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A casca de café como alimento para vacas leiteiras

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/02/2003

6 MIN DE LEITURA

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Qualquer produção de leite baseada em alimentos fibrosos, forragens ou concentrados, é eficiente, pois explora a capacidade única dos herbívoros de digerir fibra. A fonte de fibra utilizada deve ser conseqüência do custo e da disponibilidade. Este fato questiona uma premissa às vezes erroneamente generalizada de que a produção eficiente de ruminantes deva ser necessariamente vinculada à alta inclusão dietética de forragens ou ser baseada exclusivamente nestes alimentos.

A utilização de concentrados ricos em fibra, subprodutos da indústria de alimentos humanos, é também interessante por resultar em menor excreção de metano por unidade de energia digestível ingerida. Subprodutos fibrosos não aumentam a relação entre acetato e propionato no ambiente ruminal, comparativamente à fibra de forragens. Será que este será o modelo de produção de leite em um futuro não tão distante onde a eficiência energética será tão ou mais importante que a eficiência financeira e em um mundo super povoado e com alto consumo de grãos (e portanto com alta disponibilidade de subprodutos fibrosos) ?

A disponibilidade de concentrados fibrosos é uma realidade brasileira. A polpa cítrica, a casca de soja, o caroço de algodão, o farelo de trigo, o farelo de glúten de milho, o resíduo de cervejaria, dentre outros, têm sido utilizados como ingredientes em dietas para vacas leiteiras em várias regiões do Brasil. Entretanto um subproduto fibroso altamente disponível não é freqüentemente utilizado: a casca de café.

A produção brasileira de casca de café na safra 2002 foi da ordem de 2,8 bilhões de kg, assumindo uma relação entre grão e casca de café resultante do processamento por via seca de 1:1. Considerando que várias regiões produtoras de café no Brasil são também produtoras de leite, a utilização deste subproduto fibroso poderia ser uma boa alternativa para a alimentação de bovinos.

A composição bromatológica da casca de café é conhecida. O teor de proteína bruta é em torno de 10%, similar ao de outros concentrados energéticos como o milho e a polpa cítrica. No entanto, o nitrogênio é de baixa qualidade. O teor de FDN, baseado em 7 trabalhos publicados no Brasil, foi em média 58,4%, variando de 34,5 a 77,2. A grande variabilidade na FDN é resultado de diferenças na proporção entre casca e pergaminho nas amostras, sendo que o pergaminho contém maior teor de fibra e que é também de pior digestibilidade que a fibra da casca. Em um experimento publicado a fibra da casca de café foi menos degradada no rúmen que a fibra do milho desintegrado com palha e sabugo, indicando não ser de alta qualidade. O potencial da casca de café como alimento é justificado pelo fato deste ingrediente conter em média 21% de carboidratos não fibrosos de degradação rápida no rúmen. No entanto este componente, similarmente ao teor de FDN, pode variar de 46,0 a 9,7% da matéria seca.

Apesar de quimicamente a casca de café ter potencial, o efeito de seus fatores antinutricionais sobre o desempenho animal requer avaliação. A casca de café é rica em cafeína e polifenóis, compostos que podem afetar negativamente o consumo de alimentos e o desempenho de vacas leiteiras. Para melhor entender este alimento, realizamos um experimento para avaliar a casca de café em dietas de lactação.

Foram utilizadas 42 vacas mestiças Holandês-Zebu no terço médio e final da lactação. As vacas foram alimentadas continuamente com um de três tratamentos por 56 dias. Os dados de desempenho foram coletados semanalmente. As vacas tiveram acesso aos concentrados contendo os tratamentos durante as duas ordenhas diárias, foram suplementadas com 20 kg de cana-de-açúcar com 1% de uréia e tiveram acesso noturno a pasto de braquiária de baixa qualidade, típico da estação seca do ano no sul de Minas Gerais. Os tratamentos controle foram um concentrado formulado com 47,4% de milho seco e moído e outro concentrado no qual o milho foi substituído por polpa cítrica. A inclusão de polpa cítrica foi a mesma da casca de café no tratamento teste (25% do concentrado).

