prevenção da tuberculose em ambientes confinados

Como já mencionado, a prevalência em rebanhos leiteiros é alta em função de ambientes aumentam o contato entre os animais, tais como salas de espera, ordenha bem como confinamentos nos moldes de free stalls e compost barns, por exemplo.

Desta forma, uma maneira de buscar amenizar os possíveis efeitos de transmissão em função da condição dos ambientes confinados é garantir que as rotinas de manejo diário das estruturas sejam bem feitas, como por exemplo a higienização correta dos equipamentos e utensílios utilizados durante a ordenha, bem como manter o ambiente de ordenha bem limpo, arejado e com luminosidade.

No caso do compost barn, garantir que o manejo da cama seja bem feito com o intuito de mantê-la com temperaturas acima de 45°C na altura de 30 centímetros abaixo da superfície da cama e manter a mesma sempre com no mínimo 50 centímetros de altura sempre desde o primeiro dia do confinamento; tal manejo garante a base do conjunto de condições necessárias para desenvolver uma boa compostagem e também contribui para que o ambiente não seja favorável para manutenção de sobrevivência do agente causador da tuberculose devido a alta temperatura do processo de compostagem.

Já no free stall, a manutenção diária do material que preenchem as baias também se faz necessário para a prevenção, não só da tuberculose, mas também de outros malefícios que acometem o rebanho leiteiro; manejo de retirada e reposição sistemática do material utilizado nas baias, bem como os manejos de desinfecção normalmente aplicados.

Em ambos os modelos de confinamento, manter a ”pista de trato suja” o mais limpa possível utilizando equipamentos tracionados e ou automatizados na maior quantidade de ciclos diários possíveis, além de manter o ambiente sempre muito bem ventilado o que também contribui para melhoria e manutenção da condição de sensação térmica das vacas.
 

A importância dos fundos de indenização

Como a principal ferramenta de controle é a testagem e eliminação de animais positivos, é importante que os estados tenham fundos indenizatórios para ressarcir os produtores dos seus animais eliminados. A legislação federal permite que o MAPA arque com apenas 25% do valor do animal eliminado para fins de indenização do produtor. Os demais 75% devem necessariamente vir de um fundo estadual.

Por isso, é importante que o pecuarista verifique a existência de fundos dessa natureza em seu estado – e, caso não haja, cobre as entidades representativas para que se articulem para a criação de um. O controle da tuberculose bovina é interesse de todos. Do setor público, que deve prover políticas de doenças de impacto na produção animal, e dos produtores, que sofrem os prejuízos causados pela tuberculose, em especial na redução da produção de leite, e estão expostos ao contágio quando em contato com animais doentes.

 

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Fontes:

GALAGAN, James E. Genomic insights into tuberculosis. Nature Reviews Genetics, v. 15, n. 5, p. 307-320, 2014.

GONG, Qing-Long et al. Prevalence of bovine tuberculosis in dairy cattle in China during 2010–2019: A systematic review and meta-analysis. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 15, n. 6, p. e0009502, 2021.

GUIMARAES, Ana MS; ZIMPEL, Cristina K. Mycobacterium bovis: from genotyping to genome sequencing. Microorganisms, v. 8, n. 5, p. 667, 2020.

LOPES FILHO, Paulo Rodrigues. Perfil epidemiológico da tuberculose bovina no Laboratório Nacional agropecuário de Minas Gerais, 2004 a 2008. 2010.

KANTOR, I.N.; RITACCO, V. Bovine tuberculosis in Latin America and the Caribbean current status, control and eradication programs. VeterinaryMicrobiology, v. 40, n. 1-2, p. 5-14, 1994

MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pncebt/brucelose-bovina. 2022.

RAMANUJAM, Harini; PALANIYANDI, Kannan. Bovine tuberculosis in India: the need for One Health approach and the way forward. One Health, p. 100495, 2023.

TSCHOPP, Rea et al. Effect of Bovine Tuberculosis on Selected Productivity Parameters and Trading in Dairy Cattle Kept Under Intensive Husbandry in Central Ethiopia. Frontiers in Veterinary Science, v. 8, p. 698768, 2021.

 

GABRIEL ADRIAN SANCHEZ TORRES

KAREN DAL MAGRO FRIGERI

FÁBIO RODRIGO MEDEIROS GUILHERMANO

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