Atualmente, devido à demanda do mercado de nutrição de aves e suínos por farelos com maior concentração protéica, algumas empresas estão produzindo o farelo de soja com 48% de proteína bruta, que leva em sua composição menor quantidade de cascas, originando um subproduto paralelo, diferenciado do farelo por ser classificado como um subproduto energético fibroso. A casca de soja, disponível em algumas regiões onde se processa a soja, tem se mostrado uma boa alternativa ao milho, que vêm apresentando preço elevado há algum tempo.
Um experimento realizado na Universidade Estadual de Maringá - PR, avaliou a digestibilidade da matéria seca e da parede celular da casca do grão de soja "in vitro" (utiliza rúmen artificial no laboratório), comparativamente ao milho, farelo de soja e farelo de trigo. A composição bromatológica dos alimentos avaliados pode ser vista na tabela 1.
Tabela 1: Composição Bromatológica dos alimentos testados
Como pode ser observado, a casca de soja é um alimento com teor energético próximo ao milho, mas diferencia-se pelo fato desta energia ser oriunda da digestão da fibra (FDN), presente no alimento em concentrações semelhantes àquelas encontradas em forragens.
Os resultados de digestibilidade podem ser observados na tabela 2. Não houve diferença (P>0,05) tanto entre a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) quanto da parede celular (DIVPC) da casca de soja, do farelo de soja e do milho, sendo a digestibilidade destes alimentos maior (P>0,05) quando comparada ao farelo de trigo.
Tabela 2: Digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e da parede celular (DIVPC)
Os autores comentam que a DIVMS obtida para a casca de soja (95,43%) foi superior a valores determinados por TAMBARA et al. (1993), que chegou ao valor de 66,4%. No caso da DIVPC ela foi inferior ao valor determinado por ISLABÃO (1984), que obteve 88,8%, mas foi similar aos resultados de MASOERO et al. (1994), que verificou valores de 92,7%. Também a digestibilidade da parede celular do farelo de trigo (75,6%) parece ter sido subestimada, se comparada ao resultado de MASOERO et al. (1994), que chegou ao valor de 91,6%. Ainda segundo os autores estas variações podem ser decorrentes de diferente composição dos alimentos; metodologia de análise; granulometria da amostra avaliada ou ainda contaminação da amostra, entre outros fatores.
A alta digestibilidade da matéria seca da casca de soja só é possível devido à também alta digestibilidade de sua parede celular (FDN), que representa grande parte de sua matéria seca (69,2%). Por sua vez, a alta digestibilidade da FDN é função de sua constituição, que apresenta alta concentração de celulose e pectina, frações da fibra de alta digestibilidade, associadas a baixas concentrações de lignina e sílica (que atrasam/impedem a digestão).
Os autores concluem que tendo a casca de soja apresentado digestibilidade da matéria seca e da parede celular semelhantes àquelas determinadas para o milho e o farelo de soja, ela se constitui numa fonte alternativa na alimentação de ruminantes.
Comentário do autor: vários experimentos demonstram que a casca de soja pode ser uma boa opção como alimento energético em substituição ao milho e até mesmo em substituição a parte do volumoso (de baixa qualidade), devido a sua composição fibrosa de alta digestibilidade. É preciso cuidado, no entanto, devido ao fato de sua fibra, embora potencialmente com grande extensão de degradação, requerer maior tempo para que esta digestão ocorra (baixa taxa de degradação). Somado a isso, o tamanho de suas partículas é bastante reduzido pela moagem, o que, a princípio acelera sua passagem pelo rúmen a diferenciando da maioria dos alimentos com alto teor de fibra (forragens). Sendo assim, ela normalmente só apresenta resultados satisfatórios se incluída em dietas com adequado teor de fibra longa, que forma uma "manta" fibrosa dentro do rúmen, aprisionando a casca da soja e fazendo com que fique retida no rúmen tempo suficiente para que seja completamente digerida.
Adaptado de: ZAMBOM, M.A. et al., 2001. Digestibilidade in vitro da matéria seca e da parede celular da casca do grão de soja comparativamente a outros alimentos. In: Anais da 38a Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba - SP