A substituição de milho por casca de café deprimiu a produção de leite e de sólidos nestas vacas de baixa produção enquanto a polpa cítrica teve valor nutricional aparentemente similar ao milho. A queda na produção de leite foi observada já na primeira semana de aplicação dos tratamentos e se manteve ao longo de todo o período experimental de oito semanas (FIGURA 1). As vacas consumindo casca de café também tiveram maior perda de peso vivo ao longo das 8 semanas que as vacas nos outros tratamentos.

FIGURA 1. Produção de leite corrigida para 3,5% de gordura nas vacas recebendo os concentrados formulados exclusivamente com milho (¾), com 25% de polpa cítrica (p) ou com 25% de casca de café (®). P<0,01 para o efeito de tipo do concentrado.
 

 


O consumo do concentrado com casca de café foi o mais baixo. A sobra de cocho no momento da ordenha foi ao redor de 30% no tratamento com casca de café, consistentemente mais alta (FIGURA 2). A freqüência de vacas relutando em entrar no canzil no momento da ordenha foi 10% neste tratamento e 1% nos outros dois tratamentos (P<0,01). A queda no consumo de concentrado no tratamento com casca de café parece explicar a menor produção de leite neste tratamento.

FIGURA 2. Sobra de concentrado no cocho da sala de ordenha nas vacas recebendo os concentrados formulados exclusivamente com milho (¾), com 25% de polpa cítrica (p) ou com 25% de casca de café (®). P<0,001 para o efeito de tipo do concentrado.

 

 



Não foi observado efeito da casca de café sobre o temperamento dos animais no momento da ordenha, avaliado por um sistema de escores de 1 a 4, sobre a freqüência de defecação na ordenha e sobre a contagem de células somáticas. Parece que a ingestão de cafeína não foi suficientemente alta para induzir alterações comportamentais ou no sistema imunológico dos animais.

A preços vigentes de ingredientes no período de condução do experimento (ano 2000), a inclusão de 25% de polpa de citros ou casca de café em substituição ao milho reduziu o custo por kg de concentrado em 8 e 19%, respectivamente. Nos preços atuais do milho e da polpa cítrica a substituição do milho por concentrados fibrosos seria ainda mais vantajosa. Nesta simulação a casca de café foi assumida como tendo custo zero. Esta situação seria verdadeira apenas quando a produção deste alimento ocorre no local de fornecimento aos animais e o uso se faz in natura, eliminando custos de transporte e de processamento.

No entanto, mesmo assumindo custo zero para o ingrediente casca de café, o concentrado de maior eficiência financeira foi o formulado com polpa cítrica e o de menor eficiência financeira foi aquele com casca de café. A eficiência financeira foi calculada por subtração do custo com concentrado consumido em cada tratamento da renda bruta oriunda da resposta obtida em produção de leite multiplicada por preços de leite variando de R$ 0,25 a R$ 0,40/litro. Em preços mais altos de leite a diferença entre tratamentos seria acentuada. O menor custo por kg do concentrado com casca de café não foi vantajoso proporcionalmente à queda induzida na produção de leite por animal neste tratamento.

O consumo diário de casca de café foi 575 gramas por animal. A definição do limite máximo de consumo diário ou de teor dietético para utilização da casca de café sem danos ao desempenho animal e em vacas variando em peso corporal e em nível de produção de leite requer estudos futuros. No entanto os dados aqui obtidos sugerem que o potencial de utilização deste alimento em dietas para vacas em lactação é baixo.

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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CARLOS ROBERTO SILVA SANTOS

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/07/2008

Tenho a casca de café sem custo; posso acrescentar na dieta diária nas vaca de leite, como estamos nessa época de seca, colocando no cocho com capim de corte?
E a casca é triturada? Ou pode ser inteira.

<b>Resposta do autor</b>

Casca é péssimo alimento. Eu só utilizaria se não tiver mais nada viável para alimentar os animais. Apesar de ter nutrientes desejáveis, dirria que o maior seria alguma pectina, tem muitos fatores antinutricionais como tanino e cafeína. Casca é uma maneira efetiva de deprimir o consumo de matéria seca dos animais.

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