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A cana-de-açúcar mais adequada para bovinos - parte I

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/12/2005

5 MIN DE LEITURA

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Várias características desejáveis na planta de cana-de-açúcar foram trabalhadas pela indústria do açúcar e do álcool. Algumas merecem ser citadas, pois também são desejáveis em cultivares utilizados na alimentação animal. Certamente que a produção de matéria seca e energia por hectare são fundamentais, desde que esta é a maior virtude desta forrageira.

A cana ideal, além de produzir muito no primeiro ano, também deve apresentar pouca perda na produtividade anual ao longo de pelo menos quatro anos de cultivo. Características que conferem resistência a pragas e doenças também têm sido trabalhadas nos cultivares industriais. A facilidade de despalha e a presença de pouco joçá ou joçal também podem ser desejáveis, principalmente quando o corte é manual.

Cultivares com pouca palha também facilitam o transporte e a moagem na fazenda. A resistência ao acamamento será mais importante quanto maior for o uso de mecanização da colheita. Ausência de florescimento é também desejável, principalmente quando existe a possibilidade de utilização de um ano para outro, a cana bisada.

O florescimento pode afetar negativamente o acúmulo de sacarose na planta e é uma característica determinada pela interação entre genética do cultivar, ambiente e tratos culturais. Outra característica a se considerar é a época do ano na qual a maturidade da planta é atingida e a habilidade do cultivar de manter alto teor de sacarose ao longo do tempo (o PUI, Período de Utilização Industrial).

A colheita de cana com alto teor de sacarose ao longo do maior período de tempo possível ou a colheita estratégica para ensilagem não simultânea a outras atividades agrícolas, requer o conhecimento da época do pico de amadurecimento.

A questão interessante e que merece mais pesquisas seria a possibilidade de conciliar características agronômicas desejáveis com variáveis nutricionais. Pouco se sabe sobre este assunto, pois nunca existiu o menor sentido em se fazer uma seleção de canas de alta digestibilidade para produção de açúcar e álcool. Infelizmente muito pouco pensamento foi gasto no desenvolvimento de cultivares específicos para alimentação animal.

A seleção da cana sempre visou à alta produção de sacarose por hectare, a meta da indústria, o que não é necessariamente correlacionado positivamente ao conteúdo de açúcar por unidade de matéria seca de cana ingerida pela vaca, o que poderia ser meta na fazenda. Cultivares com melhor digestibilidade da fibra também poderiam ser desejáveis, pois o maior problema nutricional da cana é o baixo consumo pelo animal, uma variável multifatorial, mas que certamente sofre influência da fração dietética composta pelos carboidratos fibrosos. A premissa que a cana boa para a usina é exatamente aquela boa para vacas pode não ser a mais correta.

Existe potencial para selecionar canas de alta digestibilidade ?

Para responder esta pergunta realizamos um experimento avaliando doze cultivares de cana-de-açúcar (Costa et al., 2003). Como o intuito era avaliar o potencial da seleção de cultivares para qualidade nutricional, incluímos nesta pesquisa cultivares não competitivos agronomicamente. Obviamente que não estamos preconizando que produtores de leite plantem cana Caiana ou Manteiga, cultivares que foram incluídos na pesquisa juntamente com cultivares industriais bem difundidos, como a RB 72454.

A fibra em detergente neutro (FDN) nos colmos destes doze cultivares variou de 33,6 a 47,8% da matéria seca e o teor de carboidratos não-fibrosos (CNF) variou de 49,4 a 61,0%, as canas de alto FDN tinham baixo CNF (r = -0,96). Os colmos de todos os cultivares foram incubados simultaneamente no rúmen de seis vacas com cânula ruminal. A amplitude de variação na degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) foi em torno de 15 pontos percentuais (Figura 1). Também foram simulados ambientes ruminais caracterizados por pH alto e baixa NH3 e pH baixo e alta NH3, esta é a razão das duas linhas de regressão na Figura 1.

Quanto maior a porcentagem de FDN menor foi a DEG MS. Nada de novo, isto ocorre com toda forrageira. Quanto maior o conteúdo de FDN de degradação lenta no rúmen, sinônimo de menor conteúdo de CNF de degradação rápida (sacarose na cana), menor a digestibilidade. A constatação de que é possível obter cultivares de cana com teor de FDN ao redor de 35% é estimulante, mesmo considerando que estes são dados de colmos, representativos de uma cana despalhada. Os valores mais altos de FDN são inferiores ao valor médio da silagem de milho produzida no Brasil e muito inferiores ao valor da grande maioria das gramíneas tropicais.


Figura 1: A Correlação entre a % de FDN na cana e a degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) foi alta e negativa em uma amostragem de 12 colmos.

O valor da degradabilidade ruminal da FDN (DEG FDN) foi semelhante à digestibilidade aparente da FDN no trato digestivo total de novilhas e vacas leiteiras, sempre ao redor de 25% (Figura 2). Esta similaridade evidencia a importância dos eventos ruminais para a digestão da cana-de-açúcar. Garantir a disponibilidade de nitrogênio para metabolismo microbiano no rúmen e atuar nutricionalmente para evitar queda acentuada no pH ruminal podem induzir respostas produtivas em dietas à base de cana-de-açúcar.

Apesar da DEG FDN ser baixa, existe variabilidade na qualidade da fibra (Figura 2). A amplitude de variação na DEG FDN foi ao redor de 15 pontos percentuais. Baixa NH3 e alto pH ruminal reduziu a degradabilidade da cana, no entanto mesmo sendo observado efeito associativo negativo deste ambiente ruminal sobre a degradabilidade da cana no rúmen, o ordenamento dos cultivares para degradabilidade se manteve em ambientes ruminais distintos (Figura 3). Programas de melhoramento buscando selecionar cultivares de cana com maior potencial de digestão podem ser efetivos, mesmo quando esta forragem é utilizada em planos nutricionais sabidamente incompatíveis com a máxima digestão ruminal da fibra.


Figura 2: A amplitude de variação na degradabilidade ruminal da FDN (DEG FDN) foi ao redor de 15 pontos percentuais em uma amostragem de 12 colmos de cana..


Figura 3: A degradabilidade da FDN (DEG FDN) de 12 cultivares de cana foi mais alta no ambiente ruminal onde foi induzido baixo valor de pH e alta concentração de NH3 no fluído, no entanto o ordenamento dos cultivares para esta característica foi mantido em ambientes ruminais distintos.

Referências bibliográficas

Costa, H.N.; M.N., Pereira; R.P., Melo; M.L. Chaves. Effect of the rumen environment on ruminal in situ degradability of sugarcane. In: Proc. of the IX World Conference on Animal Production. Porto Alegre, Gráfica da UFRGS, 2003. p. 33.
Costa, H.N. Efeito do ambiente ruminal sobre a degradabilidade in situ da cana-de-açúcar. Universidade Federal de Lavras. Tese de Mestrado em Zootecnia. 2002. 51 p.

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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