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Efeitos da queima do canavial na ensilagem de cana-de-açúcar

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 06/01/2004

6 MIN DE LEITURA

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Por Thiago Fernandes Bernardes1 e Ricardo Andrade Reis2

Nas últimas décadas, a cana-de-açúcar vem ganhando espaço como alimento para os ruminantes, principalmente no período seco do ano, no qual a cultura atinge sua maturidade e apresenta maior valor nutritivo devido ao acúmulo de açúcares em seus tecidos, além de coincidir com a menor produção dos pastos na região do Brasil Central.

Todavia, o corte diário da cana-de-açúcar apresenta grandes dificuldades do ponto de vista de manejo e transporte, demandando mão-de-obra e maquinário especializado, além da cultura apresentar sérios riscos de incêndio acidental ou criminoso, como pode ser observado na Figura 1.

 


A ensilagem da cana-de-açúcar pode ser uma opção na alimentação animal, principalmente em sistemas onde há a necessidade de se desocupar a área, ou em situações nas quais a queima do canavial se constituiu em um acidente, porém poucos trabalhos são encontrados nos últimos anos utilizando a cana-de-açúcar conservada na forma de silagem.

Desse modo, as pesquisas têm se direcionado para obter informações sobre técnicas que modifiquem o processo fermentativo durante a ensilagem dessa cultura, a fim de se conseguir fermentação lática com baixas perdas energéticas, ao invés da alcoólica, mais freqüentemente encontrada.

No ano de 2001 na FCAV/UNESP-Jaboticabal, foi realizado um estudo com o objetivo de determinar quais os efeitos que a queima do canavial teria sobre a composição química e a fermentação da cana de açúcar.

O cultivar utilizado foi o SP 80-339, tendo como características agronômicas, alta produtividade (114 toneladas/ha), maturação média a tardia e alto teor de sacarose. A cultura foi colhida quando a rebrota apresentava 12 meses de desenvolvimento. Assim, no presente trabalho avaliaram-se os seguintes tratamentos: A) Cana crua; B) Cana crua + 5 % de milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS); C) Cana crua + 10 % de MDPS; D) Cana queimada; E) Cana queimada + 5 % de MDPS; F) Cana queimada + 10 % de MDPS.

De acordo com os resultados descritos na Tabela 1, observa-se que o uso do fogo elevou os teores de etanol nas silagens. As altas temperaturas durante a queima destroem a camada de cera que envolve a parede celular desta espécie vegetal, tal fato provoca as rachaduras no colmo e a conseqüente exudação de conteúdo celular (açúcares), aumentando a contaminação microbiana, principalmente por leveduras.

Aliado a este fato, o aumento da temperatura e a estocagem da cana por elevado tempo podem provocar a quebra da sacarose em glicose e frutose. A presença de açúcares redutores (glicose e frutose) vem a facilitar a fermentação alcoólica por parte das leveduras, pois, segundo Walker (1998) algumas espécies possuem a invertase, enzima capaz de degradar a sacarose, porém outras cepas por não possuírem a enzima, ficariam limitadas à fermentação deste dissacarídeo. Assim, com a presença de glicose e de frutose, duas fontes de carbono capazes de serem facilmente fermentadas, as silagens submetidas ao fogo podem apresentar maiores teores de etanol, como pode ser observado no presente estudo.

Outra justificativa relacionada à fermentação etanólica mais intensa nestas silagens, se deve a maior proporção de açúcares na forragem que sofreu queima, devido à eliminação das palhas. Pois, no momento da ensilagem quantidades semelhantes de forragem foram acomodadas no silo (cana crua e queimada), como o fogo carboniza as palhas, maior proporção de material vegetal com presença de açúcares pode ter sido disponibilizado as leveduras.

TABELA 1. Teores de matéria seca (MS), valores de pH, nitrogênio amoniacal (NH3/N total), etanol, e desenvolvimento de leveduras nas silagens de cana-de-açúcar crua (CC) e queimada (CQ) submetidas à inclusão de 0, 5 e 10% de milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS)

 


O etanol produzido representa grande custo energético uma vez que provoca perdas de matéria seca e rejeição de consumo pelo animal, sendo que aproximadamente 20-30% pode ser perdido por volatilização e cerca de 30-40% do etanol ingerido é convertido, no rúmen, a acetato e utilizado pelo animal (Durix et al., 1991). Lehninger (1982) reportou que a presença de etanol na dieta interfere negativamente na gliconeogênese devido à competição metabólica no fígado do ruminante. Vários trabalhos na literatura internacional mostraram que as silagens de cana-de-açúcar foram consideradas de baixa qualidade, causando redução no consumo voluntário, no ganho de peso e na conversão alimentar dos animais, em comparação à utilização da cana fresca, devido à presença de etanol.

Assim como houve maiores teores de etanol nas silagens submetidas ao fogo, também foram encontradas maiores populações de leveduras. Isso demonstra que a presença de açúcares na face exterior a parede celular, devido à queima, aumenta a contaminação por este grupo de microrganismos. Além da capacidade de fermentar açúcares e lactato, a etanol, CO2 e água competindo com as bactérias ácido láticas por substrato, a presença de leveduras na silagem não é desejável, pois também estão associadas com deterioração aeróbia após a abertura do silo.

