Silagens que não são suficientemente bem compactadas e fechadas (seladas) durante o processo de enchimento do silo podem não produzir um ambiente adequado para a fermentação. Bactérias aeróbias podem se desenvolver às custas dos nutrientes do material, o que resulta na redução do teor e disponibilidade de nutrientes para os animais. Fungos também podem crescer neste meio o que leva à possíveis problemas de micotoxinas.

O manejo do silo em todas as fases (enchimento, estocagem e uso) é portanto de fundamental importância. Isto foi o que demonstrou um experimento realizado na Universidade Estadual do Kansas (EUA). Os pesquisadores afirmam que o fechamento de silos do tipo trincheira com lona plástica nunca é 100% efetivo e virtualmente sempre ocorre algum grau de deterioração.

Para demonstrar o efeito desta deterioração e a importância dos cuidados para que isto seja minimizado, eles utilizaram 12 novilhas mestiças, com fístulas ruminais para avaliar a digestibilidade de 4 dietas com diferentes graus de inclusão de uma silagem deteriorada.

As silagens de uma mesma cultura de milho irrigada foram colhidas com o grão a 80% da linha do leite e cortadas em partículas de 10 mm. Três silos experimentais do tipo trincheira (cerca de 1 metro de altura) foram enchidos e compactados com milho, mas ficaram propositadamente descobertos por 90 dias, o que permitiu sua deterioração. Após este período eles foram fechados com lona plástica. Este silo foi denominado "estragado". Um outro silo do mesmo material foi feito em sacos plásticos de cerca de 3 metros de diâmetro (próprios para ensilagem), compactados através de máquina apropriada e completamente vedados. Este silo foi denominado "normal".

As quatro dietas experimentais continham 90% de silagem e 10% de suplemento (na matéria seca) nas seguintes proporções: Dieta "A" - 100% silagem normal; Dieta "B" - 75% de silagem normal e 25% de silagem estragada; Dieta "C" 50% de silagem normal e 50% de silagem estragada; Dieta "D" 25% de silagem normal e 75% de silagem estragada. As dietas foram fornecidas uma vez ao dia em quantidade suficiente para haver 10% de sobras, eliminadas antes do novo trato, sempre pela manhã.

A composição química e pH das silagens podem ser observados na tabela 1. A composição da silagem estragada é apresentada para cada metade do silo, que segundo os pesquisadores podiam ser diferenciadas visualmente. Os 50 cm iniciais superiores e os 50 cm iniciais inferiores, além da composição das mistura das duas, que representa o que realmente foi fornecido, nas proporções já mencionadas. Utilizando o teor de minerais como marcador interno eles estimam que as proporções dos 50 cm originalmente existentes no topo e do fundo do silo na silagem final foram de 23,8 e 76,2% respectivamente.

Os pesquisadores descrevem a camada do topo como sendo "podre" por seu odor desagradável, com coloração escura e textura de um "lodo". A intensa deterioração pela qual passou nos 90 dias de armazenamento também refletiu em seus altos valores de pH, cinzas e fibras, resultado da grande perda de matéria seca nas fases de fermentação e armazenagem. Esta camada podre compreendeu 5,4; 10,7 e 16% da matéria seca das dietas respectivamente com 25; 50 e 75% de silagem estragada. Os 50 cm do fundo tinham aroma e aparência usualmente associada a silagens de milho úmidas e muito ácidas - um amarelado claro - alaranjado, baixo pH e forte odor de ácido acético.

Tabela 1: Composição química e pH das silagens de milho experimentais


MS = matéria seca; MO = matéria orgânica; PB = proteína bruta; FDN = Fibra Det. Neutro; FDA = Fibra Det. Ácido

A silagem de milho "normal" tinha maiores teores de matéria seca e orgânica e teores ligeiramente menores de amido e proteína bruta que a silagem "estragada".

Os pesquisadores relataram ainda que a profundidade original de aproximadamente 1 metro foi reduzida a cerca de 56 cm com cerca de 18 cm na camada do topo podre e 38 cm na camada do fundo ácido respectivamente. Eles afirmam que este assentamento da forragem ensilada ocorrido nos 90 dias que os silos permaneceram descobertos - aproximadamente 36 cm - é típico do que ocorre em silos mal compactados e mal vedados.

A adição de silagem estragada às dietas teve forte efeito negativo na ingestão de alimentos e digestibilidades da MS, MO, FDN e FDA (tabela 2). Observe que o primeiro nível de inclusão de silagem estragada (25%) já foi suficiente para causar o maior impacto negativo; os níveis maiores não apresentaram grande diferencial. O exame do conteúdo ruminal das novilhas demonstrou que a silagem estragada também destruiu parcial ou totalmente a integridade da "manta" fibrosa normalmente existente para o bom funcionamento do rúmen.

Tabela 2: Efeito da silagem estragada na digestibilidade dos nutrientes


a,b,c - Médias na mesma linha com letras diferentes diferem entre si (P<0,05)
x,y - Médias na mesma linha com letras diferentes diferem entre si (P<0,10)

Os pesquisadores concluem que os resultados demonstram, mais claramente que o esperado, os efeitos negativos da deterioração superficial das silagens no valor nutritivo das silagens.

Comentário do autor embora as condições deste experimento sejam pouco usuais (silos descobertos por 90 dias), os resultados servem para demonstrar o efeito que uma pequena porção de silagem estragada pode ter no consumo e digestibilidade dos nutrientes (lembrando que os primeiros 25% de silagem estragada adicionados tiveram o maior impacto nos dados). Só para que se tenha um parâmetro, no caso de vacas em lactação, esta primeira redução no consumo de matéria seca, da ordem de 4%, pode representar quase 1 kg de matéria seca a menos por dia, o que poderia sustentar cerca de 3 litros a mais de leite. É importante portanto que se dê maior atenção às corretas práticas de ensilagem e manejo do silo após a sua abertura para que se evite este tipo de problema. Também a eliminação da porção estragada no topo do silo, que quase sempre existe, é prática recomendável.

Fonte: LUNDEEN, T., 2001. Surface-spoiled corn silage may reduce nutritive value of rations. Feedstuffs, August 13.