Atualmente, as linhas de pesquisa têm dado ênfase no controle de microrganismos indesejáveis, como as leveduras durante a fermentação e após a abertura dos silos. Esses trabalhos têm avaliado aditivos químicos e bactérias como Lactobacillus buchneri e Propionibacterium acidipropionici, capazes de produzir durante o processo fermentativo não somente ácido lático, mas também acetato e propionato pela rota heterolática de fermentação, e desse modo reduzirem a presença de microrganismos que causam redução do valor alimentício das silagens. O resultado de trabalhos realizados no Brasil tem sido promissores, como o de Pedroso (2003) que com o uso de benzoato de sódio e L. buchneri durante a ensilagem de cana-de-açúcar, alcançou redução dos teores de etanol, diminuição das perdas de matéria seca, aumento na estabilidade aeróbia e incrementos no consumo e ganho de peso quando comparado as silagens que não receberam aditivos.

Em um apanhado geral sobre a fermentação de silagens de cana-de-açúcar, os trabalhos de pesquisa têm apresentado baixos valores de pH (próximo de 3,5), reduzidos teores de amônia e quantidades elevadas de etanol. Isso demonstra que para esta espécie a fermentação indesejável é caracterizada pelo desenvolvimento de leveduras e não pelos clostrídeos como ocorre em outras forrageiras como capins tropicais, milho e sorgo. Assim, os parâmetros pH e amônia quando considerados isoladamente, não são bons indicadores na avaliação da qualidade fermentativa dessas silagens, até mesmo porque o etanol produzido em grande escala funciona como inibidor microbiano para a maioria das espécies de microrganismos. Portanto, o enfoque a ser pesquisado aponta para o controle de perdas na ensilagem e durante o fornecimento aos animais, devido à formação de compostos indesejáveis (etanol).

A análise dos resultados permite concluir que as silagens de cana-de-açúcar crua ou queimada apresentaram intensa fermentação alcoólica.
A forragem submetida ao fogo anteriormente à ensilagem resultou em maiores populações de leveduras e maiores teores de etanol durante a fermentação quando comparada as silagens de cana crua.

Novos estudos devem ser realizados envolvendo a queima do canavial, para que a literatura tenha massa crítica de resultados devido à relevância do assunto.

Adoção de aditivos (químicos ou microbianos) que efetivamente controlem o desenvolvimento de leveduras aponta como uma importante ferramenta quando a decisão for tomada pela ensilagem da cana-de-açúcar.

Literatura consultada

BERNARDES, T. F.; SILVEIRA, R. N.; COAN, R. M. et al. Características fermentativas e presença de leveduras na cana-de-açúcar crua ou queimada ensilada com aditivo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39, Recife, 2002. Anais... Recife:SBZ, 2002, CD ROM.

DURIX, A.; JEAN-BLAIN, C.; SALLMANN, H. P.; JOUANY, J. P. Use of a semicontinuous culture system (RUSITEC) to study the metabolism of ethanol in the rumen and its effects on ruminal digestion. Canadian Journal of Animal Science. v. 71, p. 115-123, 1991.

LEHNINGER, A. L. Principles of Biochemistry. New York: Worth Publishers, 1982. 1010p.

PEDROSO, A. F. Aditivos químicos e microbianos no controle de perdas e na qualidade de silagem de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.). Piracicaba, 2003. 120p. Tese (Doutorado) Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.

WALKER, G.M. Yeast physiology and biotechnology. London:Wiley Editorial Offices, 1999. 350 p.
_____________________
1Thiago Fernandes Bernardes é Doutorando em Zootecnia FCAV/UNESP
2Ricardo Andrade Reis é Professor Departamento de Zootecnia FCAV/UNESP

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MARCELO CORDEIRO DA SILVA

SÃO MIGUEL DOS CAMPOS - ALAGOAS

EM 17/07/2014

QUAL O PERÍODO (TEMPO) DA QUEIMA ATÉ A ENSILAGEN?
THIAGO BERNARDES

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 26/01/2012

Caro Eraldo,



Se você ou técnico responsável pela tua propriedade optar pela produção de silagem de cana (essa é uma decisão "in loco", ou seja, não tem receita), a mesma deve ser feita com a cultura sem queima.

Caso o canavial pegue fogo devido a um incêndio acidental ou criminoso, a cana-de-açúcar não está perdida, pois existe a opção de ensilá-la.

Resumindo, a silagem de cana queimada é uma estratégia que deve ser adotada somente quando ocorre incêndio.



Att,



Prof. Thiago Bernardes
ERALDO MISSAGIA SERRAO

ECOPORANGA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 26/01/2012

Fiquei com as mesmas duvidas de antes!! Faço ou nao faço silagem de cana ?Queimada no caso de algum acidente ? Ou crua numa cituaçao normal?

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